Condições de trabalho na saúde e Mais Médicos são temas do Câmera Aberta Sindical

O programa “Mais Médicos”, lançado em julho pelo governo federal, tem como objetivo ampliar a oferta de profissionais em áreas consideradas prioritárias. O programa tem provocado reações da categoria médica, que reivindica a aplicação do exame de revalidação dos diplomas, e motivado um debate mais amplo sobre a saúde no País.

Na primeira fase do programa, 3.511 cidades requisitaram 15.460 profissionais para trabalhar no atendimento de saúde local. Mas apenas 1.096 médicos brasileiros e outros 282 estrangeiros responderam ao chamado.

Quais serão os efeitos desse programa para a saúde brasileira? Além dos médicos, qual é o quadro de profissionais necessários, como enfermeiros, auxiliares etc.? Quais são as condições de trabalho?

Para debater o assunto, o Câmera Aberta Sindical irá receber o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúde), Gervásio Foganholi; e o médico assistente do Hospital Universitário da USP, Sérgio Cruz.

 

O Câmera é ao vivo e transmitido pela TV Aberta São Paulo (9 NET e 186 Vivo TV), das 19 às 20 horas. Assista também no site www.tvaberta.tv.br

 

Mais informações: www.agenciasindical.com.br

Campeão do Grand Prix de vôlei, Brasil lidera ranking mundial

Depois do título do Grand Prix, conquistado no último domingo, o Brasil assumiu a liderança do ranking mundial do vôlei feminino, atualizado pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB). Com a conquista, a seleção campeã olímpica e comandada por José Roberto Guimarães tirou os EUA do topo da lista.

No Grand Prix, o Brasil venceu todas as seleções adversárias por 3 a 0 e ganhou no Japão o 9º título.  A meio-de-rede Thaísa foi eleita a melhor jogadora do torneio.

Na última partida, o Brasil venceu a China com parciais de 25/15, 25/14 e 25/20, em 1h13min. Com uma bela campanha, bastava a Seleção Brasileira vencer dois sets para se sagrar campeão, o que foi obtido sem grandes dificuldades, mas o técnico brasileiro pediu para as meninas segurarem a onda e só comemorarem no final da partida.

Com os 50 pontos que conquistou com o título do Grand Prix (equivalente ao quinto lugar nos Jogos Olímpicos), o Brasil passou os EUA, com 320, contra 305 das norte-americanas, que estavam na frente por conta do título da Copa do Mundo, em 2011. O Japão aparece em terceiro, com 291, e a Itália em quarto, já mais distante, com 260.

No masculino, a lista não é atualizada desde julho, quando acabou a Liga Mundial. Apesar do vice-campeonato, o Brasil lidera, com 345 pontos, contra 330 da Rússia, campeã da Liga. O terceiro lugar é da Itália, com 286, enquanto a Polônia aparece bem atrás, com 195, em quarto.

Depois do vice-campeonato no mundial infanto-juvenil, o Brasil é o segundo colocado no ranking das categorias de base no masculino, mesma posição que ocupa entre as mulheres.

 

Informações: Estadão e Terra

FUP, centrais sindicais e movimentos sociais convocam ato contra os leilões do petróleo

A Federação Única dos Trabalhadores (FUP), centrais sindicais, UNE, Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST), e diversas entidades dos movimentos sociais realizarão nesta quinta-feira, 5 de setembro, um Ato Nacional em Defesa da Soberania e Contra o Leilão do Petróleo. 

O Ato será realizado em São Paulo e a concentração será às 8 horas na Praça Oswaldo Cruz, próximo ao Shopping Paulista.

O fim dos leilões do petróleo foi uma das reivindicações defendidas nas ruas pelas centrais sindicais no último dia 30 de agosto, Dia Nacional de Paralisações. As entidades afirmam que irão intensificar as manifestações para barrar a entrega do petróleo.

“Como se não bastassem os muitos anos de exploração das nossas riquezas, feitas pelas empresas multinacionais, o governo brasileiro pretende leiloar em 21 de outubro, a maior área produtora do pré-sal: o gigante campo de Libra, que, sozinho, pode fazer jorrar até 12 bilhões de barris de petróleo, ou seja, desrespeitando os direitos dos trabalhadores e os interesses do país”, afirma a FUP.

“Ao permitir que as multinacionais se apropriem do petróleo brasileiro, o governo coloca em risco não só a soberania, como o desenvolvimento do Brasil. Essas empresas, além de exportar tudo o que produzem, não geram empregos aqui, nem movimentam a indústria nacional, como faz a Petrobrás”, ressalta.

 

Ato Nacional em Defesa da Soberania e Contra o Leilão do Petróleo. 

Data: 5 de setembro, quinta-feira

Horário: 8 horas

Local: Praça Oswaldo Cruz

Paulo Metri: Falta o povo descobrir sobre a entrega de Libra

Escrito por Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia.

 

A descoberta do Pré-sal capacita o Brasil a ser um grande produtor mundial de petróleo e, também, um exportador. No entanto, não é garantido que o balanço dos impactos para a sociedade brasileira será positivo.

Hoje, o Pré-sal é foco da cobiça do capital internacional, em virtude da extraordinária lucratividade da produção petrolífera, da contribuição para o abastecimento mundial, do lucro com o refino no exterior e da compra em fornecedores estrangeiros de bens e serviços, que ele pode proporcionar.

