Ildo Sauer: “criminosamente está se vendendo um bilhão de barris por um preço vil de US$ 2,5 dólares”
A sessão extraordinária do Plenário de terça-feira (9) foi transformada em Comissão Geral para debater o Projeto de Lei 4567/16, que retira a obrigatoriedade de atuação da Petrobrás como operadora única de todos os blocos contratados pelo regime de partilha de produção em áreas do pré-sal. O debate contou com participação de parlamentares, ex-diretores da Petrobrás e lideranças sindicais, além de alguns lobistas das multinacionais, para discutir o projeto de autoria do senador José Serra (PSDB). O ex-diretor de Gás e Energia da Petrobrás e presidente do Instituto de Energia da USP, Ildo Sauer, disse que raras vezes assumiu um compromisso de falar no Congresso Nacional com tanta “apreensão e perplexidade”. Ele afirmou que a distância entre o que se está discutindo no parlamento e a realidade mundial “é abismal e paradoxal”.
“Hoje o mundo se debate num grande embate geopolítico. De um lado está a OCDE comandada pelos EUA, secundada pela China, e do outro lado os países da OPEP, secundados pela Rússia. É do lado deste grupo que Brasil deveria estar. Por que o preço do petróleo foi capaz de subir de 2005 até agora? Porque o presidente Chávez, junto com os líderes do Oriente Médio, especialmente a Arábia Saudita, foi capaz de controlar o ritmo de produção. Sem o controle do ritmo de produção exauriremos nossos recursos a preços de banana. Petróleo não é commoditie. Nos anos 60 mais de 80% do petróleo estava nas mãos das empresas. Hoje isso está menos de 10%. Por isso o centro do debate que nós temos aqui é geopolítico”.
“Todos têm falado do problema da Petrobrás. Ele é sério e gravíssimo mas o problema da Petrobrás não nasceu dentro da Petrobrás. Nasceu aqui em Brasília. Foi longamente cevado e o assalto que lá se fez foi em decorrência do processo político partidário”, denunciou. “Se o Brasil quer fazer valer o seu passaporte para o futuro com o pré-sal tem que compreender que o controle sobre o ritmo de produção do petróleo é uma questão de estado é uma questão de país. Não existe a possibilidade de aceitarmos os dogmas do censo comum que prosperam por aqui nesse debate ignorando a realidade mundial”. “Se a partilha talvez não fosse o melhor regime e sim a contratação direta da Petrobrás, o que se quer agora é abrir a porta de entrada para a entrega total. O projeto em discussão envergonha a nação e ignora completamente que o titular do petróleo é o povo brasileiro” prosseguiu Sauer.
Ele disse que “o Brasil deveria estar ao lado da OPEP e da Rússia para controlar o ritmo de produção e garantir que o preço volte, como pode e provavelmente voltará, ao patamar de 80 a 100 dólares. Neste momento de águas turvas estamos vendendo ativos da Petrobrás. Vergonhosa e criminosamente está se vendendo um bilhão de barris por um preço vil de 2,5 dólares o barril [Campo de Carcará]. Isso precisa ser contestado na Justiça. Até como referência, na capitalização da Petrobrás, ela aceitou pagar 10 dólares o barril. Vender ativos, vender petróleo num momento em que uma conjuntura desfavorável acontece é um crime de lesa-pátria”.
“Se queremos resolver o problema da Petrobrás é simples. Temos 350 bilhões de dólares em reservas internacionais. Façamos um fundo de investimento independente e vamos comprar as ações da Petrobrás, lá fora e aqui dentro. Vamos investir na Petrobrás. O Brasil hoje com suas reservas internacionais recebe juros negativos. 250 bilhões estão emprestados aos EUA. Aprendamos com o capitalismo. Durante a crise de 2008 a GM foi estatizada, os bancos foram estatizados e depois revendidos. Por que nós não podemos reorganizar a cadeia produtiva? Porque a competência da Petrobrás está intacta, independente dos ataques que se fazem contra ela. Se necessário façamos como os EUA e desapropriemos essas empresas [empreiteiras]. Vamos colocar todos os seus ativos num truste e voltamos a produzir. A saída é política, mas esse governo de baixíssima popularidade prefere se curvar às pressões internacionais e entregar a maior riqueza descoberta pelo Brasil nos últimos tempos” explicou.
Fonte: Sérgio Cruz do jornal Hora do Povo
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