“Nunca se privatizou tanto quanto no nosso governo”, diz vice de Dilma

 “Os portos, que eram públicos, agora, com a lei dos portos patrocinada pelo nosso governo, podem ser privados – e serão muitos”, disse o vice-presidente. “Nós privatizamos muitas coisas no nosso país”

 

O vice-presidente Michel Temer, candidato ao mesmo cargo na chapa de Dilma Rousseff, discursou na última terça-feira em Campinas, onde recebeu homenagem do notório Mário Garnero – aquele suposto empresário que, desde a ditadura, pretende ser intermediário entre alguém (ou alguma coisa) e os "bancos internacionais", ou o Partido Republicano, ou George Bush, ou lorde Rothschild, ou qualquer tralha reacionária e endinheirada do exterior (segundo Garnero, ele faz "diplomacia empresarial").

Em Campinas, disse Temer: "De vez em quando se diz que o governo é estatizante. Mas nunca se fez tanta privatização como se fez nesse governo. Basta tomar o caso dos aeroportos: todos basicamente foram concedidos. Os portos, que eram públicos, agora, com a lei dos portos patrocinada pelo nosso governo, podem ser privados. Nós privatizamos muitas coisas no nosso país".

Temer disse, também, que "o Brasil está crescendo fantasticamente" – e explicou que chegara a essa conclusão devido à proliferação de shopping centers.

Não é um critério econômico muito profundo, mas, quanto à privatização, o vice-presidente tem razão. Aliás, disse apenas o que, no governo, é corrente. Não seria ele que, em público, ia fazer micagens do tipo "concessão não é privatização" – e outras coisas ridículas que somente revelam que o palhaço é um cínico (portanto, não acredita no que está falando) ou que é um imbecil (portanto, acredita no que está falando).

Temer deixou tais canastrices para Dilma e alguns de seus correligionários, pois, além de não ganhar para isso, conhecia a plateia que Garnero havia escolhido para a homenagem…

Certamente, uma concessão pública é uma concessão do que é público ao que é privado. Por isso tem esse nome – porque é uma privatização. Mas não se trata de uma discussão conceitual.

Do que se trata é que, essencialmente, a política do governo Dilma é privatização em seu mais deslavado sentido – o de privar o povo da sua propriedade e entregá-la à meia dúzia de negocistas, de preferência americanos, ou, na falta deles, de qualquer nacionalidade que não seja a brasileira. Do que se trata é que isso jogou o país no mais baixo crescimento da História da República – inclusive, em recessão.

Temer falou dos aeroportos – e tem razão. Em um estudo do BNDES anterior à privatização, pode-se ler que, dos 20 maiores, "o Brasil possui quatro aeroportos com expressivo movimento de passageiros. São eles, em ordem decrescente, Guarulhos e Congonhas, (…) Brasília e Galeão" (cf. BNDES, Infraestrutura aeroportuária, p. 87).

Desses, Congonhas não foi privatizado. Em compensação, além de Guarulhos, Brasília e Galeão, privatizaram os aeroportos de Confins (BH), Viracopos (Campinas) e São Gonçalo do Amarante (RN).

Todos foram leiloados – em leilões iguais aos que Fernando Henrique promoveu para colocar em liquidação as teles públicas ou a Vale, com base na mesma famigerada lei nº 9.491/97, com inclusão no mesmo (e mumificado) Programa Nacional de Desestatização (PND) e sob o (exumado) Conselho Nacional de Desestatização.

Voltamos ao tempo dos tucanos, com alguns descaramentos a mais: o governo Dilma exigiu que a operadora de cada consórcio fosse uma empresa estrangeira.

Mas, por que a Corporación América, da Argentina, tem melhores condições de gerir o aeroporto de Brasília do que a Infraero, que até a privatização dos aeroportos era considerada a segunda melhor gestora de aeroportos do mundo?

Seria porque alguma das companhias estrangeiras trouxe algum investimento?

Não, leitor. As privatizações estão sendo sustentadas com dinheiro do Tesouro e do Fundo de Amparo aos Trabalhadores (FAT), as duas principais fontes de recursos do BNDES, que forneceu às concessionárias de aeroportos, até agora, nada menos que R$ R$ 8.976.972.000 (oito bilhões, 976 milhões e 972 mil reais – ver matéria na página 2).

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, prometeu aos "investidores" externos, durante uma reunião em Londres, US$ 79,914 bilhões (79 bilhões e 914 milhões de dólares) – ao câmbio atual, R$ 186,81 bilhões – para o conjunto das "privatizações sob a forma de concessões", como o próprio Coutinho chamou o que estava oferecendo. (cf. L. Coutinho, "Investment Opportunities in the Brazilian Economy", London, March, 2013).

Coutinho não se referiu ao petróleo, mas isso já fora feito por Mantega, em seminário na sede do Goldman Sachs, em Nova Iorque, ao qual Dilma esteve presente, no dia 26 de fevereiro de 2013 (cf. G. Mantega, "The Brazilian Economy and Investment Opportunities").

Certamente, nem Dilma nem Mantega foram à sede do Goldman Sachs para asseverar que o petróleo do Brasil, ou, especificamente, o pré-sal, não podia ser tocado pelos monopólios multinacionais petroleiros ou outros. Não foi para isso que Mantega orçou os "investimentos" no petróleo e gás em US$ 40 bilhões. O seminário era, como disse uma das autoridades, "para vender o Brasil".

Assim, Mantega apresentou aos "investidores" (na sede do Goldman Sachs) uma tabela com os seguintes preços, quer dizer, "necessidades de investimentos": Estradas: US$ 21 bilhões; Ferrovias: US$ 45,5 bilhões; Portos: US$ 27,3 bilhões; Trem-bala: US$ 17,8 bilhões;Aeroportos: US$ 9,4 bilhões; Energia: US$ 74 bilhões; Petróleo e gás: US$ 40 bilhões; TOTAL: US$ 235 bilhões.

Certamente, achar que o dinheiro externo – e, pior ainda, esse papel pintado que é parido aos borbotões pelo parasitismo financeiro – vai resolver os nossos problemas de infraestrutura, é coisa de gente tão servil que parece sofrer de anencefalia ideológica e política.

Nossos problemas de infraestrutura são porque, há pelo menos 30 anos, o dinheiro público é desviado para juros, secando os investimentos em infraestrutura. Não temos qualquer problema essencial de gestão que não seja esse. A política privatista de Dilma é a de, precisamente, entregar dinheiro nosso aos mesmos parasitas, para que eles resolvam os nossos problemas de infraestrutura.

É preciso ser um pouco debilóide para achar que isso pode dar certo. Aliás, já não está dando.

Entetanto, esse "plano" de privatizações através de concessões não são a única política de privatização de Dilma. Afinal, o que foi a aniquilação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), senão a atrofia permanente da Telebrás, reativada por Lula, para que a população ficasse completamente à mercê dos monopólios externos das telecomunicações?

E nem nos deteremos na privatização do Banco Central – para usar uma expressão de Severo Gomes. Os juros que sufocam a economia são a sua expressão. Daí, ser tão repugnante a acusação de Dilma a Marina Silva sobre a questão do "banco central independente". Como já dissemos, Dilma está acusando Marina por algo que ela, Dilma, já fez.

 

CARLOS LOPES – Hora do Povo

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