11 08 2016 20 00 30

Dia do Estudante é dia de luta!

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Foto: Leonardo Varela             

 

Nesta quinta-feira, 11 de Agosto, os caras pintadas saíram às ruas para comemorar o Dia do Estudante. Todas as regiões de São Paulo se organizaram em um ato que se concentrou no vão livre do MASP reivindicando a luta por novas eleições, entendendo a situação política, econômica e social que o país vive. No Governo Estadual, tendem ainda mais a suprimir as necessidades da juventude, fechando salas de aula e, como houve há pouco, desviando verba da merenda escolar. “Temos aqui estudantes de todos os cantos da cidade, afirmando aqui que não queremos esse governo que corta da educação, que passa bilhões para os banqueiros e vende nosso pré-sal a multinacionais que não têm compromisso nenhum com o povo brasileiro. Essa política neoliberal que começou no governo Dilma, permanece e se agrava no governo interino do Temer. Queremos novas eleições já! Para que nós, estudantes, possamos ter uma escola de qualidade e um futuro melhor”, afirmou Caio Guilherme, presidente da UMES durante a manifestação.

 

Foto: Junior Fernandes

Foto: Junior Fernandes            

 

A manifestação foi organizada pela UMES, que contou com a participação de outras entidades estudantis, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), dezenas de grêmios estudantis da cidade e diversos centros acadêmicos e diretórios acadêmicos estudantis de grandes universidades do Estado. A manifestação contou ainda com diversos movimentos de juventude, de mulheres e centrais sindicais.

 

Durante o ato, o diretor de escolas técnicas da UMES e presidente do Grêmio da ETEC Getúlio Vargas, Lucas Chen, relata na sua fala a importância da luta contra os desmandos do Governo Estadual e Federal, afirmando que  “não vamos aceitar que o governo Alckmin precarize ainda mais nossa escola técnica. Não temos merenda digna em nossas escolas, falta estrutura e insumos básicos para a realização dos cursos. Alckmin e seus secretários roubaram da merenda e cortaram a verba das nossas unidades, tendo em vista que Temer caminha para intensificar ainda mais essa crise, prejudicando e liquidando nossas riquezas e acabando com nossos anseios. Fora, Temer!”.

 

O ato caminhou até a Assembléia Legislativa de São Paulo, a Alesp, para denunciar os ladrões da merenda e reforçar o compromisso da UMES em seguir na luta contra o fechamento de salas, os cortes na educação e a continuação com Temer da privatização do pré-sal.

 

Clique aqui e confira todas as fotos do ato!

 

 

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Dia do Estudante: contra o ajuste de Temer e Dilma!

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Lutar para construir a escola pública que o Brasil precisa! Contra o fechamento de salas em São Paulo. Abaixo a Lei da Mordaça e punição para os ladrões da merenda

 

Os secundaristas de São Paulo realizaram neste sábado (6) sua plenária preparatória para a manifestação do Dia do Estudante, que será realizado na quinta (11), com concentração no MASP a partir das 8 horas. Com muita empolgação Caio Guilherme, presidente da UMES, abriu a atividade resgatando as lutas dos estudantes e afirmando a importância de derrotar a política de ajuste iniciada por Dilma e agora continuada por Temer.

 

“A luta contra o ajuste, contra essa política que tira do povo pra enriquecer os banqueiros e rentistas, foi muito importante. Foi essa luta que permitiu que o nosso congresso [realizado no dia 2 de julho de 2016] decidisse por novas eleições! Desde então, as discussões foram se aflorando e a diretoria deu início a campanha pelo abaixo-assinado em defesa de eleições presidenciais, para que assim, o povo, por meio das assinaturas, afirmassem o seu direito de escolher novos representantes”.

 

8-8-16 Plenária 11A

 

“Durante esse processo ficou ainda mais claro que Dilma não é vista pelo povo como uma opção para governar. Muito pelo contrário, é considerada uma governante dos bancos, empreiteiras e multinacionais. Mas com o Temer também não é diferente, ele não é uma opção porquê segue o mesmo caminho dos cortes e privatização, a exemplo da entrega do campo de petróleo de Carcará. Por isso, para construir outro Brasil e outra escola, precisamos ampliar a nossa mobilização para o Dia do Estudante e convocar a todos para a manifestação. Chega de entreguistas e maus governantes, nem Dilma, nem Temer! Que o povo decida, novas eleições, já!”, conclamou Caio.

 

Após a fala do presidente da UMES, dezenas de lideranças secundaristas da cidade falaram sobre a mobilização para o 11 de Agosto, assim como aprofundaram denúncias importantes para os estudantes de São Paulo, a exemplo do projeto da “Escola Sem Partido”, em discussão no Congresso nacional e na Assembleia Legislativa de São Paulo, ou do roubo da merenda.

 

8-8-16 11A 2015Estudantes durante manifestação do 11 de Agosto de 2015 na Avenida Paulista

 

Para Jonatham Oliveira, tesoureiro da UMES e presidente do grêmio da escola Charles de Gaulle, sem educação não será possível desenvolver o país e libertar o nosso povo. “Sem educação pública de qualidade o país não se desenvolve. Sem educação libertadora o sonho do oprimido é virar opressor. A gente vê o caso do estado de São Paulo, que não investe em educação. A gente vê o caso do governador Alckmin que quer fechar escola, quer tirar aluno da sala de aula e que rouba merenda. Acompanhamos o Cunha aprovando a redução da maioridade penal com apoio do Alckmin e da Dilma. Eles estão juntos contra o povo e contra a educação. Agora estamos vendo a lei da mordaça que quer calar os nossos melhores professores”.

 

“Para esses governantes é mais fácil colocar um jovem da periferia na cadeia do que coloca-lo na escola, do que construir laboratório. Por isso esse 11 de agosto vai ser o maior dia do estudante já organizado em São Paulo. Vamos pra rua não só para comemorar o dia do estudante, mas para puxar novas eleições que é o que a conjuntura e o país conclamam. E os estudantes vão colocar um ponto final nessa história, como sempre fizemos, a exemplo de quando, com a luta das ocupações, colocamos o governador no bolso e demitimos seu secretário de Educação. Essa é a juventude que vai continuar lutando pelo Brasil”.

 

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Aleksandr Nevsky, por Eisenstein

10-8-16 Nevski3

 

Concluído em 1939, o artigo “Patriotismo, Meu Tema” é um dos mais importantes trabalhos teóricos do grande cineasta soviético Serguey Mihailovich Eisenstein. Nele Eisenstein analisa em profundidade os fundamentos da concepção estética em que baseou sua obra “Aleksandr Nevsky”, em especial os caminhos percorridos na construção de seu personagem central, o príncipe que levantou o povo russo contra a invasão dos Cavaleiros Teutônicos no século 13.

