Na noite desta sexta-feira (23), a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES) realizou a live “Debates sobre Cultura” com o objetivo de discutir propostas e políticas para a cultura com os candidatos à Prefeitura da cidade de São Paulo. Orlando Silva (PCdoB) foi o primeiro candidato a participar da série de debates.
O evento também reuniu artistas, ativistas e representantes do setor cultural, que puderam questionar suas propostas e apresentar as respectivas demandas ao candidato.
Ao iniciar a conversa com Orlando, o presidente da UMES, Lucas Chen, fez uma breve apresentação do trabalho cultural desenvolvido pela entidade secundarista destacando o a produção do Centro Popular de Cultura da UMES, as mostras de cinema realizadas pela entidade e o bloco UMES Caras Pintadas, que “vêm desempenhando um papel fundamental na divulgação e fomento da cultura no país”.
Orlando defendeu que a Prefeitura deve respeitar e valorizar a diversidade cultural que é a característica da capital paulista.
“Muita gente fala da cidade de mil povos, a cidade que tem mil povos, que tem gente do mundo inteiro, do Brasil inteiro, também é a cidade das mil culturas, que têm culturas do Brasil inteiro e culturas do mundo inteiro e isso dá uma riqueza enorme para a nossa cidade. E a política cultural tem que primeiro reconhecer essa diversidade, valorizar essa diversidade e permitir que essa diversidade possa circular”, afirmou.
Ele apresentou como sua principal proposta para o setor, a formação do Circuito São Paulo de Artes e Cultura, que deverá “articular espaços de exposição e exibição das mais diversas culturas artísticas em nossa cidade e permitir a circulação dessas apresentações, utilizando equipamentos públicos já disponíveis, utilizando novos equipamentos de cultura, que queremos realizar em toda a cidade, sobretudo nos distritos da periferia que não tem equipamentos públicos de cultura”.
Orlando também destacou a importância do setor cultural na geração de emprego e renda. “Nós temos uma indústria que pode ser estimulada”, defendeu o candidato ao destacar o trabalho da estatal para a promoção do audiovisual Spcine na capital paulista.
“A Spcine hoje é uma realidade e o audiovisual é um dos setores que ilustra o potencial de fortalecimento da identidade visual de São Paulo e da geração de emprego e renda. O audiovisual fala de cinema, mas também há publicidade, São Paulo é a cidade que mais filma no Brasil e nós temos que disputar cada vez mais, nós temos que produzir cada vez mais na nossa cidade que isso também significará desenvolvimento econômico”, ressaltou.
Cinemateca
O candidato apontou ainda a necessidade da Prefeitura de assumir o protagonismo na preservação do patrimônio cultural da cidade. Como é o caso da Cinemateca Brasileira, alvo da política de destruição do governo Bolsonaro.
“A Cinemateca Brasileira é um órgão federal, que vive uma crise gigantesca, correndo o risco de desaparecer. O governo Bolsonaro que não tem responsabilidade nenhuma com a Cultura”, condenou Orlando.
“O prefeito de São Paulo tem que assumir esse protagonismo e preservar as construções, mesmo a Cinemateca sendo um órgão federal, também é de São Paulo. Eu prezo para que a gestão tenha uma ação mais ousada e organizada em defender os patrimônios culturais de São Paulo e do Brasil”, defendeu.
Lei Aldir Blanc
No debate, Orlando ainda abordou a aprovação da Lei Aldir Blanc, no Congresso Nacional. Ele destacou o papel dos parlamentares no socorro à classe artística “um dos setores mais atingidos pela pandemia de Covid-19”.
A Lei de Emergência Cultural 14.017/2020, que prevê apoio emergencial ao setor cultural diante do estado de calamidade pública decretado pela União em função da pandemia da Covid-19. O projeto foi batizado de Lei Aldir Blanc em homenagem ao compositor, vítima do coronavírus em abril de 2020.
Segundo informou o deputado, um dos 24 co-autores da Lei Aldir Blanc, na cidade de São Paulo, serão cerca de mil espaços culturais e mais de quatro mil artistas beneficiados pela lei.
