No Congresso da UMES, de 1994, o tema mais debatido foi o da cultura. Foi aprovada a riação do Centro Popular de Cultura da UMES, o CPC-UMES. O cineasta Denoy de Oliveira, que integrou o antigo CPC da UNE, foi convidado para organizar o novo CPC. Com mais de 20 anos de existência, o CPC-UMES chega à esse ano com uma produção significativa nas áreas de música, teatro, cinema, video e literatura. Denoy de Oliveira faleceu em 04/11/1998. Mas o CPC que ele ajudou a plantar, com a ajuda dos secundaristas, artistas e intelectuais que se agruparam em torno de suas idéias segue colaborando para o fortalecimento e o desenvolvimento da nossa cultura.
Os Primeiros 15 Anos
Corria o ano de 1996 e o trabalho do CPC-UMES ainda engatinhava. Alguns cursos, uma peça, alguns shows. Tudo embalado por muita animação, muita disposição, muita vontade de aprender. Mas, também, muitas dúvidas.
Se tivéssemos acreditado nas vozes da “opinião publicada”, teríamos desistido. Nos jornalões, na TV, no cinema, reinavam a tal da globalização e o neoliberalismo. E nós tentando produzir algo que tivesse a ver com a cultura nacional-popular…
Buscávamos conversar com os antigos integrantes do CPC de UNE e com os batalhadores históricos de nossa cultura. Alguns davam força, apoiavam. Outros, ainda que simpáticos, questionavam se valia a pena tentar de novo, se nossa tentativa não era anacrônica.
E havia quem dissesse que tudo era uma grande bobagem: a batalha tinha sido perdida. E, realmente, os adversários pareciam imbatíveis.
Mas, ao nosso lado, tínhamos Denoy de Oliveira. Se no corpo as energias já lhe faltavam, no coração, na alma e no cérebro, transbordavam.Em um momento em que muitos achavam que tinham desperdiçado suas vidas buscando utopias, Denoy passava as mãos pelas fartas sobrancelhas e dizia algo como: “O que é isso, meu velho? Já passamos por coisa bem pior”.
Nas últimas semanas, procurando nos arquivos materiais para este balanço que a UMES traz a
público dos 15 anos do trabalho do CPC, deparei com um texto do velho mestre, escrito justamente naquele longínquo 1996. E que encerrava assim: “Mas é preciso, como sempre, ter a coragem de começar e algumas vezes de remar contra a corrente. Lá adiante há uma curva no rio… e a força das águas pode mudar de rumo.”
Hoje podemos ver, por dois motivos, que Denoy estava certo.
O primeiro pode ser visto nas próximas páginas: o trabalho do CPC-UMES cresceu, se afirmou, virou referência. O que parecia um sonho ingênuo – uma entidade de estudantes secundaristas construindo um sólido trabalho cultural – tornou-se uma realidade constatada por milhões de pessoas. E o segundo agora está nas páginas dos jornalões: os dogmas do neoliberalismo empurraram os EUA, Europa e Japão para uma crise de proporções gigantescas.
Se Denoy ainda estivesse conosco, certamente olharia para este balanço dos primeiros 15 anos com o mesmo orgulho que nós. Mas em seguida, penteando as sobrancelhas, diria: “Bora, meu velho! Ainda tem muito a ser feito!” É o que faremos. Na história do Brasil a força dos estudantes e dos artistas sempre foi fundamental para repelir os ataques contra a nossa identidade, soberania e liberdade. Portanto, é arregaçar as mangas e usar essa energia na construção do país dos nossos sonhos.
Denoy, valeu!
(VALÉRIO BEMFICA Presidente do CPC-UMES) 2010