3-8-16 Ildo Sauer

Ildo Sauer: venda do Campo de petróleo de Carcará é crime de lesa-pátria

3-8-16 Ildo Sauer

A venda do Campo de Carcará, na Bacia de Santos, pela diretoria da Petrobrás, tem que ser barrada”, disse o professor Ildo Sauer, presidente do Instituto de Energia e Ambiente, Programa Interunidades de Pós Graduação Em Energia da USP e ex-diretor da Petrobrás, em entrevista ao HP, sobre a decisão anunciada no final da semana. Para o professor da USP “não é o momento de fazer nada disso e esse governo não tem legitimidade para fazer essa venda”. “Os pescadores de águas turvas estão querendo exatamente fazer isso, destruir o patrimônio público. Coisa que a Dilma já vinha fazendo. Então eles [governo Temer] estão pisando fundo na senda ruinosa que a senhora Rousseff iniciou”, denunciou.

“Temos lá entre 700 milhões e 1 bilhão de barris e, neste momento em que se encontra o mundo, vivendo uma transição, com o atual preço do petróleo, é um absurdo esse governo provisório fazer isso. Qual é a legitimidade do senhor Pedro Parente, do Temer e o ‘menininho’ lá do Ministério, o ‘coelhinho’, para fazer isso? Não têm nenhuma. E a população, foi consultada? Acho que tem que ir para a Justiça para barrar isso”, defendeu Ildo Sauer.

“Todo mundo está esperando o preço voltar. E, nesse momento, a Petrobrás não resolve seu problema vendendo 1 bilhão de barris ao preço de US$ 2,5 bilhões. Isso é uma vergonha, dois dólares e pouco. A Petrobrás pagou para o governo na cessão onerosa próximo de 10 dólares, 8,5; 9; 10; 11 dólares o barril, agora vão vender por esse preço vil? Isso é um crime de lesa pátria. Não podem prosperar. E o problema da Petrobrás não se resolve com 3 bilhões de dólares. É 100 [bilhões de dólares, a dívida].

“E tem jeito de resolver isso. É só criar um fundo público: o Brasil tem 350 bilhões de dólares de reservas com 250 bilhões emprestados ao governo americano com juros negativos”.

“Do ponto de vista geopolítico, houve um acordo entre países da OPEP e a Rússia. Eles se organizaram. Porque houve um refluxo no preço do petróleo, em grande parte comandado pela Arábia Saudita. Isso ocorreu porque os sauditas perderam espaço devido à entrada do petróleo não convencional [óleo de xisto], que assumiu grande parte da demanda americana e deslocou a Arábia Saudita. Ela então resolveu reivindicar e aumentou sua cota de produção, mas o objetivo dela me parece muito claro. Para eles não tem sentido manter os preços onde estão, podendo voltar a chegar em 80 a 100 dólares. Isso vai ocorrer porque não há substituto do petróleo, na escala em que ele é consumido hoje. E o xisto sozinho não dá conta disso”, afirmou o professor da USP. “O xisto ocupou espaço, com 7 ou 8 bilhões de barris e agora está caindo um pouco. Agora, inclusive, como o preço caiu, grande parte das sondas de perfuração para fraturamento tiveram uma redução drástica na produção”.

“Então é só fazer um fundo. Pegar 100 bilhões de dólares, comprar todas as ações da Petrobrás à venda no Brasil e no exterior, aproveitar que agora elas estão desvalorizadas e o resto do fundo você empresta para a Petrobrás e desapropria todas as grandes empreiteiras que cometeram esses crimes aí. Nomeia uma gestão profissional e depois pulveriza o capital e, se tiver um saldo, devolve para as famílias que comandaram, as Odebrecht, as Mota Pires, da OAS, Andrade Gutierrez”, defendeu Ildo Sauer.

O professor Sauer lembrou que “a GM foi estatizada na crise americana e depois vendida com lucro. O governo brasileiro devia ter feito isso. Duas coisas: fazer um fundo público. Se não quiser fazer um fundo público, vai para a China. A China tem trilhões de dólares de reservas e está disposta a negociar condições estratégicas. Não tem que ficar vendendo no mercado financeiro. Não tem lógica. Nem vender petróleo e nem ativos sem necessidade”.

Para Ildo Sauer, “eles estão fazendo isso porque tem alguém que está ganhando e muito. Essa é que é a questão. Tem alguém que está se beneficiando disso e vai aparecer no futuro. Então a solução da Petrobrás é essa: retomar o crescimento econômico, reavivando as empresas, desapropriando as ações da Odebrecht, da Camargo, da Andrade, da Galvão, todas elas. Nomear uma gestão profissional, como foi feito com a GM, e, no futuro, vende-se as ações, usando-as para indenizar o povo brasileiro, que foi lesado. De outro lado, usar 100 bilhões de dólares das reservas para criar um fundo – e esse fundo investe na Petrobrás. Com isso, a economia volta a se recuperar. Tem saída, sim”.

Questionado sobre a queima de patrimônio que vem sendo implantada na Petrobrás desde Graça Foster, Ildo denunciou: “Estão querendo vender a BR, a GNL, estão querendo vender os gasodutos, as termoelétricas, ou seja eles querem vender tudo. Eles querem um retrocesso enorme. A Petrobrás seria uma empresa de óleo, porque empresa de petróleo inclui o gás. Eles estão se desfazendo do gás e dos biocombustíveis, dos renováveis, da energia em geral. A estratégia, que até os tucanos avançaram na década de 90, de criar a diretoria de gás e energia, agora o governo Temer, Dilma iniciou o retrocesso, e eles estão continuando. Isso tem que ser barrado”.

Sauer alertou que o preço da venda de Carcará “é aviltante, até porque ninguém está vendendo”. “Quem está vendendo petróleo no mundo?”, indagou. “Ninguém. Tá todo mundo esperando. Primeiro não deve vender nunca, e se for vender a 10 dólares seria barato. É claro que o preço do barril a 50 ou 60 esse não é o momento da fazer essas coisas. Você não pode investir quando o petróleo está em alta e vender quando está em baixa. Nem dono de padaria faz isso. A diretoria tem autonomia para comprar e vender. A Graça vendeu metade dos ativos da África para o André Esteves [Banco BTG Pactual]. Isso é uma coisa que não foi investigada ainda. Mas Dilma e Graça fizeram isso”.

SÉRGIO CRUZ

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