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Bolsonaro abre as portas do MEC para privatização

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Decreto assinado por Bolsonaro no fim de 2019 reestrutura o Ministério da Educação (MEC), atualmente comandado por Abraham Weintraub.

 

O texto, que altera a função de cargos e secretarias da pasta, foi publicado no Diário Oficial em 31 de dezembro.

 

Em ao menos 25 trechos do decreto, o governo prevê a possibilidade de articulação do MEC com entidades privadas. Segundo o texto, políticas públicas e programas de educação de ao menos três secretarias e seis diretorias internas do ministério poderiam ser executados por meio de fundações ou instituições privadas.

 

A mudança afeta as secretarias de:

Educação Básica

Educação Profissional e Tecnológica

Educação Superior

 

O texto também prevê a busca por articulação com entidades privadas nas seguintes diretorias:

Políticas e Diretrizes da Educação Básica

Formação Docente e Valorização de Profissionais da Educação

Políticas para Escolas Cívico-Militares

Políticas e Regulação da Educação Profissional e Tecnológica

Articulação e Fortalecimento da Educação Profissional e Tecnológica

Políticas de Alfabetização

 

O que propõe o decreto

 

Os órgãos internos do MEC ficam autorizados a articular políticas públicas e programas educacionais com entidades privadas em áreas como formação de profissionais, avaliação de recursos didáticos e pedagógicos, produção de metodologias e formulação e implantação de políticas de educação profissional e tecnológica, por exemplo.

 

O texto autoriza até que fundações ou instituições privadas participem ao lado do ministério do monitoramento e da avaliação de indicadores das políticas e ações relacionadas à educação básica.

 

O texto ainda prevê articulação com entidades privadas, incluindo as estrangeiras, para o “avanço do ensino superior”. As parcerias, segundo o texto, poderiam acontecer também na área de alfabetização.

 

O Future-se

 

Uma das principais propostas do MEC em 2018 foi justamente a abertura das universidades e institutos federais à realização de parcerias público-privadas, criação de fundos com doações e até a venda dos nomes dos campi. Lançado em julho de 2019, o Future-se tinha como objetivo garantir autonomia financeira às instituições de ensino, por meio da captação de recursos próprios e do empreendedorismo.

 

A proposta foi rejeitada pelas instituições que, em 2019, enfrentaram um contingenciamento de recursos que impactou o funcionamento das universidades. Em outubro, 29 delas já tinham rejeitado o programa, que tem adesão voluntária, segundo o sindicato dos docentes das instituições de ensino superior.

No início de janeiro de 2020, o MEC abriu pela segunda vez o programa para consulta pública. A pasta precisa ainda enviar o texto ao Congresso para a aprovação do programa, que prevê a alteração de algumas leis para poder ser colocado em prática.

 

O Decreto

 

Para entender as consequências para a educação pública do texto assinado por Bolsonaro, o Nexo conversou com

Em entrevista ao jornal Nexo, a doutora em educação Miriam Fábia Alves, professora da UFG (Universidade Federal de Goiás) e vice-presidente da Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), apontou as consequência da medida:

 

Como avalia o decreto?

​​O decreto tem uma ênfase muito grande na educação básica. À Secretaria de Educação Básica compete à implementação e o acompanhamento das políticas. Essa relação entre educação básica e iniciativa privada está explicitamente aprofundada no decreto. Aparece em outros lugares, mas esse é um filão. Temos visto crescer significativamente o interesse do setor privado em se apropriar da possibilidade do recurso público nessa que é a maior fatia do bolo da educação brasileira hoje.

 

Como se dá a participação da iniciativa privada nas políticas de educação hoje?

Parte significativa da educação básica está sob competência e responsabilidade dos estados e municípios. São eles os responsáveis. Essa incidência do setor privado se dá especialmente com os acordos, os termos de cooperação com o setor privado, especialmente em assessorias, prestação de serviços e produção de material didático para as escolas. É uma coisa que não é de agora no Brasil. Ela vem crescendo nos últimos anos e tem ganhado fôlego. O programa O Jovem de Futuro [lançado em 2007, é uma parceria entre o Instituto Unibanco e secretarias estaduais de educação para oferecer assessoria técnica, formações, análises de dados e o apoio de sistemas tecnológicos], por exemplo, é uma entrada da iniciativa privada na rede pública de educação básica, especialmente pensando no ensino médio, que se dá com diferentes formas de acordos e termos: assessoria, acompanhamento de programas, formação de professores.

 

Considerando o papel dos estados e municípios, o que significa esse decreto do MEC, que é um órgão federal?

Do ponto de vista do que é a política, torna-se explícito quem é o interlocutor na proposição da política educacional brasileira. Esses setores privados ganham um protagonismo muito significativo na concepção, na proposição da política e no seu acompanhamento. Uma das questões que está posta com o decreto é o acompanhamento e a produção de dados sobre a política educacional brasileira. Isso não é qualquer coisa. Quando vemos o artigo 11º, um dos itens diz que a Secretaria de Educação Básica pode organizar e coordenar os sistemas de gestão da informação, de monitoramento e de avaliação e analisar os indicadores em articulação com entidades privadas. Historicamente, no Brasil, esse papel foi feito especialmente na esfera pública. Mesmo que muitos desses dados sejam tratados e apresentados pelas entidades privadas, esse dado vem do poder público. Pessoalmente, avalio que isso é um risco muito grande do ponto de vista das desigualdades que marcam a realidade educacional brasileira. Isso agora parece que vai ganhando outra conformação.

 

Quais consequências pode ter?

Vou pegar a questão do Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira]. Quem é que historicamente produziu esses dados [indicadores educacionais] nas últimas décadas? O Inep é o grande responsável. Um órgão do poder público, com os profissionais do poder público. Se eu terceirizo essa tarefa, acho que a gente corre riscos de ampliar as desigualdades educacionais brasileiras. E também me preocupa sobremaneira o que é que nós vamos dizer da educação brasileira quando eu lido com essa flexibilização proposta aqui. Eu não acho que isso traga benefícios ao conjunto da educação nacional, pelo contrário. Penso que a gente tem aqui uma sinalização de mais problemas.

 

Os governos anteriores já seguiam essa linha de articulação com a iniciativa privada?

Tem uma penetração do setor privado na educação brasileira que não é de agora. É histórica. O que me parece mudar na perspectiva aqui é que a gente tem um cenário em que se amplia essa participação do setor privado. Como é que esse controle se dá com essa ampliação? Isso é muito mais complicado. No Brasil a gente tem uma construção de uma narrativa que é de desvalorização do público e de supervalorização do privado. E acho que essa forma com que o governo tem atualmente lidado, como se a iniciativa privada fosse boazinha, generosa, complacente, e quisesse o bem do país, é um equívoco. A iniciativa privada tem seu lugar. Mas essa forma endossa ainda mais essa narrativa que desvaloriza o público e valoriza o privado. O setor privado tem problemas e a gente vem acompanhando isso. A gente precisa ponderar o que a gente chama de qualidade da iniciativa privada.

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5ª edição da Mostra Permanente de Cinema Italiano da Umes começa dia 03 de fevereiro

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Situado no coração do Bixiga, o Cine-Teatro Denoy de Oliveira inicia no dia 03 de fevereiro sua Mostra Permanente de Cinema Italiano. 

 

Chegando ao 5º ano e com mais de 150 filmes exibidos, a Mostra foi inaugurada em 2016 pelo CPC-UMES (Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo).

 

Neste ano vamos exibir 40 obras de 23 cineastas e, pelos olhos de cada um deles, a história da Itália e da humanidade nos é apresentada: a sátira social da “commedia all’italiana” de Luciano Salce, o realismo fantástico de Federico Fellini, o registro das condições de vida dos trabalhadores rurais por parte de Ermanno Olmi, as angústias da vida entediada da burguesia italiana – uma marca de Michelangelo Antonioni – e a impressionante luta de um povo contra o fascismo é assim exibido, sem rodeios, pelo neorrealismo de Roberto Rossellini e Luigi Zampa. Durante a 5ª edição, traremos também alguns dos lançamentos mais recentes da cinematografia italiana, que nos mostra que essa continua sendo uma das maiores do mundo.

 

A partir do dia 18 de maio, a Mostra Permanente de Cinema Italiano  será realizada em uma nova proposta, um jeito novo de transmitir cinema a todos que buscam cultura de qualidade.

 

Nossas exibições serão à distância, sempre às segundas-feiras, às 19 horas, mas agora você assistirá de casa!

 

Os filmes são exibidos sempre às segundas-feiras, às 19h, com entrada franca. Esperamos vocês!

 

Para saber mais sobre como participar da sessão, clique aqui.

 

 

MOSTRA PERMANENTE DE CINEMA ITALIANO

 

Para receber o link da sessão da sessão,
fale com a gente no nosso


WhatsApp (11) 94662-6916


ou pelo nosso
email: cineteatro@umes.org.br

 

 

PROGRAMAÇÃO DE 2020

 

03/02 – EM GUERRA POR AMOR

Pif (2016), 99 min.

 

10/02 – NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO

Ettore Scola (1974), 127 min.

 

17/02 – A ROMANA

Luigi Zampa (1954), 108 min.

 

02/03 – VIVER EM PAZ

Luigi Zampa (1947), 90 min.

 

09/03 – ANOS DIFÍCEIS

Luigi Zampa (1948), 113 min.

 

16/03 – OS GIRASSÓIS DA RÚSSIA

Vittorio de Sica (1970), 107 min.

 

23/03 – O CONDENADO DE ALTONA

Vittorio de Sica (1962), 114 min.

 

30/03MATRIMÔNIO À ITALIANA

Vittorio de Sica (1964), 102 min.

 

06/04 – BEM-VINDO AO NORTE

Luca Miniero (2012), 110 min.

 

13/04 – A AVENTURA

Michelangelo Antonioni (1960), 144 min.

 

27/04OS CARBONÁRIOS

Luigi Magni (1969), 125 min.

 

04/05 – EM NOME DO PAPA REI

Luigi Magni (1977), 105 min.

 

11/05 – O MONSTRO NA PRIMEIRA PÁGINA 

Marco Bellocchio (1972), 86 min.

 

18/05 – AMARCORD

Federico Fellini (1973), 127 min.

 

25/05 – NOITES DE CABÍRIA

Federico Fellini (1957), 110 min.

 

01/06 – ABISMO DE UM SONHO

Federico Fellini (1952), 86 min.

 

08/06 – INVESTIGAÇÃO SOBRE UM CIDADÃO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

Elio Petri (1970), 112 min.

 

15/06 – O ASSASSINO

Elio Petri (1961), 97 min.

 

22/06 – CONDENADO PELA MÁFIA

Elio Petri (1967), 99 min.

 

29/06 – CINEMA PARADISO

Giuseppe Tornatore (1988), 124 min.

 

06/07 – A DESCONHECIDA 

Giuseppe Tornatore (2006), 118 min.

 

13/07 – FANTOZZI II

Luciano Salce (1976), 110 min.

 

20/07 – ESPOSAMANTE

Marco Vicario (1977), 106 min.

 

27/07 – O BELO ANTONIO

Mauro Bolognini (1960), 105 min.

