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Bolsonaro perde de 7 X 1 dos atos em defesa da Educação

P1-INTERNET-Ato-Bozo-16-e-43-principal-ato-CM-HP-1Avenida Paulista na esquina da Peixoto Gomide, às 16:43h, local da principal
concentração do ato, com o boneco de Bolsonaro (foto: CM -HP)

 

As manifestações de domingo não juntaram muita gente porque não podiam juntar muita gente. Não existem muitos brasileiros – ou seres humanos, em qualquer parte do mundo – que se reúnam para apoiar a volta ao escravagismo, o extermínio dos idosos (os idosos pobres, bem entendido) ou a obrigação forçada de ser ignorante.

Se o leitor acha que estamos exagerando, vejamos a experiência de Mariana Motta, do Canal Púrpura.

Mariana saiu à rua, no domingo, no meio da manifestação bolsonarista em São Paulo, na Avenida Paulista, com cartazes em que escreveu as coisas mais absurdas que pôde imaginar:

Não quero me aposentar

Não à ditadura gayzista, chega de heterofobia

Brasil e EUA acima de tudo

Chega de universidades! Armas sim, bolsas não

Só faltou exigir que a reitoria da USP seja entregue ao Olavo de Carvalho, para que este, depois de fechar a universidade, toque fogo nas suas bibliotecas (se é que ela não o fez: o vídeo completo da experiência de Mariana com os bolsonaristas de domingo tem 1h11min55s, portanto, não assistimos tudo, algo que o leitor poderá fazer, pois é muito divertido).

Resultado das experiência de Mariana: foi aplaudida intensamente e por pouco não se torna musa dos bolsonaristas. Logo ela, que está muito mais para a esquerda. Para completar, os bolsonaristas distribuíram imagens de Mariana e seus cartazes surrealistas em suas próprias páginas nas “redes sociais”. Eles acharam geniais as reivindicações da “youtuber”.

Supomos que, se aparecesse alguém propondo que o Prêmio Nobel da Paz fosse concedido postumamente a Adolf Hitler, talvez também fosse muito bem, aplaudido…

Uma coisa dessas não podia juntar muita gente.

Não é uma avaliação apenas nossa.

O deputado Marcelo Ramos, presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, disse o seguinte sobre as manifestações bolsonaristas:

“Julgo que Bolsonaro se isolou com seu eleitorado radical, perdeu o eleitor moderado e rompeu barreiras em que terá de negociar sozinho os votos para aprovar as matérias de interesse do governo.”

Uma conhecida jornalista, defensora tenaz da “reforma da Previdência”, escreveu:

“Ao longo do dia, foram sendo desmontadas algumas narrativas erigidas depois do protesto, como a de que a rua, em coro, pediu reforma da Previdência. (…) se for usar a pressão popular para acuar o Congresso, Bolsonaro corre o risco de dar um tiro no pé” (Vera Magalhães, No dayafter, nuvens no céu para o governo, 27/05/2019).

Em São Paulo, os bolsonaristas aproveitaram uma via pública que, aos domingos, é fechada para que a população tenha um espaço de lazer, para engrossar suas fotos com aqueles que nada tinham a ver com sua manifestação.

Mesmo assim, como se pode ver no vídeo do Canal Púrpura, o comparecimento foi ralo, apesar dos oito caminhões de som, das convocações de Bolsonaro e adeptos, do dinheiro colocado pelo lumpem-empresariado que o segue, etc.

Um dos pontos culminantes foi o discurso do sr. Oscar Maroni, dono do prostíbulo “Bahamas Night Club” e organizador do concurso Miss Garota de Programa, condenado por exploração do meretrício – e depois absolvido, pelo Tribunal de Justiça, com a alegação de que as prostitutas apenas frequentam o seu estabelecimento, e lá exercem o seu ofício, mas não são funcionárias dele. No carro de som do “Revoltados Online”, Maroni, o empreendedor, berrou: “Bolsonaro, nós te amamos. Porque você está bem intencionado, bem diferente do gordinho do Rodrigo Maia”.

Trata-se de um autêntico defensor da família, especialista em boas intenções.

São Paulo não foi muito diferente do Rio, onde houve espaço vazio até para que um grupo de ex-paraquedistas – inclusive com suas panças hoje algo pronunciadas – fizesse uma espécie de carreirinha (não, leitor, não vamos sugerir comparações de ordem ferroviária) no meio do pessoal.

Espantosamente (ou não) um dos alvos da manifestação, que começou com gritos de “Olavo, o Brasil te ama”, eram os militares.

