CNAB repudia atitude fascista de coordenador do MBL

Professor Eduardo de Oliveira, autor do Hino à Negritude

 

Alfredo de Oliveira Neto*

 

O Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB) vem por meio de esta nota manifestar o seu repúdio e desagravo a atitude fascista do coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Fernando Holiday, que rasgou no plenário da Câmara dos Deputados a letra do Hino à Negritude, no dia 22 de março, durante solenidade que comemorou o Dia Internacional de luta contra a Discriminação Racial instituído pela ONU na data do massacre de Shapeville, na África do Sul , em 1960, durante o apartheid.

 

Convidado pelo DEM (partido que entrou com ação no STF contra cotas raciais da UnB) Holiday fez o mesmo discurso de quem historicamente é contrário à adoção de política em benefício dos negros. Para Holiday o Hino à Negritude é “o hino da segregação, que tenta mais uma vez, como é de praxe da esquerda, separar o povo”.

 

Holiday demonstra ignorância em relação à História do Brasil. O Hino à Negritude, de autoria do fundador e patrono do CNAB, Eduardo de Oliveira, é uma obra que exalta o negro no Brasil, glorifica nosso trabalho na construção do país, nossa beleza, nossa coragem, habilidade, luta, enfim, coloca-nos no pedestal, sem aviltar a figura ou a trajetória de quem quer que seja.

 

O Hino à Negritude foi composto pelo professor Eduardo quando tinha aproximadamente 16 anos. Após uma longa e tenaz luta no Congresso Nacional, o Hino à Negritude passou a ser execução obrigatória em todo território nacional em eventos alusivos a comunidade negra no dia 28 de maio de 2014 através da Lei Nº 12.981.

 

Com um discurso de ódio e preconceito Holiday, histérico, não consegue enxergar suas raízes e se identificar como negro e com os negros.  Alheio aos séculos de exploração da escravatura ele fez uma falação no sentido de que é por falta de esforço próprio que nós, os negros, não somos maioria nas universidades, entre os mais abastados, no Congresso, no Itamaraty e etc.

 

“O que vejo aqui são os negros rebaixando os negros, dizendo que os negros não são capazes de alcançar seus objetivos por suas próprias capacidades. Muito pelo contrário (…) Acho que as cotas reforçam o racismo (…) Acredito que os negros e pobres podem alcançar a vitória mesmo sem as migalhas do Estado”, disse ele.

 

A igualdade só pode ser verificada entre pessoas que se encontram em situações semelhantes. Para enfrentar a situação de evidente desigualdade entre negros e brancos, são justas as ações afirmativas – entre elas as cotas. Evidentemente, não há nada mais injusto, nada mais desigual, do que tratar como igual aquilo que é desigual, como faz Holiday. O caminho para a maior igualdade na sociedade brasileira passa, necessariamente, por resgatar a dívida social com aqueles que foram, historicamente, desfavorecidos.

 

O Prof. Eduardo demonstrava que aqueles que são contra as cotas, como Fernando Holiday, se baseiam num sofisma segundo o qual uma luta imaginária entre um peso pesado como Mike Tyson e um raquítico elemento do povo, daria aos dois chances iguais de vitória porque as regras, materializadas na figura do juiz da luta, seriam as mesmas para os dois lutadores.

 

Pela falta de identificação com os negros o convidado do DEM ignora a crise que passa o país e o povo, principalmente os negros, pela política antinacional do governo que se submeteu ao sistema financeiro internacional passando, somente no ano passado, R$ 501 bilhões para os bancos através do pagamento de juros. Enquanto isso os negros sofrem cada vez mais com o aumento do desemprego – já são mais de três milhões de desempregados, sendo a maioria de negros – e da fome, retirada de direitos trabalhistas, genocídio da sua juventude, aumento dos casos de racismo e os cortes no Orçamento que deterioram ainda mais os serviços públicos prejudicando de forma mais enfática a comunidade negra, que é quem mais depende de investimentos públicos na Educação, Saúde e Transporte.

 

Um claro sintoma de que Fernando Holiday não se enxerga como negro é que para ele a conjuntura político-econômica é como se não existisse. O racismo existe devido as cotas, o Hino à Negritude, ou seja, a culpa da situação dos negros é dos próprios negros…

 

*Presidente do CNAB

 

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