Estudantes paraguaios marcham contra a devastação da educação

 

A 2ª Marcha Nacional de Colégios Públicos e Privados do Paraguai reuniu dez mil manifestantes nas ruas de Assunção, na última sexta-feira (16), contra os cortes de recursos, as espionagens e perseguições praticadas pelo desgoverno de Horacio Cartes.

Dias antes do evento, o advogado do comando das Forças Armadas, Mario Elizeche, havia defendido publicamente a infiltração militar em atividades civis como algo banal e o ministro da Educação, Enrique Riera, ameaçou de descontar o salário dos professores e dar um “gigantesco zero” aos estudantes que participassem da manifestação.

Para a Federação Nacional dos Estudantes Secundaristas (Fenaes), o governo Cartes adota uma política de “terrorismo de Estado, afrontando o funcionamento regular da República”. “Foi o próprio presidente quem ordenou este ato a forças militares contra cidadãos que exercem o seu legítimo direito de questionar e se manifestar, sem serem amedrontados”, condenou a Fenaes.

Reivindicando a duplicação dos investimentos na educação para 7% – cifra proposta pela Unesco -, a marcha denunciou como os parcos recursos aplicados no setor têm comprometido o fornecimento de merendas e refeições, material didático, capacitação docente e até mesmo a manutenção de salas de aula. Sem dinheiro para reformas nas instalações elétricas, serviços sanitários e outros investimentos básicos, muitas escolas vêm literalmente desabando, ferindo alunos e professores.

A União Nacional de Educadores alerta que “enquanto o Paraguai aplica 3,6% do PIB na educação, a Argentina investe 6,5% do PIB, o mesmo que no Chile e no Brasil, enquanto a Bolívia aplica 9%”.

De acordo com o informe mundial “Educação para Todos”, da Unesco, apresentado em 2015, o resultado de tão baixa aplicação de recursos é trágico, com a nação guarani ocupando o último lugar na fila da escolarização: não alcança sequer a 40% dos jovens em idade escolar, com a educação inicial e a universitária encontrando-se na maior parte privatizadas.

Outro grave problema, a precarização do trabalho dos educadores se reflete nos chamados “professores táxi”, obrigados a correr de escola em escola para sobreviver com horas-aula que não chegam sequer a R$ 10,00, tendo ainda que pagar caro pelo deslocamento.

A marcha foi encerrada em frente ao Ministério da Educação, cercado por barricadas e um batalhão de policiais. Na porta do prédio, o ministro Enrique Riera, que já havia determinado a perseguição às lideranças do movimento, usou um microfone para provocar os estudantes. “Eu sou a autoridade”, disse, quando foi posto para correr com uma chuva de garrafas pet de água. “Riera, basura (lixo), tu és a ditadura”, entoaram os estudantes, identificando nas práticas do ministro as mesmas do ditador Alfredo Stroessner, que desgovernou em função dos interesses estadunidenses, entre 1954 e 1989, perseguindo, torturando e assassinando opositores.

Fonte: Leonardo severo da Hora do Povo

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