Congresso da UNE: estudantes condenam arrocho dilmista
Escolhido pelo governo para ser o representante de Dilma no 54º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado na última semana em Goiânia, Leandro Cerqueira, teve suas declarações rechaçadas por participantes do encontro. Segundo os estudantes, o enviado do Ministério da Educação mentiu ao negar que os cortes no orçamento prejudicam o ensino no país.
Durante o debate sobre o ensino superior privado, representante do governo e seus defensores no plenário fizeram defesas acaloradas sobre a necessidade da política de ajuste de Dilma. Já os representantes da oposição à ala dilmista, liderados no debate pelo movimento Mutirão (PPL), fizeram a denúncia dos crimes perpetrados pelo governo contra o desenvolvimento do país.
Em suas considerações o representante do MEC quis responder às denúncias dos estudantes sobre os cortes de R$ 9,4 bilhões no orçamento da pasta, assim como o cancelamento de mais de 150 mil bolsas do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Segundo ele, “todos os contratos foram aditados, não há cortes no programa de financiamento”.
A estudante de arquitetura da Anhembi Morumbi (SP), integrante do movimento Mutirão, Ana Carolina Cota, destacou os cortes nas bolsas do programa de financiamento e criticou a postura dos estudantes que compunham o movimento Abre Alas (UJS) por apoiar o governo.
“Esse governo que diz formar uma Pátria Educadora é o mesmo que corta mais de 150 mil bolsas, deixando estudantes à míngua sem ter como pagar as mensalidades. Diversos alunos da minha faculdade tiveram que abandonar seus cursos pela metade. Tentaram, tentaram, mas não conseguiram até hoje o aditamento dos seus contratos. É vergonhoso ver vocês [UJS] defendendo a Dilma, quero ver ter coragem de ir para as salas de aula defender esse governo mentiroso”.
As afirmações do representante do MEC indignaram os estudantes que tomaram o plenário chamando Leandro Cerqueira de mentiroso, avançaram para cima da mesa onde estavam os debatedores e o mediador, estenderam uma faixa com os dizeres “Pátria Educadora = – 9,4 bilhões para Educação. FORA DILMA!”, e entoaram palavras de ordem como: “Cortar da educação pro povo é demais, agora é fora Dilma, com entreguista não dá mais”.
A estudante de direito da PUC/RS, líder do movimento Mutirão, Mariara Cruz, em sua intervenção resgatou a história da UNE, criticou os cortes de verbas e de direitos feitos pelo ou com apoio do governo.
“A UNE foi protagonista nas principais lutas do povo brasileiro. Agora não pode ser diferente. Dilma cometeu o maior estelionato eleitoral da história, disse que o país iria entrar num novo ciclo de desenvolvimento e o que vemos é uma política de cortes na saúde, na educação, em diversas áreas estratégicas para a nação. Enviou as medidas provisórias 664 e 665 que cortam direitos trabalhistas mesmo depois de dizer que não o faria ‘nem que a vaca tussa’, parou com a expansão das universidades federais iniciada por Lula e ainda transformou o Fies de programa auxiliar no principal projeto educacional do governo. Dilma criou mais vagas nas instituições pagas do que nas públicas deixando mais de um milhão de estudantes a mercê dos interesses do mercado. Dilma entregou a multinacionais o maior campo de petróleo do mundo, o Campo de Libra. Dilma voltou a privatizar desenfreadamente. A UNE tem que estar ao lado do povo e não a reboque deste governo”, disse Mariara.
“Não podemos conciliar com este governo neoliberal, agora é Fora Dilma!”, conclamou.
PLENÁRIA
O 54º Congresso da UNE foi marcado pela polarização entre as forças de oposição e os governistas. Durante a plenária final, onde são definidas as resoluções da entidade, assim como é eleita a diretoria da entidade, os movimentos de oposição liderados pelo PPL, PSB, PSOL e PCR denunciaram a tentativa da ala governista composta pela UJS (PCdoB), PT, além do chamado “Campo Popular”, formado pelo Levante Popular da Juventude (MST), e tendências do PT, de transformar o congresso em um ato de cinco dias pró-Dilma.
“A presidente Dilma achaca o povo para garantir o maior repasse da história aos banqueiros, rentistas, fundos de especulação e multinacionais. De janeiro a abril o superávit primário de Dilma entregou R$ 146 bilhões para à banqueirada. O compromisso com o neoliberalismo é tanto que em menos de 12 meses seu governo aumentou a taxa de juros seis vezes tornando o Brasil, novamente, o país com as mais altas taxas do mundo. Desde a reeleição não houve reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) em que o juros não fossem aumentados”, ressaltou o movimento Mutirão.
Durante a defesa das chapas para a eleição da nova diretoria da entidade a estudante da UnB, militante da JSB, Thaynara Melo afirmou que a presidente Dilma não representa mais os anseios da juventude por um país melhor, mais justo. “Este é o momento em que a UNE precisa estar dentro das universidades construindo o movimento contra os cortes de Dilma e Levy”, destacou.
“Nos últimos anos ficou perceptível a falta de comprometimento com as pautas reais dos estudantes e a total falta de critica a postura do governo federal, por isso não era mais possível estar ao lado daqueles que hoje controlam a entidade (UJS/PT)”, ressaltou a estudante sobre a decisão da JSB de se desligar do campo “majoritário” da UNE.
Já o PSOL destacou a opção do governo Dilma em se igualar ao PSDB adotando medidas neoliberais. “Ainda que, publicamente, PT e oposição de direita troquem farpas, o fato é que, hoje, ambos têm na essência um acordo: ‘ajustar’ a economia retirando direitos do povo”.
Para a Oposição de Esquerda (PSOL , PCR e PCB) é preciso “uma UNE ao lado da luta dos trabalhadores que, atualmente, se enfrentam com o brutal ajuste de Dilma e Levy. Queremos que a UNE rompa com o governo. Queremos construir em cada universidade e local de trabalho e estudo uma verdadeira trincheira para impedir que os cortes vão adiante e, em contrapartida, para conquistar mais direitos. Nesse sentido, o movimento estudantil brasileiro precisa urgentemente de uma nova direção de oposição de esquerda ao governo Dilma”.
VOTAÇÃO
Ao final, a chapa “O movimento estudantil unificado contra o retrocesso em defesa da democracia e por mais direitos” – a salada de frutas do nome reflete a despolitização praticada durante o congresso – formada por PCdoB e PT, elegeu Carina Vitral presidente da entidade. Em seu discurso de posse após a apuração dos votos, não conseguiu esboçar uma palavra sequer contra os ajustes, o aumento dos juros, ou sobre as MPs. Apenas disse existir “momento conturbado”.
Estudantes criticaram o “clima carnavalesco” com que as plenárias do congresso foram tratadas. “A UJS parece comemorar a situação caótica do país. Para eles parece que não tem gente perdendo o emprego, saindo da faculdade por não conseguir pagar, universidades sem dinheiro pra pagar conta de água e luz, tendo que escolher se paga conta ou o salário dos funcionários. Eles vieram pra plenária final jogando confete e serpentina pra cima, purpurina para todos os lados. Até tiarinhas com chifrinhos, anteninhas e gente fantasiada têm. Em que mundo eles estão?”, questionou o estudante Caio Felipe.
Fonte: Jornal Hora do Povo (Maíra Campos)
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