Gazeta Russa promove 2º Mostra Mosfilm em parceria com CPC-UMES

‘Braço de diamante’ (1968) é um dos maiores clássicos do humor soviético, cujas falas viraram expressões populares no país. Foto:RIA Nóvosti

 

Filmes russo-soviéticos passeiam pela Cinemateca

 

Entre os destaques, mostra em São Paulo traz títulos de Karen Chakhnazarov, Serguêi Popov, Lev Kulechov, além de clássicos do humor como Leonid Gaidai e Ivan Piriev

 

São 11 filmes de dez diretores, cobrindo nove décadas de história, todos com entrada franca. A Cinemateca Brasileira abriga, de 3 a 9 de dezembro, a 2° Mostra de Cinema Mosfilm em SP, parceria da instituição com o Mosfilm e a CPC-Umes.

 

Criado em 1923, o Mosfilm é um estúdio cuja história se confunde com a do cinema russo. Na época do fim da URSS, tinha produzido mais de três mil filmes, e conseguiu superar a crise dos anos 1990 para chegar aos dias de hoje ativo e atuante.

 

“Hoje o Mosfilm é uma enorme planta industrial, o que permite filmar uma parte significativa dos filmes russos em sua base”, explica o historiador do cinema Andrei Plákhov, 65, colunista do jornal "Kommersant" agraciado em 2014 com o Certificado de Honra da Presidência da Rússia.

 

“Sua  produção própria não é grande, mas a marca Mosfilm conserva a importância histórica, ligada ao período soviético, quando era o maior estúdio de produção da Europa”, completa.

 

A mostra passeia pelas décadas de história do estúdio, dos anos 1920 até hoje. O período pós-soviético está representado por duas realizações de Karen Chakhnazarov, 63, conhecido no Brasil por “Somos do Jazz” (1984) e “Cidade Zero” (1990), e que preside o Mosfilm desde 1998.

 

Entre títulos mais recentes está ‘O caminho para Berlim’ (2015). Foto: kinopoisk.ru

 

Dessa vez, o público que for à Cinemateca poderá travar contato com “A Filha Americana” (1995) e “A Cidade dos Ventos” (2008). Além disso, na abertura da mostra, será exibido o recentíssimo “O Caminho para Berlim”, de Serguêi Popov, baseado em escritos de Emmanuil Kazakevitch (1913-1962) e Konstantin Símonov (1915-1979), e lançado em 2015 para celebrar os 70 anos da vitória russa na Segunda Guerra Mundial.

 

“A programação consiste em filmes de diversos períodos; alguns deles se tornaram parte verdadeira da história do cinema, outros são menos significativos, e curiosos principalmente como fenômenos de sua época”, explica Plákhov.

 

Para ele, o destaque fica com “Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolcheviques” (1924), de Lev Kulechov (1899-1970), com roteiro de Vsevolod Pudóvkin (1893-1953) – que, mais tarde, se tornaria um dos mais influentes diretores do cinema russo.

 

Para crítico russo, maior destaque é filme de 1924 de Kulechov. Foto: kinopoisk.ru

 

Plakhov considera o filme de Kulechov “uma obra brilhante, pelo conteúdo e pela forma”. Ele também julga “curioso travar conhecimento com a tradição da comédia soviética, de 'Tratoristas' (1933), de Ivan Piriev (1901-1968), a 'Braço de Diamante' (1968), de Leonid Gaidai (1923-1993)”.

 

A pesquisadora brasileira Neide Jallageas destaca ainda Grigóri Tchukhrai (1921-2001), celebrizado pelo drama de amor e guerra “A Balada do Soldado” (1959), e representado na mostra por “A Vida é Maravilhosa” (1979), coprodução soviético-italiana estrelada por Giancarlo Giannini.

 

“É um filme, até hoje, pouco visto no mundo inteiro, espécie de raridade. Muito bom que seja mostrado aqui”, diz.

 

Editora chefe da Kinoruss Edições e Cultura, e autora de dois livros sobre o cinema de Andrêi Tarkóvski (1932-1986) que se encontram em processo de revisão, Jallageas considera “de grande valia conhecer, estudar, estabelecer parâmetros críticos sobre o que foi realizado na Rússia e na ex-União Soviética para compreender a nossa própria história e o período em que vivemos”.

 

Em sua opinião, Gleb Panfílov, 81, talvez seja o “cineasta mais idiossincrático” da mostra, embora esse aspecto não se veja plenamente refletido no filme que foi selecionado: “Vassa” (1983), baseado em peça de Maksim Górki (1868-1936).

 

Jallageas também enfatiza o “monstro sagrado” Mikhail Romm (1901-1971) que, “além de ter sido um grande diretor, foi um pedagogo de méritos reconhecidos por seus alunos dentre os quais se destacam Andrêi Tarkóvski, Tengiz Abuladze, Vassíli Chukchin e do já mencionado Grigóri Tchukhrai”.

 

De Romm, será exibido “Lênin em 1918” (1939), continuação de “Lênin em Outubro”, filme do cineasta recentemente lançado em DVD no Brasil pela CPC-Umes.

 

A entidade começou sua parceria com o Mosfilm no ano passado. Para celebrar os 90 anos do estúdio, realizou, na mesma Cinemateca Brasileira, uma mostra que, posteriormente, circulou por Porto Alegre, Belém do Pará e São Carlos (SP).

 

“Neste ano, não estamos repetindo nenhum filme de 2014, mas a característica da mostra é parecida: expressar diversos momentos do cinema soviético e pós-soviético, com linguagens diferentes”, afirma Gabriel Alves, presidente do CPC-Umes.

 

‘Lênin em 1918’ (1939), do mestre Mikhail Romm Foto: ‘Lênin em 1918’ (1939), do mestre Mikhail Romm

 

Desde o ano passado, além de “Lênin em Outubro”, a entidade lançou no Brasil nove filmes do catálogo do Mosfilm – incluindo uma versão restaurada de “Solaris”, de Tarkóvski, em blu ray, em parceria com a Versátil, além de “A Mãe”, de Panfilov, e “Tratoristas”, que integra a programação da mostra deste ano. Outros filmes do evento que em breve devem aparecer em DVD são “Lênin em 1918” e “A Vida é Maravilhosa”.

 

PDF da materia impressa publicada na Gazeta Russa 

Fonte: Gazeta Russa

 

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