“Nunca se privatizou tanto quanto no nosso governo”, diz vice de Dilma

 “Os portos, que eram públicos, agora, com a lei dos portos patrocinada pelo nosso governo, podem ser privados – e serão muitos”, disse o vice-presidente. “Nós privatizamos muitas coisas no nosso país”

 

O vice-presidente Michel Temer, candidato ao mesmo cargo na chapa de Dilma Rousseff, discursou na última terça-feira em Campinas, onde recebeu homenagem do notório Mário Garnero – aquele suposto empresário que, desde a ditadura, pretende ser intermediário entre alguém (ou alguma coisa) e os "bancos internacionais", ou o Partido Republicano, ou George Bush, ou lorde Rothschild, ou qualquer tralha reacionária e endinheirada do exterior (segundo Garnero, ele faz "diplomacia empresarial").

Em Campinas, disse Temer: "De vez em quando se diz que o governo é estatizante. Mas nunca se fez tanta privatização como se fez nesse governo. Basta tomar o caso dos aeroportos: todos basicamente foram concedidos. Os portos, que eram públicos, agora, com a lei dos portos patrocinada pelo nosso governo, podem ser privados. Nós privatizamos muitas coisas no nosso país".

Temer disse, também, que "o Brasil está crescendo fantasticamente" – e explicou que chegara a essa conclusão devido à proliferação de shopping centers.

Não é um critério econômico muito profundo, mas, quanto à privatização, o vice-presidente tem razão. Aliás, disse apenas o que, no governo, é corrente. Não seria ele que, em público, ia fazer micagens do tipo "concessão não é privatização" – e outras coisas ridículas que somente revelam que o palhaço é um cínico (portanto, não acredita no que está falando) ou que é um imbecil (portanto, acredita no que está falando).

Temer deixou tais canastrices para Dilma e alguns de seus correligionários, pois, além de não ganhar para isso, conhecia a plateia que Garnero havia escolhido para a homenagem…

Certamente, uma concessão pública é uma concessão do que é público ao que é privado. Por isso tem esse nome – porque é uma privatização. Mas não se trata de uma discussão conceitual.

Do que se trata é que, essencialmente, a política do governo Dilma é privatização em seu mais deslavado sentido – o de privar o povo da sua propriedade e entregá-la à meia dúzia de negocistas, de preferência americanos, ou, na falta deles, de qualquer nacionalidade que não seja a brasileira. Do que se trata é que isso jogou o país no mais baixo crescimento da História da República – inclusive, em recessão.

Temer falou dos aeroportos – e tem razão. Em um estudo do BNDES anterior à privatização, pode-se ler que, dos 20 maiores, "o Brasil possui quatro aeroportos com expressivo movimento de passageiros. São eles, em ordem decrescente, Guarulhos e Congonhas, (…) Brasília e Galeão" (cf. BNDES, Infraestrutura aeroportuária, p. 87).

Desses, Congonhas não foi privatizado. Em compensação, além de Guarulhos, Brasília e Galeão, privatizaram os aeroportos de Confins (BH), Viracopos (Campinas) e São Gonçalo do Amarante (RN).

Todos foram leiloados – em leilões iguais aos que Fernando Henrique promoveu para colocar em liquidação as teles públicas ou a Vale, com base na mesma famigerada lei nº 9.491/97, com inclusão no mesmo (e mumificado) Programa Nacional de Desestatização (PND) e sob o (exumado) Conselho Nacional de Desestatização.

Voltamos ao tempo dos tucanos, com alguns descaramentos a mais: o governo Dilma exigiu que a operadora de cada consórcio fosse uma empresa estrangeira.

Mas, por que a Corporación América, da Argentina, tem melhores condições de gerir o aeroporto de Brasília do que a Infraero, que até a privatização dos aeroportos era considerada a segunda melhor gestora de aeroportos do mundo?

Seria porque alguma das companhias estrangeiras trouxe algum investimento?

Não, leitor. As privatizações estão sendo sustentadas com dinheiro do Tesouro e do Fundo de Amparo aos Trabalhadores (FAT), as duas principais fontes de recursos do BNDES, que forneceu às concessionárias de aeroportos, até agora, nada menos que R$ R$ 8.976.972.000 (oito bilhões, 976 milhões e 972 mil reais – ver matéria na página 2).

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, prometeu aos "investidores" externos, durante uma reunião em Londres, US$ 79,914 bilhões (79 bilhões e 914 milhões de dólares) – ao câmbio atual, R$ 186,81 bilhões – para o conjunto das "privatizações sob a forma de concessões", como o próprio Coutinho chamou o que estava oferecendo. (cf. L. Coutinho, "Investment Opportunities in the Brazilian Economy", London, March, 2013).

Coutinho não se referiu ao petróleo, mas isso já fora feito por Mantega, em seminário na sede do Goldman Sachs, em Nova Iorque, ao qual Dilma esteve presente, no dia 26 de fevereiro de 2013 (cf. G. Mantega, "The Brazilian Economy and Investment Opportunities").

Certamente, nem Dilma nem Mantega foram à sede do Goldman Sachs para asseverar que o petróleo do Brasil, ou, especificamente, o pré-sal, não podia ser tocado pelos monopólios multinacionais petroleiros ou outros. Não foi para isso que Mantega orçou os "investimentos" no petróleo e gás em US$ 40 bilhões. O seminário era, como disse uma das autoridades, "para vender o Brasil".

Assim, Mantega apresentou aos "investidores" (na sede do Goldman Sachs) uma tabela com os seguintes preços, quer dizer, "necessidades de investimentos": Estradas: US$ 21 bilhões; Ferrovias: US$ 45,5 bilhões; Portos: US$ 27,3 bilhões; Trem-bala: US$ 17,8 bilhões;Aeroportos: US$ 9,4 bilhões; Energia: US$ 74 bilhões; Petróleo e gás: US$ 40 bilhões; TOTAL: US$ 235 bilhões.

