Foto: http://correionago.com.br

Morre Raquel Trindade, deixando grande legado de luta pela igualdade racial.

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“a história do negro é muito forte, muito bonita, a gente tem muito o que contar”

 

Raquel Trindade foi artista plástica, escritora, professora, diretora de teatro e ativista do movimento negro e das religiões afro-brasileiras.

 

Raquel nos presenteou com sua presença no evento “se tem gente com fome, Dai de comer!”, organizado em setembro de 2016 por nós, o grupo Ô DE CASA e CasIlêOca, em homenagem ao seu pai, Solano Trindade.

 

Nesse nosso último encontro, Raquel muito emocionada recitou o poema de Solano, “Tem gente com fome, dai de comer”, que deu nome ao espetáculo.

 

Uma grande batalhadora pela consciência da importância do negro na história e na construção do país, Raquel desafiava quem fosse necessário para isso. Em entrevista dada ao portal VerboOnline, de Embu, ela descreve alguns dos episódios em que sofreu discriminação racial:

 

VERBO – A Raquel Trindade já sofreu discriminação racial?

Raquel – O negro em geral sofre tudo que é preconceito. São muitas histórias, mas uma discriminação [entre as mais sérias] que sofri foi aqui no Embu mesmo, na época em que Geraldo Cruz me convidou para trabalhar – junto com o Assis, o [artista plástico] Gileno Bahia – no Turismo, que tinha como secretário o Jean Gillon [morto em 2007, aos 87 anos]. Geraldo tinha me pedido para reunir o pessoal e fazer um Carnaval bonito, e ele [secretário] virou para mim e disse: ‘Vou botar uma mesinha na rua para você atender essa gentinha lá fora’. Eu falei: “Você é louco, isso é apartheid, não vou fazer isso!” Quando ele entrou [na secretaria], eu o vi comentar com uma pessoa: “Negro não pensa, não tem cérebro, e não faz arte, faz macaquice”. Ele era romeno, até achei estranho um judeu ter preconceito racial, mas acontece. Procurei o Geraldo, que na hora não falou nada. Ele fez uma reunião com todo o Turismo e falou: “Raquel, essa reunião é para você pedir desculpas para o Jean Gillon”. Eu falei: “Para esse ‘fascistão’ vou pedir desculpa? Você não me conhece, prefiro pedir demissão e derrubar ele”. Foi o que eu fiz.

 

Por toda identidade com nosso povo, Raquel merece o nosso respeito e nosso eterno agradecimento por nos ter dado a oportunidade de ter participado de um pedacinho dessa sua história.

 

Abaixo publicamos o vídeo dela recitando o poema de seu pai, Solano Trindade.

{mp4}Trem sujo da Leopoldina{/mp4}

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