Escolas fechadas, vidas preservadas?
Publicamos abaixo artigo do professor da Rede Municipal de ensino da capital do Rio Grande do Sul, Márcio Cabral, sobre a campanha iniciada pelo sindicato da categoria que defende o fechamento das escolas na pandemia “para salvar vidas”. De forma sintética, o professor expõe a contradição da palavra de ordem do sindicato gaúcho e destaca o papel dos servidores no desenvolvimento da juventude.
Márcio Cabral*
Professor da Rede Municipal de Porto Alegre-RS
Esta é uma opinião individual. Uma reflexão somente. Não me julgo dono da verdade. Mas também gosto de externar o que penso! Em todo o país se discute a reabertura de escolas. De um lado a opinião pública cobrando dos governos medidas que garantam o direito à educação. Do outro, profissionais da educação acuadas e receosas com os riscos para si e para todos e todas do retorno escolar.
Na minha opinião como profissional de educação a campanha encabeçada por sindicatos de ESCOLAS FECHADAS, VIDAS PRESERVADAS parte de um pressuposto totalmente equivocado. Isto não só está errado como ajuda a opinião pública a se voltar contra os trabalhadores.
Esquecem que milhões de alunos deste país têm na escola o único apoio institucional para seus direitos sociais. Sim! Em muitos casos a escola garante segurança, alimentação, cuidado, socialização, espaço para lazer, desenvolvimento físico, mental e cultural. Não está certo permanecer fechado!
Uma outra frase anda circulando por aí: O que é um ano de perdas para uma criança e que não possa ser recuperado? Mais uma vez esquecem estes sindicatos que isto serve para a classe média e que um ano pode ser irrecuperável para quem já perdeu tudo. Nas comunidades mais carentes as perdas são incalculáveis! Subnutrição, violência de todas as ordens, trabalho infantil, exploração sexual etc.
Tudo bem professores terem todo tipo de receio, de se contaminarem, de adoecerem, de levarem para suas casas o vírus…, mas é bom lembrarmos que estamos há um ano sem dar aula. Algo precisa mudar para retornarmos com segurança! Mas é preciso reabrir as escolas com segurança!
Ser professor de escola pública é, antes de tudo, ser um servidor público, e quando assumimos esta profissão também juntos recebemos o compromisso com as políticas públicas. Escola fechada por tanto tempo é um crime! Mas de quem é a culpa? Dos governos que não fazem nada para reverter isto!
É preciso cobrar dos gestores educacionais todas as medidas que garantam o direito à educação pública, gratuita e de qualidade e que a pandemia não pode ser desculpa para não se tomarem medidas concretas para enfrentarmos toda esta situação.
EDUCAÇÃO É DIREITO FUNDAMENTAL!
Para os profissionais da educação devem ser asseguradas todas as medidas de segurança, assistência e qualificação para lidar com a pandemia. Até mesmo do ponto de vista da aprendizagem não fomos formados para lidar com tudo isto aí. É preciso formação continuada para darmos aula.
Por fim a vacina…
Vacina tem que ser um direito para todos e todas neste país. Não somos privilegiados para furar fila. Não aceito que eu deva me imunizar antes de meus pais, por exemplo. Mas defendo que todo mundo tenha acesso à vacina. Vamos pressionar os governos para isto!
*Publicado no Jornal Hora do Povo
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