Certamente, achar que o dinheiro externo – e, pior ainda, esse papel pintado que é parido aos borbotões pelo parasitismo financeiro – vai resolver os nossos problemas de infraestrutura, é coisa de gente tão servil que parece sofrer de anencefalia ideológica e política.

Nossos problemas de infraestrutura são porque, há pelo menos 30 anos, o dinheiro público é desviado para juros, secando os investimentos em infraestrutura. Não temos qualquer problema essencial de gestão que não seja esse. A política privatista de Dilma é a de, precisamente, entregar dinheiro nosso aos mesmos parasitas, para que eles resolvam os nossos problemas de infraestrutura.

É preciso ser um pouco debilóide para achar que isso pode dar certo. Aliás, já não está dando.

Entetanto, esse "plano" de privatizações através de concessões não são a única política de privatização de Dilma. Afinal, o que foi a aniquilação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), senão a atrofia permanente da Telebrás, reativada por Lula, para que a população ficasse completamente à mercê dos monopólios externos das telecomunicações?

E nem nos deteremos na privatização do Banco Central – para usar uma expressão de Severo Gomes. Os juros que sufocam a economia são a sua expressão. Daí, ser tão repugnante a acusação de Dilma a Marina Silva sobre a questão do "banco central independente". Como já dissemos, Dilma está acusando Marina por algo que ela, Dilma, já fez.

 

CARLOS LOPES – Hora do Povo

Os Azeredo mais os Benevides no Cine Teatro Denoy de Oliveira

Em sua 2ª temporada, a peça Os Azeredo mais os Benevides, de Oduvaldo Vianna Filho, está em cartaz no Cine Teatro Denoy de Oliveira. A direção é de João das Neves.

 

Serviço:

Produção: CPC-UMES

Ingressos: R$ 30,00 (meia-entrada R$ 15,00)

Horários: Sextas e Sábados 20h; Domingos 19h

 

CINE-TEATRO DENOY DE OLIVEIRA

Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Tel: 3289-7475

 

A peça iria inaugurar o teatro da UNE, no ano de 1964. A trilha musical estava sendo composta por Edu Lobo, que já havia feito “Chegança”, especialmente para o espetáculo. O golpe que depôs o presidente João Goulart impediu que isso acontecesse. O prédio da UNE foi incendiado na madrugada do dia 1º. de abril. Para encarar o desafio de trazê-la à luz, 50 anos depois, nada mais apropriado do que contar com o trabalho do diretor João das Neves, que no auge dos 80 anos de uma vida talentosa e coerente se lembra bem do dia em que teve que deixar o prédio da UNE que ardia em chamas. E montá-la no palco que leva o nome do multiartista Denoy de Oliveira, outro ex-integrante do CPC da UNE que estava lá naquela ocasião. A trilha musical iniciada por Edu Lobo foi completada pelo maestro Marcus Vinicius.

Sinopse

“Uma funda amizade/ aqui começou./ Um doutor de verdade/ e um camponês meu amor.” Assim canta Lindaura, sublinhando o início da amizade entre o camponês Alvimar e Esperidião, um jovem e empreendedor senhor de terras. Uma amizade que vai sendo desmontada com o passar dos anos, por mais que os dois homens se obstinem em preservá-la.

 

Ficha Técnica

Peça de Oduvaldo Vianna Filho

Direção: João das Neves

Música: Edu Lobo (Chegança); Marcus Vinícius

Elenco: Chico Américo; Danilo Caputo; Emerson Natividade; Erika Coracini; Ernandes Araujo; Graça Berman; Guilherme Vale; João Ribeiro; Junior Fernandes; Leonardo Horta; Léo Nascimento; Marcio Ribeiro; Mariana Blanski; Paula Bellaguarda; Pedro Monticelli; Rafaela Penteado; Rebeca Braia; Ricardo Mancini; Telma Dias; Zeca Mallembah.

Cenografia: João das Neves e Rodrigo Cohen

Figurinos: Rodrigo Cohen

Direção Musical: Léo Nascimento

Assistente de Direção: Alexandre Kavanji

Iluminação: Leandra Demarchi

Preparação Corporal e Orientação de Movimento: Alicio Amaral e Juliana Pardo  

 

A exumação do lacerdismo: onde Dilma achou R$ 1,3 tri de royalties

Artigo de Carlos Lopes publicado no Hora do Povo

 

A candidata Dilma Rousseff, em seu programa de TV, afirmou que destinou, por lei, R$ 1,3 trilhão (um trilhão e trezentos bilhões de reais) de royalties do pré-sal para a Educação. Na ilustração exibida (ver nossa primeira página), o R$ 1,3 trilhão era referente a “educação”, “saúde”. Mas o texto do programa foi o seguinte: “Os números são astronômicos, mas pode acreditar que é isto mesmo: a previsão é que a lei renderá R$ 1,3 trilhão para a Educação no Brasil”.

Esse “pode acreditar” é o lubrificante com que eles acham que vão enfiar na cabeça das pessoas esse absurdo, pois não têm o menor respeito pela inteligência do povo.

A previsão de receita dos royalties no pré-sal, segundo a ANP, é R$ 43,74 bilhões em 2022. Incluindo o que já foi arrecadado em 2013, a estimativa para o total dos royalties do pré-sal, somando esses nove anos, é R$ 301,05 bilhões (cf. ANP, “Apresentação na Câmara dos Deputados”, 25/06/2013).

Porém, a lei aprovada destinou 75% dos royalties do pré-sal para a educação. Logo, em termos de royalties (sem contar outros recursos do petróleo), serão R$ 32,81 bilhões em 2022 – e R$ 225,77 bilhões no período 2014 a 2022.