Em 2011, 57% da energia consumida no mundo era proveniente de petróleo e gás natural.

Em geral, as maiores economias do planeta não possuem petróleo, enquanto, os grandes excedentes de produção estão concentrados em países em desenvolvimento.

Mesmo com o aumento da participação de outras fontes na matriz energética mundial, inclusive o polêmico xisto, eles ainda serão importantes fontes energéticas em décadas futuras.

A ocorrência do pico da produção petrolífera mundial é passível de discussão.

No entanto, o fato das empresas petrolíferas estarem investindo em novas áreas transmite a sensação que o petróleo e o gás convencional continuarão sendo importantes fontes, eventualmente mais escassos.

As forças políticas atuantes no país têm diferentes objetivos neste e em outros setores.

A pressão exercida pelo capital internacional sobre o governo brasileiro é em direção conflitante com o interesse da sociedade.

O povo não sabe quase nada do que seus representantes decidem em seu nome, tal o nível de alienação em que vive, e infelizmente, poucos destes representantes cuidam dos interesses do povo.

Os tradicionais veículos de mídia, com raras exceções, não servem para conscientização da população, pois, na verdade, são instrumentos de convencimento do capital.

O governo estadunidense, como maior representante do capital, manda seu vice-presidente distribuir recados aqui, que vão desde a presidente da República à presidente da Petrobras.

Quando o capital internacional ganha blocos no Brasil, além do lucro da atividade ir para o exterior, o país perde a possibilidade de fazer acordos com outras nações em que o suprimento de petróleo faria parte da negociação.

Mas, o Brasil assinou contratos com petroleiras internacionais, que não permitem ao governo determinar para onde o petróleo brasileiro deve ir.

Enfim, por estes contratos, o petróleo aqui produzido, se não é da Petrobras, não é mais brasileiro.

O monopólio estatal é a melhor opção de modelo para a atividade petrolífera de um país em desenvolvimento, se a maximização dos benefícios para a sociedade for o objetivo.

Haja vista que o Brasil teve o suprimento de petróleo garantido nos últimos 60 anos, suportando várias fases de desenvolvimento e é detentor de inegável infraestrutura petrolífera, que inclui uma das maiores províncias petrolíferas do mundo, o Pré-sal.

Se não tivesse existido o monopólio, que deu origem à Petrobras, e só existissem empresas estrangeiras no Brasil, o Pré-sal ainda não teria sido descoberto.

A lógica das corporações, diferentemente da lógica do Estado, não visa atingir prioritariamente benefícios sociais.

O monopólio estatal foi extinto no Brasil na década neoliberal.

Sem monopólio, a exploração de petróleo no mundo é feita a partir de três tipos de contratos entre empresas e Estados nacionais: concessão, contrato de partilha e contrato de serviços.

Estão ordenados de mínima possibilidade de controle pelo país e menor benefício para sua sociedade até o de mínima satisfação para as empresas.

Em 1997, o Brasil optou pelo pior modelo para a sociedade, o das concessões (lei 9.478), em que só royalties sobram para ela.

A empresa que descobre petróleo nem tem a obrigação de abastecer o país.

Cerca de 900 blocos já foram concedidos através deste modelo, até hoje. Inclusive, 28% da área do Pré-sal já foram concedidos.

No contrato de partilha, além de existirem os royalties, há uma contribuição da empresa para o Fundo Social e a entrega de parte do petróleo para o país comercializar.

É o modelo dos novos contratos da área do Pré-sal (lei 12.351). O contrato de serviços é o melhor para a sociedade pelo Estado ficar com todo lucro e todo o petróleo.

Contudo, o governante precisa ter muita força política para aplicá-lo. Países em desenvolvimento com razoável grau de soberania tendem a assinar contratos de partilha ou de serviços.

Com a democracia que conseguimos ter, o Estado brasileiro está loteado entre grupos de interesse privado.

O capital internacional está firme no setor de energia e mineração, com alguma participação do capital nacional.

O autoritarismo dos diversos órgãos com responsabilidade sobre as decisões do setor do petróleo só é justificado pela prepotência de quem tem total controle da situação.

Não prestam conta da razão da grandiosidade da entrega de blocos que fazem, dos anos de abastecimento garantido que resta ao país, dos volumes de petróleo a serem exportados e outras decisões.

O próximo leilão de Libra, um campo do Pré-sal, cujas reservas são avaliadas entre oito e doze bilhões de barris, é o maior exemplo deste autoritarismo.

Entregar 70% da reserva conhecida deste campo a empresas estrangeiras, que sempre exportarão suas produções sem adicionar valor algum, nunca contribuirão para o abastecimento do país, dificilmente contratarão plataformas no Brasil, o item de maior peso nos investimentos, não gerarão muitos empregos aqui, não pagarão impostos, graças à lei Kandir, e só pagarão os royalties e uma parcela “combinada” do lucro é o exemplo máximo da desfaçatez.

O governo deveria entregar sem leilão este campo à Petrobras, que assinaria um contrato de partilha com a União, atendendo ao artigo 12 da lei 12.351, e ela faria o que as empresas estrangeiras não fazem.

Determinado jornal econômico publicou que “as contas da União neste ano, só fecharão se essa receita do bônus de assinatura de Libra ingressar nos cofres públicos”.

