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Lamento Negro – Eduardo de Oliveira

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Lamento Negro

(Fragmento)

 

Eu sinto em minhas veias

o grito dos cafezais.

Enxergo em minhas mãos a sombra

dos meus irmãos

vergastados pelo chicote

dos senhores da terra.

Aqueles que carregam o Brasil nas costas

não têm túmulos

nem legendas;

seu sono não é velado,

seu nome ninguém conhece.

Hoje eles seguem a sina

de uma sorte inglória…

de um destino obscuro.

Como as grandes noites

que se debruçam no parapeito

do tempo, para espiar o mundo,

a minha raça vem contemplando

e trabalhando para a ventura alheia,

debruçada na grande noite

do desespero.

Hoje, se o progresso despeja-se

pelos jardins do meu tempo,

a Pátria que agora é minha

chora prantos de café.

A pátria de hoje

É um pedaço de tristeza

e de soluço dos meus avós,

atirada pelas tumbas sem legendas.

Os meus ancestrais

foram vassalos dela…

escravos dela

e se esqueceram de viver.

A grandeza da minha terra

tem seus pés fincados

na alma da minha gente,

na fome da minha gente,

oculta nos presídios,

nos mocambos, nas favelas,

na hemoptise que escreve com sangue

a sorte da minha raça.

Não mais farei versos bonzinhos

para o agrado dos meus novos senhores.

Escuta, “Capitão do Mato”:

Daqui por diante

só cantarei o destino da gente

que estua em meu sangue de negro.

Meu poema terá o gosto amargo

do desespero do meu povo.

[…]

Se a turbulência das praças

arrastarem as multidões

amotinadas pela fome

lá estará o meu grito de rebeldia.

Ser negro é sentir a pujança telúrica

das raças infelizes.

Senzalas, ritos, cafezais

são símbolos de ontem

que relembram escravidão.

Favelas, salários, sindicatos,

são emblemas de agora, chicoteando

o rosto de meus irmãos. […]

(Banzo, 1965).

Professor Eduardo de Oliveira

Arte: @gabz_barb

Extraído no perfil do projeto Negros do Bixiga no Instagram

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