“Nós sofremos um pouco na hora de elaborar a lei porque exige regulamentação do governo federal e nada do que dependa do governo federal anda rápido e logo quando saiu a regulamentação, o prazo para as inscrições era até outubro e agora foi prorrogado e houve um número de inscrições superior ao que era estimado aqui em São Paulo”, explicou Orlando.
Abaixo publicamos a íntegra dos “Debates sobre Cultura”, da UMES:
Orlando Silva (PCdoB), candidato a prefeito de São Paulo
Primeiro queria agradecer Chen, pela oportunidade dessa conversa, você como presidente da UMES de São Paulo é também um líder de um dos principais projetos e de uma das principais instituições de cultura da cidade, que é o CPC-UMES, que resgatou uma tradição importante dos anos 60 do movimento estudantil, que são os centros populares de cultura, que teve início com a União Nacional dos Estudantes (UNE), e a UMES conseguiu produzir uma instituição que desde os anos 90 constrói a arte popular e resgata as tradições culturais da cidade de São Paulo.
Eu me recordo de um filme que foi muito marcante em minha vida, que foi o filme do Geraldo Filme, a biografia que o Carlos Cortez, que é um amigo querido que partiu a pouco, que é o resgate de uma raiz profunda da cidade e do Bixiga.
A UMES e o CPC conseguem ao mesmo tempo resgatar nossas tradições, promover iniciativas da cena contemporânea e fazer um trabalho de difusão de clássicos que é uma coisa maravilhosa. Sendo clássicos do cinema italiano, clássicos do cinema russo, clássicos do cinema mundial e isso tudo nos ajuda a produzirmos a melhor cultura e sobretudo, formarmos público.
O trabalho que a UMES faz no cinema, também é uma formação de público, não é só de exibição de peças maravilhosas do cinema mundial, é também uma formação de público. Eu quero primeiro render minhas homenagens ao trabalho que o CPC da UMES faz.
Segundo quero cumprimentar meus companheiros e companheiras, amigos e amigas que nos acompanham nesse bate-papo, em particular os candidatos a vereador que participaram dessa conversa. Eu achei bem legal a hipótese de tê-los conosco e sei que vão participar aqui a Railídia, a Carlota, Tião Carvalho, a Keila Pereira, o Jonathan, que são todos quadros e pessoas ligadas a diversas linguagens culturais e em nossa chapa ainda tem mais gente nesse nicho, não poderia esquecer do Seu Otacílio, que foi presidente da Unidos do Peruche, que é também uma instituição importante do Samba paulistano.
Eu quero valorizar as presenças deles porque Chen, porque nosso projeto é um projeto coletivo e nós queremos ter muitas vozes na construção das políticas públicas de quando assumirmos a Prefeitura e, no campo da cultura, essas muitas vozes serão importantes porque São Paulo tem em suas marcas, a de ser uma cidade diversa.
MIL POVOS
Muita gente fala da cidade de mil povos, a cidade que tem mil povos, que tem gente do mundo inteiro, do Brasil inteiro, também é a cidade das mil culturas, que têm culturas do Brasil inteiro e culturas do mundo inteiro e isso dá uma riqueza enorme para a nossa cidade. E a política cultural tem que primeiro reconhecer essa diversidade, valorizar essa diversidade e permitir que essa diversidade possa circular.
Talvez Chen, a nossa principal proposta que apresentamos em nosso programa de governo, é a ideia da criação de um circuito, o Circuito São Paulo de Artes e Cultura, para articularmos espaços de exposição e exibição das mais diversas culturas artísticas em nossa cidade e permitir a circulação dessas apresentações artísticas em toda a cidade, utilizando equipamentos públicos já disponíveis, utilizando novos equipamentos de cultura, que queremos realizar em toda a cidade, sobretudo nos distritos da periferia que não tem equipamentos públicos de cultura, ocupando espaços como são os CEUs, que também são espaços de cultura em toda a cidade, firmando parcerias com entidades e movimentos que produzem cultura nas periferias.
