Foto Marcelo Kahn
Quando começamos a estudar o texto de “Canção dentro do Pão” não havia ainda o atual tsunami de denúncias que inunda, semanalmente, o país. Buscávamos uma obra divertida sem ser fútil, que resgatasse os áureos tempos da comédia brasileira. Foi o que encontramos na peça de Raimundo Magalhães Júnior, cearense da melhor cepa, intelectual da mais elevada estatura.
Conforme íamos avançando nas leituras da peça e nos estudos sobre a Revolução Francesa, a realidade brasileira nos surpreendia. Figurinhas carimbadas, que frequentavam as páginas de política desde o fim da ditadura e também ocupavam os principais cargos da República nos últimos 30 anos, passam a frequentar as páginas policiais e a ocupar celas na Papuda e em Curitiba. O discurso de “vamos salvar o país” transformou-se rapidamente em “salve-se quem puder”.
Foi então que um Senador da República – líder de todos os governos que pode – soltou na imprensa uma pérola: “Nesse clima de turba, de linchamento, de Revolução Francesa não dá para ninguém investir”. Ou seja, a justíssima ira do povo contra a quadrilha instalada nos palácios, era a causa da crise brasileira! Nenhuma culpa tinham os que assaltam o nosso patrimônio, roubam de petróleo a merenda escolar, desviam da saúde, da educação, dos transportes, arrocham salários e aposentadorias. Não faltam investimentos porque os bancos drenam, com a cumplicidade dos governantes, todos os recursos do país: a culpa é do povo, que não quer ficar quieto!
Dizem que, por falar uma bobagem muito mais singela, sobre bolos ou brioches, Maria Antonieta perdeu a cabeça… Foi lembrando de um ilustre pensador, que definiu os momentos revolucionários como sendo aqueles em que “os de cima já não conseguem mandar e os de baixo já não aceitam obedecer” que a ficha começou a cair. Esta era a situação da Paris de 1789. Não muito diferente da do Brasil de 2017.
É claro que não é a nossa intenção estabelecer paralelos históricos exatos, até porque as coisas por aqui estão apenas começando e a história não comporta teleologias. Mas é interessante observar os comportamentos repulsivos de Monsieur Finot, da inconsequente Jaqueline, de seu marido Jaquot, do inspetor Jean e seu meganha. Sobra-nos o suíço, ainda que ele seja surdo-mudo e analfabeto. Mesmo assim ele adverte: “me aguardem”.
São comportamentos tão condenáveis quanto os dos que votam na calada da noite o fim de direitos, as benesses aos bancos, reformas que só servem a eles mesmos (e ainda tem tempo de dar uma corridinha com uma mala).
Mas a peça fala por si mesma. A direção sensível de Bete Dorgam e atuações precisas do elenco garantem boas risadas sem perder de vista a necessária reflexão sobre os nossos dias. O que achamos que irá acontecer? Como lembra a canção inicial, do sempre atento Marcus Vinícius: “O que vai dar / Só a massa irá dizer”.
CPC-UMES
FICHA TÉCNICA:
Texto: Raimundo Magalhães Júnior
Direção: Bete Dorgam
Elenco: João Ribeiro, Pedro Monticelli, Rebeca Braia, Ricardo Koch Mancini e Rafinha Nascimento
Assistente de Direção: Valério Bemfica
Músicas: Marcus Vinícius de Andrade e Léo Nascimento
Arranjos: Léo Nascimento e Vittor Meneghetti
Direção Musical: Léo Nascimento
Direção de Movimento: Luciana Viacava
Cenografia: Caio Marinho
Bolos Cenográficos: Vanessa Abreu
Cenotécnico: Zé Valdir Albuquerque
Figurinos: Atilio Beline Vaz
Costureiras: Benê Calistro e Mariluce
Criação de Luz: Lui Seixas
Operação de Luz: Júnior Fernandes
Designer Gráfico: Rodrigo Kenan
Produção: Telma Dias
Fotos: Marcelo Kahn
Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes
SERVIÇO:
Cine-Teatro Denoy de Oliveira: Rua Rui Barbosa, 323/ Bela Vista – SP.
Temporada: De 14 de julho à 7 de Outubro. Sextas e sábados às 21 horas.
Ingressos: R$20,00 (Inteira) e R$10,00 (Meia).
Classificação: Livre
Duração: 90 minutos.
Capacidade: 99 lugares.
Telefone: (11) 3289-7475. Aceita Cartões.
***Entrada gratuita para moradores do bairro da Bela Vista mediante comprovante de residência e estudantes com Carteirinha da UMES.