Onde, então, Dilma achou R$ 1,3 trilhão de royalties para a Educação – mais de quatro vezes o total de nove anos de royalties do pré-sal?

Ora, leitor, no mesmo lugar onde Lacerda, o Corvo, achou a Carta Brandi – aquela falsificação que pretendia implicar João Goulart numa conspiração para instalar uma “república sindicalista” (?).

Dilma está cada dia mais parecida com Lacerda. Depois de comparar Marina a Collor – e ser repudiada até pelo PT – declarou que “eu acho a Marina uma pessoa bem intencionada”, porque acha que isso lhe proporciona o direito de continuar difamando.

Collor é um dilmista exacerbado (portanto, tem a ver com ela – e não com Marina Silva). Mas, disse Dilma, “o que eu fiz de comparação com o Jânio e o Collor é que ambos governaram sem apoio” – o que, evidentemente, não é verdade. Parece até que ela não sabe que Collor aprovou o que quis no Congresso, inclusive o confisco da poupança, e com surpreendentes simpatias – basta perguntar ao seu chefe da casa civil, Aloízio Mercadante. Não foi por “governar sem apoio” que Collor caiu, mas por ter cometido crime de responsabilidade. Não sabíamos que ela era contra um impeachment que foi dos momentos maiores da nacionalidade. No entanto, disse ela agora: “eu respeito o Collor”.

Realmente, talvez Collor – e não Lacerda – seja o seu guru. Após leiloar, em outubro passado, o maior campo petrolífero do mundo, o de Libra, para que as multinacionais entrassem no pré-sal – com uma perda para o país de R$ 347,4 bilhões, dinheiro que seria do Brasil se Libra ficasse inteiro com a Petrobrás (v. HP 25/10/2013) – ela está agora se apresentando como defensora do pré-sal.

Mas, no fundo, não existe muita diferença entre Collor e Lacerda – ou Dilma.

A quantia que atribuiu a uma lei que nunca fez – R$ 1,3 trilhão – é 80 vezes o total do que, em 2013, foi arrecadado no Brasil em royalties do petróleo, somando-se o pré-sal, o pós-sal e os poços terrestres e mais os royalties do gás natural(cf. ANP, “Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2014”, tab 2.17).

Se o pré-sal continuasse com a mesma produção média prevista para o período 2013-2022 (o que não é verdade, pois campos de petróleo decaem depois de certo tempo de exploração), o valor citado por Dilma seria alcançado entre o ano 2050 e o ano 3000 – quando, como ensina Mr. Spock, da “Jornada nas Estrelas” – a antimatéria já terá aposentado o petróleo como fonte de energia.

Porém, ela, mais uma vez, omitiu que o projeto que enviou ao Congresso (projeto de lei nº 5.500/2013) destinava apenas R$ 25,88 bilhões em dez anos – ou, seja, misérrimos R$ 2,5 bilhões por ano – para a Educação. Um aumento, em dez anos, de 0,59% do PIB de um único ano, nas verbas da Educação (cf. Consultoria Legislativa da Câmara, “Receitas petrolíferas para as áreas de Educação e Saúde”, Brasília, julho/2013 – consultor: Paulo César Ribeiro Lima).

O projeto de Dilma foi derrotado na Câmara, que aprovou o substitutivo do deputado André Figueiredo (PDT-CE), destinando R$ 279,08 bilhões, em 10 anos, dos royalties, e outros recursos advindos do petróleo, para a Educação e Saúde (R$ 209,31 bilhões para a Educação – ou seja, mais R$ 21 bilhões por ano – e R$ 69,77 bilhões para a Saúde). O projeto aprovado pela Câmara aumentou as verbas, em relação ao projeto de Dilma, em +740% para a Educação.

Dilma desencadeou uma campanha histérica contra esse projeto. Conseguiu que o Senado reduzisse os recursos dos royalties da Educação para R$ 97,48 bilhões em dez anos. Mas não conseguiu restaurar o seu projeto – em verdade, deputados e senadores sabiam que o projeto do governo era apenas encenação.

Porém, uma vez modificado pelo Senado, o projeto tinha que voltar à Câmara. E os deputados restituíram os recursos que haviam sido reduzidos no Senado. No momento da votação, diante da derrota iminente – a terceira – o governo desistiu e o projeto original da Câmara foi aprovado definitivamente.

Essa é a lei nº 12.858, que Dilma está propagandeando como sua, aumentando, mentirosamente, os recursos que ela destina à Educação.

Mas essa mentira expôs outro lado da política da senhora Rousseff: os royalties no pré-sal são 15% do valor da produção – e 75% de 15% são 11,25%. Logo, royalties de R$ 1,3 trilhão para a Educação significariam uma produção de petróleo no valor de R$ 11,5 trilhões (ou US$ 5 trilhões).

Com o preço atual do barril, isso significaria extrair 51,5 bilhões de barris do pré-sal, ou seja, mais de três vezes o total das nossas reservas provadas atuais – incluindo o pré-sal, o pós-sal e as reservas terrestres. Ou o dobro das reservas “potenciais” que o próprio governo considera, através da PPSA, que existem no pré-sal. Ou metade das reservas mínimas estimadas no pré-sal por engenheiros e geólogos não comprometidos com as petroleiras multinacionais.

Aqui, o importante não é a irrealidade dos royalties para a Educação propalados por Dilma, ou a canalhice da fraude, mas o fato de que, com essa mentira, ela confessou qual é o seu plano para o pré-sal: tirar o máximo de petróleo possível para exportar.

