México: restos mortais de um dos estudantes sequestrados são identificados

O primeiro dos 43 estudantes normalistas desaparecidos há mais de dois meses na cidade de Iguala, no estado de Guerrero, no sul do México, foi identificado entre os restos mortais encontrados em um rio e em um lixão de Cocula, também povoado deste Estado. Pistoleiros presos haviam confessado ter assassinado e queimado os jovens. A escola de professores rurais de Ayotzinapa na qual os jovens estudavam anunciou o fato, e mais tarde foi confirmado por Felipe de la Cruz, porta-voz dos familiares. O estudante se chamava Alexander Mora Venancio e tinha 19 anos. Seu reconhecimento jogou mais lenha na fogueira da revolta que esse crime provocou no país, fortalecendo a consigna que se ouve em todos os cantos: "Vivos os levaram. Vivos os queremos!".

Forenses argentinos, legistas independentes encarregados de fiscalizar a investigação mexicana, resgataram 17 restos mortais de dois sacos de lixo encontrados no rio próximo ao lugar do sequestro, segundo afirmou uma fonte de segurança. Entre esses restos mortais estava o de Mora Venancio, preso pela polícia local de Iguala em 26 de setembro junto a outros 42 colegas e entregue, de acordo as investigações do crime feita pela promotoria-geral, a pistoleiros do cartel de narcotraficantes Guerreros Unidos que, ao que tudo indica, os mataram.

A notícia coincidiu com a comemoração, no dia 6, dos 100 anos da entrada dos exércitos revolucionários de Emiliano Zapata e Francisco Villa na capital do país, mas que foi acompanhada por mais um dia de protestos pelo desaparecimento dos 43 estudantes. Mais de 100.000 pessoas de todo México se manifestaram.

"Os forenses argentinos, os únicos que confiamos, se reuniram com todos os pais para nos informar diretamente", contou o porta-voz De la Cruz, que criticou o fato de que, depois de mais de dois meses de investigação, apenas um jovem tenha sido identificado e destacou que o paradeiro dos outros continua sendo uma incógnita: "Continuaremos lutando porque temos esperanças que os demais ainda estejam vivos. Não vamos permitir que encerrem o caso assim". 

Os acontecimentos de Iguala deixaram exposta a cumplicidade entre o tráfico de drogas e políticos mexicanos.

Alexander estava no primeiro ano dos quatro que precisava para se formar como professor de aldeias remotas. A escola de Ayotzinapa é pública, gratuita e seleciona preferencialmente membros de famílias pobres. Restam poucas assim. Ele era do município de El Pericón, onde vivem comunidades indígenas e descendentes dos africanos levados para a região como escravos. Filho de camponeses, buscava no estudo uma saída para a pobreza de sua região.

 

Por SUSANA SANTOS do Hora do Povo

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