Polícia invade Mazé e agride estudantes
Após decretar "guerra" aos estudantes das ocupações, governo do estado engana pais e manda agredir menores
Na manhã desta terça (1) a Escola Estadual Maria José, assim como muitas outras no estado, amanheceu cercada pela polícia militar (PM) e por supostos pais de alunos. O cerco aconteceu dois dias após o governo do Estado anunciar operações de “guerra” contra as ocupações.
Segundo áudio vazado da reunião do chefe de gabinete da Secretario da Educação, Fernando Padula, com as direções de ensino a estratégia do governo é "desmoralizar" ocupações perante a sociedade e adotar "tática de guerrilha" contra as "invasões". "Nessas questões de manipular, tem uma estratégia, tem método. O que vocês precisam fazer é informar. Fazer a guerra da informação [para convencer a sociedade], porque é isso o que desmobiliza o pessoal [os estudantes]", disse o Padula.
A invasão por parte da PM ocorreu por volta das 9h da manhã e segundo os estudantes ocupados quem ajudou a abrir um dos dois portões pelos quais a polícia entrou escola foi o diretor Vladimir Frank, que agrediu a estudante Lilith Cristina (15), que está na delegacia prestando queixa. Assim que entrou, a PM agrediu estudantes, quebrou a caixa de som da escola e chutou cadeiras. Outro estudante, o Alan Ferreira de Almeida, também está na delegacia fazendo um boletim de ocorrência contra a PM.
Marcos Kauê, presidente da UMES, que estava na escola no momento da invasão, denunciou, “ninguém conhecia nenhum dos país responsáveis por arrombar o portão. E é muito estranho que, um dia antes dessa ação, a diretoria tenha ligado para os pais para convocá-los para fazer a matrícula de seus filhos. Eles arrombaram com marretadas. Que pais vem fazer matrícula com marretas? Arrombaram o portão com consentimento dos policiais, que entraram junto empurrando e batendo nos alunos, e jogando spray de pimenta em todos que resistiam”. (veja vídeo)
Além de agredir os estudantes, a PM anotou o nome dos alunos que estavam na escola.
Foto: Nelson Antoine/FramePhoto/Estadão Conteúdo
“Os policiais nem mesmo estavam com sua identificação [nome na farda], todos os alunos estão muito assustados. É dessa forma que Alckmin quer educar a juventude? Com base no medo e na cacetada contra alunos que estão lutando para impedir que escolas sejam fechadas, alunos que estão lutando para se formar na escola que escolheram?”, afirmou Kauê.
Ontem (30) ocorreu uma reunião com a comunidade do Bixiga, no O Centro Educacional Dom Orione (CEDO), da Igreja da Achiropita com representantes da diretoria regional de ensino. Ao saber da reunião os estudantes mandaram representantes das ocupações para informar os pais sobre o que estava ocorrendo.
Matheus Lopes da Silva (16), um dos estudantes que foi a reunião, afirmou “pedi na reunião para falar com os pais e explicar o que estava ocorrendo e porque estávamos nas ocupações. A representante da diretoria de ensino falou que se eu quisesse falar com os pais teria que gritar, pois ela não iria passar o microfone. Algum tempo após tentar o diálogo resolvemos deixar a reunião”.
Karina Gomes (16), estudante e representante de comunicação da ocupação, explicou sua indignação com a reunião e a com a ação da PM hoje, “divulgaram na reunião com pais que estávamos fazendo orgias e que a escola havia virado um ponto de drogas, enquanto estamos limpando a escola e fazendo oficinas e debates”.
Quando chegamos para a reportagem a PM já tinha se retirado da escola, e fomos entrevistar os pais, mas boa parte de quem estava lá se dizia membro da comunidade do Bexiga e não quis ser identificado, nem informar como foi a invasão da escola.
Uma das “mães” que forçou entrada da escola com barras de ferro e não quis ser identificada afirmava, “eu estava na reunião ontem, ele [Alckmin] não vai fechar escolas, isso é mentira, estou aqui para que os estudantes consigam finalizar o ano letivo e não percam chances de emprego”, esta senhora afirmou que os estudantes eram “um bando de vagabundos”.
Mãe (de blusa preta) no centro da foto discutindo com Silvia (loira de costas) da Diretoria de Ensino
Já outra mãe (foto acima) de uma estudante que está na ocupação, veio correndo do serviço ao saber da invasão da PM, e respondeu, “minha filha não é vagabunda, ela trabalha e estuda, e agora está lutando para a manutenção do seu direito. O governo do Estado quer que os estudantes voltem às aulas, mas como isso vai acontecer se não vai ter escolas para voltar?”.
A mãe Paula Pereira da Silva, que estava presente na escola no momento da invasão da PM, afirmou, “minha filha nem estuda aqui, vim porque falaram para mim que hoje aconteceria uma reunião com a direção da escola para fazer a matrícula das crianças e a minha filha precisa fazer a transferência”.
A representante da Diretoria de Ensino do Centro, que se apresentou apenas como Silvia, quando questionada sobre como a PM foi parar dentro da escola, informou que “eles [a polícia] entraram, foi tudo direitinho, só pra apoiar. Eles tentaram entrar por um portão e não conseguiram aí tentaram por outro e conseguiram”.
No momento da entrevista, Valeria, também da Diretoria do Ensino, apesar do cutucão meio indiscreto de Silvia, não percebeu que estávamos gravando e disse, “cadê a vice a Adriana? Precisa pedir para ela ligar para os pais para retomar as aulas logo, os professores estão aqui”.
Antes de Silvia se retirar da escola teve uma discussão com Kauê, que afirmou, “vocês invadiram, sabiam que a escola estava ocupada e trouxeram a polícia. Quem vai decidir a hora de desocupar a escola são os estudantes, temos este direito”. A ocupação foi mantida e os estudantes estão chamando uma manifestação contra a reorganização e contra a violência às 18 horas de hoje. Confirme sua presença!
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