Cinemateca Brasileira exibe filmes russos inéditos no Brasil
Entre os dias 3 e 9 de dezembro de 2015 serão apresentados 11 filmes inéditos no Brasil, representativos de diversos períodos do cinema soviético e pós-soviético. A mostra é resultado da parceria entre o Centro Popular de Cultura da UMES, o Mosfilm, maior estúdio de cinema da Rússia, e a Cinemateca Brasileira.
Local: Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino
(11) 3512-6111 – Entrada franca
PROGRAMAÇÃO
03/12 QUINTA-FEIRA
20h30 – ABERTURA – O CAMINHO PARA BERLIM
Ano: 2015 – Direção: Serguei Popov – Argumento Original: Emmanuil Kazakevich, Konstantin Simonov – Música: Roman Dormidoshin – Colorido, 83 min. – Condenado por covardia ao fuzilamento, tenente russo tem várias oportunidades de escapar, enquanto cruza a estepe escoltado por soldado cazaque até o posto de comando. Baseado em escritos de Konstantin Simonov e Emmanuil Kazakevich, o filme foi lançado por ocasião do 70º. aniversário da vitória do Exército Vermelho sobre o fascismo.
04/12 SEXTA-FEIRA
19h30 – A FILHA AMERICANA
Ano: 1995 – Direção: Karen Shakhnazarov – Roteiro: Aleksandr Borodyansky – Música: Anatoli Kroll – Colorido, 94 min. – Abandonado pela mulher que decide viver com americano rico no país do Tio Sam, músico russo vai ao seu encontro, dez anos mais tarde, visando restabelecer os laços com a filha pré-adolescente.
05/12 SÁBADO
17h30 – AVENTURAS EXTRAORDINÁRIAS DE MR. WEST NO PAÍS DOS BOLCHEVIQUES
Ano: 1924 – Direção: Lev Kuleshov – Roteiro: Vsevolod Pudovkin – Silencioso, P&B, 94 min. – Mestre de Eisenstein e Pudovkin, Kulechov, desde o início dos anos 20, explorava a técnica de justaposição das imagens para exprimir conceitos e emoções, valorizando a montagem como o ápice da criação cinematográfica.
19h30 – TRATORISTAS
Ano: 1939 – Direção: Ivan Pyryev – Roteiro: Yevigeni Pomeschkov – Música: Daniil Pokrass, Dmitri Pokrass – P&B, 83 min. – De volta da guerra no Extremo Oriente, piloto de tanque se apaixona pela líder de uma equipe de tratoristas. A canção-tema que acompanha os créditos desta comédia musical se tornou um marcante sucesso popular.
21h00 – LENIN EM 1918
Ano: 1939 – Direção: Mikhail Romm – Roteiro Aleksei Kapler – Música: Nikolai Kryukov – P&B, 106 min. – Nesta continuação do seu "Lenin em Outubro", Romm enfoca o atentado contra o líder bolchevique, voltando a conjugar personagens reais e fictícios numa trama que transporta o espectador ao centro dos acontecimentos.
06/12 DOMINGO
17h00 – A HISTÓRIA DE UM HOMEM DE VERDADE
Ano: 1948 – Direção: Aleksandr Stolper – Argumento Original: Marya Smirnova – Música: Nikolai Kryukov – P&B, 92 min. – Piloto caído atrás das linhas inimigas não se rende. Gravemente ferido, regressa às fileiras e, após um ano de trabalho para se adaptar às próteses nas duas pernas, volta a voar, completando 86 missões de combate. Os feitos de Alexey Maresyev foram também celebrados no romance de Boris Polevoi e na ópera de Prokofiev, em 1946 e 1948.
19h00 – O CAVALEIRO DA ESTRELA DE OURO
Ano: 1950 – Direção: Yuli Raizman – Argumento Original: Semion Babayevsky – Música: Tikhon Khrennikov – P&B, 112 min. – Veterano da 2ª. Guerra Mundial retorna à aldeia natal e se engaja na luta pela implantação de um plano para a reconstrução de toda a região. Arrojado e polêmico, o plano divide as opiniões. Baseado no romance homônimo de Semion Babayevsky.
07/12 SEGUNDA-FEIRA
19h00 – BRAÇO DE DIAMANTE
Ano: 1968 – Direção: Leonid Gaidai – Roteiro: Leonid Gaidai – Música: Aleksandr Zatsepin – Colorido, 95 min. – As comédias de Gaidai venderam mais de 600 milhões de ingressos nas Repúblicas Soviéticas. Em uma pesquisa de 1995, “Braço de Diamante” foi eleita a “melhor comédia russa de todos os tempos”.
21h00 – A VIDA É MARAVILHOSA
Ano: 1979 – Direção: Grigory Chukhray – Argumento Original: Giovanni Fago – Música: Armando Travajoli – Colorido, 95 min. – Vinte anos depois de "A Balada do Soldado", Chukhray dirige esta coprodução soviético-italiana estrelada por Giancarlo Giannini, sobre um piloto que só queria levar uma vida tranquila, sem se envolver em política, num mundo conturbado.
08/12 TERÇA-FEIRA
19h30 – VASSA
Ano: 1983 – Direção: Gleb Panfilov – Argumento Original: Maksim Gorky – Música: Vadim Bibergan – Colorido, 127 min. – Escrita por Maksim Gorky em 1910 e rescrita em 1935, a peça "Vassa Zheleznova" foi a primeira incursão de Panfilov no universo do renomado escritor soviético. Em 1989, ele dirigiria "A Mãe", também com Irina Churikova no papel-título.
