Multinacional do ensino abocanha lucro exorbitante com aporte público

A Kroton, controlada pelo grupo Advent Internacional, anunciou um crescimento do seu lucro bruto de 46,3% este ano. Programas do governo federal como Fies e ProUni alimentam o lucro sem riscos e sem compromisso com ensino de qualidade dos grupos estrangeiros.

 

O grupo Kroton, que aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para fusão com o grupo Anhanguera para então se tornar o maior conglomerado de educação no país, com mais de um milhão de matrículas nas mãos de grupos de investimento estrangeiro, registrou, sozinho, no primeiro trimestre deste ano, receita líquida de R$ 674 milhões, com alta de 34,9% em relação ao mesmo período de 2013, segundo balanço divulgado pela multinacional na segunda-feira (5).
 
A Kroton, controlada pelo grupo Advent Internacional, anunciou um crescimento do lucro bruto de 46,3%, ou R$ 454,99 este ano.
 
A compra de universidades pelo grupos de investimento estrangeiro se tornou um investimento sem risco, com lucro certo e inadimplência nula, visto que boa parte das matrículas são feitas pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) – pelo qual o governo federal paga a faculdade e o aluno tem 18 meses para começar a devolver o dinheiro investido a longo prazo – e pelo Universidade para Todos (ProUni), cujos valores das bolsas de estudos as instituições abatem de seus impostos. No caso da Anhanguera, 40% das matrículas novas são a partir do Fies.
 
Como força motriz dos investimentos públicos do Governo Dilma Rousseff, programas como o Fies e o ProUni deram a Kroton (não considerando a fusão com a Anhanguera neste caso) 201,9 mil novas matrículas em graduações no 1º trimestre deste ano, representando um aumento de 15,1% ante o mesmo período do ano anterior. Em termos de rematrículas, os registros atingiram 390,2 mil alunos na graduação durante o 1º trimestre, alta de 29,7%.
 
O número de alunos de ensino superior (graduação e pós-graduação) atingiu a marca de 635 mil ao fim do primeiro trimestre, considerando as modalidades presencial e de ensino a distância (EAD), um crescimento de 22,3% frente a 2013.
 
Entre os negócios, a graduação encerrou o trimestre representando uma participação de 93,3% do número total de alunos de ensino superior, enquanto a pós-graduação foi responsável por 6,7% da base total de alunos.
 
À medida que esses grupos seguem a lógica do mercado financeiro, a preocupação com ensino de qualidade é zero. Contratação de professores pouco qualificados, aumento desenfreado do ensino à distância, ausência de laboratórios e nenhum projeto de pesquisa são algumas das suas especialidades. Além do papel estratégico da educação para o desenvolvimento do país e os direitos de estudantes e trabalhadores, que são substituídos pela busca por lucro.
 
Um exemplo dessas medidas praticadas tanto pela Kroton, como pela Anhanguera, é a oferta de 1/3 da grade curricular de todos os cursos em disciplinas on-line, além de cursos inteiramente à distância. Apesar de se orgulharem por terem um método de ensino onde os alunos “podem estudar em qualquer lugar”, a modalidade EAD é um sério agravante na qualidade da formação dos profissionais. A meta é que com a fusão, o grupo abra mais 225 pólos EAD.
 
Essas economias, no entanto, não são repassadas na hora da cobrança das mensalidades, provocando um número cada vez maior de evasão.
 
Segundo estudo da Campanha Nacional Pelo Direito a Educação, “as instituições de ensino superior credenciadas pelo Ministério da Educação para receber recursos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) vêm reajustando as mensalidades bem acima dos aumentos promovidos pelas universidades que não contam com essa linha de crédito. Em média, essa diferença tem girado em torno de 2,5% ao ano. Mas há cursos, como os de medicina, em que o aumento adicional chega a 9,3%. Ou seja, os alunos estão se endividando para pagar cursos cada vez mais caros”.
 
O coordenador-geral da Campanha, Daniel Cara, é enfático quanto se refere ao Fies. “O setor privado vê no Fies o caminho para expandir as matrículas, uma vez que o governo não regula os custos e não se preocupa com a qualidade do ensino ofertado. A regulação é frágil.”.
 
Para ele, os reajustes exagerados das mensalidades deveriam ser monitorados com maior precisão pelo Ministério da Educação, de forma a evitar distorções. “É uma questão social. O aluno se endivida muito e corre sempre o risco de acabar entrando no mercado de trabalho por meio de vagas com baixas remunerações e fora da área para a qual estudou. Muitas vezes, isso acontece por causa da formação ruim, por um diploma desvalorizado. É um círculo vicioso”, diz.
 
Além da Kroton e Anhanguera, outros grupos multinacionais estão presentes na educação privada brasileira, condicionando cerca de 1,5 milhão de estudantes à essa situação. São exemplos a Estácio, grupo que possui 330 mil matrículas e é administrada pelo GP Investments; e a Laureate, com cerca de 200 mil alunos e controlada pelo KKR. Esses gigantes já superam as matrículas em universidades federais, que em 2012 atingiram 1,03 milhão de vagas.
 
Fonte: Hora do Povo
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