Assim, constata-se que o Brasil continua preso ao fechamento de suas contas. Creio que, propositadamente, exauriram a capacidade financeira da Petrobras com leilões desnecessários, pois o país está abastecido por mais de 40 anos.

A partir da 11ª rodada, o capital internacional irá sempre ganhar vários blocos, graças a plano maquiavélico com aprovação do governo do Brasil.

Para fechar as contas, o governo fixou o bônus de assinatura de Libra, que é recebido no curto prazo, em R$ 15 bilhões, acima do esperado, abrindo mão de parte da parcela que irá para o Fundo Social.

Em outras palavras, ele está trocando o recebimento de menos lucro durante 25 anos futuros por mais bônus agora, o que representa receber um empréstimo a 22% ao ano acima da inflação, um mau negócio.

As concessões não deveriam ser nunca assinadas, pelo menos, em novas fronteiras.

O prejuízo para a sociedade brasileira será grande se ficar comprovado que a margem equatorial é uma província petrolífera, pois blocos dela foram arrematados para assinatura de concessões na recente 11ª rodada.

Para explicar o “furor entreguista” existente nas rodadas, a ANP argumenta que as bacias sedimentares brasileiras são pouco conhecidas.

Porem, esta agência esquece que nem todas as áreas sedimentares são atrativas para a busca de petróleo, podendo-se citar, como exemplo, o setor SFZA-AR1 ofertado na 11ª rodada, onde existiam 56 blocos e somente dois receberam propostas.

Outro erro da ANP é que assinar concessões, danosas para a sociedade, para buscar um melhor conhecimento das bacias não é inteligente.

A Associação dos Engenheiros da Petrobras nos informa que esta empresa já descobriu no Pré-sal 60 bilhões de barris, em blocos arrematados através de leilões pela lei das concessões.

Entretanto, ela só possui parte deste petróleo, porque, devido à pressa da ANP em leiloar, em muitos contratos, ela está associada a petroleiras estrangeiras.

Gostaria de saber quanto já foi entregue de petróleo para as empresas estrangeiras, mas os dados disponíveis na ANP não permitem este cálculo.

Pensava-se que o Pré-sal iria alavancar um desenvolvimento brasileiro, graças ao tamanho das suas encomendas.

No entanto, está ocorrendo a compra de empresas nacionais genuínas, tradicionais fornecedoras da Petrobras, por empresas estrangeiras.

A exigência da ANP de “conteúdo local mínimo”, que não é um conteúdo local genuíno, surte efeito junto à Petrobras, porém, há dúvida com relação às empresas privadas, porque os descumprimentos desta exigência não são divulgados pela ANP.

A boa novidade no Brasil são as manifestações de um povo que ainda titubeia entre as diversas reivindicações que querem que ele absorva.

Visando sua maior conscientização, sugiro que movimentos sociais, centrais sindicais, sindicatos e associações de classe e de empregados sejam ouvidos.

Espero que o povo descubra que Libra, uma riqueza de US$ 1 trilhão, estará sendo doada em outubro próximo. Meu receio é que o capital, péssimo perdedor, venha a usar algo mais drástico para continuar a dominação.

 

Texto publicado no blog do autor: www.paulometri.blogspot.com.br

Por ano, 3 mil professores desistem de dar aula nas escolas estaduais de SP

A cada dia, oito professores concursados desistem de dar aula nas escolas estaduais paulistas e se demitem. A média de pedido de exoneração foi de 3 mil por ano, entre 2008 e 2012. Salários baixos, pouca perspectiva e más condições de trabalho estão entre os motivos para o abandono de carreira.

Os dados obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação são inéditos. A rede tem 232 mil professores – 120,8 mil concursados, 63 mil contratados com estabilidade e 49 mil temporários.

A fuga de professores também é registrada na rede municipal de São Paulo, mas em menor escala. As escolas paulistanas têm média de 782 exonerações por ano desde 2008.

Proporcionalmente ao tamanho das redes, o índice no Estado é duas vezes maior. Além disso, a capital conseguiu ao longo dos anos ampliar em 12% o número de efetivos, enquanto a rede estadual tem 10 mil concursados a menos do que em 2008.

Os docentes que abandonaram o Estado migraram para escolas particulares, redes municipais ou dão adeus às salas de aula. O bacharel em Educação Física Marco Antonio Uzunian, de 30 anos, decidiu ser instrutor de uma academia e hoje também trabalha em uma empresa.

Apenas um ano em uma escola estadual na Vila Carrão, na zona leste da capital, foi suficiente para ele desistir. Uzunian é um dos 2.969 efetivos que pediram exoneração só no ano passado. É o maior índice desde 2008. “Na escola eu não conseguia tocar um projeto de verdade, não tem apoio nem companheirismo”, diz.

O bolso pesou na decisão. Depois de concursado, só pôde pegar uma jornada de 10 horas. “Eu não tive opção de jornada maior. Essas 10 aulas me rendiam R$ 680.” A Secretaria da Educação não respondeu por que há limite de jornada para novos docentes.

Nem a estabilidade do funcionalismo público tem impedido demissões. Formado em Matemática pela Federal do Paraná, Fabrício Caliani ingressou na rede estadual em 2004. Abandonou em 2009 para ficar em escola particular. “Escolhi ser professor por vocação e faço meu trabalho bem feito. O que eu ganhava até me aposentar não ia compensar enfrentar tudo isso”, diz ele, que dava aula em Bastos, no interior paulista.

