Mostra CPC-UMES 30 anos celebra a luta pela cultura popular
A partir desta sexta-feira (12), o Centro Popular de Cultura da UMES (CPC-UMES) realiza uma série de apresentações em celebração aos 30 anos da entidade e em homenagem ao fundador da entidade, Denoy de Oliveira.
A programação especial será realizada no Cine-Teatro Denoy de Oliveira e contará com o lançamento de livros, leitura cênica, debates e um “pocket show” para compreender o legado de um dos mais completos artistas brasileiros.
Também será realizada uma exposição sobre as três décadas de trabalho cultural do CPC-UMES, abordando o conjunto da produção da entidade e a obra de Denoy.

Fundador do CPC-UMES, Denoy de Oliveira
Diretor, ator, produtor, dramaturgo, roteirista, compositor, Denoy de Oliveira foi um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da UNE em 1963 e, a partir daí, passou a figurar entre os gigantes da cultura brasileira. Em 1964, após o fechamento do CPC pelo Golpe Militar, funda junto com Ferreira Gullar, Vianninha, João das Neves, Teresa Aragão, Paulo Pontes, Armando Costa e Pichin Plá o Grupo Opinião.
Dedicou sua vida à arte e cultura brasileira, sendo premiado nacional e internacionalmente por diversos filmes como 7 Dias de Agonia (O Encalhe) (1982), O Baiano Fantasma (1984) e A Grande Noitada (1997), além de curtas, médias e documentários. Em 1994 ajudou a fundar o Centro Popular de Cultura da UMES sendo um dos alicerces do trabalho da entidade estudantil secundarista de São Paulo.
PROGRAMAÇÃO
Dia 12 de dezembro
18h – Abertura da exposição Denoy de Oliveira e CPC-UMES
19h – Leitura cênica de trechos de Revólver Justiceiro
19h30 – Apresentação do livro Denoy de Oliveira – Teatro Completo, por Maria Sílvia Betti e Xavier de Oliveira
Dia 13 de dezembro
19h – Apresentação dos livros Denoy de Oliveira – Estética da Esperança, por Xavier de Oliveira e Carlos Lopes e O Teatro do CPC-UMES, por Roberta Carbone e Rebeca Braia
20h30 – Pocket Show de Caíto Marcondes, interpretando músicas das peças de Denoy
SERVIÇO:
CPC-UMES 30 ANOS
12 e 13 de Dezembro
Cine-Teatro Denoy de Oliveira
Rua Rui Barbosa, 323 – Bela Vista – São Paulo – SP
Sujeito a lotação para assistir à leitura, pocket-show e o bate-papo, com distribuição de ingressos iniciando com uma hora de antecedência das apresentações, diretamente na entrada do Cine-Teatro.

OS LIVROS
O Teatro do CPC-UMES
Apresentaremos, nesse volume, cinco peças, todas ainda inéditas em livro e que foram encenadas, ao longo das últimas três décadas, por estudantes secundaristas e por alguns atores profissionais. Sinto-me muito à vontade fazendo essa apresentação, pois tive a oportunidade de participar de todas as montagens, seja ainda como uma jovem atriz amadora, seja já formada e com longos anos de estrada.
As peças que os leitores irão conhecer são textos produzidos de maneira coletiva, com o principal intuito de debater com o público temas do dia a dia, das lutas encampadas pelos estudantes e pelo povo. Essa relação direta com o presente confere ao trabalho um caráter de urgência e de emergência. A partir das discussões políticas e coletivas, chega-se a consensos, críticas e bandeiras de luta sobre questões da conjuntura, que afetam determinado conjunto da sociedade.
Sintetizar essas discussões em forma de teatro é o grande barato da brincadeira. E a sintonia entre a arte e a política dá as medidas e as dosagens desse tipo de criação. Podemos descrevê-las como peças didáticas. O processo de aprendizagem ocorre tanto para aqueles que estão assistindo ao espetáculo, quanto para aqueles que estão representando.
Rebeca Braia
Denoy, o combatente esperançoso
Os textos aqui reunidos vieram à luz em um período que se estende por quase 20 anos, entre 1978 e 1995. Pode parecer pouco, diante da profícua atividade desse artista, que já escrevia canções em 1946, e cujo primeiro texto teatral data de 1957. Mas o leitor compreenderá o porquê dessa seleção, entre centenas de outras entrevistas e textos.
Os três artigos iniciais trazem a face ativista do autor. Denoy foi um dos fundadores e presidente da Associação Paulista de Cineastas. E é nessa condição que escreve o primeiro artigo, de 1978, que não sabemos se foi publicado em algum periódico. O segundo artigo data de 1982 e foi publicado na revista Cineasta, editada pela própria APACI, e que teve apenas dois números. E o terceiro surge no número inaugural, de novembro de 1986, do Jornal Imagemovimento, iniciativa do Conselho Nacional de Cineclubes. Ou seja, todos os textos publicados em órgãos de classe do audiovisual. Revelam as posições firmes de Denoy, já um diretor reconhecido e multipremiado, em defesa do cinema brasileiro.