 

03/08 – A CASA INTOLERANTE

Mauro Bolognini (1959), 110 min.

 

10/08 – LIBERA, AMORE MIO!

Mauro Bolognini (1975), 110 min.

 

17/08 – CONHEÇO BEM ESSA MOÇA

Antonio Pietrangeli (1965), 115 min.

 

24/08 – A ÁRVORE DOS TAMANCOS

Ermano Olmi (1978), 190 min.

 

31/08 – A NOIVA

Ermano Olmi (1963), 77 min.

 

14/09DÁ PARA FAZER

Giulio Manfredonia (2008), 111 min.

 

21/09 – O GRITO DA CARNE

Mario Mattoli (1948), 91 min.

 

28/09DEUSES MALDITOS

Luchino Visconti (1969), 150 min.

 

05/10 – ROCCO E SEUS IRMÃOS

Luchino Visconti (1960), 177 min.

 

12/10O INOCENTE

Luchino Visconti (1976), 129 min.

 

19/10 – UMA JANELA PARA A LUA

Alberto Simone (1995), 88 min.

 

26/10 – OS CEM PASSOS

Marco Tulio Giordana  (2000), 114 min.

 

09/11 – O MELHOR DA JUVENTUDE – PARTE 1

Marco Tullio Giordana (2003), 180 min.

 

16/11 – O MELHOR DA JUVENTUDE – PARTE 2

Marco Tullio Giordana (2003), 180 min.

 

23/11 – CIAO, PROFESSORE! 

Lina Wertmüller (1992), 100 min.

 

30/11 – ROMA CIDADE ABERTA

Roberto Rosselini (1945), 105 min.

 

DIRETORES APRESENTADOS NA PROGRAMAÇÃO DE 2020

 

PIF (1972)

Conhecido como Pif, Pierfrancesco Diliberto é um apresentador de TV nascido em Palermo. Iniciou sua carreira artística trabalhando como assistente de direção para Franco Zeffirelli em “Chá Com Mussolini” (1999) e para Marco Tulio Giordana no filme “Os Cem Passos” (2000). Depois disso, começou a trabalhar para a televisão, primeiro como autor e depois como apresentador de programas de entretenimento. Como a máfia sempre esteve presente em seu trabalho, publicou em 2012 um conto intitulado “Sarà stata una fuga di gas” no livro “Dove eravamo. Vent’anni dopo Capaci e Via D’Amelio”, um compilado de vários autores em lembrança aos 20 anos da morte de Giovanni Falcone e Paolo Borsellino. Como diretor de cinema, Pif lançou dois filmes: “A Máfia Mata Apenas No Verão” (2013) e “Em Guerra Por Amor” (2016).

 

ETTORE SCOLA (1931-2016)

Ettore Scola nasceu em Trevico, Itália. Ingressou na indústria cinematográfica como roteirista em 1953. Escreveu para Steno (“Um Americano em Roma”, 1954), Luigi Zampa (“Gli Anni Ruggenti”, 1962), Dino Risi (“Il Sorpaso”, 1962). Dirigiu seu primeiro filme, “Vamos Falar Sobre as Mulheres”, em 1964. Obteve reconhecimento internacional com “Nós Que Nos Amávamos Tanto” (1974), um tocante painel da Itália do pós-guerra. Em 1976, ganhou o Prêmio de Melhor Direção no 29º. Festival de Cannes, com “Feios, Sujos e Malvados”. Desde então, realizou vários filmes de sucesso, incluindo “Um Dia Muito Especial” (1977), “Casanova e a Revolução” (1982), “O Baile” (1983), “Splendor” (1987), “O Jantar” (1998), “Concorrência Desleal” (2000). Em 2011 dirigiu “Que Estranho se Chamar Federico”, uma homenagem ao amigo Federico Fellini.

 

LUIGI ZAMPA (1905-1991)

Luigi Zampa nasceu em 1901 em Roma. Estudou Engenharia e, nesse período, ele escreveu algumas comédias, entre 1930 e 1932, além de, em 1933, dirigir seu primeiro o curta-metragem documental “Risveglio Di Una Cittá”. Logo após, estudou Roteiro e Direção no consagrado Centro Sperimentale di Cinematografia, entre os anos 1932 e 1937. Sua atuação como diretor de longa se deu com “L’Attore Scomparso” (1941), tendo dirigido filmes como seu primeiro sucesso, o premiado “Viver em Paz” (1947), indo clássicos como “Campane a Martello” (1949) e “Anni Ruggenti ” (1962). Em suas obras, o entretenimento está intrinsecamente ligado à notação de costumes decorrente da observação do comportamento italiano diante de mudanças na sociedade.

 

VITTORIO DE SICA (1901-1974)

Diretor, ator, escritor e produtor, Vittorio De Sica nasceu em Sora, mas cresceu em Nápoles e começou a trabalhar cedo como auxiliar de escritório, para sustentar a família. Sua paixão pelo teatro levou-o aos palcos. Ao final da década de 20, ele fazia sucesso como ator. Em 1933, montou sua própria companhia.

De Sica voltou-se para o cinema em 1940. Ao amadurecer, tornou-se um dos fundadores do neorrealismo, emplacando uma sequência de quatro clássicos que figuram em todas as antologias: “Vítimas da Tormenta” (1946), “Ladrões de Bicicletas” (1948), “Milagre em Milão” (1950), “Humberto D” (1951) – os dois primeiros realizados em parceria com o escritor Cesare Zavattini, outro papa do movimento. Também dirigiu “O Juízo Universal” (1961), “La Rifa” (1962, episódio de “Decameron 70”), “Ontem, Hoje, Amanhã” (1963), “O Ouro de Nápoles” (1964), “Matrimônio à Italiana” (1964), “Girassóis da Rússia” (1970), “Jardim dos Finzi-Contini” (1970), “Amargo Despertar” (1973).

 

LUCA MINIERO (1967)

Formado em Literatura Moderna, o napolitano Luca Miniero começou seu trabalho dirigindo campanhas para a TV. Seu primeiro filme, “Piccole Cose Di Valore Non Quantificable” (1999), um curta feito em parceria com o amigo Paolo Genovese, chamou atenção da crítica para o novo diretor que surgia. Luca Miniero se estabeleceu no gênero da comédia. Em 2002, seu primeiro longa-metragem “Incantesimo Napoletano”, também em parceria com Paolo Genovese, ganhou um David di Donatello e dois prêmios no Globo de Ouro da Itália. Em 2010, o diretor produz seu primeiro trabalho solo, “Bem-Vindo ao Sul” foi sucesso de bilheteria e o filme mais assistido na Itália naquele ano, façanha que ele volta a conquistar em 2012 com a sequência “Bem-Vindo ao Norte”. Dirigiu também “La scuola più bella del mondo” (2014), “Un boss in salotto” (2014) e “Sono tornato” (2018).

 

MICHELANGELO ANTONIONI (1912-2007)

Michelangelo Antonioni nasceu em Ferrara. Graduado em Economia, Michelangelo chega à Roma em 1940, onde começa a estudar no Centro Sperimentale di Cinematografia na Cinecittà. O primeiro sucesso de Antonioni foi “A Aventura” (1960), seguido por “A Noite” (1961) e “O Eclipse” (1962), formando uma trilogia. Em 1964, Antonioni lança o seu primeiro filme colorido “O Deserto Vermelho”, que junto com os outros três, formam uma tetralogia. Em 1966, lança o seu primeiro filme em inglês, “Blow-Up – Depois Daquele Beijo”, e “Zabriskie Point” (1970), rodado nos Estados Unidos.

Em 1985, ele sofreu um acidente vascular cerebral, e, apesar de ter ficado parcialmente paralítico e quase impossibilitado de falar, dirigiu outro filme com ajuda de Wim Wenders, “Além das Nuvens” (1995). Nesse mesmo ano é premiado com um Oscar pelo conjunto da sua obra.

 

LUIGI MAGNI (1928-2013)

Luigi Magni nasceu em Roma e começou sua carreira como roteirista em 1956 com o filme “Tempo de Férias”. Em 1968, foi roteirista do filme de Mario Monicelli, “A Garota com a Pistola”, que foi sucesso comercial e de crítica projetando Magni à direção. Estreou com a comédia “Faustina”(1968), mas foi com o filme “Os Carbonários”(1969) que o cineasta alcançou sucesso, tendo a maior bilheteria do cinema italiano do ano. Além disso, o filme marcou o início da parceria com o ator Nino Manfredi. Em 1977, Magni alcançou o reconhecimento crítico e alguns prêmios importantes, como o Prêmio David di Donatello, com o filme “Em Nome do Papa Rei”. 

Já foi membro do júri no Festival Internacional de Filmes de Moscou e se aposentou do cinema em 2004, junto com a morte do ator Nino Manfredi, com quem trabalhou até 2003.

 

MARCO BELLOCCHIO (1939)

Bellocchio nasceu em Bobbio, Emilia-Romagna. Estudou cinema em Roma, no Centro Experimental de Cinematografia (1959-62), e depois em Londres. De volta a Itália, dirigiu, com a idade de 26 anos, seu primeiro filme, o polêmico e inconformista “De Punhos Cerrados” (1965), que é até hoje uma de suas obras mais assistidas. Realizou cerca de 30 longas, entre os quais se incluem “La China È Vizina” (1967), “Nel Nome del Padre” (1972), “Sbatti Il Mostro In Prima Pagina” (1972), “A Gaivota” (1977), “Diabo no Corpo” (1986), “Il Sorriso de Mia Madre” (2002), “Bom Dia, Noite” (2003), “Vencer” (2009), “Bella Addormentata” (2012).

 

FEDERICO FELLINI (1920-1993)

Nascido e criado em Rimini, região da Emilia-Romagna, Fellini se mudou para Roma, em 1939, e começou a ganhar a vida escrevendo e desenhando caricaturas na revista semanal Marc´Aurelio – vários desses textos foram adaptados para uma série de programas de rádio sobre os recém casados “Cico e Paullina”. Estreou no cinema, em 1942, redigindo histórias o para o comediante Aldo Fabrizzi. Em 1943, casou-se com a atriz Giulietta Masina – vencedora no Festival de Cannes pela participação em “Noites de Cabíria”, filme dirigido pelo próprio Fellini em 1957. A partir de 1 945, colaborou intensamente como roteirista com três dos principais criadores do movimento neorrealista (Roberto Rossellini, Alberto Lattuada, Pietro Germi), antes de desenvolver um estilo alegórico e barroco que se tornou sua marca registrada.

Fellini participou da elaboração de 51 roteiros e dirigiu 25 filmes, entre os quais “Os Boas Vidas” (1953), “Estrada da Vida” (1954), “Noites de Cabíria” (1957), “A Doce Vida” (1960), “8½” (1963), “Roma” (1972)”, “Amarcord” (1973), “Ensaio de Orquestra” (1978). “E La Nave Va” (1983).