Mesmo sem ter emprego em vista, Eduardo Amaral, de 39 anos, pediu exoneração em abril de 2012 – depois de 8 anos na rede. “Para além da questão do salário, jornada e condições de trabalho adversas, tem o dia a dia da escola. É um ambiente hostil”, diz ele, que hoje trabalha na Câmara Municipal de São Paulo.

Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Romualdo Portella considera os dados muito altos. “Temos reconhecido que a questão-chave da educação é o professor, mas precisamos ter atratividade de carreira, boa formação, retenção e avaliação”, diz.

A Secretaria da Educação defendeu que o número de exonerações representa só 1,63% do total de efetivos. Em relação à diminuição do número de efetivados, a pasta argumentou que aposentadorias, mudanças e mortes devem ser levados em conta. O governo não informou quantos concursos realizou desde 2008.

 

Fonte: Estadão

FUP: Leilão do pré-sal é um crime contra o desenvolvimento, a soberania nacional e as condições de trabalho

http://www.cut.org.br/ponto-de-vista/artigos/4887/leilao-do-pre-sal-um-crime-contra-o-desenvolvimento-a-soberania-nacional-e-as-condicoes-de-trabalho

Centrais fazem Dia de Paralisações em todo o país

Diversas manifestações e paralisações foram planejadas para esta sexta-feira (30) pelas principais centrais sindicais brasileiras. Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Conlutas e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) aproveitam o Dia Nacional de Mobilização e Paralisação para pressionar os governos federal e estaduais e o Legislativo para atendimento de uma série de demandas que, em comum, têm a defesa de uma agenda que associe desenvolvimento com distribuição de renda.

Entre as reivindicações estão o fim do fator previdenciário, a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, a valorização das aposentadorias, a reforma agrária, o fim do Projeto de Lei 4.330/04, que libera a terceirização e torna mais precárias as condições de trabalho, transporte público e de qualidade, mais investimento em saúde e educação e a suspensão dos leilões de petróleo.

Dirigentes sindicais consultados pela Agência Brasil afirmam que as mobilizações e paralisações estão superando as expectativas iniciais. “Nosso objetivo é chamar a sociedade para a pauta dos trabalhadores, e estamos conseguindo isso”, disse o presidente da CUT, Vagner Freitas. Para ele, as primeiras horas de ações foram “muito positivas”.

“Temos feito paralisações parciais e, onde possível, manifestações. As atividades mais fortes envolvem professores, bancários e rodoviários, e as cidades onde há resultados mais positivos são Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro”, disse ele.

Segundo a CUT, a negociação com o governo está “quase parada”. ‘Mas queremos fazer andar, e sabemos que isso só acontecerá com pressão e mobilização. O governo até dialoga e negocia. O problema é que não tem concedido nada”, acrescentou o sindicalista.

Um dos pontos que geram mais insatisfação na CUT é o fator previdenciário, que retira uma parcela do benefício concedido aos aposentados. “Não conseguimos imaginar que o governo Dilma [Rousseff] se negue a apresentar uma proposta que dê fim ao fator previdenciário. Ela [presidenta] pode aproveitar essa oportunidade, junto com o Congresso Nacional, e acabar com algo negativo herdado do governo FHC [Fernando Henrique Cardoso]. Tem uma bola pingando sem goleiro. Só falta chutar”, ressaltou Freitas.

Para ele, o fim do fator é viável e não implicará danos aos cofres públicos. “Além do mais, será conveniente para o poder aquisitivo do brasileiro e, como diminuiria a necessidade de aposentados terem de continuar trabalhando para fazer renda, o fim do fator previdenciário geraria cerca de 1,5 milhão de empregos novos.”

Presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, disse à Agência Brasil que está surpreendido com o alcance das paralisações do setor de transportes, especialmente nas capitais. “Os protestos têm abrangência nacional, estão nas principais capitais, e a pauta está na rua, sendo defendida pelos trabalhadores na busca por uma negociação séria com o governo. Infelizmente, o governo só tem feito reuniões para marcar reuniões. Nada além disso”, lamentou Paulinho da Força.

Segundo ele, as manifestações estão dentro do previsto. “Em algumas situações, estão superando o que esperávamos. É o caso dos rodoviários, principalmente em Porto Alegre, São Luís e Fortaleza, onde o alcance foi maior do que o imaginado. Ficamos surpresos também com a paralisação do metrô de Belo Horizonte.”

Para o coordenador da Executiva Nacional do Conlutas, José Maria de Almeida, os eventos de hoje poderão resultar no fortalecimento da luta e das mobilizações dos trabalhadores brasileiros. “Estamos confirmando as expectativas que tínhamos. Está sendo um dia de protestos muito fortes, com paralisações de transporte público em pelo menos sete capitais”, disse ele à Agência Brasil.

“Além disso, há boa adesão de operários. Em especial, de metalúrgicos e de trabalhadores da construção civil e da construção pesada. Há paralisações também em portos e refinarias e de petroleiros. Pararam, ainda, trabalhadores da Vale e da CSN [Companhia Siderúrgica Nacional]. O quadro está parecido em todo o país por causa do descontentamento dos trabalhadores com os governos, que só atendem a demandas de grandes grupos. Está cada vez mais clara a busca [dos trabalhadores] por mudanças no modelo econômico”, destacou o dirigente da Conlutas.

