A dura realidade da participação feminina nos festivais brasileiros
Publicamos a seguir um artigo escrito por nossa querida ex-tesoureira, jornalista e atualmente redatora do Jornal Hora do Povo, Maíra Campos.
No artigo Maíra descreve a baixa porcentagem de musicistas que conseguem espaço para se apresentar nos maiores festivais que aconteceram no país no ano de 2017.
A dura realidade da participação feminina nos festivais brasileiros
Por Maíra Campos
Com o questionamento “onde estão as mulheres artistas?” realizamos um levantamento com os 10 maiores festivais do país, e trazemos a vocês a triste constatação de que não são nos maiores eventos.
Nos últimos anos, a luta feminina vem ganhando espaço nas mídias, o que é uma grande vitória, mas em diversos outros aspectos, principalmente no trabalho, na profissão, os avanços são poucos e lentos. No Brasil, dos 10 maiores festivais de música, artistas mulheres representam apenas 20,8% das atrações que se apresentaram em 2017.
Vale ressaltar que em muitas das bandas havia uma única mulher, e dentro desses 20,8% também estão grupos assim, por considerarmos que uma única mulher no palco já é um ato de resistência.
O Rock in Rio, o maior dos festivais pesquisados, o Lollapalooza Brasil e o Psicodália seguem a lógica nacional, com apenas 21%, 21% e 20%, de musicistas mulheres em seus shows no ano passado, respectivamente. Já no Coala Festival a situação é um pouco melhor, 27% de suas atrações foram mulheres em 2017.
Aíla no Coala Festival 2017 Foto: Victor Santos // Revista Vaidapé
A cena do rock é majoritariamente ocupada por músicos homens, e num dos maiores festivais do gênero não há qualquer política de inclusão as artistas do sexo feminino. O Festival Abril Pro Rock, em Pernambuco, em 2017 aconteceu com 16,6% de mulheres.
É verdade também que alguns dos festivais analisados chegaram próximo de zero. O Festival MIMO, em Olinda, apresentou apenas um show feminino, em 2017. Esse único show representa 5% do total. Já o Bourbon Festival Paraty, no Rio de Janeiro, em 2017, trouxe ao público apenas 15% de atrações femininas.
Em nenhum dos festivais analisados houve equidade de gênero. Mas alguns chegaram mais perto de um line up que reconhece o trabalho artístico desenvolvido pelas mulheres. O Festival Bananada de 2017, em Goiás, aconteceu com uma programação 41% feminina, o Festival de Verão de Salvador, na Bahia, realizou-se com 41,5% de mulheres e com 40,5% o Festival de Inverno de Garanhuns, em Pernambuco.
Karol Conká no Festival Bananada 2017 Foto: Festival Bananada
Esses números revelam o quanto a classe artística, a música, ainda discriminam os trabalhos realizados por mulheres. Não há nenhuma política nos festivais para que exista uma participação feminina efetiva, nem mesmo naqueles que utilizam verbas públicas para acontecer. Fica evidente que as práticas de uma sociedade construída em cima de valores machistas recaem, inclusive, sobre a música, a produção cultural e as artes de modo geral.
Essa breve análise nos faz refletir, também, sobre qual é a oferta de musicistas mulheres hoje em dia. Numa sociedade onde a mulher precisa trabalhar na rua e no lar, na maioria das vezes sozinha, além de cuidar das crias, a escolha por uma carreira profissional de alta demanda de estudos, como a música, se torna muito distante da realidade do dia a dia feminino.
Qual é o lugar da mulher na nossa sociedade? Onde ela está, para onde ela vai, e o mais complexo, será que ela consegue ir onde desejar? Essa é a nossa luta. Para que toda e qualquer mulher possa trabalhar com o que quiser, onde quiser, para que todas nós não tenhamos nossos sonhos limitados por valores que não nos representam.
Agora, se você se interessou em conhecer o trabalho dessas guerreiras, que superaram o machismo e se tornaram grandes musicistas, ouça as playlists que preparamos com o som delas em cada festival, no Spotify.
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