Após cortes, universidades federais restringem verba de custeio

 

Enquanto o corte na UFBA chega a R$ 100 milhões, estudantes da Unifesp deflagram greve. Reitores pedem que orçamento seja preservado para evitar a crise

 

Os cortes no orçamento do Ministério da Educação (MEC) promovidos pelo governo Dilma levaram as universidades federais, que tiveram um terço de suas verbas ceifadas a passar por grandes apuros, instalando o caos nas instituições país afora.

 

A Universidade Federal da Bahia (Ufba) anunciou uma série de medidas de redução de custo para o ano letivo de 2015, devido à diminuição em mais de R$ 100 milhões do seu orçamento de custeio e no atraso do pagamento de contas em até três meses. Em uma carta destinada à comunidade acadêmica, a instituição informou que enfrenta dificuldades na manutenção das atividades desde o final do ano passado.

 

Segundo a assessoria, o orçamento de custeio da Ufba seria, para 2015, R$ 310 milhões. Agora, a ordem é racionalizar o consumo de água, telefone e energia. Além disso, a concessão de passagens, diárias e hospedagens foi suspensa: segundo a carta, a recomendação é que se use serviço de teleconferência. Para completar, contratos de serviços terceirizados podem ser diminuídos em até 25%. O gasto com esses credores chega a R$ 5,8 milhões por mês.

 

Em uma das principais instituições federais de ensino superior do país, a Universidade Federal de Brasília as condições de trabalho dos servidores já é afetada, serviços a comunidades foram cortados, há alternância no pagamento de contas de água e luz para evitar o corte no abastecimento e também há falta até de insumos básicos como material de escritório, papel, tonner de impressora e papel higiênico.

 

Cesar Augusto Silva, decano de Planejamento e Orçamento da UnB explica que não sabe se conseguirá fechar as contas de março “O Ministério da Educação liberou 1/12 de verba para as universidades públicas, mas, dado o volume de contas, é possível que isso não seja suficiente para fechar março. No início do ano, o governo federal repassou R$ 7,4 milhões a menos do que o normal à UnB”, explica. A Universidade precisa de cerca de R$ 10 milhões ao mês apenas para a manutenção da instituição, sem realizar qualquer tipo de investimento.

 

“O problema também atinge os trabalhadores. Calculamos uma previsão de corte de 25% dos terceirizados em 2015, diante da redução do orçamento”, afirma Mauro Mendes, coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), que estuda a possibilidade de entrar em greve este ano pela liberação de mais recursos para as universidades e também para pedir aumento salarial.

 

Sem ter completado um mês do início do semestre letivo, o mato alto pode ser observado em pontos do campus Darcy Ribeiro na UnB, isso porque há falta de combustível na universidade afetando a poda da grama, já que os cortadores são movidos à gasolina que está em falta. Com isso, além da grama ficar alta, alunos tiveram saídas de campo canceladas por não haver como abastecer os ônibus.

 

“Com a suspensão das saídas de campo, a gente perde a chance de ver, na prática, o que aprende na sala de aula”, afirmou a estudante Jaqueline Passos.

 

No Hospital Veterinário, as cirurgias estão suspensas, sem previsão de retorno, já que não há anestésico, luvas e outros itens básicos no estoque. “Temos uma pilha de documentação para fazer a compra de artigos, mas, como a verba ainda não saiu, não é possível completá-la”, afirma o diretor do Hospital Veterinário, Antônio Raphael Neto.

 

SÃO PAULO

 

Estudantes do campus Guarulhos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) decidiram entrar em greve em assembleia realizada na noite desta quinta-feira (24). Segundo os alunos, a paralisação foi aprovada por 393 pessoas que estavam na reunião. Outras 282 votaram contra.

 

A principal reivindicação do movimento é a manutenção da chamada “Ponte Orca”, ônibus que faziam o transporte gratuito da estação Carrão (zona leste da capital) até o campus, no centro de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. O beneficio foi cortado após o anuncio dos cortes no repasse promovido pelo governo federal.

 

RIO DE JANEIRO

 

O alojamento de estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro é insuficiente para a demanda, como é na maioria das universidades federais. A novidade é que em meio a crise impetrada pelo governo Dilma a falta de verbas leva a precarização da infraestrutura e agora até infestação de ratos acontece no alojamento.

 

“Olha, se eu soubesse que estaria nesta situação, talvez não tivesse vindo.” O arrependimento é do brasiliense Italo Ferreira, 23, aluno de farmácia da UFRJ.

 

O edifício tem problemas de infraestrutura, como quartos sem porta, banheiros sem privada, infiltrações, além de estar superlotado. Atualmente, há 250 quartos com capacidade para uma pessoa. Um levantamento feito em 2014 pelos próprios moradores do alojamento apontou que havia 300 universitários morando no edifício.

 

A irresponsabilidade do governo é gritante. Uma instituição de ensino superior do tamanho da UFRJ, a maior do país, não pode contar apenas com 250 quartos, muito menos sem condições de habitação e pra completar com um terço das verbas cortadas sem conseguir pagar as contas, quanto mais realizar qualquer tipo de investimento.

 

BATALHA

 

Os reitores das universidades federais defendem o repasse integral da verba das universidades, mesmo com o corte no orçamento do MEC. Exigem que o governo de um jeito que arcar com seus compromissos. De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Targino de Araújo, as universidades precisam de mais professores e técnicos, além de mais verbas para o custeio. É preciso que o repasse seja integralmente o previsto no Orçamento Geral da União para 2015 aprovado, de aproximadamente 15% a mais do que em 2014. “Temos a expectativa grande de que o orçamento do Ministério da Educação (MEC) seja preservado. Mesmo que não seja, que o das universidades seja”, diz Araújo.

 

Fonte: Jornal Hora do Povo

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