 

ESTUDANTES E PROFESSORES

Estudantes e professores participaram, no dia 30 de agosto, do Dia Nacional de Paralisações, organizado pelas centrais sindicais. As entidades realizaram um ato na Praça da República, e seguiram em manifestação até a Avenida Paulista.

No ato, os estudantes defenderam o fim da aprovação automática no estado e condenaram os leilões do petróleo. “Estamos nas ruas hoje para garantir uma educação de qualidade, o fim da aprovação automática nas escolas estaduais. E também repudiamos os leilões do petróleo. Vamos manter as mobilizações para barrar esse crime contra o nosso país”, afirmou Rodrigo Lucas, presidente da UMES.

Durante o ato, os estudantes entoaram: “Leilão é privatização! O petróleo é nosso e não abrimos mão!”.

Para a presidente da APEOESP, Maria Izabel Noronha, a Bebel, os professores estão nas ruas em defesa da pauta unificada dos trabalhadores e vão intensificar ainda a mobilização em defesa da implementação do Piso Nacional da Educação em São Paulo e cobrar medidas que garantam a destinação dos royalties do petróleo para o ensino público.

“É importante reafirmar que esses recursos têm de ir para as escolas públicas e não privadas, porque não queremos grupos se aproveitando desses recursos para aumentarem ainda mais os lucros”, ressalta.

Bebel destacou ainda a importância da aprovação do Plano Nacional de Educação, que aguarda votação no Senado. “Primeiro, espero que seja aprovado, para que tenhamos um planejamento nacional e, mais que isso, seja uma política de Estado, com continuidade para que possamos não ter uma fragmentação. A educação exige continuidade.”

As entidades presentes também cobraram investigações do caso de propina nas licitações do Metrô. “Isso aqui é a continuidade da luta que vivemos em São Paulo e não podemos esquecer que, dois meses após irmos às ruas para cobrar transporte público de qualidade e a diminuição do preço das passagens, fomos surpreendidos com as denúncias de corrupção no metrô”, afirmou a presidente da UEE, Carina Vitral.

 

Veja aqui o vídeo com a cobertura do ato dos professores e estudantes.

Informações: Agência Brasil, Força Sindical e CUT

Laureate compra FMU e amplia a desnacionalização do ensino

O grupo educacional norte-americano Laureate International Universities, controlado pelo grupo de investimentos estadunidense KKR, abocanhou mais uma importante instituição de ensino privada brasileira, a FMU.

Em comunicado divulgado esta semana, o Complexo Educacional FMU, que reúne as Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Faculdades Integradas de São Paulo (FISP) e Faculdades Integradas Alcântara Machado e Faculdade de Artes Alcântara Machado (FIAM-FAAM), e possui cerca de 90 mil alunos matriculados, assume “protocolo de aliança”, com a multinacional. O valor da negociação foi de R$ 1 bilhão.

Com a compra da FMU, a múlti ultrapassa as 216 mil matrículas no ensino superior em diversas regiões do país, ampliando ainda mais a monopolização do setor em mãos estrangeiras.

A FMU é a 12ª aquisição realizada pela múlti norte-americana desde 2005, quando adentrou no mercado brasileiro a partir da compra da Universidade Anhembi-Morumbi, por cerca de R$ 2 bilhões.

Esse foi o segundo maior bloco de desnacionalização do ensino privado brasileiro, perdendo apenas para a fusão entre a Anhanguera e Kroton em abril deste ano. Com quase um milhão de alunos matriculados, este conglomerado tem como principais fundos de investimento o Blackstone Found e o Advent Internacional.

Se somados os números das matrículas nas mãos de grupos estrangeiros, teremos uma marca alarmante. São mais de 1,5 milhão de vagas do ensino superior brasileiro que estão à mercê dos interesses das multinacionais. Já que a educação privada não sofre qualquer regulamentação por parte do governo brasileiro.

O que, além de representar uma acentuada desnacionalização do setor, se configura como uma ameaça à soberania nacional.

Segundo os dados divulgados pelas próprias multinacionais, juntas elas possuem 1.535.300 matriculas do ensino superior. Superando em quase meio milhão as vagas das universidades federais brasileiras.

Hoje três grupos estrangeiros monopolizam o setor: o grupo Estácio, administrado pelo GP Investments, com 330 mil alunos; o grupo Kroton-Anhanguera, do Blackstone Found e Advent Internacional, com 989,7 mil alunos; e a Laureate, do fundo KKR, com seus, 216 mil alunos.

Tais conglomerados agem descaradamente como cartel. Dividindo as suas áreas de atuação, combinando preços de mensalidades e adotando os mesmos métodos de espoliação dos alunos.

Os únicos órgãos que não reparam (ou não querem reparar) e não agem (ou não querem agir) contra essa malta, são justamente aqueles que deveriam atuar em defesa dos estudantes brasileiros e da livre atividade econômica no país.

O conjunto dessas transações deve ser autorizado pelo Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que rege as relações comerciais no país. Entretanto, o órgão está longe de ser um defensor da economia nacional.

O Cade jamais se opôs à aquisição das universidades brasileiras pelas múltis e inclusive não vê problemas na ideia. Tanto é que no último dia 07, aprovou a aquisição pela Anhanguera Educacional da totalidade das ações da Sociedade Educacional de Belo Horizonte Ltda., mantenedora da Faculdade Metropolitana de Belo Horizonte, e do Praetorium, Instituto de Ensino, Pesquisa e Atividade de Extensão em Direito Ltda..