Arrancar 51 bilhões de barris do pré-sal é quase acabar com o pré-sal (pois significaria, também, a decadência mais acelerada de sua produção). Só existem oito países no mundo com reservas provadas superiores a 51 bilhões de barris: Venezuela (298,3 bilhões de barris), Arábia Saudita (265,9 bilhões), Canadá (174,3 bilhões), Irã (157 bilhões), Iraque (150 bilhões), Kwait (101,5 bilhões), Emirados Árabes Unidos (97,8 bilhões) e Rússia (93 bilhões). Todos os demais países produtores têm reservas inferiores a 51 bilhões de barris, inclusive a Líbia e a Nigéria (cf. ANP,  “Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2014”, tab 1.1).

Enquanto Dilma et caterva cevam-se com esse delírio de exploração predatória, os investimentos em refinarias continuam estrangulados (ver a mensagem da presidente que Dilma colocou na Petrobrás, no “Relatório de Sustentabilidade 2013”). A mentalidade de servo colonial que no momento preside o país, é a de exportar petróleo bruto e importar gasolina. Com isso, os derivados de petróleo já são, hoje, o segundo produto em valor na pauta de exportações dos EUA. (cf. U.S. BEA, U.S. International Trade in Goods and Services, July 2014).

Nós estamos, portanto, ao modo das “banana republic” de outrora, exportando produtos primários para a metrópole imperialista e importando dela produtos industriais.

Além do rombo de US$ 53,24 bilhões na balança comercial (v. HP 05/09/2014), o governo está obrigando a Petrobrás a importar gasolina a R$ 1,72/litro e vender para a Shell e outras distribuidoras concorrentes da BR a R$ 1,42. Até fevereiro, isso já redundara num prejuízo de R$ 50 bilhões para a Petrobras no Governo Dilma – três vezes o que o governo recebeu no leilão de Libra.

Os Azeredo mais os Benevides no palco do Cine-Teatro Denoy de Oliveira

A peça “Os Azeredo mais os Benevides”, de Oduvaldo Vianna Filho, está em cartaz em sua segunda temporada no Cine-Teatro Denoy de Oliveira com elenco de 20 atores e direção de João das Neves.

A peça iria inaugurar o teatro da UNE, no ano de 1964. A trilha musical estava sendo composta por Edu Lobo, que já havia feito “Chegança”, especialmente para o espetáculo. O golpe que depôs o presidente João Goulart impediu que isso acontecesse. O prédio da UNE foi incendiado na madrugada do dia 1º. de abril. Para encarar o desafio de trazê-la à luz, 50 anos depois, nada mais apropriado do que contar com o trabalho do diretor João das Neves, que no auge dos 80 anos de uma vida talentosa e coerente se lembra bem do dia em que teve que deixar o prédio da UNE que ardia em chamas. E montá-la no palco que leva o nome do multiartista Denoy de Oliveira, outro ex-integrante do CPC da UNE que estava lá naquela ocasião. A trilha musical iniciada por Edu Lobo foi completada pelo maestro Marcus Vinicius.

Sinopse

“Uma funda amizade/ aqui começou./ Um doutor de verdade/ e um camponês meu amor.” Assim canta Lindaura, sublinhando o início da amizade entre o camponês Alvimar e Esperidião, um jovem e empreendedor senhor de terras. Uma amizade que vai sendo desmontada com o passar dos anos, por mais que os dois homens se obstinem em preservá-la.

 

Ficha Técnica

Peça de Oduvaldo Vianna Filho

Direção: João das Neves

Música: Edu Lobo (Chegança); Marcus Vinícius

Elenco: Chico Américo; Danilo Caputo; Emerson Natividade; Erika Coracini; Ernandes Araujo; Graça Berman; Guilherme Vale; João Ribeiro; Junior Fernandes; Leonardo Horta; Léo Nascimento; Marcio Ribeiro; Mariana Blanski; Paula Bellaguarda; Pedro Monticelli; Rafaela Penteado; Rebeca Braia; Ricardo Mancini; Telma Dias; Zeca Mallembah.

Cenografia: João das Neves e Rodrigo Cohen

Figurinos: Rodrigo Cohen

Direção Musical: Léo Nascimento

Assistente de Direção: Alexandre Kavanji

Iluminação: Leandra Demarchi

Preparação Corporal e Orientação de Movimento: Alicio Amaral e Juliana Pardo  

 

Produção: CPC-UMES

Ingressos: R$ 30,00 (meia-entrada R$ 15,00)

Horários: Sextas e Sábados 20h; Domingos 19h

Curta Temporada 

 

CINE-TEATRO DENOY DE OLIVEIRA

 

Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Tel: 3289-7475

“Crime ambiental é entregar o petróleo às multinacionais”, diz presidente da UMES

 

Na última quarta-feira (10) dezenas de pessoas se reuniram em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda em um ato em defesa dos jovens estudantes, um deles Marcos Kauê, presidente da UMES, acusados de terem cometido “crimes contra o meio ambiente” por protestarem contra o leilão do Campo de Libra, realizado pelo governo Dilma.  Eles picharam um muro no bairro da Bela Vista com os dizeres: “O PETRÓLEO É NOSSO! NÃO AO LEILÃO DE LIBRA!”, numa campanha que tomou todo o país contra a entrega do patrimônio brasileiro ao cartel de empresas estrangeiras.

No Fórum, a Justiça de São Paulo tentava indiciar os três – além de Kauê, Camila Severo, que é estudante da PUC de São Paulo e presidente do Centro Acadêmico de Economia; e Luisa Lopes, presidente da Juventude Pátria Livre da capital – por “Crimes contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Genérico” e foi recomendado pela promotoria uma pena de prestação de serviços comunitários durante seis meses, a reparação do muro (hoje já coberto por grafites) e uma multa em dinheiro.

“Crime ambiental é entregar um dos maiores campos de petróleo do mundo à sanha das multinacionais”, contestou Kauê.

A autuação se deu sem nenhuma prova, a não ser a acusação de um segurança particular que armado ameaçou os jovens de morte e só então chamou a policia.

