Choro sem lágrimas

* Dery Nascimento

 

Se já é escassa a difusão da música brasileira de qualidade nos grandes veículos de comunicação, como rádios e TVs, imaginem para a música instrumental, salvo em algumas poucas mídias Brasil afora.

 

Hoje o Planeta MPB tem o imenso prazer de apresentar um jovem talento que, apesar da pouca idade, é dono de um currículo extenso como instrumentista, tocando e gravando com grandes nomes da nossa música. Ricardo Valverde é vibrafonista, percursionista erudito, popular e arranjador. Ele nos apresenta o CD “Teclas no Choro”, um instrumental que tem o vibrafone como “voz” principal para temas consagrados de grandes compositores do estilo.

 

O álbum foi produzido pelo próprio músico e por André Salmerón, e tem arranjos da talentosíssima Silvia Goes. A produção fonográfica ficou por conta da gravadora CPC-UMES.

 

Ricardo não gravou meramente um CD tocando choro no vibrafone – ele fez uma ampla e profunda análise do estilo e em nenhum momento se percebe qualquer privilégio ao seu instrumento. O vibrafone comunga “de igual pra igual” com os demais elementos, levando o ouvinte a fazer parte dos temas.

 

Com uma apresentação minuciosa da história do instrumento na música brasileira, Marcus Vinícius de Andrade, diretor artístico da gravadora responsável, faz alguns apontamentos importantes de serem lidos no encarte do CD, e valoriza: “Ricardo Valverde abre uma nova vereda na trajetória do vibrafone no nosso país”. No encarte ainda constam textos que acompanham cada tema, numa pesquisa cuidadosa de Juliana Valverde.

 

Prepare-se para ouvir o famoso chorinho pelas teclas de um vibrafone. Os trabalhos são abertos com “Feitiço” (Jacob do Bandolim –1918-1969) que, gravada originalmente em 1959, ganha uma leitura refinada de Ricardo, com a participação especial do mito Heraldo do Monte, enriquecendo o que já é belo.

 

Agora ouviremos um tema do saudoso Altamiro Carrilho (1924-2012), “Enigmático”, que tem a participação especial de César Roversi no sax soprano. Valverde gravou com uma banda de respeito: Silvia Goes (teclados), Pepa D’Lia (bateria) e Ivani Sabino (contrabaixo), que garantem, junto ao seu vibrafone, a qualidade do som.

 

No terceiro tema, “Eu Quero é Sossego” (Hianto de Almeida/K-Ximbinho), como o próprio nome diz, a música tem um andamento mais lento, rica melodicamente e de harmonia aconchegante.

 

Pixinguinha e Benedito Lacerda se fazem presentes com o belo tema “Ainda me Recordo”, que traz as participações de Isaías Bueno de Almeida – dos “Chorões” – no bandolim e Cesar Roversi no sax barítono. O clássico tango de Ernesto Nazareth (1863-1934) também se faz presente. E que interpretação! Lindo demais…

Com participação do sanfoneiro Oswaldinho do Acordeon ouviremos, do mestre Pixinguinha, “Diplomata”.

 

Outro tema famoso de Carrilho, e que aqui ganha interpretação sublime, é “Aeroporto do Galeão”. Não dá vontade de parar de ouvir.

 

Um choro do talentoso cavaquinista paulista, Esmeraldino Salles, falecido em 1979, tem participação mais que especial de Oswaldinho do Acordeon, que dialoga com o vibrafone de Valverde. Falo da solene “Uma Noite no Sumaré”.

 

Ricardo deve ter ficado noites sem dormir durante a escolha desse repertório tão rico, mas ele sabe das coisas. Mais uma de Esmeraldino Salles, “Arabiando” – desta vez um choro ritmado e dançante. Gravada originalmente em 1946 pela Orquestra Tabajara, “Sonhando” (Del Loro/K-Ximbinho) é daqueles temas que permitem qualquer poeta ou letrista sair colocando palavras em sua melodia.

 

Para finalizar esta audição, Ricardo selecionou Ernesto Nazareth com seu “Ameno Resedá” e Jacob do Bandolim com a estupenda “Bola Preta”. Viva o choro, viva Ricardo Valverde!

 

* Dery Nascimento é músico e escreve críticas musicais de artistas novos e seus CDs.

 

Fonte: Planeta MPB

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