Dilma, Temer, Renan e Cunha são entulhos que atravancam o Brasil
Mas um sai em agosto e outro em setembro. Renan e Temer não tardarão a pegar os bonés
Em três meses de profundas articulações, declarações sagazes, percepções fundamentais e demonstrações de aderência extrema ao queijo – quer dizer, tremendo compromisso com o país – Dilma conseguiu ampliar o número de senadores que votaram contra ela. Pela abertura do processo (e consequente afastamento) votaram, em 12 de maio, 55 senadores. Na terça-feira, a favor da pronúncia (sua transformação em ré do processo), votaram 59 senadores. São necessários 54 votos, no julgamento, que deverá ocorrer no próximo dia 25, para tirá-la da Presidência em definitivo.
Todo esse sucesso esplendoroso foi obtido mesmo com a ameaça – Deus nos livre – de ser substituída por um sujeito lastimável, cujo carisma e serviços prestados ao país, se medidos por algum termômetro político, se aproximam do extremo pelo qual Lord Kelvin ficou conhecido: o zero absoluto.
VERSÃO
É verdade que mesmo Temer na Presidência é obra de Dilma, que o escolheu ou o aceitou como vice. Como já notamos, aqui, Temer sempre foi um medíocre, mas não era um desconhecido. Ninguém escolhe ou aceita Temer como vice para fazer uma política a favor do povo e do país.
Temer é, aliás, a maior prova de que estamos precisando, urgentemente, de eleições. Dilma não pode ser substituída por ela própria em versão masculina, mas tanto quanto nula, entreguista (qual a diferença entre entregar o campo de Libra, no pré-sal, ou o campo de Carcará, no pré-sal?), antipopular e antinacional – portanto, antidemocrática até as entranhas.
Mas essa versão de Dilma é, exatamente, Temer.
Dilma, é verdade, sempre excede a estupidez que todos esperam dela, mesmo que essa expectativa seja próxima ao infinito. Mas, dificilmente, convenhamos, isso é uma vantagem a favor dela ou de Temer.
No entanto, essa figura que não consegue juntar lé com lé nem cré com cré, corresponde ao fundo econômico do estelionato eleitoral – da adesão aos inimigos do país – que levou Dilma à execração pública e ao banco dos réus em pouco mais de um ano de seu segundo mandato.
Em recente artigo, o economista Felipe Rezende faz um bom resumo. Ainda que os leitores do HP já conheçam a história – a análise de Rezende é, essencialmente, a mesma que fizemos a partir de janeiro de 2011 – o artigo tem o mérito da concisão e de aparecer neste momento (v. F. Rezende, “Por que o Brasil sofre uma das piores crises de sua história?”, Valor Econômico, 04/08/2016).
Resumindo o resumo: as empresas brasileiras vinham desde 2007 (com exceção de 2009, quando a crise dos EUA atingiu o Brasil, devido aos juros do sr. Meirelles no Banco Central) aumentando os investimentos, inclusive recorrendo a empréstimos para fazê-los – ou seja, contando com lucros futuros para cobrir os investimentos.
Rezende chama isso de “esquema Ponzi” – a famosa “pirâmide” ou “corrente” – com o que não concordamos. Porém, mais importante, ele ressalta que a partir de 2011, com a derrubada do crescimento imposta por Dilma e Mantega, a perspectiva de lucros futuros se evaporou, deixando as empresas no pântano. Nas palavras de Rezende: “a partir de 2011 há uma forte queda da rentabilidade das empresas, principalmente da indústria, afetando a acumulação interna de lucros e o retorno esperado do investimento”.
Ele examina a questão sobretudo sob o ângulo do endividamento: “Os dados do Banco Central (BC), mostram que o endividamento das empresas e famílias passou de 35% do PIB em dezembro de 2005 para 75% do PIB em junho de 2015. Com a obtenção do grau de investimento, o total da dívida em moeda estrangeira das empresas não financeiras saltou de US$ 58 bilhões em março de 2008 para US$ 118 bilhões em junho de 2015”.
Para isso serviu o belo “investment grade”, de que tanto falava o sr. Mantega.
As empresas foram obrigadas a cortar os investimentos, porque eles se tornaram insustentáveis – e a dívida, crescente – devido à política econômica implementada já no primeiro mandato de Dilma, de frear o crescimento, portanto, os lucros, a perspectiva de lucros e a capacidade de pagamento empresarial.
“Logo”, diz o economista, “não deveria causar surpresa a queda dos investimentos há dez trimestres consecutivos”. E frisa: “As elevadas taxas de juros praticadas pelo BC elevaram as despesas financeiras do setor privado, agravando a recessão e o potencial de uma crise dentro do sistema financeiro”. Em seguida: “Por outro lado, as irresponsáveis medidas do ajuste fiscal implementadas ao longo de 2015 – além de causar um choque nos custos das empresas por meio do aumento brutal dos preços administrados – interromperam a ação dos estabilizadores automáticos – isto é, as variações de gastos e recolhimentos de impostos e tributos devido ao desaquecimento da economia – ao cortar fortemente os gastos reais do governo, empurrando a economia para uma das piores crises da sua história”.
Derrubada do crescimento, juros altíssimos, corte violento nos investimentos públicos e nos demais gastos governamentais – o que se poderia esperar disso, senão o afundamento do país em um abismo?
Poderíamos acrescentar que, sob a forma de juros, mais de meio trilhão de reais foram passados do setor público para os bancos, fundos e outros rentistas em apenas um ano (2015).
Os elogios de Dilma ao ministro da Fazenda de Temer, o malsinado Meirelles, são apenas a demonstração de que não há diferença qualitativa entre um governo e outro. Se eles brigam pelo poder, é apenas porque quadrilhas costumam brigar pelo controle da muamba, nesse caso, o papel de feitor dos monopólios externos sobre o Brasil. Essa é a razão de Dilma declarar que o “sucesso” do governo Temer (essa alienada acredita que o país está se recuperando) foi plantado pelo seu governo.
CRISE
O fato é que o Brasil enfrenta, devido à Dilma e Temer, a pior crise desde o início do século XX. Não por acaso, essa crise coincide com o apodrecimento dos partidos governistas – PT, PMDB, PSDB & satélites – que mal se distinguem, do ponto de vista do que querem fazer com o país: roubar, entregar, destruir. A crise econômica coincide com a podridão política na medida em que a rendição ao neoliberalismo – ao imperialismo, aos monopólios financeiros e cartéis sobretudo norte-americanos – é a decomposição acelerada dos cadáveres que se renderam.
Daí todos esses defuntos políticos – Dilma, Temer, Cunha, Renan – que açambarcaram o poder, em um dos maiores países, mais ricos em recursos, e com um povo trabalhador e criativo. Sem se livrar deles, é impossível voltar a crescer para contemplar as nossas necessidades.
Nosso maior escritor, Machado de Assis, escreveu sobre a contradição entre o Brasil real e o Brasil oficial. Nunca essa contradição foi tão aguda.
Porém, as coisas caminham. Ainda que às vezes com uma lentidão que desespera alguns – mas para isso, na verdade, não há motivo: o Brasil real avança e enterra os restos do carcomido Brasil oficial. Toda essa “vida política” das Dilmas e Temer não é mais do que passado ainda não sepultado.
Mas, Dilma e Cunha já estão com hora marcada para a execução.
Um para 25 de agosto, outro para 12 de setembro.
Falta Temer, Renan e outros fantasmas.
Fonte: Carlos Lopes do jornal Hora do Povo
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