Dezenas de militantes, amigos e familiares solidários a campanha contra a privatização do petróleo, bem como os três advogados de defesa, acompanharam a audiência, que terminou num acordo, onde os jovens se comprometeram a fazer uma doação para o Fundo da Criança e do Adolescente (FUMCAD).

Na ocasião em que o campo de Libra, uma das maiores áreas do pré-sal, estava sendo leiloado a monopólios internacionais pelo governo Dilma (outubro de 2013), uma onda de manifestações em defesa desta importante riqueza tomou o país.

EE Elisa Raquel é reconhecida pelo incentivo à prática esportiva

A Escola Estadual Elisa Raquel Macedo de Souza, da zona leste da cidade, está sendo reconhecida por seu incentivo à prática esportiva. A escola recebeu medalha de prata na modalidade de vôlei feminino na 2ª edição dos Jogos Estudantis da Cidade de São Paulo (JESP), realizado pela UMES em parceria com a Petrobrás no ano passado e desde então as equipes não param de receber premiações.

Da Copa São Judas, a escola participa com as equipes de vôlei feminino e masculino, e uma de suas atletas, a aluna Kathleen Barbosa, foi eleita craque da competição. A equipe masculina, por sua vez, é finalista do Circuito Clube Escola. A turma foi escolhida para representar a cidade nas finalíssimas dos Jogos Escolares do Estado de São Paulo em Sertãozinho, da qual a equipe de Basquete masculino foi campeã.

Os times de voleibol e basquete, assim como o pessoal que disputa na natação foram convidados agora para um torneio colegial em São Bernardo do Campo.

A direção da escola saúda especialmente a iniciativa dos professores de educação física da unidade escolar, responsáveis por incentivar a prática esportiva e fazem com que as equipes sejam reconhecidas em todo o estado. 

Brasil gasta por aluno um terço do valor de outros países da OCDE

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) divulgou, nesta terça-feira (09), relatório onde analisa o gasto público com educação para o ano de 2012. De acordo com o relatório, o Brasil está na penúltima posição em relação ao gasto com educação por aluno, gastando somente um terço que os demais membros, um total de US$ 2.985 por aluno, enquanto a média dos países membros e parceiros é de US$ 8.952.

O relatório indica que superamos apenas a Indonésia, ficando atrás de países como o México, Chile, Portugal, Espanha, Turquia, Irlanda, EUA, Inglaterra, França… O país com maior gasto por aluno são os Estados Unidos, com US$ 15 mil, seguido por Áustria, Holanda, e Bélgica.

Quando o relatório compara as matrículas no ensino infantil, também ficamos atrás. Entre as crianças de quatro anos, nossas matrículas alcançam 61%, e entre as crianças de cinco anos, 83%. Entretanto, a média da OCDE é de 84% para crianças de quatro anos, e 94% para crianças de cinco.

Entre a juventude, as taxas de matrículas também estão baixas, com 78% dos jovens entre 15 a 19 anos na escola, e apenas 22% dos jovens entre 22 e 29 anos. Quanto aos jovens desempregados e sem matrícula, 20% estão nessa condição no Brasil, enquanto a media da OCDE é de 15%.

Entre os investimentos no ensino superior, possuímos quarto menor nível de investimento, apenas 0,8% do PIB. Já os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, somam apenas 0,04% do PIB, o menor índice dentre os 36 países.

Com informações do G1

“Investiremos em educação como Eduardo fez em PE”, afirma Marina

“Dos 27 estados, o ensino médio piorou em 16”, declarou, analisando dados do IDEB. Pernambuco foi bem avaliado

 

A candidata à presidência da República, Marina Silva, da Coligação Unidos Pelo Brasil (PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PLS), criticou no sábado (6), em sua propaganda eleitoral na televisão, o desempenho da educação no Brasil obtido durante o governo Dilma Rousseff (PT). Ela citou o IDEB, índice que mede a qualidade do aprendizado e a infraestrutura nas escolas de ensino fundamental e médio do país, divulgado na sexta-feira (5). "Dos 27 estados brasileiros, o ensino médio piorou em 16", observou Marina Silva.

O IDEB analisa os estudantes em três etapas. Os alunos do Ensino Fundamental (EF) I (1º ao 5º ano), do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e também os das três séries do Ensino Médio. Em comparação com os dados divulgados pelo último Ideb, em 2011, o resultado do ensino médio ficou em 3,7, no Brasil, mesmo resultado registrado há dois anos. O resultado diz respeito ao universo de escolas públicas e privadas. A meta era 3,9 pontos. Nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), a meta era 4,4, mas o resultado foi de 4,2. A meta só foi atingida nas séries iniciais do fundamental (1º a 5º ano) porque ela já havia sido atingida em 2011 e o governo não reviu o valor.

Marina destacou que "dos que mais melhoraram, quatro são governados pelo PSB". "O estado com melhor salto de qualidade é Pernambuco que cresceu 12 posições no ranking nacional. Isso é resultado de um investimento sério na educação de tempo integral", salientou. "É isso que vamos fazer em todos os estados do Brasil, investir os recursos disponíveis agora e acrescentar os que virão do pré-sal", disse Marina. "No meu governo os recursos do pré-sal vão ser usados para a saúde e a educação, não para a corrupção", completou a candidata do PSB, criticando o governo Dilma, envolvido em denúncias de irregularidades na Petrobrás.

