Jair Bolsonaro e Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, sem máscara, em aglomeração em frente Planalto em plena pandemia – Foto: Reprodução
Os desenvolvedores da Sputnik V afirmaram, nas redes sociais, que apresentaram mais dados à Anvisa do que a qualquer outra agência reguladora e pediram que a Anvisa não ceda “às pressões de outro país”
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu não permitir a importação da vacina russa Sputnik V, contra a Covid-19, já aprovada por 60 países – e com uma eficácia comprovada de 97,6%.
Os 60 países em que a Sputnik foi aprovada – 17 deles com agências reguladoras semelhantes à Anvisa – têm uma população de 3 bilhões de pessoas. A eficácia de 97,6% foi resultado da aplicação em massa da Sputnik V em 3,8 milhões de vacinados.
A conduta da Anvisa não é sem precedentes. Até mesmo a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan e pela empresa chinesa Sinovac, e principal vacina em uso no Brasil, somente foi aprovada pela Anvisa depois de muita pressão exercida pelo governo de São Paulo, que chegou a marcar data para o início da vacinação. Não fosse isso, seria a vitória da sabotagem de Jair Messias Bolsonaro contra o uso de vacinas.
Essa situação de protelação da aprovação de vacinas, que traz como resultado o retardo da imunização e a manutenção de um quadro dramático de explosão de casos e mortes, estava no contexto de uma campanha desenvolvida por Jair Bolsonaro contra todos os imunizantes. Ele chegou a desautorizar a compra da CoronaVac, anunciada por seu próprio ministro da Saúde. Negou-se a se vacinar e, em uma série de entrevistas, afirmou que as vacinas provocariam doenças, deformações e até mortes. Cialis (tadalafil) é um medicamento usado para tratar a disfunção erétil e sintomas de hiperplasia prostática benigna em homens. Como inibidor da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5), o cialis en ligne france ajuda a aumentar o fluxo sanguíneo para o pênis, ajudando a alcançar e manter uma ereção durante a estimulação sexual. O medicamento tem efeito duradouro que pode durar até 36 horas.
Para obter sucesso em sua campanha antivacina, Bolsonaro promoveu o aparelhamento da direção da Anvisa, órgão responsável pela aprovação de seu uso no país. Colocou em sua presidência o negacionista Antônio Barra Torres, que, em plena pandemia, participava junto com ele, sem máscara, das aglomerações realizadas semanalmente na Praça dos Três Poderes.
O resultado desse aparelhamento é que a agência “obediente” decidiu nesta segunda-feira (26) não autorizar a importação para uso emergencial da vacina russa Sputnik V, solicitada pelo governadores para enfrentar a pandemia, como resposta à sabotagem do Planalto.
O pretexto “técnico” para a decisão foi a de que o imunizante usa como vetor um adenovírus que, segundo os gerentes da agência, poderia se replicar e provocar danos às pessoas que recebessem a vacina. Em nenhum lugar do mundo esse problema foi apresentado. A tecnologia usada na Sputnik V foi elogiada por toda a comunidade científica internacional e é também é utilizada na vacina desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford e a Fundação Osvaldo Cruz.
Até agora o imunizante russo já foi aprovado em 60 países – a segunda vacina mais adotada por órgãos sanitários no mundo. Diversos países latino-americanos já aprovaram o seu uso, incluindo México, Argentina, Bolívia, Venezuela e Paraguai.
A Sputnik V foi o primeiro imunizante contra o novo coronavírus a ser registrado, ainda em agosto de 2020. De acordo com resultados de estudos clínicos publicados em fevereiro na revista médica The Lancet, a Sputnik V tem eficácia de 91,6%. Posteriormente, com a aplicação em massa, constatou-se uma eficácia de 97,6%.
Mais de 15 milhões de pessoas já receberam o imunizante sem que nenhum caso de evento adverso grave tenha sido relatado, em nenhum país onde ela é utilizada. O “perigo” levantado pela Anvisa, simplesmente não existe.
