Equador denuncia que Chevron perpetrou escuta clandestina

Pressionada pela justiça para indenizar os prejudicados pelo vazamento de líquidos tóxicos a Chevron espionou e-mails do presidente Rafael Correa e outras autoridades do Equador

 

A petroleira norte-americana Chevron, em ação clandestina e ilegal, espionou os correios eletrônicos do presidente do Equador, Rafael Correa, visando descobrir e boicotar a estratégia do governo na defesa do país, vítima que foi do desastre ambiental e humano cometido na Amazônia por essa transnacional.

“A Chevron tem ‘hackeado’ os correios eletrônicos do presidente Correa, os meus e os do Procurador Geral do Estado, Diego García Carrión”, denunciou o secretário jurídico da Presidência do Equador, Aléxis Mera, na sexta-feira (10), em entrevista concedida à Gama TV e divulgada pela agência notícias oficial do Equador, ANDES.

Na investigação que vinha sendo realizada pela Promotoria do país andino descobriu-se que a espionagem da Chevron foi facilitada pelo deputado opositor Cléver Jiménez, em cujo gabinete e escritórios encontraram-se também documentos que continham informação sobre as ações que o governo preparava contra a multinacional. “Essa espionagem pôs em perigo o país porque nos correios eletrônicos havia conversações entre Correa e seu advogado que continham políticas de Estado, que implicavam segredo naquele momento. Isso pode comprometer algumas negociações internacionais”, detalhou Mera.

Durante o período em que operou na província de Sucumbíos, no nordeste equatoriano, a Chevron – então com o nome de Texaco – derramou mais de 70 bilhões de litros de águas e lodos tóxicos, contaminando cerca de 450 mil hectares de terreno, causando inúmeros danos ao meio ambiente e à população local, acusando depois os moradores da região de suposta “extorsão criminosa”.

“Este é um dos maiores desastres ambientais que o planeta já sofreu”, declarou o presidente Rafael Correa, reiterando que os danos provocados pela contaminação na Amazônia equatoriana superam os conhecidos casos da British Petroleum no Golfo do México, e da Exxon Valdez, no Alasca, ambos nos Estados Unidos.

A Corte Nacional de Justiça do Equador (CNJ) ratificou em 2013 a sentença da Corte de Sucumbíos, estabelecendo em 8,6 bilhões de dólares a indenização às milhares de pessoas prejudicadas pela irresponsabilidade da Chevron. A transnacional, que já não atua no Equador, age de todas as maneiras, principalmente ilegais, para evitar o pagamento. Nessa tentativa, buscou entregar à Corte de Justiça dos Estados Unidos, que trata da questão, mais de 20 desses correios eletrônicos clandestinamente espionados do presidente Correa, do Procurador e do secretário, no intuito de dar sustentação para sua linha de defesa que é de se passar por “injustiçada”. A Chevron afirma, falsamente, que os poços onde foram jogados os lixos já foram limpos e que suas atividades não são responsáveis por nenhum dos danos causados ao meio ambiente e à saúde pública.

O tribunal norte-americano, porém, considerou que o desgaste seria demasiado e não aceitou como evidência as mensagens interceptadas de forma clandestina, dando ganho assim a Aléxis Mera, que estava representando o país latino-americano. “Eles tiveram que reconhecer que tudo isso eram comunicações privadas, de caráter de assessoria e ganhamos o processo da Chevron nos EUA”, asseverou o secretário jurídico equatoriano.

“’Hackear correios eletrônicos já parece costume. Aconteceu com o Brasil e com a Angela Merkel. Mas, por mais que seja costume, não vamos permitir que façam isso conosco, esses fatos não devem ficar na impunidade”, assinalou o jurista.

Rafael Correa destacou que chegou o momento de estampar a “verdade”, pois a companhia estadunidense está promovendo uma campanha multimilionária para fugir das suas responsabilidades.

 

SUSANA SANTOS

Texto extraído da Hora do Povo – Edição 3.216

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