A vibração, a verdadeira empolgação revelada por Eisenstein ao longo do artigo mostra o estado de graça em que se encontrava após ter vencido uma árdua batalha contra algumas de suas concepções anteriores, em relação às quais “Aleksandr Nevsky” soa como heresia. Primeiro porque Aleksandr era um “herói positivo”, que expressava o coletivo, é fato, mas na condição de líder não se reduzia a ele. Segundo porque era um príncipe e, mais que isso, um santo!

Eisenstein foi entusiasta da ideia de que no cinema as massas deveriam ocupar, elas próprias, diretamente, o espaço do “herói positivo”, criando assim o “herói coletivo”, revolucionário, em contraposição ao “herói individual”, burguês. Seus primeiros filmes, “A Greve” (1925), “Encouraçado Potemkin” (1925) e “Outubro” (1928), foram construídos dentro dessa concepção. Os filmes são clássicos. Com jeitão semidocumental, como épicos cujo personagem central é o próprio povo, as massas, eles transmitem energia e sinceridade comoventes. Mas a tese é ingênua e reducionista. Não supera a concepção burguesa segundo a qual há um inconciliável antagonismo entre o individual e o coletivo. A opção que faz pelo coletivo, portanto, é pobre. Ao filmar “O Velho e o Novo”, em 1929, Eisenstein sentiu a necessidade de ultrapassar os limites desse esquema, destacando e transportando para o centro da trama a camponesa Marfa Lapkina. As conclusões teóricas, porém, ficariam para mais tarde.

O advento do cinema falado, ao possibilitar e exigir um tratamento estético mais rico e profundo do tema, tornou mais visíveis as limitações da tese do “herói coletivo”. A ela escapa a complexa interação propugnada pelo marxismo entre o líder e massas, na qual o realismo socialista, a partir de 1934, fundamentará a importância do “herói positivo” na estética revolucionária e fixará referenciais para a sua construção – a propósito desta concepção, nunca é demais lembrar que ela está mais distante da criação de personagens desprovidos de contradições internas do que o diabo da cruz. Eisenstein entrou meio enviesado na discussão, mas ao aprumar-se produziu duas obras-primas baseadas nesse princípio: o filme e o artigo.

Quanto aos grilos, não propriamente estéticos, mas políticos, provenientes do “herói positivo” nem operário, nem camponês e muito menos bolchevique, mas um santo canonizado pelos “popes”, Eisenstein brinca com a resistência que ele próprio havia oposto ao projeto: “Está distante o século 13… E como figura central do filme: um santo! De início essa posição desorienta. E, na primeira vez que se toma conhecimento do assunto, arrisca-se a possibilidade de não se ter a perspicácia necessária para descobrir, por trás, a figura de um homem de Estado realista, muito próximo de seu povo e com os dois pés na terra”.

Esse entendimento do papel histórico de Aleksandr Nevsky é o elo para a compreensão do significado dos bolcheviques resgatarem, naquele momento, a saga do príncipe de Novgorod: “Se a alma popular pôde esmagar o inimigo quando a Rússia definhava sob o jugo tártaro, não há força que possa vencer este país, agora que ele se libertou das cadeias da opressão para tornar-se socialista”, escrevia Eisenstein, empenhado em mobilizar para a guerra que se avizinhava os mitos que povoavam a alma popular.

O artigo, particularmente se cotejado com o filme, é uma aula de como numa obra cinematográfica a construção estética ganha vida e se nutre das questões históricas, políticas e ideológicas inscritas no tema. Até a solução cenográfica para a filmagem da batalha na neve, durante o verão, é elaborada a partir da relação entre esses elementos.

“A profundidade ideológica do tema e do assunto permanece e ficará para sempre como base verdadeira da estética”, escreveu Eisenstein em outro de seus artigos. “Aleksandr Nevsky” é um exemplo da exatidão dessa assertiva. “Patriotismo, Meu Tema” desvenda os bastidores de sua construção, mostrando como as soluções estéticas realmente adequadas, eficazes, verdadeiras, surgem do aprofundamento cada vez maior do tema.

A íntegra do texto pode ser encontrada em cpcumesfilmes.org.br . A publicação abaixo é uma condensação que não altera o original, apenas suprime algumas passagens para compatibilizá-lo com o espaço disponível.

SÉRGIO RUBENS DE A. TORRES

 

10-8-16 Patriotismo meu Tema

 

“Patriotismo, Meu Tema”

SERGUEY EISENSTEIN

Esqueletos. Crânios. Campos incendiados. Habitações calcinadas. Homens e mulheres mandados para longe, escravizados. Cidades saqueadas. A dignidade humana espezinhada. Tal é o quadro que se apresenta a primeira metade do século 13, na Rússia. Contornando a costa sul do mar Cáspio, as hordas mongólicas e tártaras de Gêngis-Kã penetram no Cáucaso.

A Rússia de Kiev e outros elementos da futura grande nação russa gemeram durante longos anos sob o peso do jugo tártaro, com toda avidez do conquistador voltando-se para os restos dos principados vencidos e dominados. Assim foi a Rússia mártir do século 13. Sem uma imagem clara disso tudo, é impossível compreender o heroísmo sublime com o qual o povo russo, já avassalado pelos bárbaros nômades do Oriente, levantou-se sob o comando de um grande capitão, Aleksandr Nevsky, para esmagar os Cavaleiros Teutônicos que procuravam tomar um pedaço da Rússia.

De onde vinham, esses cavaleiros? Nos começos do século 13, vamos encontrar em Jerusalém, depois durante o cerco de São João do Acre, um hospital de Santa Maria de Teutões. Ele se vai tornar o berço de uma das mais espantosas calamidades da humanidade, de uma lepra que tomaria conta da Europa.

Santa Maria dos Teutões nada mais é, originalmente, que um serviço de saúde militar mantido pelos cruzados alemães. Com a aprovação papal, ele se transforma em Ordem de Cavalaria, a 6 de fevereiro de 1191.

De início, limita-se ao tráfico de sua força militar e de sua experiência na guerra. Mas logo começa uma longa e sistemática ofensiva contra o leste europeu. Rivalizando com os tártaros na ferocidade contra os vencidos, os teutônicos (no intervalo eles absorvem outras ordens monásticas não menos primitivas) representam um perigo bem maior. Os tártaros faziam somente incursões, onde pilhavam, destruíam, mas não ocupavam as terras conquistadas.

Com os teutônicos e os seus aliados, a maneira de agir era diferente. Com estes, o caso era uma colonização sistemática acompanhada de transformação dos nativos em escravos, da destruição da religião, do sistema social e de qualquer traço de característica nacional.

Vencendo seus adversários não somente em material, mas como organização, os caridosos irmãos não se mostravam pios na escolha dos meios. As crônicas do tempo não somente nos conservaram os nomes dos valorosos defensores da pátria, mas também o do príncipe traidor Vladimir de Pskov que num abrir e fechar de olhos vendeu sua cidade aos alemães, recebendo uma polpuda comissão.