E ao que tudo indica, para o Ministério da Educação o melhor seria se os estudantes brasileiros tivessem suas aulas ministradas diretamente dos EUA, por professores americanos e em videoaulas transmitidas simultaneamente na TV. Afinal, como já afirmara o atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o inglês é “a língua das ciências internacionais”.

 

REPÚDIO

A aquisição da FMU pela multinacional norte-americana foi rechaçada por entidades ligadas à educação brasileira.

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) a operação anunciada na última sexta-feira é “desmedida sob todos os aspectos, ela subtrai do Estado o poder de disciplinar duas áreas estratégicas para o desenvolvimento da sociedade brasileira – a qualidade da formação dos estudantes e o nível da produção científica, setores nos quais, sabidamente, o que acontece na área privada é de uma mediocridade espantosa (guardadas as devidas exceções)”, afirma a entidade.

A Contee também cobrou a omissão dos Ministérios da Educação e Trabalho além da capacidade do Cade de avaliar sobre fusões nas áreas do ensino. “Não só as lideranças sindicais estão distantes disso como até mesmo os Ministérios da Educação e do Trabalho são omissos sobre o problema. Será que o CADE tem condições de opinar sobre fusões na área do ensino? Duvido”, ressalta a entidade por meio de nota.

Por fim a entidade condena o monopólio das multinacionais no ensino. “É por isso tudo que a concentração do capital, como já acontece em outras áreas, fere a soberania nacional” e reitera “olhando de perto, contudo, e ouvindo com atenção o que diz o governo federal sobre questões desse tipo e que envolvem a ação dos interesses privados, a sensação é a de que o assunto sequer é conhecido em toda a sua profundidade”.

Em nota, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) repudiaram a compra da FMU pela Laureate.

“Como um carro sem freio, a desnacionalização da educação vai se apropriando velozmente dessa rede”, destacam as entidades.

Para UNE e UEE-SP a “universidade é estratégica para o desenvolvimento do país e o fortalecimento do seu caráter público, a democratização do seu acesso e a regulamentação do setor privado são eixos fundamentais para que a educação superior brasileira possa produzir conhecimento, pesquisa e extensão favoráveis ao Brasil”.

Segundo análise das entidades estudantis “os grupos internacionais, como precisam apresentar resultados financeiros aos seus investidores, optam por uma educação de baixo custo e isso acaba por mercantilizar o ensino superior privado, o que traz malefícios diretos a qualidade da formação oferecida aos alunos”, ratifica a nota.

“O cenário reforça a urgência da luta contra a desnacionalização da educação brasileira”, pontuam as entidades.

 

Texto extraído da Hora do Povo – Edição 3.181

 

Veja abaixo a íntegra da nota da UNE e UEE em repúdio à aquisição da universidade

 

Transação afunda qualidade de ensino e aprofunda ainda mais a o domínio de grupos estrangeiros no ensino superior privado

Foi anunciada nesta sexta-feira (23), a compra de mais uma instituição privada de ensino superior por um grupo internacional. O negócio da vez foi a aquisição da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) pela rede americana Laureate, que já é dona da Anhembi Morumbi. A compra da instituição representa a maior transação no setor de ensino superior privado no Brasil desde a fusão entre a Kroton e a Anhanguera, que criou o maior grupo educacional do mundo.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) têm uma opinião bem sólida sobre o cenário e expressam total repúdio pela ação. As entidades sempre foram da opinião de que a universidade é estratégica para o desenvolvimento do país e de que o fortalecimento do seu caráter público, a democratização do seu acesso e a regulamentação do setor privado são eixos fundamentais para que a educação superior brasileira possa produzir conhecimento, pesquisa e extensão favoráveis ao Brasil.

Se é verdade que as universidades públicas tiveram alguns avanços nesse sentido, nos últimos anos, o mesmo não se pode dizer da rede privada de ensino superior. Para se ter uma noção, cerca de 1.317.000 matrículas no ensino superior privado estão nas mãos de apenas quatro grupos estrangeiros, o que corresponde a mais de 25% do número total de estudantes das universidades particulares. Como um carro sem freio, a desnacionalização da educação vai se apropriando velozmente dessa rede.

“A própria lógica do capital vem estimulando o movimento de fusões e a formação de grandes grupos, que passam a dominar o mercado privado como grandes tubarões do ensino. A Laureate vai somar agora mais de 200 mil estudantes por todo o mundo e possui mais de 10 universidades de norte a sul do Brasil. Os problemas maiores dessas  compras são o rebaixamento da qualidade de ensino, como a exigência de ensino a distância, e a questão da soberania nacional, na medida em que fundos internacionais passam a controlar um setor estratégico para o desenvolvimento do país”, ratifica Carina Vitral, presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP).

A presidenta também afirma que, nesse processo, as escolas realizam o que chamam de reestruturação administrativa, formando verdadeiros holdings. A maior lucratividade é baseada na precarização das condições de trabalho de professores e funcionários, na ausência de condições para desenvolvimento de pesquisa, o que, para a o movimento estudantil, provoca graves prejuízos na formação dos estudantes.