 

ELIO PETRI (1929-1982)

Um dos mais fascinantes e irreverentes diretores de toda a Europa, o romano Elio Petri dirigiu os clássicos “Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita” (1970), “A Classe Operária Vai ao Paraíso” (1972) e “Juizo Final” (1976). Começou a carreira como crítico de cinema do L’Unità, jornal do Partido Comunista Italiano. Escreveu roteiros para Giuseppe De Santis, Carlos Lizzani e Dino Risi. Estreou na direção com “O Assassino” (1961). Realizou 13 longas, entre os quais “A Décima Vítima” (1965), “Condenado Pela Máfia” (1967), “A Propriedade não é mais um Furto” (1973), “A Boa Notícia” (1979). Seu cinema político combinava a abordagem marxista com uma alta capacidade cinematográfica na utilização de gêneros e estilos diversos, contribuindo para o debate do período, com observações sobre a sociedade e o poder, explorando questões sociais ainda hoje relevantes, como o crime organizado, a relação entre autoridades e cidadãos, o papel do artista, os direitos de classe e o consumismo.

 

GIUSEPPE TORNATORE (1956)

Nascido na Sicília, Tornatore atuou no teatro, foi fotógrafo free-lance e trabalhou na TV estatal italiana, a RAI. Lançou seu primeiro longa-metragem em 1985: “O Camorrista”. Em 1988, obteve sucesso mundial e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com “Cinema Paradiso”. Dirigiu também “Estamos Todos Bem” (1990), “Sempre aos Domingos” (1991), “Uma Simples Formalidade” (1994), “O Homem das Estrelas” (1995), “A Lenda do Pianista do Mar” (1998), “Malena” (2000), “A Desconhecida” (2006), “Baaria, A Porta do Vento” (2009), “O Melhor Lance” (2013), “Lembranças de um Amor Eterno” (2016).

 

LUCIANO SALCE (1922-1989)

Luciano Salce nasceu e morreu em Roma. Foi ator, diretor e cineasta, tendo se formado na Regia Accademia di Arti Drammatica, em Roma, atuou como assistente de direção para Vito Pandolfi e Luchino Visconti no final da década de 1940. Já em 1950, Salce, sendo um jovem italiano, vem para o Brasil dirigindo importantes trabalhos para o Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, como “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas Filho, realizado em 1951, no Theatro Municipal de São Paulo, estrelado pela icônica atriz Cacilda Becker.

Salce assina seu primeiro trabalho cinematográfico para a companhia Vera Cruz como diretor da comédia “Uma Pulga na Balança” (1953), ainda no Brasil. Voltando pra Itália em 1954, dirige filmes como “As Pílulas do Amor” (1960) e “Fantozzi” (1975).

 

MARCO VICARIO (1925)

Nascido Renato Vicario, mudou seu nome no início da carreira como ator, aos 25 anos, para não ser confundido com o famoso ator de fotonovela, Renato Vicario. Frequentou aulas de teatro no Centro Sperimentale di Cinematografia de Roma e atuou em cerca de 17 filmes, mas só obteve algum sucesso quando iniciou sua carreira como produtor, diretor e roteirista, através da Atlantic Film, produtora que ele mesmo fundou.

Entre seus filmes mais conhecidos estão: “7 homens de ouro” (1965), “O Grande Sucesso dos 7 Homens de Ouro” (1966) e “Esposamante” (1977).

 

MAURO BOLOGNINI (1922-2001)

Mauro Bolognini nasceu em Pistoia, na região da Toscana. Formado também em arquitetura, Mauro estudou cenografia na Academia Nacional Italiana de Cinema. Começou a trabalhar como assistente dos diretores Luigi Zampa na Itália, e Yves Allégret e Jean Delannoy na França. Estreou em 1953 com o filme ”Ci Troviamo In Galleria”. Seu primeiro sucesso de crítica e público foi o filme “O Belo Antônio”, em 1960. Além de grandes títulos de cinema, Bolognini também dirigiu produções teatrais e óperas.

Outros filmes dirigidos por Bolognini foram: ”A Longa Noite das Loucuras’ (1959), com Elsa Martinelli; ”Caminho Amargo” (1961), com Jean-Paul Belmondo e Claudia Cardinale; ”Desejo que Atormenta” (1962), com Anthony Franciosa e Claudia Cardinale; ”As Bruxas” (1967), com Silvana Mangano; ”A Grande Burguesia” (1974), com Catherine Deneuve e Giancarlo Giannini; entre outros.

 

ANTÔNIO PIETRANGELI (1919-1968)

Antonio Pietrangeli foi um grande praticante do gênero de comédia. Começou no universo do cinema escrevendo resenhas de filmes para revistas italianas. Como roteirista, destaca-se sua participação nas obras “Obsessão” (1943), dirigido por Luchino Visconti e “Europa ‘51”(1952), dirigido por Roberto Rossellini. Na direção, estreou em 1953 com o filme “O Sol nos Olhos”. “Adua e seus Amigos” (1960) foi um filme de destaque, contando com Marcello Mastroianni e Simone Signoret. O filme “Conheço Bem Essa Moça” rendeu três prêmios Nastro d’Argento como melhor diretor, melhor roteiro e melhor ator coadjuvante para Ugo Tognazzi.

Pietrangeli faleceu aos 49 anos enquanto trabalhava no filme “História de um Adultério”, que foi finalizado pelo diretor Valerio Zurlini.

 

ERMANNO OLMI (1931-2018)

Nascido em Bergamo, Ermanno Olmi começou em 1953 a dirigir documentários e curtas. Seu primeiro longa foi “O Tempo Parou” (1959). Dois anos depois, “O Posto” (1961) rende a Olmi o prêmio David di Donatello de Melhor Diretor. Em 1978, “A Árvore dos Tamancos” ganhou 18 prêmios, entre eles a Palma de Ouro e o Prêmio do Júri Ecumênico, em Cannes, e o César de Melhor Filme Estrangeiro, na França. 

Ermanno Olmi também dirigiu “Camminacammina” (1983), “A Lenda do Santo Beberrão” (1988), “O Segredo do Bosque Velho” (1993), “O Objetivo das Armas” (2001) e “Tickets” (2005), em parceria com o iraniano Abbas Kiarostami e o inglês Ken Loach. Apesar da saúde debilitada, lançou em 2014 mais um filme de sucesso, “Os Campos Voltarão”.

 

GIULIO MANFREDONIA (1967)

Giulio Manfredonia nasceu em Roma. Começou sua carreira como assistente de direção e no ano de 2001 estreou como diretor com a comédia “Se Fossi In Te”. Seu próximo filme segue também o gênero comédia, “È Già Ieri” (2004) é uma releitura de um bem-sucedido filme americano. Em 2008, lança “Dá Para Fazer”, filme inspirado na história real de uma cooperativa de ex-pacientes de um hospital psiquiátrico. Além dos trabalhos para o cinema, dirigiu séries para televisão.

 

MARIO MATTOLI (1898-1980)

Nascido em Tolentino, Macerata, fundou a companhia teatral Spettacoli Za-bum com o objetivo de misturar o humor dos atores de revista ao drama dos atores da prosa. Por lá, passaram nomes que se tornariam muito conhecidos, como Vittorio de Sica, Alberto Sordi e Aldo Fabrizi. Em 1934, fez sua estreia como diretor de cinema em “Tempo Massimo”, cujo roteiro foi escrito também por ele e estrelado por Vittorio De Sica. Em seus 32 anos de carreira, dirigiu mais de 80 longas-metragens, firmando uma parceria de sucesso com Totò, com quem realizou 16 filmes.

Entre suas obras mais conhecidos estão “Dramas da Nobreza” (1938), “Aulas de Amor” (1941), “O Grito da Carne” (1948), “O Turco Napolitano”, (1953), “Miséria e Nobreza” (1954) e “O Médico dos Loucos” (1954).

 

LUCHINO VISCONTI (1906-1976)

Luchino Visconti di Modrone, conde de Lonate Pozzolo, nasceu em Milão e descende da família Visconti da antiga nobreza italiana. Começou seu trabalho no cinema como assistente do diretor francês Jean Renoir nos filmes “Toni” (1934), “Les Bas-Fonds” (1936), “Partie de Campagne” (1936). Ingressou no Partito Comunista d’Italia em 1942. Seu primeiro filme como diretor foi “Obsessão” (1943). Voltou-se em seguida para o teatro. Em 1948, realizou “La Terra Trema”, um clássico do cinema neorrealista. Recebeu sua primeira premiação no Festival de Veneza (Leão de Prata), em 1957, pelo filme “As Noites Brancas” – baseado em conto de Fiodor Dostoievski. Em 1960, chega aos cinemas “Rocco e Seus Irmãos” e, em 1963, o mais aplaudido de seus trabalhos, “O Leopardo”, adaptação do romance de mesmo nome de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Depois vieram “As Vagas Estrelas da Ursa” (1965), “O Estrangeiro” (1967), “Os Deuses Malditos” (1969), “Morte em Veneza” (1971), “Ludwig” (1972), “Violência e Paixão” (1974) e “O Intruso” (1976).

Visconti assina também a direção de 42 peças teatrais e 20 óperas encenadas entre 1945 e 1973.

 

ALBERTO SIMONE (1956)

Nascido em Messina, Alberto Simone formou-se em Psicologia na Sapienza Università di Roma. Estreou no cinema com um curta-metragem chamado “La scala poggiata alla luna”, em 1993. Depois, dirigiu seu primeiro longa-metragem, “Uma Janela para a Lua” (1995), no qual utiliza sua experiência como psicólogo. O filme lhe rendeu o prêmio David di Donatello de Melhor Diretor e o Globo de Ouro de Melhor Obra-Prima (prêmio atribuído ao melhor filme do ano na Itália). Em colaboração com a RAI, empresa estatal de rádio e televisão, dirigiu e produziu filmes e séries de sucesso para a televisão, entre os quais: “Uma história qualquer” (2000), “As razões do coração” (2001), “Um defeito de família” (2002), “Uma família em amarelo” (2005), “Em nome do filho” (2008) e “Comissário Manara” (2009).

 

MARCO TULLIO GIORDANA (1950)

O milanês Marco Tullio Giordana iniciou sua carreira como co-roteirista do documentário “Forza Italia!” (1978) de Roberto Faenza. Depois, lançou seu primeiro filme, “Maledetti vi amerò” (1980), que foi exibido no mesmo ano no Festival de Cannes e foi bastante elogiado pela crítica. Depois disso, colaborou e dirigiu diversos outros filmes, tanto para o cinema quanto para a televisão. Em 2000, com o filme “Os Cem Passos”, ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza. Em 2003, contratado pela RAI para produzir uma minissérie de quatro episódios, o cineasta lança “O Melhor da Juventude”, que acaba por ser lançado no Festival de Cannes e, posteriormente, no circuito de cinema italiano como um filme dividido em duas partes. Com esse filme, Marco Tullio Giordana conquistou 6 prêmios David di Donatello, incluindo o de Melhor Filme, Melhor Roteiro e Melhor Diretor assim como os prêmios de Melhor Diretor e Melhor Roteiro no Globo de Ouro italiano.

Também dirigiu “Pasolini – Um Delito Italiano” (1995), “Quando sei nato non puoi più nasconderti” (2005), “Sanguepazzo” (2008), “Piazza Fontana: Uma Conspiração Italiana” (2012) e “Nome di donna” (2018).