Essa é a de que queremos com o Circuito São Paulo de Artes e Cultura que pra nós tem o papel de fazer o fomento e a circulação da cultura paulistana.
E em nossa crença e convicção, compete ao Poder Público financiar os vários fazeres culturais. Eu considero que São Paulo já dá uma contribuição, além de fomento ao teatro, além de fomento à dança, o apoio que a cidade dá a Mostra Internacional de Cinema, o Prêmio Zé Renato, que eu tive o privilégio de ser um dos autores, que é um prêmio de estímulo ao Teatro.
Eu queria que nós já tivéssemos uma base de vários fomentos às linguagens artísticas da cidade, mas o nosso esforço é ampliar o financiamento, que com muito pouco dinheiro, você pode fazer muitas produções culturais pela cidade de São Paulo.
O VAI 1 e o VAI 2 [Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais] foram boas experiências que estimulam a produção de novos artistas e a minha perspectiva e que com esse novo circuito nós possamos ampliar os recursos na cultura, ampliar o fomento e a produção das várias linguagens e o próprio circuito ser o lugar de celebração da arte, de fruição dos espetáculos e também de formação de público. Eu falo muito de formação de público, porque a cultura também emancipa. A cultura também liberta, ela pode nos oferecer muitas lentes para ver o mundo e isso vale para ficar de pé essa perspectiva, sendo muito importante que a gente trabalhe a formação de público.
São Paulo já teve umas boas experiências de formação de público de projetos que eu considero que sejam muito importantes. Eu quero valorizar muito o diálogo com os vários movimentos culturais da cidade.
São Paulo tem uma característica própria que é a formação de suas cooperativas, sendo a cooperativa de teatro, a cooperativa de música, a cooperativa de dança, são instituições como o CPC da UMES, e nós temos que colocar de pé, os diálogos dessas instituições, dessas representações, onde possamos garantir os pluralismos, as tantas vozes que temos aqui a disposição da nossa cidade.
GERAÇÃO DE EMPREGO
Eu acredito que seja muito importante que o poder municipal possa estimular a economia criativa, observar a cultura também com um potencial de gerar emprego e renda.
Eu digo muito que, tenho obsessão no meu primeiro ano de mandato a geração de emprego e renda, isso pode ser feito em vários planos, inclusive no plano da cultura. Nós temos uma indústria que pode ser estimulada. Por exemplo o audiovisual, e aqui eu tenho orgulho de ser um dos criadores do Spcine, onde participei ativamente da criação da Spcine, que começou num debate de uma montagem de film commission, de uma comissão que facilitaria a produção do audiovisual na cidade de São Paulo, mas que rapidamente se transformou numa agência que a princípio era pra ser tripartite (Cidade, Estado e União) e ser um fomentador de cinema em nossa cidade.
A Spcine hoje é uma realidade e o audiovisual é um dos setores que ilustra o potencial de fortalecimento da identidade visual de São Paulo e da geração de emprego e renda. O audiovisual fala de cinema, mas também há publicidade, São Paulo é a cidade que mais filma no Brasil e nós temos que disputar cada vez mais, nós temos que produzir cada vez mais na nossa cidade que isso também significará desenvolvimento econômico.
FOMENTO
Eu acredito que tem temas novos que precisamos refletir juntos e construir, eu considero que precisamos construir e desenvolver políticas de culturas de livros, onde precisamos criar, estabelecer um prêmio que estimule o campo da literatura, que é algo muito importante, aqui também frisar as boas experiências na periferia, como as bibliotecas comunitárias, mas são experiências em que a periferia reage a ausência do poder público, então temos que cuidar dos acervos, cuidar das bibliotecas, difundir a importância da leitura de modo a que possamos desenvolver nesse campo para o nosso povo.
Eu tenho um grande entusiasmo e uma verdadeira paixão pela produção artística de São Paulo, onde segue como referência e espero que continue sendo assim, como um local aberto a cultura e produção e exposição.