Os grupos internacionais, como precisam apresentar resultados financeiros aos seus investidores, optam por uma educação de baixo custo e isso acaba por mercantilizar o ensino superior privado, o que traz malefícios diretos a qualidade da formação oferecida aos alunos.

Para que esse processo pare de afetar o ensino superior privado, as entidades estudantis já planejam blitz pelas universidades e uma grande ação contra essa última compra. O cenário reforça a urgência da luta contra a desnacionalização da educação brasileira.

 

São Paulo, 26 de agosto de 2013

União Nacional dos Estudantes (UNE)

União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP)

Para Marilena Chaui, ‘black blocs’ têm inspiração fascista

Os “black blocs”, grupos de mascarados que têm promovido atos violentos durante manifestações, agem com inspiração fascistas, afirmou em palestra a filósofa Marilena Chaui.

Para Chaui, o grupo tem como foco o ataque a indivíduos e não apresentam um plano de organização social futuro, em substituição à estrutura social vigente. “Temos três formas de se colocar. Coloco os ‘blacks’ na fascista. Não é anarquismo, embora se apresentem assim. Porque, no caso do anarquista, o outro [indivíduo] nunca é seu alvo. Com os “blacks’, as outras pessoas são o alvo, tanto quanto as coisas”, disse ela.

Na análise da filósofa, os “black blocs” não usam o que ela chama de violência revolucionária. “Ela só se realiza se há um agente revolucionário que tem uma visão do que é inaceitável no presente e qual a institucionalidade futura que se pretende construir”, afirmou, ironizando ainda algumas reivindicações desses grupos, como estatização dos bancos e a saída de Dilma Rousseff da Presidência.

Professora da USP e doutora honoris causa pela Universidade de Paris, Chaui participou do ciclo de conferências sobre violência para cadetes e oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

 

Informações: Folha de S. Paulo e Correio da Bahia

Stiglitz: O sonho de King não se cristalizou nos EUA, demonstram estatísticas

Como o Dr. King moldou meu trabalho na economia

Por Joseph E. Stiglitz, no New York Times

 

Eu tive a grande sorte de estar no meio da multidão em Washington quando o Reverendo Martin Luther King Jr. fez o eletrizante discurso “I have a Dream”, no dia 28 de Agosto de 1963.

Eu tinha 20 anos e recém terminara a faculdade.

Em duas semanas, ia começar meu curso de graduação em estudos econômicos no Instituto de Tecnologia de Massachussets.

Na noite anterior à Marcha a Washington por Empregos e Liberdade, fiquei na casa de um colega de faculdade cujo pai, Arthur J. Goldberg, era juiz assistente da Suprema Corte e estava empenhado em promover a justiça econômica.

Quem poderia imaginar, 50 anos depois, que esta mesma instituição, que um dia pareceu determinada a construir Estados Unidos mais justos, que incluíssem todos, se tornaria instrumento para preservar desigualdades: permitindo praticamente gastos ilimitados de empresas para influenciar campanhas políticas, fazendo de conta que o legado da discriminação eleitoral não existe mais e limitando os direitos dos trabalhadores e de outros demandantes que processam empresas e empregadores por mau comportamento.

Ouvir o Dr. King falar suscitou várias emoções em mim. Apesar de jovem e protegido como eu era, fazia parte de uma geração que viu as desigualdades herdadas do passado e estava comprometida com a correção dos erros. Nascido durante a Segunda Guerra Mundial, eu me tornei adulto enquanto mudanças silenciosas, mas inquestionáveis, varriam a sociedade norte-americana.

Como presidente do Conselho Estudantil do Amherst College, eu liderei a viagem de um grupo de colegas ao Sul para brigar pela integração racial.

Nós não conseguíamos entender a violência daqueles que queriam preservar o antigo sistema segregacionista.

Quando visitamos uma faculdade só de negros, sentimentos intensamente a disparidade das oportunidades educacionais dadas a eles, especialmente se comparadas com as que recebíamos em nossa faculdade privilegiada e isolada. O campo era desigual e fundamentalmente injusto. Era um remendo da ideia do sonho americano com o qual crescemos e no qual acreditávamos.

Foi porque eu tinha esperanças de que algo poderia ser feito a respeito disso e de outros problemas que vi vividamente, ao crescer em Gary, Indiana — pobreza, desemprego episódico e persistente, discriminação sem fim contra os afro-americanos — que decidi me tornar economista, me afastando da minha intenção anterior de estudar física teórica.

Logo descobri que me ingressara em uma estranha tribo. Enquanto havia alguns acadêmicos (incluindo vários dos meus professores) que se importavam profundamente com os assuntos que me levaram à área, a maioria não estava preocupada com a desigualdade; a maioria rezava aos pés do (mal interpretado) Adam Smith, do milagre da eficiência da economia de mercado.

Eu pensei que se esse era o melhor dos mundos possíveis, eu queria construir e viver em um outro mundo.

Neste estranho mundo da economia, o desemprego (se existisse) era culpa dos trabalhadores. Um economista da Escola de Chicago, o Prêmio Nobel Robert E. Lucas Jr., mais tarde escreveria: “Das tendências que são daninhas a uma economia sólida, a mais sedutora — e na minha opinião mais venenosa — é o foco na questão da distribuição [de renda]“.

Outro Nobel da Escola de Chicago, Gary S. Becker, tentaria mostrar como em um mercado de trabalho verdadeiramente competitivo, a discriminação não poderia existir.