 

LINA WERTMÜLLER (1928)

Nascida em Roma, Arcangela Felice Assunta Wertmüller von Elgg Spanol von Braucich estudou teatro e trabalhou como assistente de direção de Giorgio Lullo nos anos 50. No cinema, foi assistente de Federico Fellini em “Oito e Meio” (1963). Estreou como diretora com “I Basilischi” (1963). Em 1965 dirigiu o filme em episódios “Questa Volta Parliamo di Uomini” e para a televisão “Il Giornalino di Gian Burrasca”, adaptação do romance homônimo de Vamba. Assinou outros dezessete longa-metragens, entre os quais “Mimi, o Metalúrgico” (1972), “Amor e Anarquia” (1973), “Pasqualino Sete Belezas” (1975), “Sábado, Domingo e Segunda” (1990), “Ninfa Plebeia” (1996). Em 2001 lançou “A Pequena Orfã”, telefilme estrelado por Sofia Loren, extraído do romance homônimo da escritora napolitana Maria Orsini Natale.

 

ROBERTO ROSSELINI (1906-1977)

Nascido em Roma, Roberto Rossellini realizou, em 1945, a obra tida como marco zero do neorrealismo, movimento que influenciou as correntes estéticas do pós-guerra, desde Godard e Satyajit Ray até o Cinema Novo brasileiro. Seu pai era proprietário do cine-teatro Barberini. Nos anos 30, quando a família teve os bens confiscados pelo governo fascista, Rossellini ganhou a vida na indústria cinematográfica e chegou a obter sucesso com filmes encomendadas pelo regime. Ao mesmo tempo, registrava em segredo as atividades da Resistência. Nos últimos dias da ocupação nazista, o diretor levou a câmera às ruas para captar a insurreição popular que libertou a cidade em junho de 1944. Nascia o clássico “Roma, Cidade Aberta” (1945), baseado no roteiro que criou em parceria com Sergio Amidei e Federico Fellini.

Entre suas obras estão “Paisá” (1946), “Alemanha Ano Zero” (1948), “Stromboli” (1949), “Europa 51” (1952), “Romance na Itália” (1953), “Joana D’Arc” (1954), “Índia: Matri Bhumi” (1959), “De Crápula a Herói” (1959), “Era Noite em Roma” (1960).

Nos anos 60-70, com foco na TV, fez filmes sobre personagens históricos, a começar por Giuseppe Garibaldi, “Viva a Itália” (1961). Nesta safra se incluem “A Tomada do Poder por Luís XIV” (1966), “Sócrates” (1971), “Blaise Pascal” (1971), “Santo Agostinho” (1972), “Descartes” (1974), “Anno Uno” (1974), “O Messias” (1975).

Vídeo hilariante com Rolando Lero e vários personagens da Escolinha do Professor Raimundo

 

 

Em 2019, uma das perguntas mais feitas pelos brasileiros foi “Onde está Queiroz?”, em referência ao motorista e ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, apontado como um dos operadores do esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando Flávio ocupava o cargo de deputado.

 

 

Em vídeo hilariante da Escolinha do Professor Raimundo, o personagem Rolando Lero (interpretado nesta nova versão pelo comediante Marcelo Adnet), confunde o Queiroz do clã Bolsonaro com o escritor português, Eça de Queirós, ao ser questionado pelo professor.

 

“Ah o Queiroz… Sempre metido nos rolos, mas sabia fazer dinheiro, o danado”, responde Rolando Lero.

 

 

Após a ajuda do professor, ele continua: “Queiroz foi um espremedor de laranja, com uma barraquinha ali, no Rio das Pedras”.

 

Queirós

 

Eça de Queirós (1845-1900) foi um dos mais importantes escritores do Realismo em Portugal, dentre as suas principais obras estão: O Crime do Padre Amaro (1875), O Primo Basílio (1878), O Mandarim (1879), Relíquia (1887) e Os Maias (1888).

 

Queiroz

 

Fabrício Queiroz, amigo pessoal de Jair Bolsonaro desde 1984, quando serviram no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, ocupava cargo de assessor de Flávio na Alerj de onde, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, operava esquema de desvio de verbas por meio da chamada “rachadinha”, em que recolhia parte dos salários dos assessores de seu gabinete.

 

Entre 2014 e 2017, Queiroz movimentou R$ 7 milhões na sua conta. Em entrevista ao SBT, afirmou que o dinheiro é fruto da negociação de carros usados.

 

Além de Queiroz e seus familiares, também trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro, familiares de milicianos, como a esposa e mãe de Adriano Magalhães da Nóbrega (que está foragido), chefe do Escritório do Crime, central de assassinos de aluguel. Um dos assassinos da vereadora Marielle Franco, Ronnie Lessa, faz parte dessa milícia.

 

O Escritório do Crime atua a partir da região de Rio das Pedras, controlada pelos milicianos, onde Queiroz foi localizado após o caso vir à tona.

imprecionatne

Abraham Weintraub, o “imprecionante”

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Assim como também é impressionante a ignorância de integrantes deste governo

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi alvo de piadas na quarta-feira (08) depois de escrever “imprecionante” em vez de “impressionante” em resposta a uma publicação do deputado Eduardo Bolsonaro (sem partido) no Twitter. Avisado, o ministro apagou o tuíte com o a nova palavra rapidamente.

Só que não adiantou ele sair desesperado para apagar a postagem. Já era tarde. A preciosidade do vernáculo do ministro já tinha sido capturada pelos internautas.

A ignorância do ministro da Educação, o bolsonarista Abrahan Weintraub, caiu na rede e viralizou.

“O ministro da Educação escrevendo ‘imprecionante’ é o reflexo da realidade da educação brasileira”, escreveu uma usuária indignada.

“Caro @BolsonaroSP, agradeço seu apoio. Mais imprecionante [sic]: não havia a área de pesquisa em Segurança Pública. Agora, pesquisadores em mestrados, doutorados e pós-doutorados poderão receber bolsas para pesquisar temas, como o mencionado por ti, que gerem redução da criminalidade”, publicou Weintraub.

A publicação de Eduardo era um comentário a um tuíte anterior do ministro. Citando Weintraub e Sergio Moro (Justiça), o deputado diz que o Brasil nunca teve uma pesquisa feita por órgão oficial sobre o uso defensivo de armas de fogo.

“Só existiu [estudo sobre] uso ofensivo para exatamente demonizá-las. Seria interessante apoiar um projeto assim, caso haja oportunidade”, sugere.

Ministros @AbrahamWeint e @SF_Moro nunca tivemos no Brasil uma pesquisa feito por órgão oficial sobre o uso defensivo de armas de fogo. Só existiu uso ofensivo para exatamente demonizá-las. Seria interessante apoiar um projeto assim, caso haja oportunidade.

STF censura

STF derruba censura de vídeo do ‘Porta dos Fundos’

STF censura

 

O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a censura imposta pelo desembargador Benedicto Abicair ao filme “Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo”.

A decisão do presidente do STF, o ministro Dias Toffoli, considera que não é de se supor, contudo, “que uma sátira humorística tenha o condão de abalar valores da fé cristã, cuja existência retrocede há mais de 2 (dois) mil anos, estando insculpida na crença da maioria dos cidadãos brasileiros”.

Ele também citou que no julgamento da ADPF nº 130, o STF se debruçou “com percuciência sobre a temática, ressaltando, na ocasião, a plenitude do exercício da liberdade de expressão como decorrência imanente da dignidade da pessoa humana e como meio de reafirmação/potencialização de outras liberdades constitucionais”.

A empresa protocolou no Supremo uma reclamação diante da censura imposta pelo TJ do Rio. “Nós apoiamos fortemente a expressão artística e vamos lutar para defender esse importante princípio, que é o coração de grandes histórias”, aponta nota da plataforma Netflix.

Até hoje a Netflix só havia sido censurada na Arábia Saudita, também por motivo religioso.

Na ação, a defesa da Netflix afirma que “isso constitui patente censura prévia emanada do Poder Judiciário a veículo de comunicação social que dissemina, na obra objeto da ação civil pública, conteúdo artístico – expressamente vedado pela Constituição, nos termos do art. 220, §2º”.

O desembargador Benedicto Abicair, da 6ª Câmara Cível do Rio de Janeiro (RJ) exigiu a retirada do ar do “Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo” para, segundo ele, “acalmar ânimos”.

A determinação da retirada do vídeo do ar ocorreu após liminar concedida a uma ação da Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura. Em primeira instância, o pedido havia sido negado.

“Por todo o exposto, se me aparenta, portanto, mais adequado e benéfico, não só para a comunidade cristã, mas para a sociedade brasileira, majoritariamente cristã, até que se julgue o mérito do Agravo, recorrer-se à cautela, para acalmar ânimos, pelo que concedo a liminar na forma requerida”, disse o desembargador em seu parecer.

O vídeo de 46 minutos de duração da produtora Porta dos Fundos está disponível na plataforma desde o início de dezembro. No dia 24 de dezembro, a sede do Porta dos Fundos foi atacada com “coquetéis molotov” em retaliação ao especial. Um grupo de integralistas assumiu a autoria do ataque.

Um dos autores do ato terrorista que já foi identificado, Eduardo Fauzi, fugiu do país um dia antes de ter o pedido de prisão decretado. 

O Ministério da Justiça do governo Bolsonaro e o Itamaraty negaram oficialmente que esteja em andamento um pedido de extradição ter dado prosseguimento a pedido de extradição do criminoso.

Eduardo Fauzi permanece na Rússia, onde, segundo ele, visita a namorada. Em vídeo publicado nas redes sócias, ele comemorou a censura ao filme do Porta dos Fundos. “Estou muito feliz. Anauê!”, diz Eduardo Fauzi, após confessar a autoria do ataque terrorista afirmando: “O Brasil tem macho para defender a igreja de Cristo e a Pátria brasileira”.

Para a OAB, censura de vídeo é equivocada

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, criticou duramente a decisão do desembargador Benedicto Abicair.

Para Santa Cruz, no conflito entre a liberdade religiosa e a liberdade de expressão, é preciso garantir a segunda. “Ela é fundamental para vida democrática”.

Na sua conclusão, o desembargador Abicair diz considerar “mais adequado e benéfico” para a sociedade brasileira “majoritariamente cristã” que o programa seja retirado do ar até que se julgue o mérito da ação promovida pela Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura.

Felipe Santa Cruz salienta que o desembargador “na verdade está dando razão a um pensamento que já gerou um ato de violência que ainda não foi coibido pelas autoridades, porque os autores não foram identificados em sua totalidade (o atentado com coquetel molotov à sede do Porta dos Fundos). O desembargador está julgando os artistas monocraticamente”.

O presidente da OAB considera que a decisão foi equivocada e espera que seja revista. “Não posso só permitir que transite na sociedade aquilo que me agrade ou agrade à maioria”, diz ele. “Muito pelo contrário: o direito serve para garantir que a minoria se expresse”.

A natureza dos governos de Lula e Dilma

Luiz Filgueiras: momento conjuntural específico do modelo dependente “foi ‘vendido’ politicamente pelo PT e o Governo Lula como sendo um novo padrão desenvolvimento” (foto: AFP)

 

Nesta página, publicamos a segunda parte do texto que o economista, e professor da Universidade Federal da Bahia, Luiz Filgueiras, em 2015, elaborou, com o título “Notas para a análise de conjuntura” (v. Texto para Discussão nº 015/2015, do Instituto de Economia da UFRJ).

