Falta de verba para saneamento causou proliferação do mosquito

 

Brasil conta hoje com apenas 48,6% de coleta de esgoto. Enquanto isso, ministro de Dilma usa ameaça do zika vírus para tentar aprovar a CPMF. Durante cinco anos de governo, Dilma deixou de investir R$ 8,2 bilhão em saneamento básico. País vive epidemia de dengue e surto de microcefalia

 

Em cinco anos o governo Dilma deixou de investir R$ 8,2 bilhões em saneamento básico e acredita que colocando mosquitos virtuais no site e o exército para panfletar nas esquinas e saídas de metrô irá resolver o problema do mosquito Aedes Aegypti, transmissor do Zika vírus, da dengue e da chikungunya.

 

Segundo dados do Tesouro, de 2011 a 2015, R$ 8.241.090.752,00 deixaram de ser aplicados pelo governo federal em saneamento. O valor é a diferença entre o autorizado no Orçamento de cada ano e o que foi efetivamente pago, em números atualizados pela inflação.

 

Nos últimos cinco anos, R$ 16,8 bilhões foram autorizados para aplicações federais na função Saneamento, dos quais apenas R$ 8,6 bilhões foram gastos. O valor desembolsado representa apenas 51,1% da dotação.

 

Segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com o ritmo atual de investimentos, o Brasil levará mais quatro décadas para atingir a meta do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) de universalizar os serviços de coleta e tratamento de esgoto, e abastecimento de água, que deveria ser uma prioridade no momento. Para a CNI “custa muito caro não ter saneamento no país, principalmente nas internações hospitalares”.

 

De acordo com os números mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), o país conta hoje com apenas 48,6% de coleta de esgoto. A disparidade regional, no entanto, é assustadora, enquanto no Sudeste o índice é de 77,3%, no Norte chega a apenas 6,5%.

 

Campanha virtual do governo federal

 

A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) lançou a campanha ‘Só ganharemos a guerra contra o mosquito Aedes aegypti com saneamento básico’, a iniciativa pretende conscientizar a sociedade de que somente por meio do saneamento básico é possível mudar o cenário epidemiológico de expansão deste tipo de doenças. Para a entidade “o estado de alerta em que se encontra o país demonstra que persiste a necessidade de investimentos em saneamento básico para as cidades brasileiras”.

 

E alerta, “no abastecimento de água, o pior problema para o combate à dengue é o abastecimento irregular, como falta ou intermitência de água, porque leva a população a usar caixas d’água, potes e barris”.

 

CORTES FEDERAIS

 

Em julho passado, o Ministério da Saúde estabeleceu um número máximo de agentes ACEs pagos com recursos federais, por município. A estimativa é que somente no Estado de Pernambuco, onde se concentra o maior número de casos de microcefalia no país, mais de 2,4 mil funcionários tenham sido demitidos, o que representa uma redução de cerca de 40% no número total de agentes, reduzindo o número e a frequência das visitas. O mesmo ocorreu em diversos estados.

 

Ainda em 2015, o país viveu a pior epidemia de dengue já registrada, com mais de 1,6 milhão de casos. Já os casos de microcefalia, associados ao zika vírus, já ultrapassam 4 mil.

 

Esta fórmula para a explosão de casos não é uma novidade, é a mesma já comprovada por FHC em 2002, quando o país registrou 770 mil casos de dengue e o governo tentou acabar com os mata-mosquitos. Na época o governo federal demitiu 5 mil agentes apenas no Estado Rio de Janeiro, onde estava ocorrendo o maior número de mortes. Nada de diferente do que hoje Dilma oferece para a população.

 

LARVICIDAS

 

Depois da notícia que a substância pyriproxifen, usada no combate ao Aedes Aegypti, seria a responsável pela má-formação em bebês, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) esclareceu em nota, na última segunda-feira (15), que “em momento nenhum afirmou que os pesticidas, larvicidas ou outro produto químico sejam responsáveis pelo aumento do número de casos de microcefalia no Brasil”. Segundo a entidade a nota dizia é que ela considera perigoso que o controle do mosquito seja feito principalmente com larvicidas.

 

“É sabido que um cenário de incerteza como este provoca insegurança na população e é terreno fértil para a disseminação de inverdades e de conteúdos sem qualquer (ou suficiente) embasamento científico. A Abrasco repudia tal comportamento, que desrespeita a angústia e o sofrimento das pessoas em situação mais vulnerável, e solicita prudência aos pesquisadores e à imprensa neste grave momento, pois todas as hipóteses devem ser investigadas antes de negá-las ou de confirmá-las”, afirma o comunicado.

 

OPORTUNISMO

 

O Dia Nacional de Combate ao Mosquito Aedes Aegypti, convocado pelo governo federal, foi realizado no último sábado (13), deixou claro o quanto o governo está preocupado com o combate à dengue, chikungunya e Zika, causador da microcefalia.

 

Para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que participou das ações em Fortaleza (CE), defender a aprovação do projeto que recria a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), servirá também para combater o mosquito. Aliás, mais do que isso, segundo o ministro de Dilma, apenas a nova CPMF será capaz de combater o Aedes.

 

“Temos que ter uma conscientização de que, neste momento que o Brasil vive, a aprovação desse tributo é muito importante. Nós não teremos outra forma de produzir recursos para desenvolver atividades como esta (de combate ao mosquito)”, disse Cardozo.

 

Fonte: Jornal Hora do Povo (Camila Severo)

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