Enquanto eu e outros escrevemos vários artigos explicando o sofisma, o argumento dele caiu em ouvidos prontos para recebê-lo.

Como tantos outros, olhando para os últimos 50 anos, eu não posso deixar de me sentir golpeado pelo abismo entre nossas aspirações e o que realizamos.

É verdade, um “teto de vidro” foi estilhaçado: nós temos um presidente afro-americano.

Mas o Dr. King percebeu que a luta por justiça social deveria ser concebida de forma mais ampla: era uma batalha não apenas contra segregação racial e discriminação, mas por igualdade econômica e justiça para todos.

Não foi à toa que os organizadores da marcha, Bayard Rustin e A. Philip Randolph, a chamaram de Marcha a Washington por Empregos e Liberdade.

Em tantos aspectos, o progresso nas relações raciais foi erodido, e até mesmo revertido, pela crescente divisão econômica que aflige todo o país.

A batalha contra a discriminação, infelizmente, está longe do fim: 50 anos depois daquela manifestação, e 45 anos depois da adoção da Lei da Moradia Justa, grandes bancos dos Estados Unidos, como o Wells Fargo, continuam discriminando com base na raça, visando cidadãos mais vulneráveis para suas práticas de empréstimos predatórios.

A discriminação no mercado de trabalho é dominante e profunda.

Pesquisas sugerem que os candidatos com nomes que soam afro-americanos recebem menos chamados para entrevistas de empregos.

A discriminação assume novas formas; avaliações baseadas em estereótipos ainda dominam as cidades norte-americanas, incluindo as revistas aleatórias da polícia que se tornaram padrão em Nova York.

Nosso índice de encarceramento é o mais alto do mundo, apesar de haver sinais, finalmente, de que estados em situação fiscal difícil começam a ver que é asneira, se não desumanidade, gastar tanto capital humano com prisões em massa.

Quase 40% dos presos são negros. Essa tragédia foi poderosamente documentada por Michelle Alexander e outros professores de Direito.

Os números brutos contam boa parte da história: não houve uma redução significativa da distância entre a renda dos afro-americanos (ou hispânicos) e dos norte-americanos brancos nos últimos 30 anos.

Em 2011, a renda média das famílias negras norte-americanas era de US$ 40.495, 58% da renda média das famílias brancas.

Indo da renda para a riqueza, também vemos a discrepância da desigualdade.

Até 2009, a riqueza média dos brancos era 20 vezes a dos negros.

A Grande Recessão de 2007-2009 foi particularmente difícil para os afro-americanos (como tipicamente é para os que estão na base do espectro socioeconômico).

Eles tiveram uma queda de riqueza de 53% entre 2005 e 2009, três vezes mais que a dos brancos: uma discrepância recorde.

Mas a assim chamada recuperação foi pouco mais que uma quimera — com mais de 100% dos ganhos indo para o 1% no topo — um grupo no qual, não seria necessário dizer, não se encontra um número significativo de afro-americanos.

Quem sabe como a vida do Dr. King teria se desdobrado se não tivesse sido abreviada pela bala de um assassino?

Com apenas 39 anos quando foi morto, ele teria 84 hoje.

Enquanto ele provavelmente apoiaria o esforço do presidente Obama para reformar o sistema de saúde e defender a rede social de apoio aos idosos, pobres e doentes, é difícil imaginar que alguém com um senso moral tão agudo olharia para os Estados Unidos de hoje com algo menos do que desespero.

Apesar da retórica sobre a terra de oportunidades, as perspectivas de vida de um jovem norte-americano dependem muito mais da renda e da educação de seus pais do que em quase todos os outros países desenvolvidos. Portanto, o legado da discriminação e da falta de educação e oportunidades de emprego se perpetua de uma geração para a próxima.

Com essa falta de mobilidade, o fato de ainda hoje 65% das crianças afro-americanas viverem em famílias de baixa renda não é o prenúncio de um futuro muito bom para elas, e nem para o país.

Homens com apenas o segundo grau completo tiveram grandes quedas de renda real nas duas últimas décadas, uma queda que afetou desproporcionalmente os afro-americanos.

Enquanto a segregação declarada nas escolas com base na raça foi banida, na realidade a segregação educacional piorou nas últimas décadas, como Gary Orfield e outros estudiosos documentaram.

Parte do motivo é que o país se tornou mais segregado economicamente.

Crianças negras pobres têm muito mais chance de viver em comunidade com pobreza concentrada — 45% vivem assim, em contraste com 12% das crianças brancas pobres, como mostrou o Instituto de Política Econômica.

Eu completei 70 anos no começo do ano. A maior parte dos meus trabalhos acadêmicos e serviços públicos nas últimas décadas — incluindo meu trabalho no grupo de Conselheiros Econômicos durante o governo Clinton e no Banco Mundial — foi voltado para a redução da pobreza e da desigualdade. Espero ter correspondido ao chamado do Dr. King, proferido há meio século.

Ele tinha razão de reconhecer que essas divisões persistentes são um câncer na nossa sociedade, minando nossa democracia e enfraquecendo nossa economia.

A mensagem dele foi de que as injustiças do passado não eram inevitáveis. Mas ele também sabia que sonhar não era o suficiente.

 

Tradução Heloisa Villela, de Nova York, especial para o Viomundo

 

Texto extraído do Portal Viomundo

 

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