O estado de Pernambuco, destacado na TV pela candidata do PSB, subiu da 16ª posição na classificação que ocupava em 2011 para a 4ª posição em 2013. Paraíba e Espírito Santo também melhoraram suas notas e a sua classificação. O índice é divulgado a cada dois anos. Eduardo Campos, ex-companheiro de chapa de Marina, morto tragicamente em agosto último na queda do avião que o transportava no litoral paulista, costumava dizer que Pernambuco tinha mais escolas em tempo integral do que Rio, São Paulo e Minas Gerais juntos. Este desempenho positivo de Pernambuco confirmou que os investimentos feitos por Eduardo nas escolas de tempo integral deram resultado na melhora do ensino no estado. Por isso, Marina prometeu estender essa experiência vitoriosa para todo o Brasil. Ela disse também que vai garantir o passe livre para os estudantes da rede pública brasileira.

O governo Dilma Rousseff foi o primeiro, desde que o IDEB foi criado pelo Ministério da Educação, em 2005, que não atingiu a meta estabelecida para os anos finais do Ensino Fundamental. E também em seu governo a meta para o ensino médio não foi atingida. O resultado é calculado através da combinação entre o desempenho dos estudantes nas disciplinas básicas, Matemática e Língua Portuguesa, obtidos por meio do resultado nas duas avaliações do governo federal, o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e a Prova Brasil e o índice de aprovação série a série.

O estado de São Paulo, governado pelos tucanos, também obteve um desempenho ruim na avaliação. Perdeu 0,2 pontos no Ideb de 2013, passando de 3,9 para 3,7 (abaixo da meta para o Estado, que era de 4,0 pontos). Além de São Paulo, os estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Ceará, Roraima, Tocantins, Amazonas, Amapá, Maranhão, Sergipe, Bahia, Pará, Rio Grande do Norte e Mato Grosso também pioraram.

Dos 5.369 municípios com meta calculada para 2013, na rede pública, nos anos finais do fundamental, apenas 2.125 atingiram essas metas, o equivalente a 39,6%. A meta para 2011 nos anos iniciais do ensino fundamental era – em 2011 – 4,4 e os estudantes alcançaram nota 4,7, que era a meta estipulada em 2011 para ser atingida em 2013. Chegada a nova avaliação o governo manipulou as metas e manteve o valor já alcançado, facilitando assim a superação da meta. Portanto, no único segmento em que as escolas ultrapassaram a meta só aconteceu porque ela, diferentemente dos estudantes, ficou estagnada.

Os resultados do fracasso do governo Dilma na educação básica demoraram para ser divulgados publicamente. Eles estavam sendo mantidos em sigilo, provavelmente para serem divulgados somente após as eleições de outubro. Entretanto, a denúncia do jornal O Globo, de que os dados já estavam na Casa Civil da Presidência há duas semanas, acabou obrigando o governo a apressar a sua divulgação. O ministro da Educação, Henrique Paim, reconheceu a derrota do governo na educação básica e afirmou que o "preocupa" o fato de o país não ter atingido a meta estabelecida e ainda é preciso analisar o que precisa ser feito para aumentar o desempenho. "Temos que analisar quais são os elementos que precisam ser trabalhados para a gente ter um melhor desempenho", disse o ministro.

 

SÉRGIO CRUZ – Hora do Povo

Número de alunos que concluem o ensino superior caiu 5,7% em 2013

Dados do Censo do Ensino Superior de 2013 revelam expansão das vagas em instituições privadas e retração no número de ingressantes nas universidades públicas

 

O Ministério da Educação (MEC) divulgou, na última terça-feira (9), os resultados do Censo da Educação Superior de 2013. Ao anunciar os dados, o governo federal esperava encobrir o vexame dos resultados do Índice da Educação Básica (Ideb), da última semana, que mostraram uma piora na qualidade dos ensinos fundamental e médio no país. Não funcionou.

Pela primeira vez desde 2002, o número de estudantes que concluíram o Ensino Superior apresentou queda. Em 2013, foram 5,7% menos concluintes que no ano anterior. Foram de 1.050.413 formados em 2012 para 991.010 em 2013.

Nas instituições privadas, o número de formados em 2012 foi de 812.867, enquanto em 2013, 761.732 alunos. Também ocorreu redução no número de concluintes nas públicas, 237.546 em 2012, contra 229.278 em 2013.

A proporção de alunos que terminam a faculdade em relação aos que entram é de 36%. Esta proporção tem diminuído nos últimos anos. Em 2009, era de 46%, caindo para 45%, 43%, 38% e 36%. Nas instituições públicas esta proporção é de 43,1%. Já nas instituições particulares, este índice é de 33%.

O ministro da Educação, Henrique Paim, não soube explicar, no primeiro momento, o porquê da redução do número de concluintes. Posteriormente, Paim responsabilizou a queda das vagas de ensino à distância na Rede Federal de Ensino Superior, pelo baixo desempenho. Sobre o ensino privado, Paim afirmou que a redução ocorre devido a ação de fiscalização do MEC, que fechou cursos universitários em algumas instituições.

 

GOVERNO SUSTENTA A EXPANSÃO PRIVADA
 

O resultado da política privatista do governo Dilma para o ensino fica em evidência a partir da comparação do número de pessoas que ingressaram na universidade pública, com relação à universidade privada. Em 2012, ingressaram na universidade pública brasileira 547.897 alunos. Já em 2013, foram 531.846. Enquanto isso, novamente houve expansão dos ingressos nas instituições privadas, 2.199.192 em 2012, contra 2.211.104 em 2013.

Na comparação com 2003, o número de matrículas aumentou em 3,3 milhões. O número cresceu 94% na rede privada e 64% na rede pública. No total, a quantidade de pessoas matriculadas no ensino superior aumentou 85,5%.

A rede privada de ensino superior concentra 4.374.431 matrículas presenciais, ou seja, 71% do total. Os outros 1.777.974 estudantes estão em instituições públicas.

São Paulo é o estado com o maior número de matrículas no total (1.643.925), sendo que apenas 15,8% destes alunos estão em instituições públicas. São mais de 1,38 milhão de estudantes em faculdades particulares.