Temos, a seguir, um conjunto de artigos, escritos entre 1989 e 1991, para o Jornal Hora do Povo. Eram colunas diárias, sob as rubricas “Na Tela” e “Vídeo”, a maioria das quais conseguimos reproduzir aqui. As posições expressas nos artigos anteriores não mudam. Aprofundam-se, refinam-se. E até, podemos dizer, radicalizam-se, diante de novas ameaças que agravam aquilo que Denoy costuma chamar de “endemias do Cinema Brasileiro”.
Mas algo novo aparece nesses textos: análise de obras cinematográficas, tanto nacionais quanto estrangeiras. Em mais de um dos artigos, Denoy afirma “não sou crítico”. Afirma querer, apenas, “pensar o cinema”. Mas faz, concretamente, aquilo que a verdadeira crítica deveria fazer. Anos antes, nosso autor já havia manifestado sua repulsa aos falsos críticos, aboletados nos grandes meios de comunicação: “Essa crítica sem espaço, sem exercício do pensamento, sem (condições de) procurar esquemas, ainda que alternativos, para desenvolver suas teses e projetos, termina por ser puramente técnica e/ou estética (daí sua falência?).” E afirma a sua irrelevância: “Na verdade, essa crítica, despida de paixão e de contradições, asséptica e, via de regra, manietada pelos chefões, não influencia. Ao menos a mim ou aos meus filmes. Ela simplesmente engrossa as regras do sistema”.
Suas “não críticas” ou “anticríticas”, os seus “pensares” tentam, na verdade, fazer o oposto daquilo que uma crítica “muito colonizada” acaba fazendo:
Não se estabelecia jamais uma relação mais profunda entre as imagens e o momento histórico em que elas foram geradas. Realidades estanques se estabeleciam e eram pinçadas para uma tela iluminada. A crítica – e em consequência seus leitores – aceitava esse mundo como definição e passava ao fator “cinema”. E tudo o que ali escava representado era legítimo como imaginário e respondia por todas as consciências do mundo.
Denoy de Oliveira – Estética da Esperança
O olhar de Denoy tem paixão, é “contaminado” de vida, de concretude. Ou seja, não apenas faz a análise dos filmes pelo aspecto estético, pela linguagem. Enxerga-os em sua totalidade sócio-histórica, desde a posição de onde fala o realizador até o seu papel na vida do espectador. Ao analisar, por exemplo, uma obra “sem novidades, mas de boa realização”, na qual predomina a violência, salienta que, pelo menos, a “porrada que você não dá no seu patrão é compensada”. Puro sarcasmo, típico de um intelectual que nunca teve medo de posicionar-se.
Encerra o volume uma extensa entrevista concedida por Denoy a Marcelo Ridenti, em 1995, para a sua tese de Livre-Docência na Unicamp e que resultou no livro Em Busca do Povo Brasileiro. Nela o já veterano cineasta repassa os momentos importantes de sua trajetória, reafirma princípios e ideais e, sobretudo, mantém a postura combativa. As palavras, proferidas três anos antes de sua tão precoce partida, revelam um batalhador da cultura nacional, orgulhoso dos combates travados, mas, sobretudo, esperançoso, disposto a continuar lutando.
O crítico Luiz Carlos Merten, ao noticiar o falecimento de Denoy, disse que o Brasil perdia o “cineasta do homem comum”. Realmente, nos seus filmes – e mesmo em suas peças teatrais – podíamos ver, como protagonistas, homens e mulheres reais, os verdadeiros heróis brasileiros. Em tempos de falsos patriotas (embrulhados em bandeiras estrangeiras), prósperos profetas, mitos do esgoto, coaches e mentores da ilusão, essa obra fará bem ao seu leitor: lembrará que o Brasil é capaz de produzir grandes artistas e extraordinários seres humanos.
CPC-UMES
QUATRO ANOS QUE PARECERAM QUATRO DÉCADAS!
Vivêssemos em uma época ou em uma sociedade melhores, deixar os textos teatrais de Denoy de Oliveira inéditos por tantas décadas seria considerado um crime contra a cultura nacional. Sem querer buscar consolo, não se trata apenas de perseguição contra esse grande artista brasileiro, nascido no Pará. Nossos grandes dramaturgos são jogados no esquecimento com uma facilidade assombrosa. Centenas – milhares até – de grandes peças foram criadas e chegaram até a ganhar os palcos; mas, como nunca viraram livro, perderam-se pelos tempos. Mesmo autores clássicos da dramaturgia nacional são, muitas vezes, encontráveis apenas nos sebos.
O Centro Popular de Cultura da UMES busca agora dar uma pequena contribuição para transformar esse quadro, trazendo à luz sete peças daquele que foi o seu fundador.
Escritas, as cinco primeiras, em seus anos de formação e nos anos de seu amadurecimento forçado sob os tacões da ditadura as duas últimas, as peças revelam um escritor inquieto, de raro talento e acurada sensibilidade. Mesmo tendo sido concluídas há tanto tempo, todas revelam vitalidade, falam aos espectadores de hoje como teriam falado aos de seu tempo. Isso, justamente, é o que faz de um texto uma verdadeira obra de arte: sua permanência, sua capacidade de, mesmo com o passar dos anos, continuar dialogando com as grandes questões da natureza humana. Mas pouparemos o leitor de uma análise mais demorada de cada uma delas, pois não conseguiríamos superar as observações certeiras de Maria Sílvia Betti no prefácio e de Xavier de Oliveira nas introduções.


