México: denúncias revelam sequestro de mais 31 estudantes

A mãe de uma das sequestradas denunciou o crime à TV France24. Atos pela saída do presidente se ampliam por todo o México

 

Dois meses após o desaparecimento dos 43 estudantes mexicanos da Escola Normal Rural de Ayotzinapa, a rede francesa de televisão France24 revelou outro sequestro de estudantes, desta vez em Guerrero, ocorrido em julho passado e que até agora só era comentado apenas no círculo dos familiares das vítimas.

A emissora denunciou, apresentando testemunhas, que mais esse crime, envolvendo 31 jovens, ocorreu na cidade de Cocula, vizinha de Iguala, onde foram sequestrados em setembro os normalistas até agora desaparecidos.

Embora diversas pessoas tivessem presenciado o sequestro, cometido em plena luz do dia na praça principal do município, nem eles, nem muito menos os familiares das vítimas queriam dar a conhecer o que aconteceu.

A repercussão nacional e internacional do que aconteceu com os 43 estudantes de Ayotzinapa animou a mãe de uma das jovens desaparecidas a dar seu depoimento à jornalista da France24, Laurence Cuvillier.

"Pegaram eles e não sabemos onde os levaram", continuou. Durante o transcurso e depois do sequestro, os bandidos avisaram os moradores de Cocula que matariam seus filhos se falassem do caso.

O silencio coletivo foi fruto do terror espalhado pela descontrolada cumplicidade criminosa entre as policiais locais e o narcotráfico, que opera com impunidade na região, e está se espalhando pelo México. Embora os sequestradores vestissem máscaras, carregaram os estudantes da escola secundarista em carros policiais que nem sequer se tomaram o trabalho de camuflar, assinalou France24.

A repressão brutal do Estado não é novidade nessa região do país: em 12 de dezembro de 2011, a polícia assassinou dois estudantes que protestavam contra as condições da escola para professores de Ayotzinapa, em um tiroteio que deixou mais de 20 feridos.

O sequestro em massa de Ayotzinapa foi a gota d’água que transbordou a revolta.

Na noite de 26 de setembro, a polícia de Iguala reprimiu criminosamente grupos de normalistas de Ayotzinapa, atacando os ônibus nos quais viajavam para protestar contra um ato presidido pelo prefeito, José Luis Abarca, e sua esposa e para recolher fundos para viajar à Cidade do México com o objetivo de reivindicar melhores condições de ensino.

Entregues a narcotraficantes que atiraram inclusive contra um ônibus que transportava uma equipe de futebol, a chacina teve um saldo final de seis mortos, dezenas de feridos e 43 normalistas desaparecidos. Ao que tudo indica, por ordens de um dos chefes do grupo criminoso Guerreiros Unidos, os corpos foram carbonizados, triturados e recolhidos em sacos, depois lançados nas águas do rio San Juan.

As manifestações nas últimas semanas ocuparam as ruas e as praças do país pedindo justiça, exigindo a renúncia do presidente Enrique Pena Nieto e do governo federal porque nos dois meses que se passaram não resolveu nada a não ser defender os policiais criminosos. A consigna que soa no país inteiro é: "Vivos os queremos!" Representantes de mais de uma centena de organizações sociais e sindicais concordaram em convocar uma manifestação nacional para 1º de dezembro, dia em que Peña Nieto cumpre dois anos na Presidência do México.

Não se conhecem ainda mais informações sobre os desaparecimentos dos 31 estudantes de Cocula. Mas, o crime hediondo que levanta o México e revolta o mundo não é um fato isolado. É a consequência da política anti-nacional de Peña Nieto, da subserviência aos monopólios dos EUA sob o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, Nafta, feito pelo PRI e pelo PAN, deixando a população à mercê de montadoras norte-americanas (que os mexicanos chamam de ‘maquiadoras’), com a agricultura destruída, e crescentes setores da população mal sobrevivendo com o ínfimo salário mínimo abaixo da linha de pobreza, caso único na América Latina, segundo a Cepal.

Quatro em cada dez mexicanos não conseguem dinheiro para pagar por uma cesta básica, e quase 60% dos empregos, de acordo com a OIT, são informais. Não há seguro-desemprego, nem programas de renda mínima, sendo que 40% dos habitantes estão abaixo da linha de pobreza e 13% são indigentes. Mais de 75% da população não tem cobertura previdenciária. Nem em milho, produto básico na alimentação dos mexicanos, o país é hoje auto-suficiente.

 

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