Eu me vinculei muito fortemente à Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e pude perceber como é importante, mesmo para a imagem do Brasil a realização desta Mostra e como é importante para nos dar acesso a obras importantes do mundo inteiro, ser também o lugar em que vamos expor as construções artísticas do mundo inteiro, sendo algo que nos interessa.
Me interessa muito que a Prefeitura tenha o protagonismo no cuidar de algumas instituições da nossa cidade, porque a Cinemateca Brasileira é um órgão federal, que vive uma crise gigantesca, correndo o risco de desaparecer pelo governo federal, jogada as traças, eu fico impressionado com a prefeitura que não faz nada com a Cinemateca. Ela que fica no bairro tradicional da Vila Mariana, com uma arquitetura e um prédio belíssimo, e o governo Bolsonaro que não tem responsabilidade nenhuma com a Cultura, o prefeito de São Paulo tem que assumir esse protagonismo e preservar as construções, mesmo a Cinemateca sendo um órgão federal, também é de São Paulo. Eu prezo para que a gestão tenha uma ação mais ousada e organizada em defender os patrimônios culturais de São Paulo e do Brasil.
Por fim, eu sempre defendi que precisamos governar para o povão, pelo povo mais pobre de São Paulo e com isso precisamos preservar os circuitos periféricos que tem algumas linguagens e tem um peso importante na periferia.
O Slam por exemplo, é uma realidade. Se você anda na quebrada, você vê muitas vezes, crianças e jovens encantados pelo Slam. É uma produção muito forte em nossa periferia, assim como o hip-hop também é. Também temos as rodas de terreiros de samba, que também é uma ação defendida pela periferia uma alternativa à ausência do poder público em políticas culturais nestes espaços.
E considero também que a cultura tenha que dialogar com o Carnaval. O Carnaval não pode ficar só no ambiente do Anhembi, sendo um assunto da SPTrans. O carnaval é um assunto muito importante na nossa cidade, é economia criativa e nós podemos inclusive potencializar a dimensão econômica da nossa cidade.
Alguém passou por aqui e deu um salve lembrando da Cooperifa e poderia aqui também lembrar dos saraus, que precisam ser valorizados, as casas de cultura também.
Outro dia fui no M’Boi Mirim e vi a casa de cultura de lá que é uma potência, que aliás foi fruto de luta popular e é fundamental que precisamos ocupá-la. Em pleno sábado de manhã, era o momento em que ela deveria pulsar cultura e para pulsar a cultura na cidade tem que ter o protagonismo do poder municipal, tem que ter iniciativa do poder municipal, para que a gente possa oferecer um acervo de possibilidades para que o nosso povo possa fruir, aproveitar, conhecer e aprender a admirar, que o nosso Brasil tem a oferecer e a cidade de São Paulo possa apresentar.
Continuarei aqui acompanhando a discussão e vendo o que podemos acrescentar em nosso programa de governo para a cidade de São Paulo.
LEI ALDIR BLANC
Lucas Chen – Orlando, antes de a gente dar continuidade, gostaria de relembrar que tivemos uma vitória muito grande e que a bancada do PCdoB teve uma atuação firme na aprovação e manutenção da Lei Aldir Blanc na Câmara dos Deputados. Que não só é uma vitória pro campo cultural, mas também uma vitória para o povo brasileiro.
Orlando – A Lei Aldir Blanc foi relatada pela deputada Jandira Feghali, nossa deputada federal no Rio de Janeiro e foi construída com muita paciência. Aqui em São Paulo foi elaborada e discutida com muitos artistas e produtores culturais que participaram da elaboração da lei e muitos dos temas que levamos na pauta foram elaborados pela Jandira.
Nós sofremos um pouco na hora de elaborar a lei porque exige regulamentação do governo federal e nada do que dependa do governo federal anda rápido e logo quando saiu a regulamentação, o prazo para as inscrições era até outubro e agora foi prorrogado e houve um número de inscrições superior ao que era estimado aqui em São Paulo.
