“O fim desses desastres só virá com a reestatização da Vale”, diz João Goulart
“A desgraça provocada no Rio Doce pela empresa não fez com que houvesse mudança
de comportamento dentro da administração”. Foto TV Globo
“O que ocorreu no município de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nesta sexta-feira (25), já estava tristemente sentenciado”, lamentou João Goulart Filho, que disputou a Presidência da República no ano passado pelo Partido Pátria Livre (PPL). Ele falou, em entrevista ao HP, sobre “a ganância que marca a atuação da Vale, depois que ela foi privatizada”. “Essa forma de agir, com descuido com a segurança, não poderia levar a outro resultado senão a desastres como este de Brumadinho”, denunciou.
A Barragem da Mina do Feijão, explorada pela Vale, em Brumadinho, rompeu no inicio da tarde desta sexta-feira, devastando toda a região. Até agora, segundo o Corpo de Bombeiros, já passam de 200 as pessoas desaparecidas. O presidente de Vale, Fabio Schvartsman, em entrevista, não soube explicar as causas do desastre e só admitiu que a desgraça humana será muito maior do que a de Mariana.
“Durante a campanha presidencial, quando estivemos em Mariana, depois daquela hecatombe ambiental, que matou 19 pessoas, e que, por sinal, até hoje não indenizou os moradores atingidos, alertamos para a continuidade dos riscos causados pelo descaso e a busca frenética de lucros por parte dos dirigentes privados da Vale”, observou João Goulart. Para Goulart, os órgãos de controle e fiscalização que já eram débeis, perderam ainda mais força nos últimos tempos.
“Ficou provado que os administradores privados fazem uma gestão que menospreza as medidas de segurança, porque, em sua cabeça de negocistas e exploradores, elas ‘são caras’ e reduzem os lucros. Essa visão anti-social acaba colocando em risco a vida de funcionários e moradores das regiões onde estão instaladas as minas”, prosseguiu. “Não podia acabar de outro jeito”, concluiu o político.
“A Vale, patrimônio do trabalhismo, empresa que foi criada por Getúlio Vargas e se transformou numa das maiores mineradoras do mundo, acabou sendo entregue a preço vil em 1997 para os interesses estrangeiros. Esses grupos não se preocupam com o país onde atuam e muito menos com as localidades onde as minas estão instaladas”, disse Goulart.
“A Vale privatizada causou o desastre de 2015 e, parece, como alertamos durante a campanha, que seus donos não tomaram jeito”, disse Goulart. “O chamado ‘ambiente de negócios’ que se instalou na empresa depois que o Estado foi afastado de sua administração, não vislumbra investimentos em segurança e muito menos ‘gastos’ com manutenção dos equipamentos”, denunciou.
“O resultado é que a Vale já é ré numa ação da Justiça Federal desde 2016, ao lado da Samarco e da BHP, por homicídios e crimes ambientais”, acrescentou. “A desgraça provocada no vale do Rio Doce pela empresa não fez com que houvesse mudança de comportamento dentro da administração. É sempre a busca do lucro a qualquer custo que interessa”, observou Goulart.
Além das 3 empresas (Vale, Samarco BHP), 22 pessoas e a companhia de engenharia VogBR também respondem ao mesmo processo pelo desastre que foi considerado o maior já ocorrido no país. Até o final de 2018, essa ação seguia correndo na comarca de Ponte Nova, na Zona da Mata, sem que os réus tenham sido julgados.
João Goulart reafirmou o que defendeu enfaticamente durante a campanha. A necessidade da reestatização da Vale. “Esse é o caminho para voltarmos a ter uma gestão responsável, que invista em segurança, que não abandone a manutenção, que prestigie seus funcionários, como a Vale fazia quando era estatal”, defendeu.
“Nossos minérios estão sendo mandados para o exterior sem qualquer controle. As empresas exploradoras provocam desastres ambientais gigantescos e fica por isso mesmo. Tudo isso ocorre apenas em benefício de grupos estrangeiros. O país e a população não controlam a produção e também não se beneficiem dessas riquezas que pertencem à toda a nação”, acrescentou Goulart.
“Quero manifestar todo o meu apoio às populações atingidas pela tragédia e torcer para que os desaparecidos sejam encontrados com vida. A Vale até agora apenas reconheceu, em nota divulgada nesta tarde, que houve o rompimento da barragem, mas não deu ainda nenhum esclarecimento sobre as causas do desastre.
Ao mesmo tempo que nos somamos na solidariedade aos atingidos, cobramos da empresa e das autoridades, o esclarecimento das causas do ocorrido e que ações enérgicas sejam tomadas para que não se repita o triste episódio de Mariana, que até agora não indenizou e nem puniu ninguém pelo desastre de 2015”, completou João Goulart Filho.
Por Hora do Povo Publicado em 25 de janeiro de 2019
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