Desemprego industrial cresce há 28 meses e Dilma faz que não vê

Os postos de trabalho fechados no período já ultrapassam os 220 mil.
São Paulo (-3,1%), Rio Grande do Sul (-3,3%), Paraná (-2,3%), Rio (-1,8%), Minas (-1,4%), Bahia (–3,2%)
 
Os resultados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (PIMES), do IBGE, com uma queda – a 28ª consecutiva – de -2% nos trabalhadores empregados na indústria em janeiro (comparado a janeiro de 2013), são uma consequência direta da desindustrialização e da transformação da indústria interna numa coleção de maquiadoras de produtos importados.
Não é, de nenhuma forma, engraçado (nem da mesma forma como certas imbecilidades e certos imbecis conseguem ser, às vezes, cômicos), as historietas, aparecidas na mídia, sobre o grande (ou pequeno, tanto faz) aumento de produtividade que estaria provocando a queda do emprego na indústria.
Achar graça de coisas imbecis tem um limite: quando se tornam cinismo e/ou canalhice.
Pelo contrário: o problema, tanto do emprego industrial quanto da produtividade, é a produção industrial estagnada ou declinante. Com o governo destruindo a indústria através de uma taxa de câmbio que continua favorecendo as importações – inclusive com intervenções do BC no “mercado do dólar”, com gasto de reservas, para manter o dólar artificialmente baixo em relação ao real – e com oito (o nono a caminho) aumentos de juros seguidos, como esperar que seja diferente?
Na página ao lado, o leitor poderá ver as considerações do governador Eduardo Campos sobre o déficit de US$ 105 bilhões no comércio de manufaturados. Em valor, nós importamos U$ 198 bilhões e exportamos apenas US$ 93 bilhões. As importações de manufaturados foram, em preço, 82,68% das importações totais do país em 2013.
Além do fato de que os produtos manufaturados foram apenas 38,44% das nossas exportações (no início de 2005, 80% da pauta de exportações era composta por produtos industrializados), chama a atenção o aumento da quantidade (o “quantum”) das importações.
Em 2013, a quantidade de importações, em relação ao ano anterior, aumentou, sobretudo, nas seguintes categorias de produtos:
1) (insumos para) extração de minerais metálicos (+53,9%);
2) (insumos para) extração de petróleo e gás natural (+26,9%);
3) (insumos para) fabricação de produtos de metal (+12,9%);
4) máquinas e materiais elétricos (+12,9%);
5) produtos químicos (+12,6%);
6) derivados de petróleo (+12,0%);
7) confecção de artigos de vestuário (+11,3%);
8) veículos automotores (+10,2%);
9) produtos de borracha e de material plástico (+10,2%);
10) móveis (+8,6%);
11) produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+9,2%);
12) produtos têxteis (+4,0%);
13) extração de minerais não-metálicos (+10,5%);
14) pesca e aquicultura (+13,5%);
15) agricultura e pecuária (+11,4%).
(cf. FUNCEX, Boletim de Comércio Exterior – Índices de preço e quantum, ano XVIII, n° 1, Jan/2014)
Bem, leitor, expusemos esta lista por uma única razão: é evidente, para qualquer sujeito de bom senso, que isso é uma esculhambação (permitam-nos o uso do coloquial brasileiro).
Qual será desses produtos que não temos condição de fabricar? Quase nenhum, se é que existe algum.
No entanto, estamos aumentando a quantidade das importações de produtos ridículos – até de cortadores de unha, algo que julgávamos encerrado com o fim do governo Fernando Henrique.
Assim, em nenhuma comparação do IBGE houve resultado positivo no emprego industrial em janeiro:
1) jan 2014/jan 2013: -2,0%;
2) acumulado 12 meses: -1,2%;
3) jan 2014/dez 2013: zero.
Houve redução do emprego na indústria em 2012 (-1,4%) e 2013 (-1,1%).
Agora, em janeiro, a redução do emprego atingiu (ou continuou atingindo) a indústria exatamente nos principais Estados industriais: São Paulo (–3,1%), Rio Grande do Sul (–3,3%), Paraná (–2,3%), Rio (-1,8%), Minas Gerais (–1,4%), Bahia (–3,2%). O emprego industrial na região Sudeste caiu -2,6% e na região Nordeste, -2,2% (sempre em relação ao mesmo mês do ano anterior).
Do ponto de vista dos setores industriais, o emprego (também pela mesma comparação) caiu nos setores de: máquinas e equipamentos (–5,6%), produtos de metal (–6,0%), calçados e couro (–6,6%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (–4,8%), produtos têxteis (–5,8%), meios de transporte (–1,8%), “outros produtos da indústria de transformação” (–2,6%), refino de petróleo e produção de álcool (–5,8%) e mais seis outros setores. Dos 18 setores pesquisados pelo IBGE, o emprego caiu em 14 deles.
Evidentemente, quando se segue a estupidez de que as multinacionais devem tomar a indústria brasileira, não pode acontecer outra coisa senão a destruição, total ou parcial, da indústria – em geral, hoje em dia, a instalação de maquiadoras ou a substituição da indústria por balcões para o comércio de importados já acabados.
Porém, diz a presidente Dilma que bom mesmo foi fevereiro. Janeiro que se lasque. Uai, e 2012? E 2013? Não sabemos como a presidente pode ignorar a realidade desse jeito, leitor. E os 28 meses de queda no emprego industrial – exatamente o setor chave para o crescimento e para melhor distribuição de renda, já que paga melhores salários do que os subempregos que grassaram nos últimos anos?
Pelo visto, ela considera que não são um problema do governo. É o que acontece quando não se quer governar, talvez por inapetência, tendo por projeto a falta de projeto, isto é, a entrega do país a quem não é do país – mais exatamente, a quem é inimigo do país. E assim se vai em direção a, no melhor dos casos, uma convulsão social.
 
CARLOS LOPES
Fonte: Hora do Povo
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