Para falar da cidade de São Paulo, nós tivemos cerca de mil inscrições de espaços culturais e cerca de quatro mil artistas que estão aptos a receber a ajuda da lei. Então é uma conquista que a bancada do PCdoB com co-autoria de 24 parlamentares e foi de suma importância que a lei fosse aprovada, sendo que a cultura, junto ao turismo, foi um dos setores mais atingidos pela pandemia do Covid-19. Está sendo retomado aos poucos o setor e tem que ser assim, com os museus e teatros. Demorou pra sair a lei, mas saiu e muitos artistas, produtores que serão beneficiados com a lei.
Foi uma vitória da classe artística brasileira a conquista da Lei Aldir Blanc.
Política cultural em nossa cidade está muito aquém da nossa riqueza
Keila Pereira, candidata a vereadora de São Paulo
Eu queria ir a primeiro agradecer a UMES pela escola que foi. O Chen me apresentou, fui diretora de Cultura da UMES e trabalho com cultura já há algum tempo e posso dizer que 99% do que aprendi foi aí nessa entidade.
Para quem não me conhece, eu me chamo Keila Pereira sou atualmente estudante de letras da USP, fui diretora de cultura na gestão de 2016.
No último ano também estive na Spcine desenvolvendo um novo trabalho da SPCine que é o de fomentar os cineclubes da cidade.
O Centro Popular de Cultura da UMES foi o que me ensinou que cultura é identidade e não se negocia, então eu queria falar a partir desse princípio porque a política cultural em nossa cidade está muito aquém da riqueza que ela [cultura] nos oferece.
Durante a minha gestão na UMES, a gente produziu bastante coisa com uma movimentação muito grande em diversas áreas. Tivemos a mostra “Volta ao mundo em 30 filmes”, tivemos a Mostra de Cinema Italiano, a Mostra de Cinema Russo, em parceria com a Mosfilm.
Achei interessante o Orlando falar do Geraldo Filme. Na minha gestão, produzimos também uma exposição sobre Geraldo Filme. Fizemos o resgate desse documentário de alguns anos atrás e foi uma experiência muito interessante. Fazia um bom tempo que a UMES não colocava Geraldo Filme em evidência, isso também foi bastante gratificante para mim.
Essa política cultural, estando muito aquém dessa riqueza, acredito que a gente precisa pensar, que a gente precisa investir, não só numa maneira de distribuir e de exibir melhor a nossa produção cultural, mas principalmente de fomentar nossa produção. Eu, particularmente, fui proponente do “VAI” de 2016 para 2017 e é um exemplo de como a gente tem iniciativa boas na cidade, mas que precisam melhorar bastante.
No caso, o “VAI” foi o projeto que fez deslanchar o “Sarauê”, o projeto que eu iniciei lá em Parelheiros, bairro onde moro, mas que por ser um projeto super inicial, a gente não conseguia ter recurso reservado para boas remunerações a gente conseguir investir em estruturas, que era muito do que a gente precisava. Mas, no final das contas, a gente não conseguiu remunerar bem. Tanto as pessoas que compõem o coletivo, quanto também os artistas fizeram parte dessa trajetória do projeto. Acredito que não basta a gente crescer os espaços para contratação, acho que isso e super importante, assino embaixo desse projeto do “Circuito São Paulo de Artes e Cultura” porque precisamos sim dessa contratação direta dos artistas pela Prefeitura, isso é muito importante. Mas é preciso, também, fomentar a produção e o aprendizado nas áreas de Cultura.
A gente precisa conseguir oferecer oportunidades para a juventude. A possibilidade de acessar também através da produção, de ter acesso a toda estrutura necessária para se desenvolver na escrita, na musicalidade, na dança, no teatro, na arte circense e em tudo que tiver possibilidades de se desenvolver.
O Orlando citou os slams. Desde 2014, eu frequento os slams e enxergo ali um potencial represado porque não existe espaço para desenvolver esses talentos. As Casas de Cultura possuem ainda estruturas muito precárias e que precisamos melhorar bastante para conseguir desaguar toda a cultura de nossa cidade em todos os campos. O Carnaval também é algo que está refém desse papo comercial e São Paulo não tem uma cultura de samba à toa, é tradição e precisa continuar sendo fomentada.