09/12 QUARTA-FEIRA
19h00 – A CIDADE DOS VENTOS
Ano: 2008 – Direção: Karen Shakhnazarov – Roteiro: Evgueny Nikishov, Sergey Rokotov – Música: Konstantin Shevelyov – Colorido, 105 min. – Na década de 1970, jovem universitário "dissidente" disputa com o amigo comunista o amor da doce Lyuda, enquanto o entusiasmo socialista na URSS vai sofrendo uma gradual, porém contínua, erosão.
21h00 – O CAMINHO PARA BERLIM
– Reprise
ENTREVISTA COM OS ORGANIZADORES DA MOSTRA
HP – CPC-UMES Filmes realizou uma mostra em novembro do ano passado na Cinemateca Brasileira. Tinha filmes russos de todas as décadas. Agora vão repetir a dose? Como vocês conseguem esses filmes?
Susana – Baixando da internet [risos]… Temos uma parceria com o Mosfilm, que é o maior estúdio de cinema da Rússia. Não é o único, mas é o maior e mais antigo. Eles nos licenciam filmes para distribuição em DVD e BLU-RAY no Brasil. Eles possuem mais de 2500 títulos representativos da cinematografia soviética, desde Eisenstein, na década de 20, até o período recente. O difícil é escolher. Estamos trazendo para essa mostra um filme lançado neste ano nas comemorações dos 70 anos da vitória sobre o fascismo, "O Caminho para Berlim", de Sergey Popov. Depois vamos lançar em DVD e BLU-RAY.
Bernardo – A mostra do ano passado funcionou muito bem. Foram exibidos 10 filmes, todos em formato DCP ou Beta Digital que possibilitam uma projeção profissional. Tivemos um público de mais de 1200 espectadores. Agora vamos exibir 11 e queremos dobrar o número de espectadores. A Cinemateca Brasileira é o local mais agradável que pode haver para se curtir um bom cinema, a entrada é franca e os filmes são ótimos.
HP – Qual o critério para a seleção?
Bernardo – Nesta mostra adotamos o mesmo critério da anterior. O máximo de variedade em relação aos gêneros e pelo menos um filme representativo de cada década. Começamos com Kuleshov, que foi o mestre de todos. Sua comédia "As Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolcheviques" é de 1924, ano de fundação do Mosfilm. O roteiro leva a assinatura do iniciante Vsevolod Pudovkin, que em seguida se tornaria diretor de diversos clássicos.
Susana – Tem um filme espetacular, que é de 1995, chamado "A Filha Americana". O filme é do Shakhnazarov, que hoje é presidente do estúdio. Não é como "Tigre Branco" e "Sonhos", filmes de narrativa complexa que ele também dirigiu. É muito simples, direto e aparentemente ingênuo. Mas em 1995, com Ieltsin no comando, Chubais privatizando tudo, Berezovsky pontificando no círculo de oligarcas que parasitavam o Kremlin, a Rússia estava arrasada e praticamente de joelhos para os EUA. Então você pensa: se ainda assim tem maluco com disposição para cruzar o oceano e filmar aquela história, os Estados Unidos ganharam uma batalha, mas não vão ganhar a guerra. Com muita leveza, o filme antecipa o rumo que as coisas começariam a tomar anos mais tarde em virtude de algo que Napoleão e Hitler também não levaram na devida conta: o sentimento nacional do povo.
HP – E os DVDs que vocês têm lançado, como vai a produção?
Bernardo – Temos 10 lançados e dois na fábrica. Vamos fechar o ano com 14 lançamentos. O "Solaris", clássico de Tarkovsky, foi produzido em BLU RAY, em parceria com a Versátil, atendendo a um convite deles, por sinal muito simpático, para nos associarmos no projeto. Os demais são exclusivamente do CPC-UMES Filmes. Temos priorizado as produções das décadas de 30, 40 e 50. Modestamente, queremos dissolver o mito de que não havia vida inteligente nem arte na produção daquele período, só propaganda banal e repetitiva, ocas idealizações do socialismo sem amparo nas contradições e conflitos da vida real. Se tivéssemos um canal a cabo, poderíamos sustentar uma bela programação só com a produção desse período. Até o momento, nossos lançamentos de maior impacto foram "Lenin em Outubro" (1937) e "O Fascismo de Todos os Dias" (1965), ambos de Mikhail Romm.
Susana – Já fizeram até cópia pirata do "Lenin em Outubro" para vender no marreteiro a R$ 5,00…
HP – Então é porque está vendendo muito [risos]…
Susana – Não espalha, senão eles vão querer piratear os outros [risos]…
Deve ser um pirata politizado e caprichoso, porque as cópias são bem feitinhas. Esse preconceito ao qual o Bernardo se referiu é típico de quem não assistiu os filmes e não quer que ninguém os assista.
Bernardo – Em novembro está saindo "Lenin em 1918", que é a continuação do "Lenin em Outubro". A série terminou aí, porque o ator Boris Shchukin, que criou um Lenin primoroso em seus mínimos detalhes, faleceu em 1939. Nossos lançamentos podem ser encontrados no site www.cpcumesfilmes.org.br ou na 2001, Livraria Cultura, Livraria da Travessa, Arlequim e outras boas casas do ramo.
HP – Então nos encontramos na Cinemateca Brasileira, a abertura é no dia 3 de dezembro, quinta-feira, às 20h30, certo?
Susana – Certo. Mas vocês vão dar uma forcinha extra, não é? A outra entrevista que o HP conosco foi em fevereiro de 2014.
HP – Podem contar com isso.
Publicada na Hora do Povo, 04/11/2015