Esta parte, bem além do que era específico daquela conjuntura, expõe algumas questões de natureza mais estrutural – ou, até mesmo, estratégicas – que são válidas (e como são!) para hoje.

É, portanto, um subsídio importante ao debate de hoje, quando o retrocesso bolsonarista demanda clareza para enxergar os caminhos de superá-lo.

Quanto àquela conjuntura, após o estelionato eleitoral do PT e durante a terra arrasada que Dilma e seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, provocaram no país, escreve o professor Filgueiras: “O Partido dos Trabalhadores, suas Direções e o Lulismo são os responsáveis fundamentais, principais, pela recente ofensiva política da direita e a ampliação e difusão de sua ideologia e dos seus valores na sociedade brasileira”.

Ainda que essa colocação possa ser observada por vários aspectos, tomemos, aqui, uma dessas questões – uma questão ideológica, de valores na sociedade brasileira.

Já mencionamos, outras vezes, como a “ideologia da nova classe média”, além de ser uma fraude, revelava, também, uma alergia, tão escandalosa quanto ridícula, aos trabalhadores.

O que revelam trechos de arengas do tipo “o Brasil virou um país de classe média” (Dilma, 03/06/2013); “queremos continuar a ser um país de classe média” (Dilma, 18/08/2014); ou, do próprio Lula: “levamos mais de 40 milhões para a classe média” (Le Monde, 17/05/2018); ou, mais recente ainda, “há 10 anos classe média virava maioria no país” (Instituto Lula, 01/08/2018)?

Revelam que, para essa gente, ser trabalhador é uma maldição. Ou uma vergonha – ou os dois. Usar o nome “trabalhadores” é, portanto, proclamar que o ideal de vida do trabalhador é deixar de ser trabalhador – para ser, pelo menos, classe média. Ou talvez mais – porém, deixaremos para outra oportunidade a discussão desse “mais”.

Alguns amigos, que conhecem Lula e Dilma mais de perto, diriam que isso revela apenas (ou também) que eles são capazes de dizer qualquer coisa, contanto que achem que lhes favorece. Mas também não discutiremos, aqui, essa questão.

Estamos apenas apontando o reacionarismo de tal concepção – aliás, adotada do sr. Marcelo Neri, a quem ninguém até hoje negou suas credenciais de reacionário de quatro costados (até contra o salário mínimo o sujeito é; por exemplo: “existem evidências preliminares, para o caso brasileiro, de que aumentos do salário-mínimo provocam não só reduções de emprego como queda de qualidade dos postos de trabalho”).

Apesar disso, ou por causa disso, Neri foi nomeado por Dilma para presidente do IPEA e para ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (neste último cargo, tanto no primeiro, quanto no segundo mandato).

Examinando esse tipo de questão, escreve Luiz Filgueiras:

O transformismo político, individual e/ou de grupos, se caracteriza pela incorporação, pelas forças contra hegemônicas, do ideário político da ordem – passando a defendê-lo e a operacionalizá-lo na prática, mas mantendo um discurso e uma retórica que lembram ainda a sua atuação passada, mas já fora de lugar. Mas o transformismo político é acompanhado, necessariamente, pelo transformismo ideológico, ético e operacional.”

Onde mais é clara essa questão é, exatamente, quando se analisam os

governos de Lula e Dilma (CL).

LUIZ FILGUEIRAS*

No Brasil, as políticas e reformas neoliberais iniciadas a partir do Governo Collor acabaram por constituir um padrão de desenvolvimento capitalista que pode ser denominado como sendo Liberal-Periférico. Esse padrão se aprofundou durante os Governos de FHC e se consolidou durante os Governos Lula e Dilma.

As características estruturais fundamentais desse padrão, que o diferencia do padrão anterior – o conhecido Modelo de Substituição de Importações -, podem ser resumidas em cinco pontos:

1. A relação capital/trabalho teve a sua assimetria aumentada a favor do primeiro, em razão da reestruturação produtiva e da abertura comercial – que implicaram o crescimento do desemprego estrutural, do trabalho informal, da terceirização e da precarização do trabalho em todas as suas dimensões. Como consequência, a capacidade de organização, mobilização e negociação dos sindicatos se reduziu dramaticamente.

2. As relações intercapitalistas, em razão da abertura comercial e financeira e das privatizações, foram redefinidas, alterando-se a posição e a importância relativa das distintas frações do capital no processo de acumulação e na dinâmica macroeconômica: o capital financeiro (nacional e internacional) passou a ocupar posição dominante, deslocando a antiga hegemonia do capital industrial; o capital estatal perdeu relevância em favor do capital estrangeiro; e fortaleceram-se grandes grupos econômicos nacionais produtores/exportadores de commodities e o agronegócio.

3. A inserção internacional do país na nova divisão internacional do trabalho se alterou para pior, aumentando a sua vulnerabilidade externa. De um lado, a pauta de exportação do país se reprimarizou e se aprofundou o processo de desindustrialização iniciado ainda na década de 1980. De outro, cresceu dramaticamente a sua dependência financeira, fragilizando o Estado e reduzindo fortemente a sua capacidade de fazer política macroeconômica. Tudo isso decorreu da abertura comercial e financeira que também alimentou a desindustrialização do país e o crescimento da dívida pública.

4. O papel e a importância do Estado, no processo de acumulação e na dinâmica macroeconômica, se alteraram – em virtude do processo de privatização e da abertura financeira. O Estado fragilizou-se financeiramente e perdeu capacidade de regular a economia e de implementar políticas macroeconômicas e de apoio à produção.

5. Por fim, em razão de todas essas mudanças, e ao mesmo tempo alimentando-as, constituiu-se um novo bloco no poder, sob a hegemonia do capital financeiro, que passou a ditar as políticas fundamentais do Estado.

Em suma, o padrão é liberal porque foi constituído a partir da abertura comercial e financeira, das privatizações e da desregulação da economia, com a clara hegemonia do capital financeiro – frente às demais frações do capital. E é periférico porque o neoliberalismo assume características específicas nos países capitalistas dependentes, que o torna mais regressivo ainda quando comparado à sua agenda e implementação nos países capitalistas centrais.

Do ponto de vista da dinâmica macroeconômica, a característica fundamental desse padrão de desenvolvimento capitalista, que aprofundou ainda mais a dependência tecnológica e financeira do país, se expressa na sua extrema instabilidade e em uma grande vulnerabilidade externa estrutural – que acompanham de perto as alterações cíclicas da economia internacional. Esse padrão de desenvolvimento, com as características estruturais aqui mencionadas, iguala todos os governos brasileiros que se sucederam a partir de 1990.

No entanto, esse padrão de desenvolvimento, desde a sua constituição, e a depender da conjuntura econômica internacional, passou por distintos regimes de política macroeconômica: a âncora cambial do Plano Real no primeiro Governo FHC, o tripé macroeconômico (metas de inflação, superávit fiscal primário e câmbio flutuante) rígido no segundo Governo FHC e em parte do primeiro Governo Lula e, por fim, esse mesmo tripé flexibilizado no segundo Governo Lula e no primeiro Governo Dilma. Mais recentemente, a partir do segundo Governo Dilma retornou-se à aplicação rígida desse tripé.

Esses distintos regimes, cujas vigências dependem decisivamente da conjuntura internacional e que refletem prioridades e vantagens diferentes no que se refere às distintas frações do capital, sempre implicam em alguma acomodação do bloco no poder. Portanto, são esses regimes de política macroeconômica que diferenciam os dois Governos de FHC, de um lado, e os dois Governos de Lula e o primeiro de Dilma de outro – apesar de todos eles se assemelharem, ao aceitarem e promoverem o Padrão de Desenvolvimento Capitalista Liberal-Periférico.

O “boom” econômico internacional nos anos 2000, só interrompido pela crise mundial deflagrada em 2008, permitiu, em razão da redução da vulnerabilidade externa conjuntural do país, a flexibilização (relaxamento) do tripé macroeconômico. Essa flexibilização, associada a outras políticas adotadas principalmente a partir do final do primeiro Governo Lula – Bolsa Família, aumento real do salário mínimo e um programa de habitação popular -, teve como consequência a elevação das taxas de crescimento do país e a redução das taxas de desemprego, assim como a diminuição da pobreza absoluta e uma pequena redução da concentração de renda no interior dos rendimentos do trabalho.

A melhora desses e de outros indicadores veio acompanhada de uma inflexão do bloco no poder, na qual o capital financeiro sofreu um deslocamento em sua hegemonia absoluta, tendo que admitir o crescimento da influência de outras frações do capital na condução do Estado: o agronegócio, o capital produtor e exportador de commodities, as grandes empreiteiras e os grandes grupos do comércio varejista; em suma a chamada burguesia interna, que passou a ser objeto prioritário das políticas do Estado, em especial através do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da Petrobrás. E tudo isso, apoiado em um maior protagonismo do Estado, pôde ser feito sem atingir os interesses fundamentais do capital financeiro.

Esse momento conjuntural específico do Padrão de Desenvolvimento Liberal Periférico – produto de uma conjuntura internacional favorável e caracterizado por um regime de política macroeconômica que flexibilizou o chamado “tripé”, reacomodou as distintas frações do capital no interior do bloco no poder e permitiu incorporar, via mercado e de forma passiva, determinadas demandas populares -, foi “vendido” politicamente pelo PT e o Governo Lula como sendo um novo padrão desenvolvimento, denominado por eles de Neodesenvolvimentismo (desenvolvimento com distribuição de renda e inclusão social) – que teria superado o Padrão Liberal Periférico característico dos Governos Collor e FHC.

No entanto, a crise mundial do capitalismo deflagrada em 2008, com a consequente piora da conjuntura internacional, desmentiu categoricamente essa ilusão. Ela inicialmente dificultou e, depois, acabou por inviabilizar a continuação da flexibilização do tripé macroeconômico e a compatibilização dos interesses divergentes das distintas frações do capital e dos distintos setores populares. Com isso, a fragilidade e reversibilidade dos pequenos benefícios conjunturais concedidos à classe trabalhadora vieram à tona, com o retorno do tripé macroeconômico em sua versão rígida e a ameaça de novas reformas neoliberais e aprofundamento das já efetivadas. Não há como desconhecer: sem as reformas estruturais democráticas, abandonadas pelo PT no seu processo de transformismo, não pode haver mudanças essenciais na situação da classe trabalhadora.

Desse modo, não se pode ter qualquer ilusão a respeito da capacidade do Padrão de Desenvolvimento Capitalista Liberal Periférico de resolver os problemas e atender as necessidades da classe trabalhadora; nem tampouco ter dúvidas da natureza apassivadora dos Governos Lula e Dilma – que despolitizam a classe trabalhadora e incorporam, via mercado, sem qualquer mudança estrutural e muito parcialmente, algumas de suas demandas.

(*) Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA; Doutor em Economia pela Unicamp.

