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Folha de São Paulo: Mostra de cinema soviético chega à sua sexta edição com clássicos restaurados

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Cena do filme ‘Stalker’, de Andrei Tarkovski – Foto: Divulgação/CPC-UMES Filmes

 

Reproduzimos abaixo artigo publicado na Folha de São. Paulo sobre a abertura da 6ª Mostra Mosfilm de Cinema Russo, que começa nesta quarta-feira (4) no Itaú Cinema da Rua Augusta

 

Panorama inclui a sofisticada obra de Andrei Tarkovski e a linha mais popular de Leonid Gaidai

LUIS FELIPE LABAKI

SÃO PAULO

Em sua sexta edição, a Mostra Mosfilm repete a tradição de apresentar um amplo panorama do cinema soviético e russo.

Dos anos 1930 à década de 1980, contando ainda com uma comédia lançada recentemente, os 12 longas da seleção evidenciam a diversidade de gêneros e estilos da cinematografia do país. 

Os destaques são versões restauradas de clássicos. “Stalker” (1979, direção de Andrei Tarkovski) é obrigatório, mas essa é também uma boa oportunidade para se assistir a cópias legendadas de títulos que, apesar de menos conhecidos por aqui, foram imensamente populares na URSS. 

É o caso de “A Flor de Pedra” (1946), de Aleksándr Ptuchkó —mestre dos filmes infantojuvenis e dos efeitos especiais— e, principalmente, da comédia “A Prisioneira do Cáucaso” (1967, direção Leonid Gaidai).

Assim como o poeta Joseph Brodsky disse que a chegada dos filmes de Tarzan à URSS no pós-guerra fez mais pela desestalinização do que qualquer discurso de Khruschiôv, “A Prisioneira do Cáucaso” diz mais sobre o cinema de grande público da URSS do que qualquer outro filme da mostra.

Com cerca de 76 milhões de ingressos vendidos no país, até hoje é fácil encontrar quem saiba de cor as falas de seus personagens. 

Mais próximo de Trapalhões do que de Tarkovski, o filme tem também algo das primeiras comédias de Woody Allen, intercalando gags visuais com diálogos espirituosos e absurdos que seguem a tradição russa de satirizar as nações do Cáucaso e, na medida do possível, o funcionalismo estatal —o nome do vilão, por exemplo, seria uma referência velada a um importante burocrata do próprio estúdio Mosfilm.

A trama envolve as desventuras de Chúrik, paródia do turista russo que viaja em busca do “verdadeiro folclore local”, e de uma trupe de malandros que se aproveita da ingenuidade do jovem para utilizá-lo no rapto de Nina, garota cobiçada por todos. 

Já os musicais de Grigóri Aleksándrov são representados neste ano pela jornada fluvial “Volga-Volga” (1937), um dos filmes favoritos de Iôsif Stálin —o que, diga-se de passagem, não impediu que seu diretor de fotografia, o renomado Vladímir Nilsen, fosse preso e executado em meio ao Terror.

E há na programação ainda outro passeio pelo rio: “Amigos Verdadeiros” (1954, de Mikhail Kalatôzov), uma despretensiosa comédia sobre três amigos de meia-idade que decidem percorrer o Volga a bordo de uma jangada. 

Apenas um ano separa “O Comunista” (1958, direção de Iúli Ráizman) de “A Balada do Soldado” (1959, direção de Grigóri Tchukhrái), mas os filmes pertencem a eras distintas. 

O primeiro ecoa os “heróis positivos” do auge do realismo socialista, com um protagonista austero, de violento entusiasmo. Já o segundo, filme de abertura da mostra e uma das obras-primas da filmografia soviética, é um dos melhores exemplos dos novos ventos estéticos do período do Degelo (1953-1964).

Palavras de ordem e “grandes temas” dão lugar à lírica dos rostos em close e das experiências pessoais do soldado Aliôcha, da jovem Chúra e dos personagens que cruzam seu caminho ao longo da melancólica viagem do front à casa materna. 

Outro retrato da juventude, “O Mensageiro” (1986, de Karen Shakhnazarov) aborda o vazio existencial nesses que seriam os anos finais da URSS, emoldurando a falta de perspectivas com danças de break e espectros da Guerra Afegã-Soviética (1979-1989). 

A mostra fica em cartaz no Itaú Augusta e no SPCine Olido, de 4 a 11 de dezembro, com ao menos duas exibições de cada filme.

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