Com currículo fraudulento, Decotelli pede demissão antes mesmo da posse no MEC
Carlos Decotelli, que foi anunciado por Bolsonaro para o Ministério da Educação, pediu demissão nesta terça-feira (30), cinco dias após a sua nomeação e antes mesmo da sua cerimônia de posse. O pedido de demissão aconteceu após a confirmação da completa fraude de seu currículo Lates.
Decotelli havia sido escolhido para suceder Abraham Weintraub, que deixou o cargo após defender a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Atualmente, Weintraub, que conduziu a política de devastação da educação pública do governo Bolsonaro, está em um “auto-exílio” em Miami, nos EUA.
A escolha de seu nome ocorreu como forma de dar uma imagem técnica ao MEC. Mas os problemas com o currículo provocaram efeito inverso, ridicularizando o governo, exatamente em um momento de necessidade de um sinal de seriedade com a educação.
As fraudes no currículo de Decotelli são diversas: como o doutorado pela Universidade Nacional de Rosario, da Argentina; o pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha; e até mesmo a titularidade de professor na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.
O reitor da Universidade de Rosario, Franco Bartolacci, negou que ele tenha obtido o título. Ao contrário disso, ele foi reprovado pela banca examinadora da instituição.
Em seu currículo, Decotelli escreveu ter feito uma pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha, que informou que o novo ministro não possui título da instituição.
Em nota divulgada na noite de segunda-feira (29), a FGV (Fundação Getúlio Vargas) negou que o economista tenha sido professor ou pesquisador da instituição.
A informação também constava em seu currículo, inclusive no texto divulgado pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) quando assumiu a presidência do fundo em fevereiro do ano passado.
“A FGV destruiu a minha imagem criando o fake de que nunca fui professor; foi a pá de cal”, disse Decotelli à Folha. Ele encaminhou fotos de prêmios recebidos pela FGV como professor e uma tabela de aulas ministradas.
PLÁGIO
Há ainda sinais de plágio na sua dissertação de mestrado.
Segundo o professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Chile, Enrico Rezende, responsável por avaliar projetos e trabalhos de pós graduação que recebem financiamento público e tem experiência em detectar plágios, a dissertação de Decotelli possui 73% de conteúdo plagiado.
“Estamos falando de ao menos 73% do texto plagiado. ‘Ao menos’, porque algumas referências podem ter passado despercebidas”, disse o professor chileno. “Absolutamente, é um caso de plágio inquestionável”, disse.
Com a repercussão negativa e a posterior demissão do ministro, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Augusto Heleno, afirmou que ocupantes de cargo no governo tem “antecedentes criminais, contas irregulares e pendentes, histórico de processos e vedações do controle interno” examinados. “No caso de Ministros, cada um é responsável pelo seu currículo”, afirmou, em nota publicada no Twitter.
Veja vídeo sobre as mentiras nos currículos dos ministros de Bolsonaro:
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