Dilma esconde que fez setor público pagar R$ 820 bi de juros aos bancos
No debate da Rede Bandeirantes, na terça-feira, Dilma declarou que “eu queria destacar que o Brasil hoje paga o menor volume de juros de sua história”.
É mentira – e ela sabe perfeitamente que é mentira. Mas não é qualquer mentira.
É 176 bilhões de vezes mentira – pois R$ 176,66 bilhões é o que o governo Dilma, até agora, pagou a mais, em juros, que o segundo governo Lula. Precisamente: R$ +176.658.982.892 (176 bilhões, 658 milhões, 982 mil e 892 reais).
Reparemos que isso é o que Dilma transferiu a mais em três anos e meio (janeiro de 2011 a junho de 2014) contra os quatro anos do segundo mandato de Lula.
Portanto, em uma comparação de três anos e meio com os quatro anos do mandato que lhe antecedeu, Dilma já ultrapassou as anteriores transferências em juros por mais de R$ 176 bilhões.
No entanto, ela acha que pode dizer que “eu queria destacar que o Brasil hoje paga o menor volume de juros de sua história” – e sair impune.
Essa falta de escrúpulos nada tem a ver com política – por exemplo, não há uma linha nos discursos de Getúlio, Juscelino ou Jango que seja mentira. Pode haver até equívocos de abordagem (por exemplo, no início do governo Juscelino). Mas não mentira, muito menos mentira consciente (o leitor pode conferir um exemplo disso na última página desta edição).
A falta de inibição para dizer qualquer coisa, menos a verdade, não tem a ver com política, mas com falência moral, falta de compromisso com o país e desprezo pelo povo.
Vejamos o que Dilma, até agora, segundo o BC, transferiu ao parasitário setor financeiro, sob a forma de juros:
2011: R$ 201.057.500.482;
2012: R$ 175.718.350.674;
2013: R$ 217.866.148.012;
2014 (até junho): R$ 93.334.973.950;
TOTAL: R$ 687.976.973.118.
Em três anos e meio, 687 bilhões, 976 milhões, 973 mil e 950 reais.
Essa é a parte do governo federal. Porém, ao aumentar os juros básicos, através do BC, e por coação (os “programas de reestruturação e ajuste fiscal”), o governo federal obriga que a drenagem de dinheiro do povo se espalhe pelo conjunto do setor público – Estados, municípios e estatais (nesse caso, sobretudo as estaduais e municipais, pois Lula, em boa hora, excluiu os grupos Petrobrás e Eletrobrás dessa hemorragia). Assim, vejamos os juros transferidos pelo conjunto do setor público:
2011: R$ 236.673.306.187;
2012: R$ 213.862.792.444;
2013: R$ 248.855.689.749;
2014 (até junho): R$ 120.246.332.126;
TOTAL: R$ 819.638.120.506.
Em três anos e meio, o setor público (governos federal, estaduais, municipais e estatais) foi saqueado em 819 bilhões, 638 milhões, 120 mil e 506 reais, em juros. Quase um trilhão de reais, desviados da Saúde, Educação, dos investimentos públicos em geral, e de qualquer outro serviço público.
Nem vamos nos reportar aos governos anteriores a Fernando Henrique, pois é óbvio que Dilma, para falar em “menor volume de juros da história”, expulsou da História do Brasil os governos Getúlio, Juscelino e João Goulart. Como ela não tem autoridade para tal, não precisamos nos preocupar.
Até porque, o que ela afirmou, implicitamente, é que pagou menos juros do que Lula.
Não é a primeira vez que demonstra, assim, a sua ingratidão, jogando nas costas de Lula a responsabilidade que lhe compete, apesar dela não existir, política ou eleitoralmente, exceto pelo esforço – e bota esforço nisso – do ex-presidente.
Durante o segundo governo Lula, houve transferências de juros de R$ 511,32 bilhões (governo federal) e R$ 694,43 bilhões (conjunto do setor público).
Portanto, em três anos e meio, Dilma aumentou as transferências de juros aos bancos em +34,55% (governo federal) e +18% (setor público), percentagens que correspondem, respectivamente, a R$ +176,66 bilhões e R$ +125,21 bilhões.
Se compararmos com o primeiro mandato de Lula, então, o aumento na locupletação do setor financeiro por juros foi de +54,21% (governo federal) e +38,77% (setor público).
Outra vez vale a observação: estamos comparando quatro anos de Lula com três anos e meio de Dilma – e, mesmo assim, o volume do pagamento de juros desses três anos e meio supera amplamente o que houve nos quatro anos de Lula, seja no primeiro ou no segundo mandato.
Houve algum outro governo que, em três anos e meio, permitisse – na verdade, promovesse – tal sangria de dinheiro para o setor financeiro?
Não, leitor, e não por acaso Dilma conseguiu o menor crescimento de toda a História da República (com exceção de Collor, que, desse ponto de vista – o amor à verdade – parece o guia do atual governo).
Os aumentos de juros são uma pilhagem ao setor produtivo (isto é, aos trabalhadores e empresários produtivos) em benefício do setor parasitário – financeiro – da economia. No caso atual, uma dupla pilhagem: através dos juros e também pela taxa de câmbio, deformada pela entrada de dólares desvalorizados, atraídos pelas altas taxas de juros, fazendo com que o câmbio passe a subsidiar importações contra a produção interna, pelo barateamento das primeiras e encarecimento da última.
A estagnação e retrocesso do país, devido à desindustrialização e desnacionalização, foi a consequência dessa derrama de juros.
Logo depois de Dilma tomar posse, houve cinco aumentos na taxa básica de juros seguidos, de 19/01/2011 a 31/08/2011 (quando, depois de uma mobilização intensa da sociedade, que acabou por arrastar a própria Dilma, a taxa teve a sua primeira, embora ainda minúscula, redução).
A taxa real foi de 4,4%(dezembro de 2010) para 6,8%, uma taxa astronômica, representando um diferencial em relação à média internacional de 7,6 pontos percentuais (ou +111,76%!).
Depois disso, de 31/08/2011 a 7/03/2013, os juros baixaram, até que Dilma se rendeu completamente aos tubarões da agiotagem. Houve, então, de 17 de abril de 2013 a 2 de abril de 2014, nove aumentos seguidos, outra vez, da taxa básica, com a concordância explícita – mesmo aplauso e incentivo – do Planalto.
Marina Silva, no debate, falou no cansaço do eleitorado com a polarização PSDB-PT. Certamente, as pessoas têm todas as razões para estar fartas de tucanos e neo-tucanos (isto é, petistas que se tornaram tucanos sem mudar de partido).
Sobretudo pela mentira, pelo desrespeito à inteligência do povo.
CARLOS LOPES
FONTE: HORA DO POVO
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