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Chamado de ladrão, mestre Nenê é espancado por policiais em São Paulo

 

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Valdenir Alves dos Santos, conhecido como mestre Nenê, foi agredido por policiais militares na noite da última quarta-feira, 19. Segundo os PMs, eles confundiram o mestre, que estava com o filho no colo, com um suspeito de um roubo na região da Vila Madalena.

 

O motivo da “confusão”: mestre Nenê é negro.

 

Mestre Nenê estava junto com seu filho, de cinco anos, na calçada em frente a sua casa conversando com vizinhos quando uma viatura o abordou de forma violenta.

 

Ao entrar em casa, ele foi perseguido por policiais que o violentaram, empurrando-o no chão, com seu filho no colo. Após a criança ser retirada do local por amigos, os policiais seguiram com força desmedida para algemá-lo.

 

Mestre Nenê foi levado à 14ª Delegacia de Polícia de São Paulo, onde ficou nervoso e ainda tentaram dopá-lo. Posteriormente, foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito e abertura de inquérito.

 

A ação violenta da polícia contra o mestre foi amplamente repudiada por diversas lideranças da capoeira, entidades do movimento negro e cultural.

Fabiano Pavio coordenador do projeto “Capoeira na UMES”, lamentou o episódio envolvendo o mestre Nenê e cobrou um “pedido formal por parte do Estado e da PM” e que a justiça seja feita com a apuração do caso. “É o mínimo que esperamos”, disse.

“A PM diz que teve roubos na região, foram abordar o mestre e seus vizinhos, ele pegou a criança e levou para dentro de casa e a polícia diz que ele fugiu e isso foi o motivo do espancamento. O Nenê nem armado estava, ele estava na frente de sua residência, isso demonstra o racismo que existe em parte da corporação, porque se fosse um homem branco sentado em frente de sua casa na “Vila Madalena”, não seria abordado dessa forma, isso é, se fosse abordado…”, criticou.

O professor de capoeira relembra que “infelizmente o que vemos é um presidente da República que estimula o preconceito e o racismo, o resultado é o que aconteceu com o mestre”. “O caso é que, a maioria das pessoas abordadas e mortas em atuações policiais, são negras, isso precisa mudar”, pontuou Pavio. 

Vídeos e mensagens exigindo uma retratação foram divulgados em diversas redes sociais:

O Instituto da Advocacia Negra Brasileira (IANB) também manifestou repúdio à ação da PM “em mais um caso evidente de racismo estrutural”. “Repudiamos todo e qualquer caso de violência policial e expressamos sinceras condolências ao Mestre Nenê e sua família, e se dispõe a ajudar no que for possível e pertinente”, afirma a entidade em nota.

 

Mestre Nenê, nascido no Mato Grosso, possui um trabalho cultural enraizado em São Paulo desde 1992, conhecido em todo o Brasil, com diversos trabalhos de cultura popular, capoeira angola, tambor de crioula e confecção de instrumentos artesanais

 

Mestre Nenê foi aluno do saudoso Mestre Ananias e é um dos zeladores da Roda da Praça da República, principal ponto de encontro de capoeiristas da cidade de São Paulo. 

 

A Casa Mestre Ananias repudiou a ação dos policiais:

 

Nota de repúdio

 

Mestre Nenê foi atacado pela polícia ontem.

 

Aluno do finado Mestre Ananias foi atacado pela PM de São Paulo, na noite de ontem. Ele estava em frente de casa, com o filho no colo. A justificativa para o espancamento foi um suposto roubo na Vila Madalena. Teve uma abordagem da polícia e o Mestre Nenê, que estava em frente de casa com outros vizinhos, não aceitou a abordagem, pegou o filho no colo e entrou. 

 

Os policiais consideraram fuga, o espancaram e levaram algemado para o DP. Lá, o Mestre ficou nervoso, consideraram que ele tinha problema psiquiátrico e quiseram dopá-lo. Mais uma triste e revoltante situação de agressão. Isso se chama racismo e despreparo da polícia. Não podemos ser coniventes com esse tipo de violência. 

 

Mestre Nenê é reconhecido mundialmente, a capoeira e os saberes dos mestres são Patrimônios Imateriais da Cultura Brasileira, está presente em mais de 200 países nos cinco continentes. A classe capoeiristica não pode ser conivente com esta violência. O mínimo que esperamos é uma pedido de desculpas oficial do Secretário de Segurança Pública de São Paulo – General João Camilo Pires de Campos – ou do Governador de São Paulo – João Dória.

 

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