Publicado no Jornal Hora do Povo

Ideologia, polêmica e paralisia marcam MEC sob Weintraub

 

Em quase 12 meses, a pasta computa precária articulação com as secretarias de educação pelo país e a baixa execução orçamentária de recursos federais

Protestos, convocações no Congresso, processos judiciais e apuração no Conselho de Ética da Presidência são o principal fruto da gestão do ministro Abraham Weintraub na Educação sob o primeiro ano de Jair Bolsonaro. Preterida por declarações polêmicas, a gestão da pasta travou a política educacional do país, afirmam especialistas. Com isso, não se cumpriu, no primeiro ano, a promessa do presidente Jair Bolsonaro de priorizar a educação infantil e os ensinos fundamental e médio –a educação básica.

Em quase 12 meses de governo, a pasta computa uma precária articulação com as secretarias de educação pelo país e a baixa execução orçamentária de recursos federais.

Os resultados esperados de Weintraub, que após disputas internas substituiu em abril Ricardo Vélez Rodríguez (cria do escritor Olavo de Carvalho), ainda não vieram. O que se viu foi a intensificação de discurso ideológico e a beligerância em redes sociais.

Os números oferecem um retrato do MEC (Ministério da Educação) sob Bolsonaro. A pasta havia empenhado, até a semana passada, 79% do orçamento da educação básica para áreas como transporte escolar, construção de escolas e compra de livros didáticos. A parcela de fato paga foi de 68%, ou R$ 6,5 bilhões de um orçamento de R$ 12,2 bilhões.

Para este ano, estão empenhados R$ 58 milhões para construção de creches pelo programa Proinfância, ou 13% do que foi gasto em 2018. É o menor investimento pelo menos desde 2013.

“Discutir ideologia não garante orçamento nem que a rotina escolar seja mantida de forma a atender todo mundo”, diz a pesquisadora em educação da PUC-SP Mônica Gardelli Franco, que lamenta o abandono das metas do Plano Nacional de Educação.

As ações do ministro, contudo, seguem a direção oposta.

Em maio, ele surgiu em vídeo de guarda-chuva em punho, dançando para ironizar notícias de cortes na pasta: “Está chovendo fake news”, dizia, sem comentar que seu ministério retivera R$ 926 milhões para arcar com emendas parlamentares negociadas para a aprovação da reforma da Previdência (o MEC insiste que não há mais bloqueios).

O nível de execução orçamentária é baixo, a menos que tudo mude até este dia 31. O FNDE afirma que a gestão orçamentária não interrompeu os programas para a educação básica, e lembrou que “o exercício financeiro de 2019 ainda está em curso, de tal forma que os programas ainda estão sendo executados pelo MEC e parte das despesas apresentam sazonalidade”.

Nada indica, entretanto, que essa guinada ocorra: em ações como o Apoio à Infraestrutura para a Educação Básica gastaram-se efetivamente 2% do orçamento –30 milhões de R$ 1,7 bilhão previsto. No PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), foi empenhado 52% do orçamento de R$ 2 bilhões (e pagos 49%).

Vêm do PDDE recursos para obras, programas de alfabetização e educação integral. A pasta promete chegar a R$ 1,96 bilhão até o fim deste exercício, mas o dinheiro seria usado apenas em 2020.

“Isso [esse cenário] gerou uma dificuldade muito grande aos municípios, porque os programas foram descontinuados ou desidratados”, diz Luiz Garcia, presidente da Undime (entidade que reúne secretários municipais de Educação), para quem falta ao MEC planejamento e clareza.

Ele destaca melhora na interlocução com o secretário de Educação Básica, Janio Macedo, mas mostra preocupação com a ausência de diretrizes para a educação infantil e a paralisia na alfabetização.

Só devem aparecer a partir de 2020 os efeitos de projetos anunciados como a Política Nacional de Alfabetização –ainda sem detalhes de implementação– e o programa para ampliar o ensino técnico –para o qual o MEC promete criar de 1,5 milhão de vagas até 2023, mas delega a execução aos estados sem previsão de orçamento federal.

A ausência de um plano dificulta a execução das políticas públicas, avalia Alexandre Schneider, pesquisador visitante da Universidade Columbia (EUA) e colunista do jornal Folha de S.Paulo. Para ele, que já foi secretário municipal de Educação de São Paulo, sobram ações desordenadas ou pontuais, como a criação de 54 escolas cívico-militares em 2020.

“Há um desejo de romper, mas sem um plano para colocar algo no lugar. O ministério também não se dedicou a questões estruturantes e foi ausente no Fundeb [mecanismo de financiamento da educação básica e cuja renovação não avançou no Congresso].”

O pesquisador vê “um ano perdido na educação”.

Entre suas realizações em 2019, o MEC criou uma carteira de estudante digital para esvaziar a UNE (União Nacional dos Estudantes) e enviou carta às escolas com princípios similares aos do movimento Escola Sem Partido.

Muito dos planos e das promessas se dissiparam em meio às turbulências da pasta, na qual nenhuma área relevante passou incólume.

As mudanças de chefia atingiram o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, responsável pelo Enem), o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Mas foi o ensino superior o principal foco de polêmicas envolvendo Weintraub, cuja estreia foi marcada pela declaração de que cortaria verbas de universidades federais que promovessem “balbúrdia” (bagunça).

Bloqueios de verba provocaram, em maio, a maior mobilização contra o governo Bolsonaro. Acusações recentes de haver plantações de maconha em universidades renderam ao ministro processo movido pela Andifes (associação de reitores) e uma convocação na Câmara, na qual não abrandou o tom.

Ainda assim, os repasses para o ensino superior superaram os da educação básica, chegando a 97% de empenho e 86% de execução.

Em julho, foi anunciado o Future-se, que prevê fortalecer o financiamento privado nas federais e as parcerias com organizações sociais. Mas o texto ainda não foi enviado ao Congresso nem tem prazo para sê-lo, segundo o MEC, que afirma que o tema está em análise técnica.

A permanência no cargo de C, que está de férias, tem sido questionada por aliados. Bolsonaro, entretanto, diz que não pretende demiti-lo.

ESTADO DA EDUCAÇÃO

Maioria de medidas anunciadas só terá ações efetivas a partir de 2020

– Alfabetização

Dita prioridade da gestão, a implementação da nova política nacional é uma incógnita. Três ações foram tomadas: a publicação de um decreto que prioriza método fônico, o lançamento de caderno com as premissas da política e um projeto para pais lerem para os filhos;

– Educação infantil

Não foi apresentado projeto para creche e pré-escola;

– Ensino técnico

O projeto Novos Caminhos, promete criar 1,5 milhão de vagas no ensino técnico profissionalizante até 2023, mas depende de ação estados, municípios e escolas privadas;

– Escola Cívico-Militar

Plano visa converter 54 unidades para o modelo cívico-militares em 2020 e prevê atuação de oficiais. Sem a adesão de vários estados, mais da metade do orçamento do programa, de R$ 54 milhões, será usado para pagamento de militares;

– Ensino em tempo integral

Projeto Educação em Prática, anunciado em novembro, prevê usar espaços ociosos em faculdades privadas para ampliar a carga horária dos estudantes de escolas públicas. A sugestão veio do setor privado, que receberá como contrapartida bônus na avaliação de faculdades;

– Enem

O exame ocorreu sem problemas, apesar da convulsão no Inep. O governo promoveu varredura ideológica no banco de questões, mas não divulgou o que descartou. Em 2020, começará o projeto-piloto do Enem digital;

– Ensino superior

Alvo de ataques do ministro, as universidades federais sofreram bloqueio de recursos até terem 100% da verba de custeio liberada em outubro. A aposta é o Future-se, que prevê fomentar o financiamento privado e a atuação de organizações sociais, mas o não chegou ao Congresso;

– Pesquisa

Governo cortou 8% das bolsas de pesquisa bancadas pela Capes, ou 7.590 benefícios.

PAULO SALDAÑA

Publicado no Jornal Folha de S. Paulo

Introdução ao bolsonarismo cultural: Elogio da Loucura e da Picaretagem

Jair Bolsonaro, expondo o seu preparo intelectual – e cultural (Sergio Lima/AFP)

 

VALÉRIO BEMFICA – Presidente do CPC-UMES

 

Em 1511 o humanista Erasmo de Rotterdam escrevia “Elogio da Loucura”, obra satírica em que o autor demonstra que não é a Razão que está governando o mundo dos homens, mas a Loucura. Pegamos o título emprestado, mas, cinco séculos depois, para descrever acontecimentos do governo do capitão-messias, precisamos acrescentar a picaretagem como corregente da realidade. Há alguns dias utilizávamos o espaço do HP para denunciar o abandono das estruturas do antigo Ministério da Cultura, que haviam sido “esquecidas” no Ministério da Cidadania, enquanto a Secretaria Especial de Cultura tinha sido alocada à sombra dos laranjais do Ministério do Turismo. Escrevemos então, tentando imaginar os motivos do olvido:

“De que serve uma fundação que não lança editais exclusivamente para a arte evangélica, com ênfase na teologia da prosperidade? Ou um instituto que não eleve o Templo de Edir Salomão à condição de patrimônio brega, quer dizer, cultural da humanidade? Ou uma biblioteca que não tenha alas inteiras dedicadas ao astrólogo de Richmond? De que serve uma fundação que estuda o pensamento brasileiro e que não apoiou a principal atividade intelectual que esta turma promoveu, a saber, a Convenção Brasileira de Terraplanismo? Que dizer então de uma fundação que não controla a quantidade de arrobas que cada quilombola pesa? Ou um monte de museus que ignorem os elaboradíssimos memes criados pela intelectualidade whatsapiana amiga do Carluxo? E uma agência que ainda não teve a brilhante ideia de financiar um reality show chamado “Empreguinho Bom”, comandado pelo Queiroz, a ser exibido na TV do Bispo? Dinheiro posto fora!”

Nos últimos dias fomos recebendo notícias sobre a ocupação dos principais cargos da estrutura ora comandada por um certo Alvim (nada a ver com os esquilos), cidadão em surto psicótico com manifestações paranoides (enxerga comunistas embaixo da cama, dentro do armário, nas coxias dos teatros, fungando no seu cangote…). Pensamos, de início, que tínhamos parcela de culpa, por ter despertado o cidadão: cutucamos a anta com vara curta! Mas este artigo não é, caro leitor, um pedido de desculpas. Refletindo melhor, logo ficamos com a consciência tranquila. No máximo a nossa provocação serviu para a bozolândia chamar seus principais intelectuais para tentar dar um lustro ao seu desastre administrativo. Seria impossível para nós contribuir de alguma forma com as barbaridades que a turma olavista da cultura está perpetrando. O leitor duvida? Vejamos então o escrete escalado por Bob Alvim para cuidar da Cultura brasileira:

Na Funarte, um certo Dante Mantovani, maestro. Não sabemos se ele lançará “editais exclusivamente para a arte evangélica”, como havíamos ironicamente sugerido. Mas, em seu site na internet, o regente destaca que seu trabalho “Tem dado ênfase à criação de grupos corais religiosos na Igreja Católica, priorizando o resgate das Tradições Litúrgicas e do Canto Gregoriano”. O chefe Olavo nunca foi mesmo muito fã dos neopentecostais (na verdade sempre dirigiu a eles impropérios variados) e preferiu indicar um aluno mais próximo dos Arautos do Evangelho. Disse o tal Dante: “Canto Gregoriano em latim para crianças. É nisso que eu acredito!”. Seus altos conhecimentos de Filosofia Política Olaviana permitem-lhe fazer revelações bombásticas: os Beatles vieram para implantar o comunismo, John Lennon tinha um pacto com o diabo, Elvis Presley era produto de agentes soviéticos infiltrados na CIA. E tudo isso sob a regência de Theodor Adorno e seus cúmplices da Escola de Frankfurt. Não, amigo leitor, não estamos brincando. O cidadão falou isso mesmo!