Havia uma grande concentração de trios elétricos na avenida Atlântica. Aliás, apesar do espaço e do tempo não ser grande, houve de tudo. Desde um grupo pedindo que Bolsonaro enquadre a OAB e extingua o exame para ser advogado (deve ser por isso que eles querem acabar com as universidades: é o único jeito de não levarem pau nas provas) até grupos exigindo que “o povo tome conta do que é dele” (só pode ser a ala comunista do bolsonarismo), passando pelos que queriam fechar a Câmara, fechar o Senado, fechar o STF, fechar o Centrão (?), fechar o Exército, fechar o MBL (um cartaz dizia: “MBL = Movimento Bum-bum Livre”) e fechar o Rodrigo Maia (não foi bem isso? Bem, leitor, como dizia aquele economista, o que importa é o espírito da coisa).

Nenhum desses grupos era maior que o dos monarquistas (será que querem o Bolsonaro como rei, em vez de algum Orleans e Bragança?). Mas, todos eles juntos, até que faziam certa figura.

Longe de nós, aqui, a ideia de subestimar as manifestações bolsonaristas. Pelo contrário, até porque esse pessoal que apoia o Bolsonaro existe – ainda que boa parte pareça já embalsamada, física ou mentalmente.

Agora, é como diz o senador Randolfe Rodrigues: “nem se compara com os protestos do dia 15, estão muito abaixo. Se for comparar com o dia 15, foi um 7 a 1 para o dia 15”.

Isso, com o presidente da República recém-eleito convocando, com toda a sua trupe berrando há 15 dias ou mais, com mais de um carro de som por quarteirão (na avenida Paulista, por exemplo, nossa reportagem registrou oito carros de som para menos que isso de manifestação – e longe de ser compacta).

E vamos ser precisos: a metáfora do senador é boa, mas a comparação com as manifestações contra os cortes da Educação nem é, na verdade, 7 para 1. Talvez o mais próximo seja 12 para 1 – ou alguma coisa mais.

Existe um aspecto de Bolsonaro que frequentemente é apagado por aquele outro, em geral mais proeminente – a sua estupidez. Trata-se do ridículo. O problema é que esse último aspecto é, na verdade, uma sublegenda do primeiro.

Veja o leitor o seguinte vídeo, gravado e postado por seus apoiadores no último domingo: “Bolsonaro fala sobre as manifestações em emocionante discurso na igreja após receber oração”.

Se isso não é o cúmulo do ridículo – o sujeito, só para lembrar, é presidente da República -, ninguém sabe o que é ridículo.

Disse Bolsonaro que as manifestações que ele próprio convocou era “uma manifestação espontânea, com uma pauta definida”.

Manifestação espontânea com pauta definida? Uai, quem estabeleceu a pauta? Era também “espontânea”? Mas era “definida”?

Por exemplo, aqueles trogloditas que, no domingo, tiraram uma faixa com os dizeres “Em Defesa da Educação” na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Era essa a pauta definida? (v. Bolsonaristas arrancam faixa “Em defesa da Educação” da UFPR).

Ou aqueles que, em São Paulo, enterraram, sob lápides, a Previdência, a Educação, a liberdade de expressão e o escambau. Era essa a pauta?

Nós aqui, fizemos um levantamento das manifestações bolsonaristas. Inclusive, como se diz, in loco.

Mas, cá entre nós, reunir algumas senhoras que pareciam não ver a luz do Sol há muitos anos, para ser contra pagar aposentadoria aos trabalhadores – elas, evidentemente, não precisam de aposentadoria, até porque jamais trabalharam – não é um prodígio.

Que a isso se juntem alguns poucos jovens oligofrênicos a imbecis já adultos, é coisa já vista no mundo, várias vezes. Um pouco mais extravagantes eram aquelas outras mulheres, vestidas como se fossem ao Jockey para algum Grande Prêmio.

Porém, o bolsonarista típico é o rufião. Veja-se o vídeo do Paraná ou o discurso do sr. Maroni em São Paulo, ou o do próprio Bolsonaro na igreja evangélica em que recebeu a bênção (apesar de, segundo o pastor, Bolsonaro ser enviado diretamente por Deus).

O bolsonarista típico é o rufião, o arruaceiro, o cáften, o “miliciano”.

Fora isso, o mais interessante é que Bolsonaro – há sete meses, eleito com 57,7 milhões de votos – esteja murchando tão rapidamente.

As manifestações de domingo, nem os principais grupos que participaram da campanha de Bolsonaro apoiaram – e ele e seus sequazes reagiram com a ingratidão que lhes caracteriza.

Mas isso é somente o começo do definhamento.

C.L.
Por   Publicado em 28 de maio de 2019

 

 

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