Está distante o século 13… E como figura central do filme: um santo! De início, essa posição desorienta. E, na primeira vez que se toma conhecimento do assunto, arrisca-se a possibilidade de não ter a perspicácia necessária para descobrir, por trás, a figura de um homem de Estado realista, muito próximo de seu povo, e com os seus dois pés na terra.

As características que possuímos do personagem são do tipo impressionante: “Pela nobreza de traços e imponência corporal, sua beleza singular o coloca fora de competição, não somente entre os demais príncipes de seu país, mas ainda entre os demais soberanos estrangeiros, desta terra, tal como o sol entre todos os astros do firmamento… Ele ultrapassa, pela estatura, o comum dos homens. Sua voz é a trombeta que chama o povo, seu rosto é o de José, o Esplêndido, que o Faraó fez rei do Egito. De uma força igual à de Sansão, recebeu de Deus ainda a sabedoria de Salomão e uma galhardia semelhante à de Vespasiano, imperador de Roma, que manteve cativa toda a terra da Judeia… Sua voz é a trombeta que chama o povo…”

Não obstante, não pretendo estourar o microfone com voz semelhante!

Pelo espírito, o século 13 mergulha na mesma tonalidade afetiva que o nosso. E ao pé da letra, mesmo, os acontecimentos são de tal modo familiares a ponto de parecer modelos. Jamais esquecerei o dia em que, pondo de lado o jornal onde acabava de ler a destruição de Guernica pelos fascistas, abri um livro de história e meus olhos tombaram sobre o relato da destruição de Guersik pelos cruzados; dir-se-ia uma cópia, palavra por palavra.

Mas como andávamos no século 13? Como comíamos e nos conduzíamos? Dever-se-ia reproduzir o estilo das encantadoras esculturas da catedral de Santa Sofia, e mesmo das miniaturas mais recentes da crônica de Koenigsberg? Como usar roupas que impõem, queiram ou não, gestos de “ícone” inspirados na escola de Novgorod? Como criar o contato com seres ao mesmo tempo longe e perto de nós?

Aqui, também, repentinamente tudo se esclarece. Estamos a contemplar a perfeição da Igreja do Salvador. Pela pureza das linhas e a elegância das proporções, esse monumento do século 12 talvez não tenha igual. Os homens que em poucos meses edificaram aquela catedral não eram ícones, nem miniaturas, nem estátuas ou estampas, mas gente como vocês e eu. Não são mais as pedras, agora, que nos falam e contam as suas histórias, mas os homens que as juntaram, talharam e carregaram.

Pelo amor que devotaram à pátria e o ódio ao inimigo eles são parentes, parentes próximos do soviético de nossos dias. Arcaísmo, imitação, erudição bacharelesca cedem depressa lugar ao que vai permitir que o leitmotiv patriótico do filme possa desenvolver-se sem entraves.

Partindo daí, vamos poder resolver a parte mais embaraçosa de nosso herói: a sua “santidade” vai tornar-se compreensível. O mais recomendável, sem dúvida, seria deixar desaparecer esse título, mandar de volta a auréola aos padres. Solução simplista… Resolvemos decifrar a “santidade” e acho que chegamos a adquirir cultura. De que valeu essa qualidade para Aleksandr – não no sentido das normas da Igreja, mas no do efeito que repercute no povo? André Bogolubski a teve porque foi martirizado. Mas ninguém assassinou Aleksandr. E então?

Vamos esclarecer, antes de mais nada, o que significa, em realidade, esse título de santo. Nas condições da época, nada mais do que o mais alto julgamento de valor concedido a um homem, quando suas qualidades atingem o limite das normas mais altas conhecidas, quando ele é mais do que “ousado”, “valoroso” e “sábio”.

Vista sob esse ângulo, a atribuição do título de santo a Aleksandr reveste-se do sentido profundo de uma prova, a prova que o pensamento daquele homem abrangia uma vastidão maior do que a ação, que aquele indivíduo genial, aquele chefe de exército, em anos distantes, sonhava claramente com a Rússia unificada. O povo também experimentava esse pressentimento diante daquela grande figura da História.

De uma só vez, os traços dominantes da figura central estavam desenhados. Dois ou três fatos alusivos tirados de crônicas completavam o esboço. Um deles nos agradou sobremaneira: a vitória não transformou a cabeça do vencedor, e este dirigiu à multidão em júbilo uma instrutiva, severa e edificante reflexão. Humanamente, tal fato ainda o aproximava mais dos homens de carne e osso. A sedução e o talento de Cherkassov [ator que fez o papel de Aleksandr Nevsky] completaram o resto.

Um ardor contido pela lucidez constituía, em suma, a essência do personagem. A síntese disso seria sublinhada pelas figuras de dois de seus companheiros: um que nos vinha das crônicas da batalha do Neva; e outro descenderia de um dos heróis intemporais das canções de gesta de Novgorod.

A intrepidez de Buslai e a sabedoria de Gavrilo emolduravam o vencedor de Peipus, que reunia uma e outra característica.

O gelo do lago Peipus! Que extensão! Que amplitude! E que tentação: o inverno russo, o cristal dos pedaços de gelo, as tempestades de neve, os traços deixados pelos patins, as barbas e os bigodes revestidos de branco…

Mas a gestação do roteiro prolongava-se. Uma única solução: adiar as tomadas de cena do inverno – sessenta por cento do filme – para janeiro/março de 1939. Ou então adotar a proposição audaciosa de um recém-chegado à nossa equipe, o diretor Dimitri Vassiliev: fotografar o inverno em pleno verão. No momento em que meditávamos dolorosamente sobre aquela ideia, o leitmotiv veio em nossa ajuda: pedaços de neve autênticos, ou autêntica bravura do povo russo? Neve verdadeira, ou verdadeiro heroísmo russo?

O inverno artificial nos saiu muito bem. Dizendo melhor: não levantou discussão; nem suscitou qualquer comentário; passou despercebido.

O segredo do êxito está em que não procuramos disfarçar. Não fingimos, não nós preocupamos em fazer crer que pedaços de vidro ou de arranjo postiço pudessem resolver detalhes reais da história russa. Apanhamos apenas o essencial, suas relações de valores sonoros e luminosos, o branco do terreno e o negro do céu, por exemplo.

Enfim a questão prazo. Por mais ridículo que possa parecer em face de meus outros camaradas, com “Aleksandr Nevsky” eu fazia a minha estreia no filme sonoro. Como eu gostaria de aproveitar para experimentar em paz, sistematicamente, tudo o que tinha armazenado em matéria de ideias e desejos depois de anos em que sonhava com o filme sonoro! O canhoneio do lago Hassan dissipa esses sonhos idílicos. Mordendo os dedos de raiva porque o filme não terminava, impedindo que o atirássemos como uma granada ao rosto do agressor, a equipe redobra de ardor em silêncio e o prazo impossível, dia sete de novembro, começa a repercutir em nossa consciência como realidade. Confesso que, até o último dia, vivi com a ideia: “É impossível terminar o filme no dia sete de novembro, mas vamos terminar”.

