Dica de Leitura: “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles

Cecília Meireles, profundamente tocada pela saga de Tiradentes e os ideais da Inconfidência Mineira, escreveu uma das obras-primas da nossa literatura, o “Romanceiro da Inconfidência”. Captando com extrema sensibilidade o sentimento popular – o que transparece na escolha do tipo de verso que usa, que lembra todo tempo o cancioneiro popular – Cecília transmitiu, mais do que o heroísmo e a indignidade da traição, a identidade que sempre houve entre Tiradentes e o povo – e entre este e o seu herói. Abaixo, trechos desse poema narrativo escrito em 1953:

 

“Ele era o Alferes Tiradentes,

enforcado naquela praça:

muitas coisas não se compreendem,

tudo se esquece, tempo passa…

mas essa crisólita, sempre,

parece diamante sem jaça”

 

 

“Ó grandes muros sem eco,

presídios de sal e treva

onde os homens padeceram sua vasta solidão…

 

Não choraremos o que houve,

nem os que chorar queremos:

contra rocas de ignorância

rebenta a nossa aflição.

 

Choramos esse mistério,

esse esquema sobre-humano,

a força, o jogo, o acidente

da indizível conjunção

que ordena vidas e mundos

em pólos inexoráveis

de ruína e de exaltação.

 

Ó silenciosas vertentes

por onde se precipitam

inexplicáveis torrentes,

por eterna escuridão!”

 

Fontes: Hora do Povo e Livraria Cultura

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