100 anos de Garoto

Confira a música Lamentos do Morro de Garoto, intérpretada por Gustavo Costa no album "Tocata Brasileira – Para Pinho e Arame", do CPC-UMES

 

 

Hoje comemoramos o centenário do compositor e violinista brasileiro Aníbal Augusto Sardinha , mais conhecido como Garoto (São Paulo, 28 de junho de 1915 — Rio de Janeiro, 3 de maio de 1955). Garoto começou a tocar com 11 anos – na época era conhecido como “Menino do Banjo”. Há quem diga que sem ele não haveria Tom Jobim.

 

“Há 30 anos Garoto já produzia a batida que se tornou mundialmente famosa com João Gilberto e Tom Jobim”, dizia o violonista e compositor Dilermando Reis, na década de 1970.

 

Era o filho mais novo dos imigrantes portugueses Antônio Augusto Sardinha e Adosinda dos Anjos Sardinha, o único entre os três filhos do casal a nascer no Brasil. Aos 11 anos trabalhava como ajudante em uma loja de música no Brás, mesmo ano que ganhou um banjo de seu irmão. Aprendeu seus primeiros acordes com seu pai, que tocava guitarra portuguesa e violão, e com seus dois irmãos – um tocava banjo e o outro era violonista e cantor. Poucos tempo depois já se dedicava integralmente a música.

 

Com 18 anos iniciou seus estudos formais com um dos principais professores de violão clássico de São Paulo, Atilio Bernardini. “Era um aluno rebelde, seguia os conselhos que entendia, usava o polegar como palheta, mas transbordava talento e força criadora”, dizia seu professor sem saber que a mesma técnica se popularizaria com o jazz do interior dos Estados Unidos pouco tempo depois.  

 

Garoto foi um multi-instrumentista e compositor. Dominava quase todos os instrumentos de corda dedilhada como o banjo, cavaquinho, bandolim, violão tenor, guitarra elétrica, havaiana e portuguesa, além de compor e fazer arranjos para estes instrumentos, também tocava piano. Devido a sua formação transitava com igual habilidade pelas linguagens musicais do choro, da música popular brasileira, dos standards de jazz, e da música clássico. Em 1937 ingressou no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo para estudar harmonia e composição.

 

Em 1939 recebeu o convite de Carmem Miranda para tocar nos Estados Unidos com o Bando da Lua. Com menos de 25 anos permaneceu durante oito meses em turnê nos Estados Unidos, onde conheceu o jazz, e em meio as turnês chegou a tocar na Casa Branca para o então presidente Roosevelt. “Carmen Miranda, Bando da Lua e Garoto” era a chamada do cartaz para os shows.

 

Formou em 1952 o Trio Surdina em conjunto com o violonista Fafá Lemos e Chiquinho do Acordeom por intermédio do diretor musical Paulo Tapajós, que conheceu Garoto por sua participação na Radio Nacional através do programa “Música em Surdina”. Para Paulo Medeiros, o então crítico musical do Jornal Última Hora, o trio era “o melhor de todos os pequenos grupos instrumentais dos últimos tempos. É difícil encontrar entre nossos instrumentistas três músicos que se encaixem tão bem, e que sintam as composições que executam com tanta emoção”.

 

Em 1954 venceu o concurso da Prefeitura de São Paulo para a música tema do IV Centenário da Cidade com a canção “São Paulo Quatrocentão”, com participação de Chiquinho do Acordeon e Avaré, disco que lhe rendeu a marca de 700 mil exemplares vendidos na década de 1950.

 

A década de 1950 foi muito fértil para a história da música brasileira e de nossa arte em geral, efervescência da qual Garoto foi um precursor e participante ativo, comentava o músico e compositor Waldemar Henrique. “Não foi uma transformação. Foi um grande período de gestação, conscientização, compositores lúcidos que estavam à procura da modernidade, quebra de regras, influências, lutando contra a pobreza e o preconceito. Desde Pixinguinha ('Carinhoso'), Ary Barroso ('Faceira') Dorival Caymmi ('Dora'), Garoto ('Duas contas'), Dolores Duran ('Por causa de você'), a 'coisa' estava sendo criada, as flores brotando no jardim maravilhoso que hoje apreciamos. O verdadeiro mestre, o guia modesto, a figura forte que preparou a concepção da bossa nova foi Garoto”.

 

Suas últimas gravações foram a “Valsa do adeus” e “Mazurka”, de Chopin, no ano de 1955.

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