Outro método utilizado para a expansão das vagas de ensino é a chamada Educação à Distância (EAD). Um terço do crescimento de 3,3 milhões de matrículas no ensino superior entre 2003 e 2013 foi registrado nesses cursos, majoritariamente na rede privada. O número saltou de 49.911 em 2003 para 1.153.572 em 2013. Deste total, quase 1 milhão, ou 86,6%, está matriculado em instituições particulares.

Enquanto o governo Dilma, não criou uma única universidade federal e o número de ingressantes nessas instituições reduziu, a injeção de recursos públicos nas instituições privadas é ampliada. Programas como o FIES, que financia as vagas nas faculdades privadas aos estudantes que aderem ao programa a juros subsidiados e com 100% de garantia do governo à essas instituições, tornaram-se o principal meio de sustentação dos monopólios privados estrangeiros.

Só neste ano já foram destinados, por meio de duas outras medidas provisórias, créditos no valor de R$ 7,431 bilhões para o Fies.

No mês passado, o governo federal editou mais uma medida provisória (MP 655/14) destinando créditos extraordinários para o Fies no valor de R$ 5,4 bilhões. Esse novo aporte teria o objetivo de financiar vagas de pós-graduação em universidades particulares. 

Os fenomenais cursos do psicodélico Pronatec

Artigo de Carlos Lopes publicado no Hora do Povo

 

Pensamos em colocar como título desta matéria, e desta página, "O fenomenal Pronatec e suas maravilhosas máquinas voadoras".

Dirá o arguto leitor: "mas isso não tem sentido".

É verdade, leitor, isso não tem pé – e muito menos cabeça. Por isso mesmo, seria um título à altura do Pronatec, o chamado Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, que, segundo Dilma, vai "aumentar a produtividade nas nossas empresas e a competitividade da economia brasileira".

Há poucos dias, em Minas Gerais, ela até mesmo identificou o Pronatec como sua "política industrial" – algo psicodélico para quem, há três anos e oito meses, pratica a política mais anti-industrial da História da República desde Campos Sales e seu ministro da Fazenda, o afamado Joaquim Murtinho, aquele que achava que os brasileiros eram incapazes de ter indústria própria, pois esta era uma prerrogativa de raças superiores, como a anglo-saxônica.

Dilma disse mais: "esses cursos compõem a chamada trajetória educativa na área técnica. Há um caminho de formação técnica. Nós demos a oportunidade para estas pessoas se formarem, homens e mulheres brasileiros".

Realmente, formar "Disc-jóqueis (DJs)" (curso nº 214 do Guia Pronatec, 3ª edição), "atendentes de lanchonete" (curso nº 76) ou "balconistas de farmácia" (curso nº 118) aumentará tremendamente a produtividade da empresas e a competitividade da economia…

O que Dilma está fazendo, inclusive, é desrespeitar algumas profissões dignas, usando-as para uma pantomina eleitoreira.

Todas as profissões honestas merecem respeito. Mas o Brasil não precisa de "ensino técnico" para formar "operadores de telemarketing" (curso nº 498 do Guia Pronatec), o que apenas significa que esse "ensino" não tem nada de "técnico" (e, aliás, não tem nada de "ensino").

Pois esse é o problema do Pronatec: ele é uma farsa – quase todos os seus cursos nada têm a ver com cursos técnicos.

Na tabela desta página, o leitor poderá conhecer alguns dos cursos do Pronatec, com sua descrição (segundo o próprio Pronatec) e sua carga horária. Não alteramos em uma vírgula a descrição dos cursos. Portanto, o humorismo involuntário – que faz lembrar o Festival da Besteira que Assola o País (FEBEAPÁ), registrado pelo saudoso Stanislaw Ponte Preta na época da ditadura – corre inteiramente por conta dos autores do manual do Pronatec. A única alteração que fizemos foi um grifo na descrição do curso de "alemão básico" (curso nº 44).

Nesse caso, não conseguimos evitar o destaque, diante de um curso tão original, que o cidadão, depois de fazê-lo, só pode comunicar-se (e "de modo simples") "se o interlocutor falar lenta e distintamente e se mostrar cooperante".

Como será que o sujeito vai conseguir dizer ao alemão que ele tem de "cooperar"? Será pela mímica? Mas isso mereceria outro curso, possivelmente chamado "Mímica para alemães entenderem o aluno que cursou o alemão básico do Pronatec". Aqui fica a nossa sugestão.

No entanto, Dilma disse no debate da TV Bandeirantes: "No que se refere à educação tivemos um grande salto. Vou citar o Pronatec. Oito milhões de jovens e adultos com acesso ao ensino técnico".

Ela esqueceu de acrescentar que a evasão do Pronatec, numa estimativa caridosa, vai de 45% a 60% dos matriculados, como já veremos. Mas, continuemos.

O segundo problema do Pronatec é que seu verdadeiro objetivo é formar criados para os magnatas que por aqui arribarem – ou para os novos ricos que a especulação faz aparecer de vez em quando, por curtos períodos, antes de quebrá-los implacavelmente (Eike Batista é apenas o caso mais notório desses favoritos do governo Dilma). É verdade que o governo, com o Pronatec, quer formar criados do modo mais incompetente possível – mas que o objetivo é esse, lá isso é.

Durante décadas, desde a Revolução de 30, os pobres desejaram – e vários conseguiram – formar-se em escolas técnicas e em universidades públicas. Agora, Dilma estabeleceu cursos, com dinheiro público (R$ 14 bilhões até o final de 2014, segundo anunciou), para que eles sejam "agentes de limpeza e conservação" (ou seja, faxineiros), "mensageiros em meio de hospedagem" (boys de hotel) ou "agentes de observação de segurança" (aquele sujeito que fica na porta da empresa, revistando trabalhadores e trabalhadoras na saída, para ver se eles roubaram alguma coisa, pois não se pode confiar em pobre).

