Mostra Mosfilm – 90 anos é encerrada nesta quarta-feira com “Tigre Branco”

O filme “Tigre Branco”, de Karen Shakhnazarov encerra nesta quarta-feira (19) a mostra “Mosfilm – 90 anos” na Cinemateca Brasileira.

A mostra, uma parceria do Mosfilm com o Centro Popular de Cultura da UMES, trouxe uma seleção de 10 filmes representativos de diversos períodos do cinema soviético e pós-soviético. Conforme informa o CPC-UMES, dos 10 filmes selecionados nenhum foi exibido em cinema ou TV, no Brasil, e só dois podem ser encontrados em DVD.

Tigre Branco retrata os dias finais da 2ª Guerra Mundial e a resistência soviética ao nazismo de forma surpreendente, unindo filosofia e mistério. O filme foi o representante da Rússia ao Oscar de melhor filme estrangeiro, no ano passado, e rendeu a Shakhnazarov o prêmio de Melhor Diretor no IX Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, também em 2013.

O Mosfilm, criado em 1924 e desde 1998 dirigido por Karen Shakhnazarov, década em que foi totalmente renovado e modernizado, abriga um acervo de mais de 2.500 filmes de diretores que ajudaram a criar a história do cinema mundial, como Sergei Eisenstein, Aleskandr Dovzhenko, Vsevolod Pudovkin, Ivan Pyriev, Grigori Aleksandrov, Mikhail Romm, Gigori Chukhrai, Mikhail Kalatozov, Serguei Bondarchuk, Andrei Tarkovsky, Leonid Gaiday e outros. Atualmente ainda é o maior estúdio da Rússia e um dos maiores da Europa.

 

Veja o trailer do filme:

 

O longa também abriu a mostra na última quinta-feira (13). No lançamento esteve presente o vice-diretor-geral do Mosfilm, Igor Bogdasarov. Confira abaixo sua entrevista ao Hora do Povo.

 

HP – Como se sentiu ao abrir a mostra para os brasileiros?

Igor – O destino me colocou na condição de representar o Mosfilm num evento tão importante. E eu me senti não apenas como o representante do cinema russo, mas também do povo russo.

Uma responsabilidade muito grande, pois para mim é muito importante que os brasileiros vejam os filmes e saibam do que falam, o que eles querem dizer e que possam entendê-los, assim como nós.

 

HP – O que acha do cinema russo como intérprete da sociedade e da cultura russas?

Igor – A arte existe para transmitir as emoções, revelar a vida e o sentimento das pessoas. E o cinema é capaz disso. Não atua apenas no terreno racional. Através do cinema se pode chegar até a alma, ir direto ao coração. O cinema é um dos meios mais adequados para mostrar o que acontece no interior das pessoas e de uma sociedade.

 

HP – Seria justo afirmar que uma mostra como essa vai no sentido de aproximar o conhecimento entre os nossos povos…

Igor – Sem dúvida, assim como outras que virão – realmente vão aproximar as duas culturas. Mostras como esta, podem se apoiar, na atualidade, em todo o desenvolvimento da informática e técnica, o que nos facilita tornar esta aproximação uma realidade. Aí estão os meios de transporte, a internet, para acompanhar o núcleo das mostras e então, através de todos estes meios, vamos conseguir aprofundar relacionamentos.

 

HP – Na seleção de filmes houve algum norte?

Igor – O Mosfilm não participou na seleção; foi o CPC que fez a escolha, mas para mim é uma escolha muito boa, revela um entendimento muito profundo do nosso cinema, são filmes maravilhosos, muito importantes e muito representativos de cada época com os melhores diretores da Rússia e União Soviética. Revelam realmente diferentes aspectos da vida e da história da União Soviética e da Rússia.

 

HP – Iniciativas como essa podem ajudar a criar uma atmosfera de retomada nas relações entre produtores de cinema dos nossos países?

Igor – Mostras como a de hoje apontam ao início de processos diferentes do que estamos acostumados a ver nos últimos tempos. Na Rússia também a comercialização do cinema americano é muito forte. Eles estão fazendo a parte deles, e nós temos que fazer a nossa. O cinema russo, por um lado e o dos demais países, por outro. Cada um de nós tem que incentivar o desenvolvimento de sua cultura e sempre que possível difundir a cultura dos demais povos em seus países para que as pessoas conheçam umas às outras sem mediações e ter suas próprias opiniões sobre os demais países. Mas é preciso ter claro que um evento como esse sozinho não vai produzir mudança significativa, nós precisamos trabalhar para que estes eventos adquiram um caráter de regularidade. Por isso ele não pode ser o último, mas o primeiro de uma série que acontecerá periodicamente.

 

HP – Há mais alguma coisa que você gostaria de ressaltar?

Igor – Para mim é muito importante destacar que apesar de estar contente com o avanço desta mostra, ainda estou um pouco pessimista, pois, nossos governos, acham melhor ficar fora do desenvolvimento cultural. E isso dificulta os enlaces entre as culturas. Não há a devida atenção dos nossos governos em fazer, cada qual, a sua cultura conhecida nos demais países. Há uma abordagem distante e fria. Temos que dar os primeiros passos, pois, assim como todos precisam de roupa, alimento e abrigo, necessitam também da educação. É necessário o desenvolvimento moral e cultural, para que saibam distinguir o que é bom do que é mal. Então os governos precisam atuar juntos não só para o desenvolvimento comercial, econômico, mas também na aproximação e desenvolvimento de laços culturais e isto não está sendo feito muito bem.

E para não concluir a entrevista de forma triste, quero dizer que vou levar para o meu país o quanto estou maravilhado com o Brasil e o povo brasileiro. Estou aqui pela primeira vez, mas neste pouco tempo já consegui perceber o quanto o povo brasileiro tem de comum com o nosso. É um povo extremamente aberto, amistoso e agora entendo por que o povo russo adora, ama o Brasil. Entendo que, para fazer este relacionamento funcionar, é muito simples porque ele pode se desenvolver sobre esta base concreta. E assim, tenho a certeza de que podemos esperar muito dessa aproximação. E já estou aguardando a próxima oportunidade de voltar aqui.

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