Eu acredito que temos um caminho bom para trilhar nessas eleições, com discussões coerentes sobre a cultura da nossa cidade e espero que a gente consiga avançar nessa luta, porque a cultura é pilar da nossa sociedade. A base que nos identifica como irmão de uma mesma nação, então é importante demais que a gente a preserve e continue produzindo cada vez mais.
Cultura Imigrantes
Vera Gers Dimitrov, representante do Grupo Volga: Qual sua proposta para o incentivo às inserções culturais dos imigrantes, como forma de geração de renda e combate à xenofobia?
Orlando Silva: A Vera levantou um tema super importante. Eu fui relator da Lei de imigrações do Brasil, eu escrevi a lei de imigrações do Brasil. Que substituiu o “Estatuto do Estrangeiro” que é uma lei da ditadura militar que era interprotetiva do mercado de trabalho, que não tratava a imigração como deveria ser, como um direito humano. Essa lei, sou muito orgulhoso dela porque já recebi várias homenagens fora do Brasil por conta dela, uma lei que é referência internacional.
A hipótese de ter a exposição de tradições culturais de nações que ajudaram a formar nosso país, não só concordo com você que pode ser uma medida para combater a xenofobia, como também pode incentivar o turismo e a partir daí estimular a economia. Eu mesmo já estimulei minha mãe a vir até a Liberdade para ver o espetáculo do ano novo chinês que é sempre um espetáculo muito bonito que tem ali na Praça da Liberdade, então eu não tenho a menor dúvida que vale sim.
Nós temos aqui o Museu do Imigrante que fica na Zona Leste, fica ali no Brás, e nós temos que aproveitar nossa formação com a presença de muitos povos também para dar mais brilho às tradições culturais na cidade.
Emergência Cultural
Railídia Carvalho, candidata a vereadora da capital paulista
Eu acho que a gente hoje tem esse termo “emergência cultural” e acho que esse termo tem que permanecer por um bom tempo entre nós que olhamos par cultura como essa dimensão profunda que impacta as nossas vidas e que precisa impactar a política pública na cidade de São Paulo. A gente vê esse desejo do Orlando em aumentar o orçamento público. O próprio orçamento público para cultura, que é um orçamento mínimo, mostra o desprestígio da administração pública para essa dimensão que é fundamental na vida da gente.
“Emergência cultural” ganhou esse nome em torno das articulações da Lei Aldir Blanc, em que o PCdoB teve um protagonismo com a relatoria da Jandira Feghali, uma relatoria com um texto fantástico, uma mobilização e uma articulação política de imensa habilidade e uma sensibilidade a um acontecimento que pouca gente estava se dando conta que é exatamente que trabalhadores e trabalhadoras da cultura, quem faz cultura, também faz isso como um trabalho.
É muito difícil explicar para alguém que a gente faz um trabalho, parece que a gente está sempre se divertindo ou que é algo como um penduricalho. Não, fazer cultura também é nosso trabalho. Então eu acho que a “emergência cultural” precisa estar presente durante muito tempo na administração pública de São Paulo e também precisa ser central nesse debate.
É sintomático, não por acaso, que muitos trabalhadores da cultura, que vivenciam a cultura por dentro e não apenas são simpatizantes, são candidatos nessa eleição. Então só no PCdoB, a gente tem a Carlota, o Tião Carvalho, Eu, a Keila que acabou de falar aí, mas de outros partidos da esquerda a gente tem uma série de candidatos. Mostrando a importância de que a administração pública precisa ser impactada por saberes, por hábitos, tudo isso é cultura.
Eu queria deixar exatamente isso, Orlando, a “emergência cultural”. Porque ela é mais profunda e a mentalidade que a gestão pública e que os parlamentares da cidade de São Paulo têm precisa ser sacudida. A cultura não é um penduricalho, é um fator, um elemento para o desenvolvimento da cidade. Você é um gestor público muito experimentado, um amante da cultura, e vai saber, dá para ver pelo seu programa. Mas eu queria reforçar a importância de a cultura ser incorporada pelos instrumentos legais da administração pública da cidade de São Paulo.