Porém, indagará o leitor, por que o governo Dilma tem preferência por esses "cursos", ao invés de continuar a obra do governo Lula, que organizou cursos técnicos verdadeiros – e decentes – em instituições públicas?

O Pronatec é uma projeção da cabeça de sua criadora. Tudo ao modo de alguém que acha que não temos "capacidade de gestão" nem para administrar lojinhas em aeroportos. Por isso é que Dilma diz que esses cursos "qualificam o trabalhador". Joaquim Murtinho e Campos Sales devem estar aprovando, diretamente do Inferno, onde hoje estão dando os seus coices.

O que esses cursos fazem é desqualificar o povo. Porque a única função em que Dilma consegue ver o povo brasileiro é a de criado – de magnatas estrangeiros, mas também dos picaretas financeiros, aos quais tem estranha adstringência (Por exemplo: "Eike é o nosso padrão, a nossa expectativa e, sobretudo, o orgulho do Brasil quando se trata de um empresário do setor privado. Ele percebe os interesses do País. Merece os nossos respeitos" – Dilma Rousseff, 26/04/2012).

É notável – e mais uma prova, se fosse necessário, da inteligência nacional – que os alunos do Pronatec perceberam rapidamente qual o seu verdadeiro conteúdo.

Declarou o diretor de pós-graduação e cursos técnicos da Kroton Educacional, Paulo de Tarso, que, nas escolas da Kroton, a evasão do Pronatec vai de 45% a 60% (v. BBC Brasil, 02/09/2014). A Kroton, controlada pelo fundo norte-americano Advent International, chegou a inscrever 58 mil alunos no Pronatec em suas unidades em todo o Brasil (por exemplo: Anhanguera, Pitágoras, Universidade de Cuiabá e Uniban). Todos os alunos, evidentemente, pagos com dinheiro público. Apesar dessa alta evasão, no último dia 4 de agosto, o governo "autorizou" mais 28.104 vagas do Pronatec para a Kroton.

Alguns especialistas da área – inclusive com cargos no governo – aventaram que, se a Kroton Educacional está confessando uma evasão de até 60%, o provável é que essa evasão seja maior. Entretanto, os números da Kroton já são suficientes para avaliar o que são as "oito milhões" de matrículas do Pronatec, propalados por Dilma – tanto é assim que o governo, agora em agosto, concedeu mais vagas para a Kroton. Portanto, deve avaliar que sua taxa de evasão do Pronatec é normal…

O coordenador do Pronatec na Faculdade Sumaré, Júlio Araújo, disse, na mesma reportagem da BBC, que "nossa taxa é de quase 60% [de evasão]. Temos falado com outras instituições que têm reportado problemas semelhantes". Mas, diz Araújo, apesar disso, para as instituições privadas, o Pronatec é uma "vantagem" (sic) porque "como é o governo que paga pelos cursos, a inadimplência não é um problema".

Diante de uma declaração do MEC de que a taxa de evasão era de 12,8%, declarou outro coordenador de uma faculdade privada: "não sei como o governo está chegando nesse índice oficial, mas ele nos parece totalmente irreal" (BBC Brasil, 02/09/2014).

Portanto, em terceiro lugar (ou será em primeiro?), o Pronatec é uma forma de colocar dinheiro público em arapucas particulares, inclusive estrangeiras.

A nossa lista é apenas uma amostra. Alguns dos "cursos" foram selecionados por razões que vão além da profissão para a qual, supostamente, ele qualificaria.

Por exemplo, como será que o Pronatec forma um "domador de cavalos" em 200 horas? Lá em Vacaria, cidade gaúcha onde o autor destas linhas passou parte da infância, os domadores de cavalos praticamente nasciam domando cavalos – e, mesmo assim, havia acidentes lastimáveis. Imagine-se o que é um domador de cavalos formado em curso de 200 horas. Pior que isso, só se fosse por correspondência.

E o que dizer do "cuidador de animais silvestres" formado em 160 horas? Como sabe o leitor, o pintassilgo é um animal silvestre. Mas também a onça pintada e o jacaré de papo amarelo são animais silvestres…

Quanto ao curso de "sushiman", o Brasil – especialmente São Paulo – é rico em nordestinos que são excelentes "sushiman". Como eles aprenderam a fazer sushi? Ora, olhando os japoneses fazerem. Alguns (o nosso povo é assim) começaram como faxineiros de restaurantes e se tornaram ases da culinária japonesa. Sem curso algum, exceto aquela universidade de que falava Gorky, a universidade da vida. Mas o Pronatec pretende formar "sushimen" em 160 horas – e ainda gastar dinheiro público com isso, pagando entidades privadas, inclusive estrangeiras…

Há também aqueles casos em que selecionamos o curso pela inventividade do nome. Convenhamos que chamar faxineiro de avião de "agente de limpeza em aeronaves" é – como se dizia – dupirú.

Bem, leitores, a presidente Dilma não pode se queixar de que escolhemos como amostras apenas os "cursos rápidos", pois 72% das matrículas do Pronatec, segundo o próprio MEC, estão nesses cursos.

O que são eles, é bem exemplificado por alguns depoimentos concedidos ao HP por ex-alunos. Aqui está o de uma aluna que reside no interior do Ceará:

"Eu queria fazer ‘mecânica’ ["mecânico de automóveis leves"], um curso de 400 horas], aí me disseram que o bom para mim era costura ["auxiliar de costura", 160 horas]. Depois que eu insisti muito, consegui me matricular no curso de mecânica. Passei um mês abrindo e fechando o capô de um carro velho. Quando chegou no carburador e a enrolação continuou, aí eu desisti".

Quando será que ia chegar a vez da injeção eletrônica?