Cresce mobilização contra aumento da tarifa em São Paulo
O repúdio da população contra o aumento das tarifas no transporte cresceu e aprofundou o debate sobre o elevado custo do transporte público em São Paulo. No entanto, a manifestação de estudantes, professores, trabalhadores e seu direito de expressar sua opinião vêm sendo barrados violentamente pela Polícia Militar do Estado.
Além dos participantes da democrática manifestação, jornalistas também foram alvos dos tiros e bombas da polícia, que não tentou esconder a ordem do governo estadual: massacrar, bombardear e reprimir o movimento.
AGRESSÃO GRATUITA
O ato, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, iniciou às 17 horas, com concentração no Theatro Municipal, e seguiu pacificamente pelas ruas do centro da cidade. A palavra de ordem era “sem violência!”. O protesto é contra o aumento da passagem do ônibus, Metrô e CPTM para R$ 3,20, a mais cara entre as capitais do Brasil.
Os manifestantes caminharam pela Avenida Ipiranga e chegaram à Rua da Consolação, na altura da Praça Roosevelt, até então sem nenhuma ocorrência de violência ou danos ao patrimônio privado ou público. No entanto, a partir das 19 horas, policiais da Tropa de Choque bloquearam a passagem e começaram a atirar bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Segundo relato da repórter do UOL, Janaina Garcia, a Polícia atirou indiscriminadamente, contra manifestantes, transeuntes e jornalistas. “Não havia saída pela via nem pelas transversais, todas cercadas pelo Choque”.
“Quem acompanhou a manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus ao longo dos dois quilômetros que vão do Theatro Municipal à esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia pode assegurar: os distúrbios começaram às 19h10, pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, com suas fardas cinzentas que, a olho nu, chegaram com esse propósito”, afirmou o jornalista Elio Gaspari.
“Atiravam não só na direção da avenida, como também na transversal. Eram granadas Condor. Uma delas ficou na rua que em 1968 presenciou a pancadaria conhecida como “Batalha da Maria Antonia”, disse Gaspari.
Policiais fortemente armados encurralavam e agrediram os manifestantes, dispersando a multidão, que seguia para a Avenida Paulista. Parte da manifestação permaneceu na rua até por volta das 23 horas. Imagens divulgadas nesta sexta-feira mostram inclusive um policial quebrando o próprio carro de polícia para culpar os manifestantes. (Veja o vídeo aqui).
Entre os jornalistas, foram 12 feridos e dois presos, afirma o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo (SJSP). A repórter da TV Folha, Giuliana Vallone, teve a região do olho direito atingida por uma bala de borracha.
Em depoimento, a jornalista afirma que “já tinha saído da zona de conflito principal – na Consolação, em que já havia sido ameaçada por um policial por estar filmando a violência– quando fui atingida”. “Estava na Augusta com pouquíssimos manifestantes na rua. Tentei ajudar uma mulher perdida no meio do caos e coloquei ela dentro de um estacionamento. O Choque havia voltado ao caminhão que os transportava.
Fui checar se tinham ido embora quando eles desceram de novo. Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena. Vi o policial mirar em mim e no querido colega Leandro Machado e atirar. Tomei um tiro na cara. O médico disse que os meus óculos possivelmente salvaram meu olho”, disse.
O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, também foi atingido no olho esquerdo por um tiro de bala de borracha disparado pela Polícia Militar. Ele tem poucas chances de recuperar a visão, informa a mulher dele, a jornalista Kátia Passos.
POPULAÇÃO REPUDIA BARBÁRIE DA PM
Segundo pesquisa Datafolha, a manifestação tem o apoio de 55% dos entrevistados, e diversas entidades e autoridades condenaram a violência da PM. Para o deputado estadual Adriano Diogo (PT), a ação da PM é “criminosa”. “A linha da PM é da provocação, do quanto pior melhor. Mas essa é a linha do governador do estado”, afirma.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) também condenam “a agressão policial injustificável contra jovens ocorrida na noite desta quinta-feira, 13 de junho, em mais um protesto pelas ruas da capital paulista contra o aumento das passagens do transporte público”.
Para o presidente da UMES, Rodrigo Lucas, presente no ato, “foi uma barbárie cometida contra os manifestantes, sendo a maioria estudantes. Estamos nas ruas por uma reivindicação justa. O transporte em São Paulo é precário e nada justifica esse preço. Em Goiânia, Teresina, Natal e Porto Alegre, a justiça concedeu liminares que impediram os aumentos das passagens. Elas estão custando R$ 2,70, R$ 2,10, R$ 2,30 e R$ 2,85, respectivamente. Por que o povo de São Paulo tem que pagar R$ 3,20?”.
