Anuário da educação básica mostra falta de professores bem preparados

Um anuário sobre a educação básica no Brasil mostrou a dimensão das deficiências de qualificação de professores do ensino público em algumas disciplinas.

 

Nas aulas no cursinho, ninguém pisca o olho. Muitos dos alunos chegaram da escola pública e estão vendo pela primeira vez o conteúdo que, para a maioria, já é revisão.

 

A Giovana Negri, de 18 anos, diz que, no ensino médio, praticamente não teve aula de química.

“A minha aula de química eu tinha artes, foi praticamente o ano inteiro assim sem aula. Então, foi bem difícil e, assim, nunca ninguém repôs aula”, contou.

 

A defasagem da Larissa em matemática vem de antes, do ensino fundamental.

“Ficava muito tempo sem professor, muito, muito tempo. Cheguei no meu primeiro ensino médio foi difícil, porque muitas coisas tinham no fundamental, só que eu não aprendi. Então, nossa, foi difícil para mim, complicado”, explicou Larissa dos Santos, de 17 anos.

Quem prepara os alunos do ensino médio para o vestibular sabe bem a lacuna que ficou no aprendizado.

 

“O que ele deveria ter aprendido em três anos é em oito meses, quatro meses, seis meses que ele acaba aprendendo. Ou matemática, física, química ou biologia. Geralmente o professor de ciências ou de matemática que acaba substituindo os professores de outras disciplinas na escola pública”, explicou a diretora pedagógica Alessandra Venturi.

 

As dificuldades começam lá atrás, nos anos finais do ensino fundamental. Quando os estudantes passam a ter contato com novas disciplinas, que exigem professores com mais conhecimento sobre cada assunto. Em muitas escolas públicas do país, esse profissional não existe.

 

O anuário brasileiro da educação básica, divulgado nesta terça (25), mostra que, em 2018, quatro em cada dez professores não tinham a formação adequada para o que ensinavam no sexto e também no nono ano do fundamental. Segundo o levantamento, quase 38% dos docentes do fundamental não fizeram o curso de licenciatura ou a complementação pedagógica necessária para ensinar uma disciplina específica. No ensino médio, o índice chegou perto dos 30%.

 

Quem reuniu e analisou os dados destaca ainda a falta de condições de trabalho para os professores nas escolas públicas e os baixos salários. Fatores que explicam o abandono da profissão e a falta de atrativos para que os estudantes com as melhores notas se dediquem à missão de ensinar.

 

“E o que acontece é isso: a gente tem apagão em algumas disciplinas. Uma coisa que a gente precisa entender de uma vez por todas é que a qualidade da educação, a qualidade do ensino, nunca será superior à qualidade dos seus professores. Então ou o Brasil leva a sério atratividade para carreira e a formação desses professores ou a gente vai perder essa batalha. E perder essa batalha é perder a possibilidade de ter um futuro melhor”, avaliou Priscila Cruz, presidente executiva do Todos pela Educação.

 

 

Por Jornal Nacional – 25/06/2019 22h05 

 

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