Capoeira: cultura, tradição e identidade – entrevista com Professor Pavio, do grupo da UMES

 

Na semana em que comemoramos o Dia Nacional da Cultura Brasileira (05 de novembro), nada melhor do que resgatar a história de um dos elementos mais importantes e tradicionais da cultura nacional – a capoeira.

 

A tarefa é difícil, como nos lembra o professor-instrutor do grupo de Capoeira da UMES, Pavio. “Os documentos e a literatura sobre a capoeira são escassos. A tradição é contar a sua história e, ao mesmo tempo, resgatá-la na prática, ou seja, nas rodas de capoeira”, afirma.

 

De fato, a luta criada aqui no país pelos escravos foi, até 1940, proibida através do código penal. “A capoeira foi, antes de tudo, uma luta política e uma forma de resistência à escravidão”, diz Pavio.

 

Marginalizada e tendo a sua prática clandestina, somente a partir de meados do século XX e por esforço do baiano Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, que a capoeira deixou o código penal para ser conhecida como um esporte, uma luta marcial e uma expressão cultural.

 

“Mestre Bimba, perseguindo o objetivo de transformar a tradição capoeirista em uma luta marcial brasileira, criou a Luta Regional Baiana, que hoje conhecemos por Capoeira Regional”.

 

Mantendo a ginga, a música e alguns instrumentos, e excluindo outros (como o atabaque para que a luta não tivesse relação direta com religião, como o candomblé), Bimba queria provar a eficiência marcial da capoeira, na época perdida para uma prática somente simbólica. Os elementos culturais e o intuito de resgate da tradição da capoeira dos escravos foram mantidos, destacando a contribuição do Mestre Pastinha ao lado de Bimba. A capoeira foi retirada do código penal pelo presidente Getúlio Vargas, que afirmou: “A Capoeira é o único esporte genuinamente brasileiro”.

 

“Sem Bimba talvez a gente nem soubesse o que é capoeira”, conta.

 

A luta então passou a ter uma sequencia pedagógica, instituindo a graduação de cordas que hoje conhecemos. Era exigido dedicado treinamento técnico e condição física. Mestre Bimba então dava aulas na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e, analfabeto, contou com a ajuda dos estudantes de medicina na criação de movimentos e dos de pedagogia para a criação das sequencias que facilitavam o aprendizado.

 

“Ele exigia muito de seus alunos e para treinar com ele era necessário seguir seus mandamentos, ser trabalhador ou estudante e não podia beber ou fumar”. Através de seus seguidores, a Capoeira Regional se espalhou pelo Brasil inteiro. Ele, no entanto, morreu em condição miserável em Goiânia.

 

Resgate

       

Pavio liderou a criação de um grupo de capoeira na UMES, formado por estudantes de todas as partes da cidade. Ele fala da importância da iniciativa.

 

“Passamos por um momento em que para o imperialismo a mais eficiente forma de dominação é destruir a nossa cultura, impor a deles, especialmente entre a juventude. Vemos inclusive as instituições públicas, promovendo e fomentando uma coisa que não tem nada a ver com a nossa história”, afirma.

 

“Estudar e praticar capoeira é manter viva e resgatar nossa cultura e a nossa identidade. O nosso grupo na UMES se propõe, além de oferecer as aulas gratuitas, a ser a porta de entrada para que a capoeira seja uma prática comum dentro das escolas”, explica.

 

     Foto: Pavio e Mestre Joel em homenagem na Câmara Muncipal

 

Estima-se que no Brasil há 5 milhões de capoeiristas. Apesar das linhagens, das diferentes origens e formas de praticar a capoeira, há uma grande unidade entre os que praticam: a defesa pela liberdade e pela cultura popular.

 

“Há muitas divergências sobre essa história, que é contada oralmente através das músicas e rodas e isso já é uma tradição. A história de Besouro Mangangá, a maior lenda da capoeira, é contada assim. Só descobriu-se que ele viveu de verdade 90 anos após a sua morte, fruto de uma exaustiva pesquisa que quase não encontrou documentos ou registros”, relata Fabiano.

 

E por fim – ou pra começo – Pavio convida a todos os interessados a participarem das rodas de capoeira na UMES. As aulas são gratuitas e acontecem na sede da entidade todas as terças e quintas em dois horários – sendo um a tarde das 14 às 15:30 horas, e outra a noite das 19:30 às 21 horas.

 

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