Para a UMES, o preço “é aviltante, corroendo o salário de quem menos ganha. Para serviços precários, com lotação e filas imensas, o transporte público padece de medidas profundas sem que para isso se cobrem valores impagáveis nas tarifas repassando o custo aos paulistanos, atendendo exclusivamente a interesses que não são os da população”. (Veja a íntegra da nota da UMES clicando aqui).
PREÇO ABUSIVO
A Juventude do PT também de manifestou contra o aumento da passagem: “Enquanto algumas cidades da Região Metropolitana e do Vale do Paraíba reduzem suas tarifas, beneficiando estudantes e trabalhadores, os aumentos da prefeitura da capital e do Governo do Estado oneram o orçamento de quem utiliza o transporte público e preservam a alta lucratividade das empresas”.
Em matéria divulgada em seu site, a União da Juventude Socialista (UJS), ressalta que “a atitude da polícia de São Paulo, que deveria proteger a sociedade, remonta aos tempos áureos da ditadura fascista imposta em 1964”.
A Juventude Pátria Livre (JPL) “apoia a mobilização da juventude de São Paulo contra o aumento e em defesa de seus direitos”. “São milhões de trabalhadores, jovens, estudantes, que sofrem com o valor elevadíssimo da tarifa, que chega a consumir praticamente 30% do salário mínimo. A truculência e as agressões da PM de São Paulo, forjada pelos 20 anos de fascismo tucano em nosso estado, não diminuíram nosso animo e a vontade de lutar por uma cidade melhor. Seremos mais e mais a cada manifestação e barraremos nas ruas esse aumento”, afirma.
Para muitos trabalhadores paulistanos, o aumento de R$ 0,20 no preço do bilhete prejudicará o orçamento. “Trabalho de segunda a sábado, gastando R$ 6,40 por dia. É muito dinheiro, que faz falta.”, afirma o limpador de vidros Paulo Aparecido da Silva, 43. “As pessoas têm direito de se manifestar nas ruas, ainda mais pela qualidade do transporte que temos hoje.”, afirma a auxiliar Maria Madalena Oliveira de Lima, 42, que também usa ônibus diariamente.
Em nota conjunta, entidades afirmam que “a movimentação da prefeitura para adiar e realizar um aumento da passagem do ônibus abaixo da inflação do último período, dentro de um quadro de pressão das empresas concessionárias, não atende os anseios criados com a derrota dos setores conservadores nas eleições em São Paulo”.
“A resolução da questão urbana exige medidas estruturais, como a efetivação de um modelo de desenvolvimento, que prescinda o estímulo à indústria automobilística, e a implementação do controle direto sobre as tarifas por meio da municipalização dos transportes. Com isso, se evita soluções paliativas como a subvenção das concessionárias, financiando setores cujo interesse em lucrar se choca com a possibilidade de um sistema de transporte que atenda as necessidades da população”.
“Por isso, os protestos realizados pelos jovens ganham importância, uma vez que representam um sintoma do problema e constituem uma força social que pode apontar e sustentar mudanças estruturais na organização territorial e na mobilidade urbana. Essas mobilizações são um instrumento de pressão sobre as autoridades, para sustentar um processo de negociação, especialmente com a prefeitura, que esperamos que possa render conquistas para a população e acumular forças para novas lutas que virão.”, afirma a nota assinada por diversas entidades, entre elas, JCUT– Juventude da Central Única dos Trabalhadores, JPT/SP– Juventude do Partido dos Trabalhadores da cidade de São Paulo, UNE, UBES, UJS, Consulta Popular, Fora do Eixo, JSOL – Juventude Socialismo e Liberdade, JUNTOS!, Levante Popular da Juventude, MST– Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, UJR– Partido Comunista Rebelião, PJ– Pastoral da Juventude, PJMP– Pastoral da Juventude do Meio Popular, Quilombo, REJU– Rede Ecumênica da Juventude.
INTRANSIGÊNCIA
Enquanto a PM agredia a manifestação, a declaração do governador Geraldo Alckmin era a de que não irá negociar com o movimento e de que não pretende rever o reajuste. O prefeito Fernando Haddad, por sua vez, afirmou que está aberto ao diálogo, mas que não é possível rever o aumento.
Na última quarta-feira, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) apresentou aos governos municipal e estadual a proposta de suspensão do aumento das passagens de ônibus, metrôs e trens por 45 dias para a abertura de negociação.
Uma nova manifestação está marcada para segunda-feira.
Veja alguns vídeos do protesto nos links abaixo:
Policial quebra o vidro do próprio carro
Mulher atingida no rosto compara ação da PM com a ditadura
Informações: UNE, UBES, UJS, JPT, Folha de SP, Terra, Uol
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