Kauê: agora a luta é para acabar com a superlotação de nossas salas

Kauê ao centro junto a estudantes da E. E. Maria José (Mazé) após ataque policial dirigido pelo proprio Fernando Padula (chefe de gabinete da Secrtaria de Educação)

 

Abaixo publicamos entrevista realizada com o presidente da UMES, Marcos Kauê, avaliando a vitória dos estudantes conquistada após dezenas de manifestações e mais de 200 escolas ocupadas, mobilização que levou o governador Geraldo Alckmin a revogar o decreto que instituía o fechamento de escolas. Na entrevista Kauê afirma que o recuo foi uma vitória muito importante, contrariando os que afirmam ser necessário manter as ocupações, mesmo após a revogação da reorganização pelo governo de São Paulo   

 

Como você avalia a revogação do decreto da reorganização escolar de Alckmin?

 

Kauê: Essa foi sem dúvida uma das maiores vitórias dos últimos anos contra os governos tucanos. Há mais de 20 anos eles estão no governo do Estado, e nunca se derrubou um secretário de educação como ocorreu semana passada. A participação dos estudantes foi fundamental, nós fomos os protagonistas das ocupações, mas essa luta não era apenas dos estudantes, foi uma luta de toda a comunidade escolar, de toda a sociedade. Os pais e os professores apoiaram muito, a comunidade ajudou, os movimentos sociais e o Ministério Público ajudaram e apoiaram muito os estudantes que ocuparam suas escolas contra o fechamento e a divisão em ciclos. Mas os estudantes, principalmente, viveram um momento diferente nessa luta, que foi conseguir entender e ver a força que o movimento unificado dos estudantes têm quando se somam em defesa da educação pública de qualidade. Ganhamos toda a sociedade para discutir os caminhos da nossa escola e da nossa educação.

 

Com a revogação da reorganização os estudantes venceram a batalha contra o fechamento das escolas. Quais os caminhos para conquistarmos uma educação pública de qualidade após essa vitória?

 

Kauê: Nosso movimento venceu a primeira batalha. E nossa palavra de ordem para vencer essa luta era "ocupar e resistir". Só que nesse momento vivemos um grande desafio e precisamos reunir forças para organizar um plano específico de metas para conquistar uma educação pública, gratuita e de qualidade. Então para isso vamos nos reorganizar, criar novas forças e uni-las para essas novas conquistas. É importante salientar que após essa vitória contra o governo a sociedade está mais consciente da necessidade de acabar com a superlotação das salas. Essa será uma das nossas principais bandeiras no próximo período.

 

 

Kauê durante manifestação do dia 6 de novembro na Avenida Paulista, pouco antes do início das ocupações

 

Muitos estão inseguros em deixar as ocupações acreditando que Alckmin vai tentar impor o fechamento das escolas novamente. Qual a alternativa nesse caso?

 

Kauê: É verdade, muitas pessoas estão inseguras. Mas não podemos ter esse tipo de insegurança nesse momento, agora é hora de seguir pressionando por educação de qualidade e comemorar. Os estudantes acabaram de ter uma vitória muito grande ao revogar a reorganização. Foi uma batalha longa, fizemos dezenas de manifestações, depois ocupamos mais de 200 escolas contra a reorganização. Ocupamos e resistimos até derrubar o decreto da reorganização. Derrubamos também o secretário de Educação [Herman Voorwald], que representava todo esse projeto para fechar escolas. E também caiu o chefe de gabinete do secretário, que era o Fernando Padula, o cara responsável por toda a guerra da polícia e do governo contra os estudantes. Foi uma vitória muito grande, e precisamos entender essa vitória.

 

 

A nossa alternativa agora é permanecer mobilizados e organizados junto com os professores, com a comunidade e também conversando com o Ministério Público. Vamos seguir organizados nas ruas através do movimento estudantil pelo fim da superlotação das salas de aulas, que devem ter no máximo 40 alunos de acordo com a LDB [Lei de Diretrizes e Bases], pelo fim da aprovação automática e pela valorização de nossos professores que recebem muito mal. Será através destas pautas que vamos nos organizar para o próximo ano, um ano de debate eleitoral, e assim barrar qualquer tentativa do governo retomar a discussão sobre fechar salas e cortar da educação, porque a discussão precisa ser como construir novas escolas e melhorar a nossa educação.

 

Estudantes comemoram revogação durante "Virada Ocupação" (Foto: Fabio Tito/G1)

 

Qual a mensagem da UMES para os estudantes de São Paulo nesse momento?

 

Kauê: A mensagem da UMES para todos os estudantes é que essa vitória foi muito importante, e não podemos esquecê-la, porque essa vitória prova o quanto somos fortes. Conseguimos dobrar o governador e derrubar o secretário estadual de educação.

 

 

Essa batalha foi muito importante para avançar a nossa luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade. Luta que vamos continuar dia após dia de maneiras e formas diferentes para manter de pé a nossa esperança de conquistar uma educação a altura da juventude brasileira. E isso só será possível com a luta conjunta de toda a sociedade para diminuir para 40 alunos o número de estudantes por sala, que será uma de nossas principais bandeiras para o próximo período.

 

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