Entrevista com CPC-UMES sobre a 2° Mostra Mosfilm de Cinema
Mostra abarca produções que vão de 1924 a 2015
Hora do Povo – CPC-UMES Filmes realizou uma mostra em novembro do ano passado na Cinemateca Brasileira. Tinha filmes de todas as décadas. Agora vão repetir a dose? Como vocês conseguem esses filmes?
Susana Lischinsky – Baixando da internet [risos]… Temos uma parceria com o Mosfilm, que é o maior estúdio de cinema da Rússia. Não é o único, mas é o maior e mais antigo. Eles nos licenciam filmes para distribuição em DVD e BLU RAY no Brasil. Eles possuem mais de 2500 títulos representativos da cinematografia soviética, desde Eisenstein, na década de 20, até o período recente. O difícil é escolher. Estamos trazendo para essa mostra um filme lançado neste ano nas comemorações dos 70 anos da vitória sobre o fascismo, "Caminho para Berlim", de Sergey Popov. Depois vamos lançar em DVD e BLU RAY.
Bernardo Torres – A mostra do ano passado funcionou muito bem. Foram exibidos 10 filmes, todos em formato DCP ou Beta Digital que possibilitam uma projeção profissional. Tivemos um público de mais de 1200 espectadores. Agora vamos exibir 11 e queremos dobrar o número de espectadores. A Cinemateca Brasileira é o local mais agradável que pode haver para se curtir um bom cinema, a entrada é franca e os filmes são ótimos.
HP – Qual o critério para a seleção?
Bernardo – Nesta mostra adotamos o mesmo critério da anterior. O máximo de variedade em relação aos gêneros e pelo menos um filme representativo de cada década. Começamos com Kuleshov, que foi o mestre de todos. Sua comédia "As Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolcheviques" é de 1924, ano de fundação do Mosfilm. O roteiro leva a assinatura do iniciante Vsevolod Pudovkin, que em seguida se tornaria diretor de diversos clássicos.
Susana – Tem um filme espetacular, que é de 1995, chamado "A Filha Americana". O filme é do Shakhnazarov, que hoje é presidente do estúdio. Não é como "Tigre Branco" e "Sonhos", filmes de narrativa complexa que ele também dirigiu. É muito simples, direto e aparentemente ingênuo. Mas em 1995, com Ieltsin no comando, Chubais privatizando tudo, Berezovsky pontificando no círculo de oligarcas que parasitavam o Kremlin, a Rússia estava arrasada e praticamente de joelhos para os EUA. Então você pensa: se ainda assim tem maluco com disposição para cruzar o oceano e filmar aquela história, os Estados Unidos ganharam uma batalha, mas não vão ganhar a guerra. Com muita leveza, o filme antecipa o rumo que as coisas começariam a tomar anos mais tarde em virtude de algo que Napoleão e Hitler também não levaram na devida conta: o sentimento nacional do povo.
HP – E os DVDs que vocês têm lançado, como vai a produção?
Bernardo – Temos 10 lançados e dois na fábrica. Vamos fechar o ano com 14 lançamentos. O "Solaris", clássico de Tarkovsky, foi produzido em BLU RAY, em parceria com a Versátil, atendendo a um convite deles, por sinal muito simpático, para nos associarmos no projeto. Os demais são exclusivamente do CPC-UMES Filmes. Temos priorizado as produções das décadas de 30, 40 e 50. Modestamente, queremos dissolver o mito de que não havia vida inteligente nem arte na produção daquele período, só propaganda banal e repetitiva, ocas idealizações do socialismo sem amparo nas contradições e conflitos da vida real. Se tivéssemos um canal a cabo, poderíamos sustentar uma bela programação só com a produção desse período. Até o momento, nossos lançamentos de maior impacto foram "Lenin em Outubro" (1937) e "O Fascismo de Todos os Dias" (1965), ambos de Mikhail Romm.
Susana – Já fizeram até cópia pirata do "Lenin em Outubro" para vender no marreteiro a R$ 5,00…
HP – Então é porque está vendendo muito [risos]…
Susana – Não espalha, senão eles vão querer piratear os outros [risos]…
Deve ser um pirata politizado e caprichoso, porque as cópias são bem feitinhas. Esse preconceito ao qual o Bernardo se referiu é típico de quem não assistiu os filmes e não quer que ninguém os assista.
Bernardo – Em novembro está saindo "Lenin em 1918", que é a continuação do "Lenin em Outubro". A série terminou aí, porque o ator Boris Shchukin, que criou um Lenin primoroso em seus mínimos detalhes, faleceu em 1939. Nossos lançamentos podem ser encontrados no site www.cpcumesfilmes.org.br ou na 2001, Livraria Cultura, Livraria da Travessa, Arlequim e outras boas casas do ramo.
HP – Então nos encontramos na Cinemateca, a abertura é no dia 3 de dezembro, quinta-feira, às 20h30, certo?
Susana – Certo. Mas vocês vão dar uma forcinha extra, não é? A outra entrevista que o HP fez conosco foi em fevereiro de 2014.
HP – Podem contar com isso.
Fonte: Jornal Hora do Povo
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