Foi aí que o mestre feiticeiro Serguey Prokofiev acorreu em nosso auxílio. Quando este fabuloso musicista encontrou tempo para refletir sobre o espírito da obra, para compreender num simples esboço de montagem toda a lógica interna de uma cena, para repeti-la em termos de música, para traduzi-la numa orquestração prodigiosa e, durante as horas passadas no estúdio de gravação com Volski, o engenheiro de som, e Bogdankevitch, o operador, para harmonizar o método de gravação através de diversos microfones de uma maneira que até então não tinha sido feita entre nós?

Por essas qualidades ele igualava-se a toda a nossa imensa equipe cuja energia e entusiasmo poderiam evidenciar-se num tempo tão reduzido para aquela tarefa formidável.

Nosso tema era o patriotismo!

De que maneira estávamos à altura da tarefa?

Cabe ao espectador soviético responder.

A filmagem de “Alexandre Nevsky” foi concluída no dia 4 de novembro de 1938. A equipe recebeu a Bandeira Vermelha por completar o filme antes do prazo previsto para sua conclusão.

 

10-8-16 Bola de Sebo

‘Bola de Sebo’, filme soviético de 1934, ganha reedição em DVD pelo CPC-UMES Filmes

10-8-16 Bola de Sebo

 

Novela de Guy de Maupassant inspirou pelo menos 10 adaptações, esta entre elas

Em 1880, Guy de Maupassant publicou Bola de Sebo, novela classificada por Gustave Flaubert de “verdadeira obra-prima”. Tal julgamento do perfeccionista autor de Madame Bovary deve ser levado em consideração. A história é narrada com todo rigor. E o estilo realista presta-se com perfeição para o cinema, arte e indústria que não existiam no tempo do seu autor. Só viria a ser “inventado” 15 anos depois, na própria França, pelos irmãos Lumière.

Uma das primeiras adaptações da obra foi feita pelo cinema soviético. Ainda atuando na fase silenciosa, Mikhail Romm levou à tela a incrível história da personagem-título. Ela, na verdade, se chama Élizabeth Rousset, “Bola de Sebo” por ser meio gordinha. Está entre os dez passageiros de uma diligência que foge de Rouen rumo ao Havre, pois a cidade havia sido tomada pelos soldados inimigos. Estamos na guerra de 1970, que opôs França e Prússia. A ideia inicial da história é fazer da diligência um microcosmo da sociedade francesa. Neste, há representantes de várias camadas da sociedade. Nobres, burgueses e um comerciante de vinhos, todos acompanhados de suas esposas, e também Bola de Sebo, prostituta sobre quem se abatem os preconceitos das personalidades “respeitáveis”.

O que não os impede de partilhar as provisões de Bola de Sebo durante a viagem, pois foi ela a única a levar alimentos em sua cesta. Pode ser proletária e de “má vida”, mas a comida é bem-vinda entre os burgueses famintos. Na primeira parada, estes também não hesitarão em exigir de Bola de Sebo outro sacrifício em nome do bem comum. Atendido o pedido, a moça roliça será relegada ao canto de onde nunca havia saído, aquele reservado à escória que não merece conviver com os bem-nascidos e endinheirados.

Um tema como este não poderia passar despercebido ao cinema social soviético. Romm constrói sua versão como de praxe na era do chamado cinema mudo. Não podendo se apoiar em diálogos, é na expressividade das imagens que se concentram suas atenções.

O filme foi realizado em 1934 e, em 1955, ganhou versão sonora supervisionada por Romm. Acrescenta uma narração off para acompanhar a ação vista na tela. Não prejudica a obra, mas também nada lhe acrescenta.

O poder da prosa social e crítica de Maupassant é tal que Bola de Sebo inspirou pelo menos umas dez adaptações cinematográficas. A de Romm pertence ao grupo das pioneiras, mas há outras, clássicas, como No Tempo das Diligências (1939), de John Ford, e Casanova e a Revolução (1982), de Ettore Scola. A ideia de base é sempre a mesma. A carruagem é um mundo em miniatura, habitado por seres diferentes, obrigados a um convívio que não existe no tempo normal de vida e ao qual não estão habituados. Dessa convivência forçada, sai o retrato expressivo da sociedade de classes, com suas grandezas e abjeções, gestos de generosidade e deformações de caráter.

Em grandes traços, essa pintura pouco lisonjeira destaca a hipocrisia dos homens, que se aproveitam dos que de fato desprezam e não hesitam em lhes voltar as costas quando tudo retorna ao normal. Brecht se inspirou na personagem de Bola de Sebo para a criação de uma Jenny de temperamento oposto em sua Ópera dos Três Vinténs, enquanto no brasileiro A Ópera do Malandro, Chico Buarque e Ruy Guerra recriaram na personagem de Geni o modelo original de Maupassant. A hipocrisia é sempre um tema forte, mesmo quando nos habituamos a ela. Basta olhar em volta.

BOLA DE SEBO

Diretor: Mikhail Romm

Distribuição: CPC-Umes Filmes

Gênero: Drama, 1934, 90 min. P&B Versão sonorizada com narrativa em off

Preço: R$ 26

Fonte: Luiz Zanin Oricchio do jornal O Estado de S. Paulo

10-8-16 A tregua

Participe da sessão de “A Trégua”, de Francesco Rosi, na Mostra Permanente de Cinema Italiano da UMES

10-8-16 A tregua

 

Na próxima segunda (15), a Mostra Permanente de Cinema Italiano apresenta o filme “A Trégua”, de Francesco Rosi (1996). Aproveite, só na UMES você confere o melhor do cinema com entrada franca!

 

A sessão será iniciada às 19 horas no Cine-Teatro Denoy de Oliveira, na Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Chame sua família e seus amigos, participe!

 

 

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A TRÉGUA (1996), de Francesco Rosi (1996), ITALIA, 125 min.

 

SINOPSE

“A Trégua” é o ultimo filme de Francesco Rosi, autor dos célebres “Caso Mattei” (1972) e “Bandido Giuliano” (1961). Relata a odisseia pouco heroica, porém pungente, de Primo Levi para retornar à sua casa em Turim, depois de ter sido libertado do campo de concentração de Auschwitz pelo Exército Vermelho. Baseado no romance autobiográfico de Primo Levi.

 

O DIRETOR

Nascido em Nápoles, o cineasta Francesco Rosi estudou Direito. No inicio dos anos 40 trabalhou no rádio como jornalista. Ingressou na indústria cinematográfica em 1948, foi assistente de vários cineastas, entre os quais Luchino Visconti com quem fez “La Terra Trema” (1948), “Belíssima” (1951) e “Senso” (1956). Sua carreira de diretor, marcada por obras de grande empenho social e político, começou em 1958 com “O Desafio”. Tem entre seus filmes grandes sucessos como “O Caso Mattei” (1972), “Lucky Luciano” (1973) e “Cadáveres Ilustres” (1976). Recebeu o Urso de Prata de Melhor Diretor em 1962 por “Bandido Giuliano” e o Prêmio de Ouro do 11° Festival de Moscou, de 1979 por “Cristo Parou em Eboli”. Em 2008 foi homenageado no Festival de Berlim com um Urso de Ouro pelo conjunto da obra.