Porque quando a gente faz isso, a gente faz o que você tem dito “olhar para quem mais precisa”. É só a gente olhar para quem é excluído e a gente vai ver que a política pública, os recursos, a estrutura que é voltada para o trabalhador e trabalhadora da cultura não chegam a maioria da população. Essa mesma população que não chega o direito a saúde, o direito a moradia, o direito ao emprego e educação, são os mesmos.
Nesse seguimento, quem faz cultura são os mais vulneráveis da cadeia produtiva da cultura, para eles nunca chega nada. A prova disso foi a lei Aldir Blanc foi muito mal operacionalizada aqui em São Paulo, não tem transparência, não teve divulgação, ela não teve democracia.
Poderiam ser 5 mil espaços, porque o Fórum de Emergência da Cultura aqui de São Paulo, do qual eu fiz parte tinha esse número de 5 mil espaços. De 10 mil atendidos poderiam ser 20 mil, não houve ampla divulgação, gravíssimo. Eu disse numa audiência pública, que estava o secretário Hugo Bossolo, é preciso estar na rede de TV aberta.
A Secretaria Municipal de Cultura não é capaz de botar um anúncio na Rede Globo, em horário nobre, enquanto as pessoas estão assistindo dizendo assim: Alô, trabalhador da cultura! Está aberto o cadastro da Lei Aldir Blanc, temos banquinha, temos não sei o quê, vai ter wi-fi grátis. Não ouve nada disso, continuaram excluídos os que já eram excluídos.
Orlando Silva: É fundamental que haja uma associação maior entre educação e cultura. Quando Mário de Andrade foi o que equivaleria a secretário de cultura da cidade de São Paulo, lá pelos anos 1920, ele pensou em alguns projetos que associavam educação e cultura. Inclusive, nós temos um centro, o Central Tabajara, que fica ali na Barra Funda, idealizado por Mário de Andrade, ele tem esta perspectiva era para ter um jardim botânico, tem um teatro e era para ser um lugar de formação das crianças, de formação da juventude.
Esse é o mesmo diálogo de Anísio Teixeira quando pensou o “Manifesto da Escola Nova” com a educação em tempo integral, que depois Darcy Ribeiro e Brizola desenvolveram adiante. Eu diria que o lugar da cultura é também um lugar de formação das nossas crianças e dos nossos jovens, e é por isso que eu defendo escola integral. É muito importante que São Paulo avance na escola em tempo integral.
O Plano Municipal de Educação, na sua nona meta determina que até 2025, ou seja, ao final do próximo mandato, 50% das escolas seja em período integral. Nós sabemos que estamos muito longe disso e a prefeitura anda a paços muito lentos na implantação de escola em tempo integral e nada melhor que a cultura para ser uma das vivências para por de pé a escola em tempo integral e daí ter um impacto muito grande na formação dos nossos jovens.
Os CEUs, que já me referi aqui como um dos espaços fundamentais para o circuito cultural, nós temos que impedir primeiro que eles sejam privatizados, porque o Prefeito andou falando que iria passar para OSs a parte de esporte, cultura e lazer. Está errado, nós temos que passar para o controle da comunidade, temos que colocar conselhos populares tocando a programação, temos que promover quadros qualificados da Secretaria de Cultura para o trabalho de curadoria para ocupar bem estes espaços. Então, temos que fortalecer os CEUs como espaços público e como o lugar central de cultura como é o lugar central para difusão de educação.
A capoeira é arte é dança e é luta, é assim que a gente aprende na Bahia, e nós temos na capoeira um instrumento de resistência negra e temos que demonstrar as belezas que temos produzidas por uma das matrizes de nosso povo, que é o povo negro. É essa beleza que temos que brilhar e para brilhar precisamos livrar a cidade do racismo. Tenho falado muito que quero fazer de São Paulo uma cidade livre de racismo e valorizando nossas tradições.