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Bolsonaro teve a pior atuação do Brasil em campo

 

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“Mas se os atletas não trocaram o tradicional grito de “é campeão!” por “mito”, tampouco se mostraram incomodados com a interação presidencial. Muito pelo contrário. Na fotografia, estavam felizes. No vídeo, satisfeitos”

 

 

O presidente da República, Jair Bolsonaro, conseguiu transformar o que seria a merecida festa desportiva dos jogadores brasileiros em seu churrascão de eterna campanha eleitoral. 

 

 

“Quem é ele, quem é?”, deviam se perguntar os peruanos mais desavisados. Não sei quem convidou, dizem ter sido o preparador físico Fábio Mahseredjian, apoiado pelo médico Rodrigo Lasmar, mas muitos jogadores adoraram. E, conforme prenunciou a canção cantada por Zeca Pagodinho, isso não prestou mesmo. O cara pagava mico e cismou de zoar. A arquibancada, então, sacramentou: o que é dele tá guardado, no fim da festa o bicho vai pegar. 

 

 

Sei que o danado bebeu. Bebeu demais – da popularidade dos atletas –, se riu sozinho, encheu o bolso com uma medalha que não conquistou. Foi pra fila do Médici. Roubou um pedaço de prestígio e o troféu, que estava na mão do outro capitão ali, quase fez o Tite chorar. 

 

 

 

Ai, ai, ai. E não é que a vaia comeu antes mesmo de a festa acabar? Isso porque, na verdade, ela já tinha jantado Bolsonaro minutos antes. Logo na entrada dos engravatados para a cerimônia de premiação, a plateia deu sinais sonoros claros de que não toleraria mimimi e gracinhas do mandatário. 

 

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Com a recepção negativa, Paulo Guedes engatou uma ré previdenciária, fugindo do vexame. O trilhão ali era de vaias. Moro também achou melhor procurar outra comarca. Bolsonaro marchou sozinho rumo à vergonha e, tratando as vaias como fake news, acenou alegremente. Um deficiente auditivo que assistisse à cena poderia jurar que o ‘presidento’ estava sendo aclamado.

 

 

Houve aplausos, é verdade. Quanto mais caro o setor, mais sonoros. A captação dos microfones da transmissão, no entanto, entregou na casa das famílias brasileiras, tradicionais ou não, um uníssono deveras desfavorável. Até o narrador narrou o lance – dramático.

 

 

Um entusiasta da semiologia também ficaria confuso: Bolsonaro foi vaiado por pessoas vestidas com a camisa da CBF. Mais ainda. Ingresso a ingresso, os presentes pagantes compuseram a espantosa renda de R$ 38 milhões (não por acaso, haverá outra Copa América em 2020). A amarelinha elitizada parece, na verdade, não engolir o antiquado Bolsonaro no lugar que deveria ser do novérrimo e novíssimo inovador Amoedo.

 

 

Durante a entrega das medalhas, Bolsonaro fez marcação alta em Tite, homem a homem, com direito a puxão no pescoço, talvez querendo descobrir o segredo de se manter em um cargo enquanto a aprovação despenca, mas o técnico brasileiro deu um drible de corpo taticamente perfeito no ‘presidento’ e se safou de ouvi-lo dizer “cuestão”. Das arquibancadas, ecoavam gritos mandando o presidente tomar caju, famoso suco homofóbico reservado a personae non gratae.

 

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A manifestação do público, entretanto, não refletiu o sentimento dos jogadores. Da maioria deles, ao menos. Suspeita-se que o vídeo divulgado no Twitter pelo presidente tenha tido o áudio original adulterado, colocado por cima outro áudio com os gritos de “mito”, uma vez que o movimento das bocas de jogadores e integrantes da comissão não está sincronizado com a palavra.

 

 

Mas se os atletas não trocaram o tradicional grito de “é campeão!” por “mito”, tampouco se mostraram incomodados com a interação presidencial. Muito pelo contrário. Na fotografia, estavam felizes. No vídeo, satisfeitos. Era possível, também, ver um Casemiro de lado, não se sabe se intencionalmente, um Tite à distância e nada mais.

 

 

Nada mesmo. Durante a coletiva de imprensa, um jornalista estrangeiro ousou perguntar para Tite sobre a presença de Bolsonaro. No meio da formulação, foi repreendido por um assessor-censor que tentou vetar a questão, atitude que desencadeou pronta reclamação dos jornalistas brasileiros que até então não tinham tocado no assunto. Tite preferiu responder, mas desconversou. Mais adiante, novamente apertado, desconversou um pouquinho mais. 

 

 

Não tem um Sócrates ali para barrar o escancarado faturamento político. Nem tem uma Rapinoe para peitar publicamente o penetra. Contaminado por um presidente absolutamente equivocado, o troféu da Copa América passa bem. Apenas perdeu o brilho.

 

 

Chiliques ou manifestações de solidariedade podem ser enviados para o Twitter da autora: @damarinaandrade.

 

Postado em Blog Ultrajano por Marina Andrade em 08/jul/2019

 

 

 

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