 

ROTEIRISTA: Tonino Guerra (1920-2012)

Antonio Guerra nasceu em Santarcangelo di Romagna, foi poeta, escritor e roteirista. Durante a 2ª Guerra Mundial esteve preso num campo de concentração. Escreveu seu primeiro roteiro, em 1954, para “Nasce un Campione”, do diretor Elio Petri, com o qual colaborou em outras realizações, inclusive “Os Dias São Contados” (1962). Seu nome está presente nos créditos de mais de 100 filmes realizados por diretores de estilos diversos, italianos ou não, como “Vidas Vazias” (Damiano Damiani,1963), “Blow Up” (Michelangelo Antonioni, 1966), “Os Girassóis da Rússia” (Vittorio De Sica, 1970), “Caso Mattei” e “Cadáveres Ilustres” (Francesco Rosi, 1972 e 1976), “Amarcord” (Federico Fellini, 1974), “A Noite de São Lourenço” (Irmãos Taviani, 1982), “Nostalgia” (Andrei Tarkovsky, 1983), “O Apicultor” e “Paisagem na Neblina” (Theo Angelopoulos, 1986 e 1988), “Estamos Todos Bem” (Giuseppe Tornatore, 1990).

 

ARGUMENTO ORIGINAL: Primo Levi (1919-87)

Primo Levi inscreveu seu nome entre os maiores escritores do século XX, a partir da experiência de prisioneiro e sobrevivente do campo de extermínio de Auschwitz. Sua prosa literária tem a força expressiva das narrativas em que a voz da testemunha alia-se ao trabalho da memória e da recriação da vida nos limites máximos da dor e da destruição.

A trégua narra a longa e incrível viagem de volta para casa depois da libertação de Auschwitz e do fim da guerra. Numa Europa semidestruída, o autor e vários companheiros de estrada viajam sem destino pelo Leste até a URSS, premidos entre as ruínas da maior de todas as guerras e o absurdo da burocracia dos vencedores.

 

MÚSICA ORIGINAL: Luis Enríques Bacalov (1933)

Nascido na Argentina, o compositor, diretor de orquestra, pianista e arranjador Luis Enríques Bacalov trabalhou com diversos diretores e consolidou sou carreira, principalmente, através das trilhas sonoras cinematográficas.

Sua trajetória inclue desde trilhas de cinema e arranjos para rádios,atuação de maestro principal na Orquestra Della Magna Grecia de Taranto até o trabalho como professor na Act Multimedia – Scuola de Cinema Roma.

Pier Paolo Pasolini, Damiano Damiani, Ettore Scola, Fernando Di Leo, Gianni Serra e Franco Giraldi, Ennio Morricone e Federico Fellini estão entre os diretores com quem o músico trabalhou. Destacam entre suas trilhas sonoras a produção de ” O Evangelho Segundo São Mateus” (Pier Paolo Pasolini,1964)”, “Cidade das Mulheres” (Federico Fellini, 1980), “O Carteiro e o Poeta” ( Michael Radford 1994), e “Kill Bill: Volume I e II” (Quentin Tarantino, 2003 e 2004).

 

5-8-16 O caminho para Berlim

Cinemateca Paulo Amorim traz produções da série Cinema Soviético do CPC-UMES Filmes em sua programação semanal

5-8-16 O caminho para Berlim

“O Caminho para Berlim”, em cartaz até o dia 10

 

Cinemateca Paulo Amorim traz produções da série Cinema Soviético do CPC-UMES Filmes em sua programação semanal

A programação da Cinemateca Paulo Amorim, no Centro Cultural Mário Quintana, conhecida em Porto Alegre por apresentar filmes que normalmente não passam no circuito comercial, tem agora mais um motivo para agradar aos amantes do bom cinema. Desde janeiro, em todas as suas programações semanais, a Cinemateca apresenta um filme da série Cinema Soviético do CPC-UMES Filmes. As produções, que abarcam a era soviética e pós-soviética do maior e mais antigo estúdio de cinema da Rússia, o Mosfilm, são em sua maioria inéditas no Brasil e representam uma oportunidade única para o público conhecer uma das mais pujantes cinematografias do mundo.

Na programação desta semana, que vai até o dia 10 de agosto, o destaque é “O Caminho para Berlim”, filme de 1974 dirigido por Serguey Popov. Lançado por ocasião das comemorações do 70º aniversário da vitória do Exército Vermelho sobre o fascismo, o filme evoca acontecimentos ocorridos no verão de 1942, na Frente Sul, baseados no romance “Dois na Estepe” de Emmanuel Kazakevich e nos diários de guerra de Kostantin Simonov.

O filme conta a história de um tenente russo condenado por covardia à pena de fuzilamento, que cruza a estepe escoltado por soldado cazaque até o local da execução. Para chegarem ao destino, eles enfrentam juntos o cerco alemão.

Em 2015, “O Caminho para Berlim” foi premiado com a menção ecumênica do júri do Festival Internacional de Montreal.

Confira abaixo a programação completa da Cinemateca Paulo Amorim, até o dia 10, em suas três salas (na segunda-feira não há sessões):

 

Sala Norberto Lubisco

O Caminho para Berlim (Doroga na Berlin – Rússia, 2015, 90min). Direção de Sergei Popov, com Amir Abdykalov, Yuriy Borisov, Maksim Demchenko. Mos Film, 14 anos. Drama.

Sessões: 15h15min e 19h15min

 

Paulina (La Patota – Argentina/Brasil, 105min, 2016). Direção de Santiago Mitre, com Dolores Fonzi. Esfera Filmes, 14 anos. Drama.

Sessões: 17h

 

Sala Paulo Amorim

Na Ventania (Risttuules – Estônia, 2014, 90min). Direção de Martti Helde, com Laura Peterson, Tarmo Song, Mirt Preegel. Zeta Filmes, 12 anos. Drama.

Sessões: 15h30min e 19h30min (não haverá sessão às 19h30min na quarta-feira, dia 10)

Janis: Little Girl Blue (Estados Unidos, 2015min, 107min). Documentário de Amy J. Berg, com narração de Cat Power. Zeta Filmes, 14 anos.

Sessões: 17h30min

 

Sala Eduardo Hirtz

Estive em Lisboa e Lembrei de Você (Brasil/Portugal, 2015, 95min). Direção de José Barahona, com Paulo Azevedo e Renata Ferraz. Fenix Filmes, 14 anos. Drama.

Sessões: 15h

Campo Grande (Brasil, 2015, 110min). Direção de Sandra Kogut, com Carla Ribas, Rayane do Amaral, Ygor Manoel. Imovision, 14 anos. Drama.

Sessões: 17h

Mãe Só Há Uma (Brasil, 2016, 80min). Direção de Anna Muylaert, com Naomi Nero, Matheus Nachtergaele e Dani Nefussi. Vitrine Filmes, 14 anos. Drama.

