A culpa é do João Vaccari, diz Dilma sobre o dinheiro ilícito
Só porque ele tá preso e não pode se defender. Mas o pagamento de US$ 4,5 milhões, desviados da Petrobrás, para o marketeiro só foi feito porque a Sra. Rousseff mandou. Vaccari não faria isso sem a determinação dela
Na quarta-feira, a senhora Rousseff apresentou a quarta versão sobre a propinolândia de sua campanha, desde que seu marketeiro, João Santana, a mulher deste, Mônica Moura, e o lobista Zwi Skornicki, confessaram que US$ 4,5 milhões, que entraram na conta de Santana na Suíça, vieram do “caixa dois” da campanha de Dilma, formado com propinas oriundas do roubo à Petrobrás.
Disse ela, na Rádio Educadora, de Uberlândia, Minas Gerais:
“Se ele [Santana] recebeu US$ 4,5 milhões, não foi da organização da minha campanha, porque ele diz que recebeu isso em 2013. A campanha começa em 2010 e, até o fim do ano, antes da diplomação, ela é encerrada. Tudo que ficou pendente sobre pagamentos da campanha passa a ser responsabilidade do partido. Minha campanha não tem a menor responsabilidade sobre em que condições pagou-se dívida remanescente da campanha de 2010. Não é a mim que você tem de perguntar isso. Ele tratou essa questão com a tesouraria do PT”.
RESPONSABILIDADE
Agora, a culpa é do PT.
Parece até que a “tesouraria do PT” (isto é, João Vaccari Neto) decidia alguma coisa sobre João Santana – referente à campanha de Dilma – sem que ela determinasse e, evidentemente, soubesse. Santana era o sujeito que a aconselhava em tudo, porque tudo para ela era marketing. Era mais importante, para ela, que qualquer ministro. Quem não sabe disso? Alguém (muito menos Vaccari) iria passar US$ 4,5 milhões para Santana sem que Dilma, a principal interessada, e beneficiada, não soubesse – e decidisse? Somente se Dilma, que se mete em tudo, fosse outra pessoa. Mas não é.
Vejamos, por partes, a sua declaração ao repórter da Rádio Educadora: “Não é a mim que você tem de perguntar isso”.
Dilma era a candidata e responsável pela campanha. Era quem, sobretudo, se relacionava politicamente com Santana. Por que, então, ela diz: “não é a mim que você tem de perguntar isso”?
Somente porque quer que ninguém pergunte. E não quer que se pergunte porque sabe a resposta.
Vejamos outra parte: “Minha campanha não tem a menor responsabilidade sobre em que condições pagou-se dívida remanescente da campanha de 2010” (grifo nosso).
A despesa era contratada por Dilma (que era a candidata). A receita era recebida por Dilma. Não apenas oficialmente: existe algum candidato que não se interesse em saber quanto entrou de recursos e quanto saiu (até porque, se não prestar atenção nisso, pode ir parar na cadeia)?
Então, por que, diz ela, “minha campanha não tem a menor responsabilidade”?
Exatamente porque tem essa responsabilidade. E ninguém tem mais responsabilidade por sua campanha ser bancada com dinheiro roubado da Petrobrás, do que ela. Ou ela não era a candidata? Ou ela não se beneficiou de um crime – usar dinheiro de propinas que ladrões pagavam para assaltar a maior e mais estratégica empresa do país, de propriedade do povo brasileiro?
Não há outro motivo para fazer declarações que são, evidentemente, tão falsas, que ela tenta sufocar os interlocutores e ouvintes com ênfases (“não é a mim”, “não tem a menor”, etc.) à beira da histeria – ou já afundadas na histeria – para que eles não pensem naquilo que ela está dizendo.
Ela era, também, presidente do Conselho de Administração da Petrobrás durante a maior parte do período em que a empresa era assaltada, sem contemplação, por seus correligionários. Onde estava ela? Na mais caridosa das hipóteses, olhando para o outro lado.
Diz ela que “tudo que ficou pendente sobre pagamentos da campanha passa a ser responsabilidade do partido”.
Segundo a lei eleitoral, é verdade.
Mas desde quando a lei eleitoral regula pagamentos ocultos, com dinheiro roubado?
O pagamento via caixa dois de uma despesa de US$ 5 milhões (dos quais foram pagos US$ 4,5 milhões) não era uma despesa pendente da campanha. Em nenhum momento a campanha de Dilma declarou a existência dessa despesa. Portanto, o PT em geral não poderia ser responsável por uma despesa que não existia legalmente, nem era conhecida de ninguém, exceto alguns poucos felizardos.
Mas o PT “em geral” não existe. Quem se beneficiou com as propinas? Essa despesa – uma despesa da campanha de Dilma – era ilegal, tanto quanto o dinheiro que a pagou, depositado na Suíça pelo lobista de um estaleiro, correspondente a propinas que o PT levou no roubo à Petrobrás.
A mão do gato aparece quando Dilma quer transformar uma despesa ilegal (de US$ 5 milhões!) e um pagamento ilegal numa “despesa pendente” – até mesmo usando, para a primeira, o que a lei estabelece para a segunda.
Quando Dilma trata esse “caixa dois” forrado de propinas como pagamento de “despesas pendentes”, tão normal que até está sujeito à legislação eleitoral – sob a qual, realmente, as despesas pendentes ficam com o partido – está confessando que não vê diferença entre uma despesa paga com dinheiro ilegal – dinheiro de roubo, dinheiro de crime – e outra despesa, paga com dinheiro limpo.
Por isso, em sua tortuosa mente, o caixa dois de propinas teria que estar sujeito às mesmas normas da legislação eleitoral, como se tais pagamentos fossem legais, normais e legítimos.
Portanto, dizer que não sabia desse caixa dois é mentira – na falta de distinção entre dinheiro ilegal e dinheiro legal, está claro que o caixa dois de propinas tornou-se, para ela, a normalidade.
ORDEM
Além disso, é evidente que a “tesouraria do PT” – isto é, o sr. João Vaccari Neto – não fazia pagamentos a quem lhe dava na veneta ou quando lhe dava na telha. Vaccari, que, pouco tempo antes, era apenas um assessor de Ricardo Berzoini, não tinha autonomia de voo para decidir quase nada, menos ainda um pagamento de US$ 5 milhões (cinco milhões de dólares).
Seria um disparate, um despautério, um completo absurdo achar que Vaccari liberou US$ 5 milhões das propinas que o PT recebia – ou seja, decidiu gastar cinco milhões de dólares com João Santana – da sua própria cabeça, sem nenhuma ordem, sem nenhuma comunicação de alguém “de cima”, de que deveria passar esse dinheiro ao marketeiro de Dilma.
Tanto assim que ele não pagou antes, apesar de ser o tesoureiro do PT desde 2010. Somente em 2013 essa dívida da campanha de 2010 começou a ser paga.
Por que não pagou antes?
Por falta de dinheiro é que não foi – dinheiro roubado da Petrobrás é o que não faltava no esquema.
É óbvio que, na falta de uma ordem para pagar, ele não iria fazê-lo.
Ao fim, ele recebeu essa ordem, de onde poderia receber.
Fonte: Carlos Lopes da Hora do Povo
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