Kauê: estudantes são contra a reorganização!
Publicamos abaixo entrevista com o presidente da UMES, Marcos Kauê, sobre os principais temas da educação de São Paulo. No bate papo Kauê reafirmou a posição dos estudantes contraria a reorganização (projeto do governo de São Paulo para cortar da dinheiro da educação fechando escolas e superlotando ainda mais as salas de aula), condenou o roubo da merenda, os cortes na educação e lembrou que eleição de grêmio quem faz são os estudantes
Kauê o novo secretário de Educação, José Renato Nalini, tem manifestado que vai levar adiante a reorganização, "com muito diálogo". Como a UMES avalia essa questão?
Os estudantes já deixaram claro que são contra essa reorganização que o governo propõe. Sabemos que essa medida é única e exclusivamente para cortar gastos e não é disso que a educação precisa. Para melhorar a educação é necessário reduzir o número de alunos por sala, aumentar o salário dos professores a níveis aceitáveis e revolucionar nossas escolas no que diz respeito a infraestrutura. E isso só vamos fazer ampliando os investimentos em educação e construindo novas escolas!
Porém a proposta do governo de São Paulo é fechar mais de cem escolas, e transferir centenas de milhares de alunos com sua reorganização, superlotando ainda mais nossas salas de aula. E esse ano os cortes dessa reorganização já começaram: foram mais de 1000 salas fechadas, como aponta a APEOESP, e em entrevista ao G1 o novo secretário de Educação afirmou que apenas esse ano o orçamento de sua secretaria foi reduzido em R$ 1,5 bilhão.
Em relação a superlotação, mais de mil salas já foram fechadas em 2016 de acordo com a Apeoesp. E ao menos 12% dos alunos das escolas privadas migraram para as escolas públicas. As salas estão ou não superlotadas? Para onde foram esses alunos?
No início do ano passado, em fevereiro, foi veiculada uma matéria pelo Bom Dia São Paulo denunciando a superlotação das escolas durante a gestão Alckmin. Esse ano o governo tomou mais cuidado e não deixou que as listas de chamada ultrapassassem mais de 40 alunos por sala. Porém há filas e mais filas de pais querendo matricular seus filhos. Ontem eu estava na E. E. Caetano de Campos da Consolação e havia uma fila gigante de pais buscando matricular seus filhos.
Nós estamos atentos! Enquanto o governo diz que existem vagas ociosas a realidade nas escolas é que as matrículas ainda não foram efetivadas totalmente. E nós, estudantes, não vamos aceitar nenhuma sala superlotada e vamos brigar para que a rede se adeque a reivindicação dos estudantes e professores para que nossas escolas cheguem ao patamar mínimo de 35 alunos por sala!
O secretário também disse que vai organizar as eleições dos grêmios, coisa que nem mesmo a ditadura fez. O que a UMES acha disso?
Esta ação do secretário é muito suspeita e está ligada a uma prática que se iniciou no último ano quando algumas diretorias de ensino passaram a tentar dirigir as eleições dos grêmios em diversas escolas. Muitas diretorias chegaram a manter reuniões constantes com as lideranças de algumas escolas na tentativa de engessar o movimento estudantil, chegando a desmobilizar alguns estudantes da luta contra a reorganização, ou mesmo durante a greve dos professores, um pouco antes. No dia-a-dia descobrimos que a intenção da diretoria de ensino não era fortalecer ou estimular a organização dos estudantes, mas sim neutralizar e intervir na nossa ação e organização, o que contrária a lei federal do grêmio livre [Nº 7.398, de novembro de 1985].
Embora seria muito positivo contar com o Estado de São Paulo para fortalecer o movimento estudantil, contando com mais apoio e abertura dentro das escolas para estimular a ampliação dos grêmios. Mas infelizmente acreditamos que essa ação é mais uma manobra para intervir nos grêmios, indicar sua diretoria e neutralizar o movimento estudantil nas escolas.
Reunião da diretoria após revogação da reorganização pelo governo de SP
Durante os mais de 20 anos de governo do PSDB em São Paulo as matrículas foram reduzidas em dois milhões. Entre 2015 e 2016 a redução alcançou o número de 187 mil. O que isso significa?
Isso é o efeito crescente do sucateamento da educação em São Paulo e no Brasil: são cortes e mais cortes contra a educação. A escola se torna obsoleta e atrasada, não é interessante para a juventude. E para piorar aqui em nosso estado, há mais de 20 anos, existe um esforço crescente para tirar a juventude das escolas. São salas superlotadas, escolas sem laboratórios ou quadras. Há casos onde os quadros negros estão quebrados. Falta professor, e quando não falta o desestimulo deles é muito grande já que nossas escolas não dão condições de trabalho dignas, já que possuem carga horária muito elevada na tentativa de aumentar um pouco seus salários baixos.
E sobre o argumento do governo de que a natalidade caiu, quando olhamos os dados fica claro que isso é sacanagem, porque a natalidade caiu muito menos que o observado nas matrículas de São Paulo. E no último período também houve uma grande transferência de estudantes da rede pública para a privada, o que está se revertendo com a crise econômica. Para onde esses alunos vão se aqui em São Paulo o governo está fechando salas e escolas?
Você comentou que a diretoria da UMES tem verificado muitas filas de pais para matricular seus filhos. De onde vem esses estudantes?
Esses estudantes vem de matrículas e de rematrículas que não foram realizadas na data correta, e principalmente da migração dos estudantes da rede particular para rede publica já que a crise econômica está obrigando as famílias a cortarem diversos gastos.
E o escândalo das merendas?
É uma verdadeira vergonha, um grande desrespeito com a juventude. Parece que não se respeita mais nada no Estado. A corrupção chegou a um ponto onde há quem roube até mesmo a merenda das crianças.
A merenda tem uma função importante na rede pública, principalmente para os estudantes em situação de vulnerabilidade social que tem na refeição escolar parte considerável de sua alimentação diária. Mas discutir a educação de São Paulo durante a gestão Alckmin virou motivo de piada. O mesmo Fernando Padula [então chefe de gabinete da Secretaria de Educação do Estado, até sua exoneração há algumas semanas] que foi até o Mazé [E. E. Maria José] em novembro iniciar a guerra contra os estudantes é o mesmo envolvido no roubo das merendas.
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