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Ministro da Educação diz que Proclamação da República foi “infâmia” contra monarca “iluminado”

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José do Patrocínio: “Está finalmente decretada a nova divisa do Império – escravidão ou morte” (charge de Angelo Agostini).

Depois da declaração Weintraub espera ser convidado para a festa do “príncipe” Luís Philipe

No dia em que o Brasil comemora a Proclamação da República, o ministro da Educação (cáspite!) de Bolsonaro expeliu, através do Twitter (claro), a sua opinião sobre o ato histórico do marechal Deodoro da Fonseca.

Segundo ele, a Proclamação foi uma “infâmia contra um patriota, honesto, iluminado, considerado um dos melhores gestores e governantes da História (Não estou restringindo a afirmação ao Brasil)”.

O que diabos estamos comemorando hoje?”, escreveu Weintraub sobre a ação de Deodoro, Floriano, Benjamin Constant, Rui Barbosa, Silva Jardim, José do Patrocínio, Quintino Bocaiúva e outros heróis e grandes homens brasileiros.

Na íntegra, disse Weintraub:

Não estou defendendo que voltemos à Monarquia mas… O que diabos estamos comemorando hoje? Há 130 anos foi cometida uma infâmia contra um patriota, honesto, iluminado, considerado um dos melhores gestores e governantes da História (Não estou restringindo a afirmação ao Brasil).”

Ainda bem que Weintraub não está defendendo a volta da monarquia.

Quando a República foi proclamada, o país estava, desde 1864 – e mesmo antes, com a crise de 1857 -, em uma estagnação melancólica, pois a monarquia era, exatamente, a superestrutura do regime de escravidão, que entravava o desenvolvimento do país.

Dados escandalosos – como os 85% de analfabetos na população adulta, quando a República foi proclamada – eram uma consequência desse charco em que a monarquia conservava o país.

Nas palavras de José do Patrocínio, em 1885:

É um fato histórico que a Monarquia só se fundou no Brasil por ser a da escravidão.

Tanto isso é verdade que a Abolição da Escravatura levou a monarquia para o esgoto no ano seguinte.

Aliás, em relação à monarquia, Patrocínio foi mais específico:

“… sentimos que a Monarquia já não tinha mais forças para resistir à nostalgia do pântano. Queria voltar para a lama das paixões de que provinha.

É sabido que todos os Braganças foram sempre amigos da escravidão, ao ponto de fazerem dela meio de ganhar dinheiro.

Desde d. Pedro II, de Portugal, o moedeiro falso, até Pedro I, do Brasil, a casa do bastardo João IV se desenha na História com a fisionomia de uma família de traficantes. A única exceção é d. José I, porém este, todos sabem, não passou de um jumento manso, em que o marquês de Pombal subiu a montanha da imortalidade, comodamente, como a gente sobe a serra de Sintra em jericos de aluguel.

Não é, então, uma surpresa que Weintraub prefira a monarquia à República.

Mas Weintraub acrescentou:

Qual a melhor forma de ‘comemorar’ o primeiro golpe de estado no Brasil? TRABALHANDO! O amigo Onyx Lorenzoni convocou reunião para discutir projetos sociais. Teremos mais novidades em breve.”

Pelo jeito, ele considera que Tiradentes somente não foi um golpista porque D. Maria, a Louca, o impediu, através da forca e do esquartejamento.

Quanto aos “projetos sociais”, aguarda-se o envio ao Congresso de um projeto revogando a Lei Áurea. Que outro projeto social pode ter esse governo? Assim, a monarquia teria outra vez a sua base… Resta saber se Bolsonaro pretende passar uma rasteira nos Braganças e pegar a coroa.

Weintraub também escreveu:

Para as feministas refletirem: o Império teve seus dois principais atos assinados por mulheres educadas, inteligentes e HONESTAS! Elas nos governaram bem antes de Dilma. A Lei Áurea e Nossa Independência foram assinadas respectivamente pela Princesa Isabel e por Dona Leopoldina.”

As “feministas” – isto é, as mulheres, pois Weintraub, usando esse termo como se fosse xingamento, apenas revela sua aversão às mulheres – não precisam refletir sobre isso.

Somente um sujeito muito deformado, como Weintraub, pode se espantar porque, até mesmo no Império, houve mulheres que fizeram algo além de descascar batatinhas na cozinha – e nenhuma mulher é responsável, se Weintraub somente consegue enxergar para elas esse papel.

Mas esse é um problema dele – e não das mulheres.

Carlos Lopes

Publicado no Jornal Hora do Povo

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