Alckmin recua e revoga decreto da “reorganização” das escolas
Para Marcos Kauê da UMES, após a desocupação das escolas, será preciso construir uma força tarefa para acabar com a superlotação das salas de aula
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) oficializou a revogação do decreto que instituía o projeto de reorganização escolar no estado de São Paulo. A suspensão, publicada em decreto no Diário Oficial de sábado (05), foi realizada após mais de quatro meses de intensos protestos dos estudantes secundaristas paulistas que lutam contra o projeto de Alckmin, além da ocupação de mais de 200 escolas por cerca de um mês.
A “reorganização” de Alckmin fecharia ao menos 93 escolas, além de encerrar a maioria dos períodos noturnos, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e transferiria mais de 311 mil estudantes de 1.400 unidades. Mais de 1 milhão de alunos seriam afetados.
Na sexta-feira (04), Alckmin chamou uma coletiva de imprensa para anunciar a decisão do governo. Na entrevista, visivelmente encabulado, ele disse “ouvir e respeitar” a posição dos estudantes e que por isso, suspenderia a reorganização.
“Os alunos continuarão nas escolas em que já estudam e nós começaremos a aprofundar esse debate, o diálogo escola por escola, especialmente com estudantes e pais de alunos”, afirmou.
A decisão do tucano foi tomada após diversos posicionamentos judiciais, do Ministério Público e até mesmo do vice-governador, contrários à reorganização. Ainda na sexta-feira, pela manhã, a Justiça concedeu liminar que suspendia a reestruturação em Guarulhos. Na quinta-feira (3), o MP e a Defensoria Pública pediram a suspensão da reorganização em todo o estado.
A QUEDA
Outra vitória do movimento, construído pelos estudantes secundaristas, foi na sequência da revogação do plano de fechamento de escolas a saída do secretário da Educação que representava o projeto, Herman Cornelis Voorwald. Assim como a do seu chefe de gabinete, Fernando Paudula, aquele que, em reunião com dirigentes de ensino, disse que o Estado declararia “guerra” aos estudantes das ocupações.
O que caiu também foi a popularidade do governador, que teve a sua pior avaliação da história. Segundo pesquisa do Datafolha, 30% dos paulistas classificam o desempenho do governador como ruim ou péssimo; 40% avaliam como regular; e apenas 28% bom ou ótimo. Em relação à reorganização, 61% dos paulistanos disseram ser contrários ao projeto.
VITÓRIA
O presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), Marcos Kauê, considerou em entrevista ao HP que esse processo fortaleceu o movimento estudantil.
“Nós conquistamos uma vitória muito grande, muito importante, conseguimos, depois de uma batalha muito longa contra essa reorganização, no primeiro momento suspender, derrubando o decreto sobre o projeto. Conseguimos também derrubar o secretário que junto com o Fernando Padula, que era quem estava orquestrando toda a guerra contra os estudantes. Então, nós temos e precisamos entender essa vitória. Nossa alternativa agora é se manter mobilizado, se manter organizado através do movimento estudantil, para no próximo ano estarmos afiados e não darmos nenhum espaço para que o Alckmin leve adiante o projeto”, disse.
Para Kauê, “agora temos que intensificar a nossa luta. Fazer uma força tarefa, para garantir o fim da superlotação das salas de aula. Nenhuma sala com mais de 40 alunos, como defende a Lei de Diretrizes e Bases. É preciso juntar estudantes, professores, Ministério Público e comunidade para lutar contra o sucateamento da educação”.
DESOCUPAR
Após a revogação do fechamento das escolas, decretada neste sábado, os estudantes já começam a anunciar a desocupação. Em assembleia alunos da E. E. Gavião Peixoto (zona norte), a maior escola do Estado, com mais de três mil estudantes, votaram pela saída do prédio. “A juventude se uniu e o foco daquilo que nós queríamos, nós conseguimos” disse Jaqueline de Oliveira Celestino, de 18 anos, aluna do 3º ano do ensino médio. “Se no ano que vem decidirem que vai ter reorganização, decidiremos o que fazer. Mas para o ano que vem já revogou” disse a jovem.
Estudantes da E. E. Maria Petronila Limeira dos Milagres Monteiro (zona sul) afirmaram, por meio de rede social, que também desocuparão o prédio da escola. “A escola encerra sua ocupação vencendo apenas uma batalha, mas não a guerra por uma educação melhor”. “Estamos planejando desocupar na quarta ou quinta-feira. Vencemos uma parte [da batalha], mas ainda achamos que o governo pode voltar atrás. Vamos desocupar a escola, mas ocupar as ruas”, diz Gabriela Fonseca, de 17 anos, do 3.º ano do ensino médio.
Para comemorar a vitória dos estudantes, dezenas de artistas se apresentaram entre domingo (06) e segunda-feira (07), no evento “Virada da Ocupação”. Os artistas que já tinham se manifestado em solidariedade os estudantes das ocupações, contra o projeto de Alckmin e contra a violência policial utilizada contra os jovens secundaristas, realizaram shows e apresentações nas escolas ocupadas e na praça Horácio Sabino, na zona oeste da capital paulista. Criolo, Maria Gadú, Paulo Miklos, Tié, Pitty, Chico César, Edgar Scandurra, Yiago Iorc, Karina Buhr, Metá Meta entre outros, se apresentaram nas escolas ocupadas.
Fonte: Jornal Hora do Povo
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