Com relação à bicentenária Fundação Biblioteca Nacional, perguntávamos qual a utilidade para o governo do capitão-messias de “uma biblioteca que não tenha alas inteiras dedicadas ao astrólogo de Richmond?” Resolveram a questão! Chamaram para ocupar a sua presidência um certo Rafael Alves da Silva, dit Rafael Nogueira, discípulo do astrólogo e, como ele, “Aspirante a filósofo e a polímata”. Deu aulas de “Geografia, Ética e Cidadania, Empreendedorismo, Sociologia, Inglês, Redação, História e Filosofia, Humanidades e Redação para Enem e vestibulares”. Comenta-se, também, que o polímata é versado em etiqueta, corte e costura, culinária e javanês. Juram seus amigos que o rapaz tem grande habilidade com livros, valendo-se deles como calço de mesa. Para completar o currículo, acrescente-se que o muar é defensor da monarquia. Vislumbra-se, porém, algum conflito com o presidente da Funarte: o moço declarou-se roqueiro, fã da banda de power metal Angra e lamentou profundamente a morte de seu guitarrista, André Matos. Ou seja, é um comunista em potencial. Talvez seja necessário um desencapetamento conduzido pela Damares para que ele seja incorporado definitivamente aos quadros do governo.

Para a Fundação Cultural Palmares o escolhido foi o capitão do mato Sérgio Nascimento de Camargo. Renegado pela família de ativistas da causa negra, o mau crioulo defendeu as vantagens da escravidão, que teria enriquecido negros na África e sido benéfica para os descendentes dos sequestrados. Ignorando os mais de três séculos de luta e resistência, propugnou a extinção do movimento negro, xingou Zumbi e negou a existência de racismo no Brasil. Para os padrões bolsonaristas, deu uma derrapada, ao afirmar que racismo de verdade existe é nos EUA. Mas nada que um puxão de orelha do tio Olavo não resolva. Para não deixar dúvidas sobre sua alta capacidade de tratar dos assuntos de cultura e arte, cravou em seu twitter em 30 de agosto: “Não gosto dos artistas brasileiros. São parasitas e inimigos do País; deveriam estar na cadeia!“. Em breve, deve anunciar medidas para controlar “a quantidade de arrobas que cada quilombola pesa”. Mas as mudanças não param por aí…

Os esforços pelo resgate do audiovisual brasileiro começaram! Uma certa Katiane de Fátima Gouvêa, também conhecida como Katiane da Seda (o tecido, não o invólucro para o cigarrinho do capeta!), dona de 960 votos na última eleição para a Câmara Federal, orgulhosa integrante da Cúpula Conservadora das Américas e amiguinha do zero à esquerda, Dudu Bolsonaro. Não consta em seu currículo que tenha ido algum dia ao cinema, nem para ver o filme do Bispo. Parece que ajudou a elaborar um dossiê que reclamava do ataque à moral e aos bons costumes nos projetos aprovados pela Ancine.

Para colocar nos eixos o cinema nacional, coisa que desde a Cinédia, passando pela Atlântida, pela Vera Cruz, pelo Cinema Novo, pela Embrafilme, pela retomada, por centenas de prêmios internacionais, milhares de filmes e profissionais mundialmente reconhecidos, ninguém conseguiu, ela será auxiliada pelo colunista social televisivo Edilásio Barra Júnior, cognominado Tutuca. Digamos, em seu benefício, que este tem contato com as artes e com a cultura. Seu pai chegou a empresariar Waldik Soriano e ele chegou a fazer pontas em uma novela e trabalhar como dançarino em um programa de auditório. Suas investidas na área espiritual não deram muito certo e teve de encerrar as atividades de sua Igreja Continental do Amor de Jesus (o cara conseguiu falir uma igreja evangélica!). Sua empresa, a VIP Empreendimentos Artísticos, faz de tudo um pouco, de assessoria a empresas e campanhas políticas até “contratação do buffet, decoração, palco, iluminação, som, dj’s, cantores, atores e banda para melhor realização do evento”. Além de um belo estipêndio, Tutuca será responsável pela gestão do Fundo Setorial do Audiovisual, coisa de R$ 800 milhões anuais. O suficiente para “se financiar um reality show chamado “Empreguinho Bom”, comandado pelo Queiroz, a ser exibido na TV do Bispo”, como vaticinávamos.

Para cuidar de nosso patrimônio histórico os olavistas escalaram um craque: Olav Schrader, militante do Movimento Brasil Real e ligado à Associação dos Moradores do Bairro Imperial de São Cristóvão. Os grifos não são à toa, leitor. O tipinho, bastante blasé, é monarquista de carteirinha. Em recente reportagem de O Globo, sobre a inauguração de seu empreendimento gastronômico, além de discorrer sobre sua interessante vida pelos salões europeus, ele revelou seus planos para “reproduzir a ceia organizada pela Imperatriz Leopoldina e por José Bonifácio, em homenagem a Dom Pedro I, assim que ele retornou de São Paulo, após proclamar a Independência”. Em seu favor poderíamos dizer que foi autor de um texto (o único entre as hostes do capitão-messias) lamentando o incêndio do Museu Nacional. Com um pouco de atraso, é verdade (um ano). E tendo por principal reclamação não o incêndio em si, mas o fato de o espaço ter sido descaracterizado pela República: “O Palácio também foi sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, a única Corte do Novo Mundo. Mas onde nasceu uma Rainha de Portugal, haverá talvez um meteorito sob aço e vidro.”, escreveu o cidadão. Ou ainda: “A grande Capela Imperial dentro do Palácio, derrubada à marretadas pela universidade para acomodar esqueletos de dinossauros, já nem em memória mais existe.” Sua endinheirada família está procurando pechinchas no bairro imperial para restauro. Visando, é claro, transformá-los depois em lucrativos empreendimentos. Imagine-se o que será feito com o patrimônio histórico nacional (principalmente o que não puder ser transformado em elogio à monarquia). E o tombamento do Templo de Edir Salomão já está no papo.

Para comandar a Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic) foram buscar em Ribeirão Preto um certo Camilo Calandreli, cantor lírico e fundador do Simpósio Nacional Conservador. Declarou que “Ser cristão, conservador, contra aborto, a favor da vida, contra doutrinação ideológica nas escolas, menino ser menino e menina ser menina não é ser radical”. Ficamos aliviados… A principal tarefa da Sefic é coordenar a Lei de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Lei Rouanet. Mas, segundo o novo secretário, ela “passou a ser utilizada como mecanismo de ideologização política”, e foi apropriada pelo “marxismo cultural”. E disse isso sem ter bebido água-benta e nem cheirado incenso! Graças ao luminar descobrimos que Itaú, Bradesco, Cielo e Arcelor Mittal (alguns dos maiores patrocinadores de 2018) injetaram milhões no financiamento ao comunismo, através das ações subversivas do Masp, da Orquestra Sinfônica Brasileira, da Fundação Bienal de São Paulo.

A Fundação Casa de Rui Barbosa, importante centro de debates e produção de conhecimento no Brasil foi entregue à célebre intelectual Letícia Dornelles. Quem??? Ela mesma, a roteirista dos humorísticos “Partiu Shopping” e “Treme Treme”! Ainda não ligou o nome à pessoa? Letícia é a autora do best-seller “Como Enlouquecer em Dez Lições”! Nada ainda? Tá bom: a moça é apadrinhada política do deputado e pastor Marco Feliciano, respeitável intelectual e recentemente convertido ao olavismo. Questionado por um inocente se o nome da moça era mesmo adequado, o combativo deputado sapecou: “a Fundação Rui Barbosa (sic) não precisa de mais um acadêmico, já tem muitos. Precisa de sangue novo”. Animada, a moça declarou que vai “acelerar as palestras, que hoje são muito acadêmicas”. Provavelmente vai convidar os novos coleguinhas para desfilarem seus conhecimentos sobre a monarquia e a terra plana, em um evento organizado pelo Tutuca. Pobre Águia de Haia…

Só mais um pouco de paciência, estimado leitor. Para finalizar a patota, mestre Alvim indicou a reverenda Jane Silva (Janícia Ribeiro Silva) para a Secretaria de Diversidade Cultural. No Twitter ela se apresenta: “Jane Silva é pacifista. PH.D. Honoris Causa em Filosofia com menção em Ciências Politica.” (assim mesmo: sem acento e no singular). Quem terá concedido a titulação Honoris Causa? Como foi feita a “menção”? Como dizia um padre na escola em que eu estudava, quando confrontado com perguntas difíceis: “estes são os mistérios da fé!” A douta evangelizadora comprova seu pacifismo militante sendo uma das entusiastas da transferência da Embaixada Brasileira de Tel Aviv para Jerusalém: “Busquei apoio incondicional pra Bolsonaro por causa da embaixada”, disse ela em agosto passado, quando até o capitão-messias tentava esquecer da promessa. Em outra página na internet ela apresenta-se como “empresária no ramo de publicidade, presidente da Comunidade Brasil Israel, uma lider em edificar pontes entre judeus e cristãos” (a falta de acento continua por conta de nossa dirigente cultural). Talvez ela considere que a paz no oriente médio tem uma solução fácil: basta eliminar os árabes e integrar judeus e cristãos!

Para o Instituto Brasileiro de Museus ainda não foi designado um novo titular. Está faltando maluco no pedaço.

Pois bem, leitor, este foi o resultado de nossa provocação. Não incluímos aqui todas as boçalidades proferidas pelos nomeados pois, ao que parece sob orientação de Alvim, eles apagaram boa parte do conteúdo de suas redes sociais e se recusaram a dar entrevistas. Se fosse um time de futebol, a equipe de Alvim perderia de goleada para o Íbis. Selecionaram os intelectuais mais preparados da turma do capitão-messias, os olavetes mais destacados, os mais brilhantes pensadores do neo-pentecostalismo para dirigir a Cultura Brasileira e foi isso que conseguiram: uma récua! Entre os homens o uso da gravata foi proibido e substituído por amplos babadores. Entre as mulheres foi dada uma instrução clara para que se contivessem e não fizessem sombra à lucidez da Damares. O ministro Abraão ficou com inveja. Nosso editor sugeriu que a situação pudesse ser um dano colateral da extinção dos manicômios, espalhando pelas ruas napoleões de hospício e profetas dos mais variados tipos, ora recolhidos e agraciados com salários de R$ 17 mil no governo do capitão-messias. É uma boa hipótese.

De qualquer forma, depois da análise dos perfis da turma, ficamos um pouco aliviados. Nossa preocupação era com a destruição de nossas instituições culturais. Mas, vendo a turma escalada para a tarefa, nos tranquilizamos. Muito antes de eles conseguirem destruir alguma coisa o atual governo já terá ido para o seu devido lugar na História. Funarte, Ipham, FCRB, Palmares, Ancine, Ibram, Biblioteca Nacional e o que restou do sistema MinC são muito mais fortes do que esta tropa.