Sessões: 19h

 

Centro Cultural Mário Quintana – Cinemateca Paulo Amorim – Rua dos Andradas, 736 – Porto Alegre. Fones (51) 3226-5787 – (51) 9972-9096

 

Fonte: Hora do Povo

5-8-16 Rádio Independência

Maestro Marcus Vinícius saúda o nascimento da Rádio Independência

5-8-16 Rádio Independência

MARCUS VINICIUS DE ANDRADE*

Ao longo das três últimas décadas do séc. XX, o espaço da cultura e da informação sofreu uma significativa transformação.  Até os anos 1970 havia uma nítida demarcação entre os agentes que produziam bens culturais (criadores em geral, editores de publicações, produtores de discos e filmes, etc.) e os agentes que apenas difundiam tais bens para o grande público, sendo este o caso das emissoras de rádio e TV e os veículos de comunicação como um todo. Grosso modo, tínhamos de um lado o segmento da produção e, de outro, o segmento da divulgação, da mídia propriamente dita, ambos nutrindo uma relação de interdependência, já que o primeiro necessitava ter quem difundisse os bens que produzia, enquanto o último precisava ter conteúdo cultural para abastecer suas programações.

A transformação que mencionamos ocorreu a partir dos anos 1970 (e principalmente nas décadas de 1980 e 1990), quando as linhas demarcatórias entre universo da produção/universo da mídia começaram a ser diluídas, especialmente na área da música. Foi quando as grandes corporações da mídia transformaram-se também em agentes de produção, criando suas próprias gravadoras e editoras musicais: com isso, não apenas passaram a ocupar a maior parte de suas programações com seus próprios discos, fechando as portas aos repertórios produzidos por terceiros, como também passaram a usar seu poder de fogo comunicativo para promover gratuitamente seus produtos em maciças campanhas publicitárias, tornando inviável a livre concorrência no sufocado mercado. No Brasil, o exemplo da rede Globo (com sua gravadora Som Livre) é notório, mas tem-se também que não há hoje nenhuma grande empresa de rádio ou TV que não possua sua produtora de discos e de eventos musicais, com as quais explora comercialmente negócios paralelos à sombra da concessão do serviço público de comunicação outorgada pelo Estado.

A contrapartida a essa tendência não se fez esperar e rapidamente as grandes produtoras de discos, filmes, etc., resolveram dar o troco e transformar-se também em empresas de mídia, constituindo canais de rádio e TV próprios em muitas partes do mundo, como é o caso da Warner, da Sony, da EMI, da Disney e muitas outras. Hoje, elas não apenas produzem, mas dão dimensão midiática aos títulos de seus catálogos. Ou seja: o produto já sai de fábrica junto com a propaganda garantida em todo o mundo.

Nas altas esferas negociais, não mais existem empresas de produção e mídia em separado. Agora tá tudo junto e misturado. E o fato é que, ao passarem a acumular as funções de produzir/divulgar, sendo simultaneamente empresas de produção e de mídia, o poder daquelas corporações se ampliou em muito: se até há poucos anos elas já eram monopólios em suas áreas respectivas, elas hoje constituem supermonopólios que detêm redobrado poder no ciclo de produção/consumo de bens culturais, por elas controlado mundialmente, em grande parte.

Diante desse quadro, o que podem fazer os produtores, divulgadores e defensores da cultura independente, da cultura que se deseja livre das injunções dos monopólios e do repetitivismo papagaio da mediocrização imposta pelos donos do dinheiro?

Em primeiro lugar, devem ter consciência de que a produção cultural diferenciada, livre e independente, só encontrará seu verdadeiro espaço junto a projetos de mídia igualmente diferenciados, livres e independentes. Sim, porque mesmo diversas rádios e emissoras ditas comunitárias e independentes muitas vezes nada mais fazem senão reproduzir os padrões do mainstream cultural, replicando o modelo midiático em vigor e, paradoxalmente, obrigando os dominados a assumirem o discurso dominante.  O mesmo fenômeno ocorre na própria Internet, um espaço em que, segundo estudos recentes, predominam por larga margem as escolhas determinadas pelas grandes corporações da indústria cultural global.

Quando começamos a Gravadora CPC-UMES, há cerca de pouco mais de quinze anos, tínhamos duas convicções em mente: primeiro, a de que só conseguiríamos demarcar e ocupar nosso espaço na produção fonográfica se fizéssemos opções claras pela excelência musical, pela brasilidade acima de tudo, pela não-subserviência aos ditames da mídia mercadológica e, principalmente, pelo respeito à música que o Povo brasileiro efetivamente merece; nossa segunda convicção era a de que, com raras exceções, não encontraríamos lugar dentro da mídia convencional que, emburrecida e emburrecente, tinha à frente dos cascos a cenoura posta pelos cifrões da dominação cultural, sendo portanto necessário que buscássemos novos parceiros na área da comunicação para que nossos propósitos pudessem florescer.

No momento em que as grandes corporações da produção e da mídia se fundem e confundem seus projetos para dominar a vontade cultural de povos e nações, a chegada da Rádio Independência traz novo alento à nossa luta. Ela nasce com os mesmos ideais da nossa Gravadora: liberdade, qualidade, autonomia e coragem de mostrar-se parte de um projeto para o Brasil. Somos vinhos da mesma pipa, cachaças do mesmo alambique, estamos no mesmo barco e no meio da mesma tempestade, que saberemos enfrentar e vencer por estarmos juntos.

*Diretor Artístico da Gravadora CPC-UMES (artigo publicado originalmente no jornal Hora do Povo)

 

5-8-16 Marina Cintra

Dia do Estudante é dia de luta! 11 de agosto, às 8 horas no MASP

 5-8-16 Marina Cintra

Gabriel Medeiros, do grêmio da escola Domingos Quirino, mobilizando para o Dia do Estudante

 

No próximo dia 11 de agosto os estudantes de São Paulo realizarão uma ampla mobilização em defesa da educação e do Brasil. Exigindo novas eleições presidenciais para por um fim a crise do país, assim como aos massivos cortes que tem desmontado ainda mais a educação, a diretoria da UMES está concentrada mobilizando os estudantes das escolas da cidade.

Para Leticia Kielblock, diretora da região oeste a “manifestação do dia do estudante será muito importante para denunciar a política de Dilma e Temer que dizem que governam para o povo, mas que sabemos que governam apenas para os bancos. No dia do estudante vamos dizer não aos governos Dilma e Temer que colocaram o Brasil na UTI, mas que também somos contra a aprovação automática, que deixa aluno avançar de série sem aprender conteúdo. Vamos dizer bem alto que não aceitamos político roubando merenda enquanto há crianças passando fome, sem merenda nas escolas”.