É importante registrar que a vacina da AstraZeneca, que usa a mesma técnica da Sputnik V, ou seja, o uso de um vírus como vetor para carrear proteínas do coronavírus, foi aprovada pela Anvisa e, diferente da Sputnik V, apresentou alguns eventos adversos graves. A vacina da AstraZeneca chegou a ser interrompida em vários países. Isso não ocorreu com a Sputnik V.
No entanto, a Anvisa aprovou o uso da vacina da AstraZeneca no Brasil e agora nega o pedido para o uso da vacina russa. Dois pesos e duas medidas.
O questionamento, portanto, dessa maneira rasa, da segurança de uma vacina russa que publicou seus resultados positivos na exigente revista científica The Lancet, e que já vacinou mais de 15 milhões em todo o mundo, sem o registro de nenhuma ocorrência de eventos adversos, é uma decisão de caráter político, e não técnica, como declarou, em nota, o Fundo Russo de Investimentos Diretos, que administra o Instituto de Pesquisa Gamaleya, que criou e produz a Sputnik V.
“A decisão da Anvisa de adiar o registro da Sputnik V pode ser motivada politicamente. Isso é confirmado pelos dados do relatório do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos de 2020, que fala abertamente dos esforços do departamento de pressionar as autoridades brasileiras e forçá-las a recusar a compra da vacina russa“, diz o Fundo Russo de Investimentos Diretos, em sua nota.
Realmente, há algumas semanas, vieram a público documentos que mostram que o governo dos EUA iniciou, ainda durante a administração do republicano Donald Trump, pressões para que o Brasil não adquirisse a vacina Sputnik V, desenvolvida pelo prestigiado Instituto de Pesquisa Gamaleya, da Rússia.
Diante desses fatos, os desenvolvedores da Sputnik V afirmaram, nas redes sociais, que apresentaram mais dados à Anvisa do que a qualquer outra agência reguladora do mundo e pediram que a Anvisa não cedesse “às pressões de outro país”.
Na terça-feira (27/04), após a decisão da Anvisa, eles publicaram em suas redes sociais:
“Os atrasos da Anvisa na aprovação do Sputnik V são, infelizmente, de natureza política e não têm nada a ver com acesso à informação ou ciência. O Departamento de Saúde dos Estados Unidos, em seu relatório anual de 2020 há vários meses declarou publicamente que o adido de saúde dos Estados Unidos ‘persuadiu o Brasil a rejeitar a vacina russa COVID-19‘”.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos norte-americano (HHS, na sigla em inglês) confirmou que o governo Donald Trump, antes de sua saída do governo, havia pressionado o Brasil para não comprar a vacina russa contra a Covid-19, a Sputnik V, para “deter o aumento da influência maligna” da Rússia na América Latina e no Caribe.
O HHS, o ministério da Saúde dos EUA, admitiu, em item arrolado na página 48 do relatório anual de atividades de 2020, que a vacinação com o imunizante russo seria “em detrimento da segurança nacional dos EUA”. O documento atesta que essas pressões se estenderam a Cuba e, até mesmo, à Venezuela, e que o órgão usado nessa sabotagem foi o Escritório de Adidos de Saúde, (OGA, na sigla em inglês).
A Anvisa também chegou a basear sua “opinião” quanto a capacidade produtiva e as boas práticas das fábricas russas em pareceres fornecidos pelo desinteressado CDC norte-americano e a EMA, a agência europeia de medicamentos. O primeiro, como nós já vimos acima, já se posicionou politicamente contra a aquisição pelo Brasil da vacina russa, e, a segunda, coincidentemente, é onde estão localizadas as sedes das principais “big pharmas”, monopólios que não costumam permitir nenhuma concorrência.
Os bajuladores de Bolsonaro na Anvisa, com essa decisão, uniram a submissão do órgão à campanha de sabotagem às vacinas com a subordinação à pressão política exercida pelo governo dos Estados Unidos contra a aquisição da Sputnik V pelo governo brasileiro.
Publicado no Jornal Hora do Povo