Encerramos nosso último artigo afirmando:

“Felizmente, leitor, a história nos ensina que estes pesadelos não costumam durar muito. Não se apaga a Cultura de um povo – menos ainda uma Cultura rica e pujante como a brasileira – por decreto. A loucura e a estultice como forma de governo têm vida curta. Apedeutas só conseguem se fingir de sábios por pouco tempo. As forças vivas da Nação, os setores comprometidos da sociedade reagem e recolocam os tipos em seus devidos lugares: uns no ostracismo, outros na cadeia o resto no manicômio.”

Vendo os nomes escolhidos para tentar dar cabo da Cultura Brasileira, nossa convicção no que escrevemos aumentou.

Publicado no Jornal Hora do Povo

A autocrítica que o PT tem de realizar

Apagando a vela: Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad, José Guimarães e Paulo Pimenta – Foto: PT/Divulgação

 

 

Disse Lula, reunido com a direção do PT, que “o PT não tem que fazer autocrítica”. Foi além: “tem companheiro do PT que também fala que tem que fazer autocrítica. Eu não vou fazer o papel de oposição”.

É uma estranha concepção – ainda que bastante habitual, mesmo rotineira, em Lula. Como é óbvio que a “oposição” ao PT não pode fazer “autocrítica” pelo PT; e que, também é óbvio, se “autocrítica” é coisa dos inimigos do PT, só resta expulsar quem acha que é justo alguma autocrítica, estamos diante de uma negação completa de qualquer autocrítica.

Se Bolsonaro chegou ao poder, a culpa é dos outros, jamais de Lula, isto é, do PT.

Mas de que autocrítica estamos falando?

O texto abaixo, publicado originalmente no Portal Disparada, tem o mérito da clareza – e, também, o da concisão.

(C.L., do Jornal Hora do Povo)

ANDRÉ LUIZ DOS REIS

(Do Portal Disparada)

1) Os governos petistas mantiveram uma macroeconomia neoliberal. Deram uma pitada de neokeynesianismo, mas a arquitetura do tripé macroeconômico de Armínio Fraga foi mantida durante todo o período;

2) A macroeconomia neoliberal desindustrializou fortemente o país e nos tornou cada vez mais dependentes da exportação de comoddities. Os momentos de ”felicidade” do governo Lula se deveram, principalmente, à alta do barril de petróleo, da soja e do minério de ferro no mercado internacional. Não é à toa que o PT foi limado no ABC paulista;

3) A expansão de empregos durante a farra das comoddities se deu em áreas de baixa qualificação. Empregos em shoppings, em comércio de rua, em construção civil. A produtividade estagnou na era Lula e decresceu com Dilma. O pleno emprego em áreas de baixa qualificação não dá suporte a nenhuma economia saudável;

4) A Era PT consolidou o maior cartel de bancos da história brasileira, que se sentiu livre para impor os juros mais extorsivos do planeta, que chegam a quatrocentos por cento no cartão de crédito. A farra do crédito caro terminou com dezenas de milhões de famílias endividadas e com o nome no SPC, travando o consumo brasileiro pela próxima década, já que ninguém se propõe a resolver o problema.

5) Os programas sociais do PT se fundamentaram na propaganda do Bolsa-Família. O Bolsa-Família é a expressão de um programa neoliberal, criado por Milton Friedman;

6) O PT vendeu para as classes populares o mito da ”nova classe média” e da integração na cidadania via consumo. Foi um dos erros mais estúpidos que já se cometeu nesse país no diálogo com essas classes, consolidando nelas um ideal consumista típico de Miami sem que tivéssemos sequer a base produtiva real para sustentá-lo a longo prazo;

7) O PT não defendeu como deveria os direitos trabalhistas e previdenciários da população. Sempre que buscou um compromisso com as classes patronais, quem sofreu foram os trabalhadores. Esse tipo de compromisso culminou no erro de Dilma em 2015, logo depois das eleições, quando retirou direitos previdenciários e teve o ”estelionato eleitoral” denunciado pela CUT em protestos públicos;

8) Boa parte da crise fiscal do governo Dilma se deveu à implantação de um Bolsa empresário e de desonerações na folha de pagamento que lhe foram pedidas pela Fiesp;

9) O PT é não só conivente com a corrupção como se aproveitou estruturalmente dela para se manter no poder. Qualquer tentativa de tapar o sol com a peneira nisso daí é conversa pra boi dormir.

10) O PT não defendeu os preços que mais interessavam aos consumidores das grandes cidades. O custo de vida se tornou monstruoso, principalmente no âmbito da energia, do transporte público. Além disso, o PT consolidou o comércio da saúde, impulsionando a indústria dos planos de saúde;

11) O PT se abraçou obsessivamente com a promoção de uma agenda de costumes contrárias à sociedade conservadora e religiosa que diz representar. Confundiu projeto nacional com proselitismo de uma agenda radical de identitarismo pós-moderno.

12) O PT se aliou e incentivou politicamente a pior escória da sociedade brasileira: Eduardo Cunha, Cabral, Temer etc. no sistema partidário; Fiesp, cartel de bancos e agronegócio no sistema produtivo; pastores evangélicos como Silas Malafaia [governo Lula] e Edir Macedo como forma de dialogar com as classes populares urbanas. Deu no que deu.

E isso é só PRA COMEÇAR.

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6ª Mostra Mosfilm: obra prima de Tarkovsky, “Stalker” encanta os amantes do cinema autoral e artístico

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Aclamado pela experiência visual e estética, filme de 1979 teve as sessões lotadas durante a 6ª Mostra Mosfilm 

 

O público de São Paulo lotou as duas sessões de 2 horas e 40 minutos do emblemático “Stalker” (1979), escrito e dirigido pelo diretor soviético Andrei Tarkovsky. O longa é parte da programação da 6ª Mostra Mosfilm de Cinema Russo – organizada pelo CPC-UMES Filmes e que este ano ocupou as salas do Espaço Itaú Unibanco na Rua Augusta e do Cine Olido, no centro da capital paulista.

 

A narrativa complexa e aberta a interpretações cativa espectadores pela oportunidade de ver o filme – ganhador do Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes de 1980 – projetada em escala cinematográfica. Stalker é aclamado pela experiência visual e estética, aspecto comum da cinematografia do soviético que dirigiu Solaris (1971), O Espelho (1975), A Infância de Ivan (1962), entre outros.

 

O oitavo filme de Tarkovsky é tido como sua obra prima e é referência do cinema autoral e artístico contemporâneo, mas herdeiro da tradição cinematográfica soviética, considerada uma das mais importantes do mundo.

 

Os ingressos a preços populares foram disputados por um público de cinéfilos e espectadores fiéis à programação da mostra. Para a segunda sessão do filme no último domingo (08), os ingressos estavam esgotados quatro horas antes da exibição.

 

Diego Migliorini, de 28 anos, soube da mostra por amigos e pegou um dos últimos assentos disponíveis para a sessão de sexta-feira, embora tenha chegado ao Espaço Itaú com 1h30min de antecedência.

 

“Já esperava que fosse lotar quando vi na programação, isso pelo que Tarkovsky representa para o cinema russo e mundial. Uma das coisas mais elogiáveis dessa mostra foi trazer esse filme para uma sala de cinema em São Paulo. É um filme clássico e que a maior parte das pessoas da minha geração não tiveram oportunidade de ver. É singular, extremamente bonito e contemplativo, feito para ser visto na tela de um cinema”, disse.

 

“Stalker parece menos importante pelo que conta e mais pelo que mostra. Não há sequer um daqueles demorados planos que não tenham a composição de uma fotografia. As imagens são muito bonitas”, disse Luana Teixeira, que acompanha a mostra desde a primeira edição. “Mas cansativa a nossa constante tentativa de encontrar as conexões, estabelecer referências. Acho que não teria visto se não fosse no cinema, a experiência não teria sido tão completa”. Luana viu ainda “A Balada do Soldado” na abertura e espera pegar as sessões de “Volga Volga” e “A Prisioneira do Cáucaso”.

 

Jefferson Bittencourt é fã de cinema, soube da sessão do filme de Tarkovsky um mês antes e se programou para chegar cedo.

 

“Ouvia falar do Stalker como um clássico que valia a pena ser assistido. Embora a dificuldade de acompanhar a história, você sai pensando muito sobre as questões filosóficas que o filme levanta”, disse. “Conhecer um pouco do cinema russo e soviético despertou um interesse gigante e estou correndo atrás de outros filmes. Gosto muito do gênero de guerra e acho que os filmes oferecem um retrato muito mais realista sobre os acontecimentos históricos do que filmes americanos do mesmo gênero. São também mais sensíveis”, afirmou Luana após ter saído da sessão e adquirido dois DVD’s do estúdio Mosfilm distribuído pelo CPC Umes-Filmes: Vá e Veja e Tigre Branco.

 

Maria Thereza Alcântara não considera Stalker um filme de ficção científica. “Eu não acho. Acho um tratado filosófico e poético sobre a esperança. Não vi como uma ficção científica. O que mais me impressionou foi o diálogo deles, um jeito tão diferente de ser, de pensar, nos mostra bem uma cultura diferente; achei bem diferente o filme”.

 

Sua filha, Patrícia Alcântara Santos, também elogiou a exibição. “Sou apaixonada por esse filme. Pra falar a verdade eu não entendo muito o significado dele; eu já assisti umas 5 ou 6 vezes e ainda é uma coisa muito incerta na minha cabeça, ainda não encaixou tudo. Eu gosto da poética dele”.

 

CONEXÃO

 

A atriz Shadiyah Becker considera que a Mostra trouxe para ela outra perspectiva sobre o cinema russo.

 

“Esse é o quinto filme que eu assisto da Mostra. Estou achando muito legal acompanhar. A seleção de filmes está me trazendo outra perspectiva do cinema russo, porque antes eu via filmes muito pesados, uns como o Stalker que eu acabei de assistir. Gostei muito do humor russo, de umas sacadas, de como eles conseguem trazer um drama com uma leveza e aí ficam entre uma comédia e um drama”, disse.

 

“Para mim enquanto atriz é muito bom ver filmes russos por toda técnica cênica deles e por todas as histórias e essa curadoria de filmes que tem temas humanos e políticos, temas muito sensíveis”, destacou.

 

“Do Stalker em si, eu gosto muito do Tarkovsky, da poesia que ele cria através das imagens. Eu sempre saio dos filmes dele sem ter muita certeza se eu entendi, mas de qualquer forma eu sinto que eu vivi, que eu me conecto muito com as imagens e com o que vai acontecendo, porque eu acho que ele é bem complexo. Ele vai viajando e eu tenho uma experiência, não sei te dizer exatamente do que se trata, mas eu sei te dizer das sensações que eu tive vendo o filme, que foram muitas. Eu gosto muito desse diretor e foi muito gratificante poder assisti-lo no cinema, na Mostra”, finalizou.

 

Do Jornal Hora do Povo

 

A 6ª Mostra Mosfilm de Cinema Russo segue com sua programação até o dia 11 de dezembro no Espaço Itaú de Cinema da Rua Augusta

Veja a programação completa