 

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1-8-16 Banner 11 DE AGOSTO 2016

 

“Essa juventude é a juventude que vai tirar Michel Temer, Dilma Rousseff ou qualquer político inimigo do povo e da educação, por isso, é importante cada estudante se indignar e ir pra rua, mostrar sua voz, e mostrar que Dilma e Temer não representam os estudantes, e que queremos novas eleições”.

Ao tratar do projeto conhecido como Lei da Mordaça, Leticia explicou que é mais uma tentativa de alienar ainda mais a juventude. “Impedir o professor de debater política na sala de aula, que é o lugar onde devemos nos tornar cidadãos críticos, é simplesmente colocar uma mordaça nos estudantes e nos seus professores. Por isso nesse Dia do Estudante vamos mostrar que somos contra o projeto ‘Escola Sem Partido’, porque o professor deve sim formar cidadãos críticos dentro da escola”.

 

5-8-16 plenaria

 

A diretora do departamento feminino da UMES, Bianca Antonini, reforçou a convocação afirmando que a manifestação não vai aliviar para o governo de São Paulo. “Estamos indo às ruas para também denunciar o governo do Alckmin que não investe em nossa educação. Com a gestão tucana nossos professores são mal pagos, não são valorizados e com a aprovação automática a situação fica pior”.

Bianca também denunciou a lei da mordaça, que tramita no congresso nacional e na Alesp. “A ideia da escola sem partido é tirar cada pedacinho crítico que possa surgir nos estudantes. Eles perceberam que depois das ocupações não vamos mais ficar calados com as injustiças, estamos organizados. Mas esse projeto vem para desunir e tirar a discussão das escolas, que já não têm quadra, sala se informática ou laboratório. Não aceitamos mais isso, que venha o dia do estudante e que eles sintam nossa força!”

 

5-8-16 Dilma

Dilma Rousseff contraria Lula e diz que o PT roubou

5-8-16 Dilma

 

Só ela é a única honesta no pedaço. Nunca erra e só o PT é que tem de fazer autocrítica

 

Disse a presidente afastada Dilma Rousseff: “o PT precisa passar por uma grande transformação. Primeiro, uma grande transformação em que se reconheça todos os erros que cometeu do ponto de vista da questão ética e da condução de todos os processos de uso de verbas públicas”.

O PT não era aquele partido que estava sendo perseguido pelo juiz Moro? Não era aquele partido que, segundo Lula e outros petistas, tinha uma ética impecável, uma honestidade nunca dantes vista e um caráter sem jaça? Não era aquele que, segundo Lula, “nunca traiu seu compromisso com as camadas pobres da população”? Há sete dias, o mesmo prócer petista considerou a Lava Jato “uma política premeditada de criminalização do PT”.

Pois Dilma disse, em entrevista à Fórum, que o PT “cometeu erros” na ética, na “condução de todos os processos de uso de verbas públicas”.

Ou seja, roubou dinheiro público, dinheiro do povo. O que ela disse, não pode ter outro significado.

Então, o juiz Moro está apenas cumprindo com a sua função de punir meliantes, colocando ladrões (e ladrões que roubaram todo o povo brasileiro) na cadeia. Portanto, segundo Dilma, quem está tentando “criminalizar” Moro é Lula.

LÓGICA

Como a lógica (isto é, a coerência e a integridade) não é o forte desse pessoal, vejamos outra hipótese: talvez Dilma defenda que os ladrões devem ser condecorados, ao invés de presos. Mas, nesse caso, ela não estaria propondo que o PT reconhecesse que roubar dinheiro público foi um “erro” (não foi um crime; para Dilma, foi somente um “erro”. Como é isso? Ora, leitor, foi “erro” por ter sido descoberto).

É verdade que, depois de dizer que “o PT precisa passar por uma grande transformação”, que o PT precisa “reconhecer todos os erros que cometeu do ponto de vista da questão ética e da condução de todos os processos de uso de verbas públicas”, Dilma também diz que “não é possível supor que se confunda o erro individual das pessoas, que são passíveis de errar, com uma instituição. (…) As pessoas é que têm que fazer suas autocríticas”.

Trata-se de uma nova versão do ignóbil mote “as pessoas têm que ser punidas e não as empresas” – que Dilma lançou para acobertar a Odebrecht e outros antros de corrupção.

Se no caso das empresas isso era coisa de escroque – pois é óbvio que as empresas são organizações formadas por pessoas e não há como punir ladrões sem punir as suas empresas, ou seja, sem punir as empresas que roubaram – no caso do PT isso é coisa de débil mental, pois não há ninguém que não veja que as “pessoas” (sobretudo aquelas que mandam no PT) constituem o partido. O desastre eleitoral do PT, que se avizinha, é a maior prova de que não existem enganados, no Brasil, a esse respeito – exceto os que gostam de viver do engano. Pensando bem, nem esses.

Dilma é uma pessoa muito categorizada para dizer que o PT roubou – ninguém sabe disso melhor que ela, principal beneficiária do roubo, e, além, presidente do Conselho da Petrobrás (e ministra das Minas e Energia e da Casa Civil) durante a maior parte do tempo em que os senhores Vaccari, Duque, Barusco e Paulo Roberto Costa enchiam a mão, os bolsos e outros órgãos com as propinas da Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Correa, OAS, Queiroz Galvão, etc., para assaltar a Petrobrás.

Parte desse dinheiro foi para contas em bordeis fiscais, para coleções de quadros falsificados, para edifícios horríveis na Barra da Tijuca ou para passeios em algum fim de mundo, tipo Orlando.

Mas a principal parte da propina agasalhada pelo PT e seus aliados foi para eleger candidatos através de uma fraude eleitoral pior que aquela dos coronéis da República Velha – esse foi o principal motivo do aumento no preço das campanhas: os gastos eleitorais aumentaram 571,69% entre 2002 e 2014. Passaram de R$ 678.481.566,99 (678 milhões, 481 mil, 566 reais e 99 centavos), em 2002, para R$ 4.557.310.095,92 (quatro bilhões, 557 milhões, 310 mil, 95 reais e 92 centavos), em 2014.

Essas são, evidentemente, apenas as despesas declaradas oficialmente, sem contar o que se passou “por fora”, como é exemplo os milhões de dólares recebidos pelo marketeiro de Dilma, João Santana.

Em suma, para usar o idioma nacional popular: avacalharam com a democracia no país, através do mais deslavado abuso do poder econômico, com a quase completa interdição das candidaturas populares, sem condições de enfrentar esse massacre – e, suprema infâmia, estabeleceram essa ditadura eleitoreira sobre a Nação, usando o dinheiro do próprio povo, roubado da Petrobrás (e não apenas da Petrobrás).

É por isso que é tão repugnante ouvir Dilma dizer que “não há hipótese de retomada do caminho democrático sem minha volta”. Porque, ainda que intuitivamente, todo mundo sabe que foi pisando em cima da democracia, que ela foi reeleita.

E para que essa ditadura eleitoreira do poder financeiro e da ladroagem?

Para perpetrar o maior estelionato eleitoral que o país já viu, em que, três dias após as eleições, os juros foram aumentados – e, nos meses seguintes, quatro milhões de trabalhadores seriam demitidos; os salários daqueles que continuaram empregados caiu, em média, 10%; centenas de milhares de empresas (e isso não é força de expressão) seriam fechadas; as verbas públicas seriam estranguladas; e a comida na mesa do povo seria confiscada para ser entregue, sob a forma de juros, a uma trupe de parasitas – bancos, fundos, gente que não trabalha e engorda financeiramente à custa da miséria dos brasileiros.

Ainda por cima, legou ao país o sr. Temer, que Dilma adora esquecer que somente é presidente interino porque ela o escolheu, ou aceitou, como vice-presidente – e, sem dúvida, não foi para fazer uma política progressista que ela preferiu se acumpliciar com Temer.

INEPTA

Nem agora, com o país na pior crise desde o início do século XX, ela se arrepende: sua defesa na comissão do impeachment é um elogio alucinado dessa política. Por ela, sabemos que Dilma não errou – aliás, ela nunca erra. Sempre são os outros que erram. Por isso é que as coisas não dão certo.

Que Dilma, agora, confesse que o PT roubou – e só agora, quando até a ONU já sabe disso – não é um espanto. Nessa hora, é claro, o PT não é ela. O PT são os outros. Inclusive o Lula. Mas, ela, jamais.

No entanto, quem fiscalizava a diretoria da Petrobrás?

Nem mesmo quando ela substituiu a diretoria, para colocar na presidência da estatal uma inepta – sem a menor condição de dirigir a Petrobrás, tendo por única credencial a sua intimidade com Dilma – não apareceu o poço de corrupção, que a Polícia Federal já calculou em R$ 40 bilhões.

Como é possível?

A resposta lógica é porque Dilma fazia parte da quadrilha. Ou, em termos, digamos assim, mais suaves, mas que querem dizer a mesma coisa: interessava a Dilma que o roubo continuasse. Senão, como poderia pagar tanto ao seu marketeiro?

Dilma, em 2003, quando ministra das Minas e Energia, nomeou João Vaccari para o bem remunerado Conselho de Itaipu. Alguém acredita que Vaccari passava milhões de dólares das propinas que o PT recebia para o marketeiro de Dilma, sem haver uma ordem para isso?

Quem poderia dar essa ordem? Segundo Dilma, ela mesma (“eu paguei R$ 70 milhões para o João Santana” – se era assim com o caixa um, por que o caixa dois seria diferente?).

Fonte: Carlos Lopes da Hora do Povo

 

3-8-16 De crápula a herói

Assista o filme “De Crápula a Herói”, de Roberto Rossellini, na Mostra Permanente de Cinema Italiano da UMES

3-8-16 De crápula a herói

 

Na próxima segunda (8), a Mostra Permanente de Cinema Italiano apresentará o filme “De Crápula a Herói”, de Roberto Rossellini (1945). Aproveite, só na UMES você confere o melhor do cinema com entrada franca!

 

A sessão será iniciada às 19 horas no Cine-Teatro Denoy de Oliveira, na Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Chame sua família e seus amigos, participe!

 

Confirme sua presença!

 

 DE CRÁPULA A HERÓI, de Roberto Rossellini (1945, ITÁLIA, 138 min.

 

SINOPSE

Durante a 2ª. Guerra Mundial, na Itália ocupada (setembro de 1943 a junho da 1944), Emanuele Bertone, um vigarista que se faz passar por coronel do exército, explora seus compatriotas com a promessa de interceder por seus familiares presos pelos alemães, em troca de uma módica quantia. Um dia, ele é denunciado e condenado à morte. Para se salvar, aceita passar-se pelo general Della Rovere, líder da Resistência, visando se infiltrar no movimento e descobrir os inimigos do Reich.

O filme foi vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza (1959).

 

O DIRETOR

Nascido em Roma, Roberto Rossellini realizou, em 1945, a obra tida como marco zero do neorrealismo, movimento que influenciou as correntes estéticas do pós-guerra, desde Godard e Satyajit Ray até o Cinema Novo brasileiro. Seu pai era proprietário do cine-teatro Barberini. Nos anos 30, quando a família teve os bens confiscados pelo governo fascista, Rossellini ganhou a vida na indústria cinematográfica e chegou a obter sucesso com filmes encomendadas pelo regime. Ao mesmo tempo, registrava em segredo as atividades da Resistência. Nos últimos dias da ocupação nazista, o diretor levou a câmera às ruas para captar a insurreição popular que libertou a cidade em jumhp de 1944. Nascia o clássico “Roma, Cidade Aberta” (1945), baseado no roteiro que criou em parceria com Sergio Amidei e Federico Fellini.

 

Entre suas obras estão “Paisá” (1946), “Alemanha Ano Zero” (1948), “Stromboli” (1949), “Europa 51” (1952), “Romance na Itália” (1953), “Joana D’Arc (1954), “Índia: Matri Bhumi” (1959), “De Crápula a Herói” (1959), “Era Noite em Roma” (1960),

Nos anos 60-70, com foco na TV, fez filmes sobre personagens históricos, a começar por Giuseppe Garibaldi, “Viva a Itália” (1961). Nesta safra se incluem “A Tomada do Poder por Luís XIV” (1966), “Sócrates” (1971), “Blaise Pascal” (1971), “Santo Agostinho” (1972), “Descartes” (1974), “Anno Uno” (1974), “O Messias” (1975).

 

ARGUMENTO ORIGINAL: Indro Montanelli (1909-2001)

Indro Montanelli nasceu em Milão e se formou em Direito pela Universidade de Florença. Trabalhou como jornalista e autor de livros de História. Escreveu nos maiores jornais da Itália, como Il Corriere della Sera e Repubblica. Tem entre seus trabalhos doze peças teatrais. Em sua filmografia estão os argumentos de “Tombolo, Paradiso Nero” (Giorgio Ferrone, 1947), “De Crápula a Herói” (Roberto Rossellini, 1959), “I Sogni Muoiono All’Alba” (Mario Craveri e Enrico Gras, 1961).

O roteiro da adaptação cinematográfica de “De Crápula a Herói” tem a assinatura de Sergio Amidei e Roberto Rossellini.

 

MÚSICA ORIGINAL: Renzo Rossellini (1908-82)

Romano como seu irmão Roberto, Renzo Rossellini foi compositor e critico musical. Estudou no Conservatório de Santa Cecília. No ano de 1946 fundou a União Nacional dos Músicos. Em 1970 assumiu a direção da orquestra da Ópera de Monte Carlo.

Compôs vários balés, cantatas, oratórios, sinfonias, peças de música de câmara, canções e quatro óperas. Entre seus mais de 100 trabalhos para cinema estão as trilhas dos filmes do irmão, até o final dos anos 50. Compôs também para Mario Soldati (“Eugenie Grandet”, 1946), Giuseppe Amato (“Mulheres Poibidas”, 1954) e Dino Risi (“O Signo de Vênus”, 1955).